SISTEMA AQUÍFERO: LUZ-TAVIRA (M15)

Documentos relacionados
SISTEMA AQUÍFERO: MONTE GORDO (M17)

SISTEMA AQUÍFERO: PERAL MONCARAPACHO (M13)

SISTEMA AQUÍFERO: CHÃO DE CEVADA - QUINTA DE JOÃO DE OURÉM (M11)

SISTEMA AQUÍFERO: S. BRÁS DE ALPORTEL (M8)

SISTEMA AQUÍFERO: QUARTEIRA (M7)

SISTEMA AQUÍFERO: TORRES VEDRAS (O25)

SISTEMA AQUÍFERO: MACEIRA (O18)

SISTEMA AQUÍFERO: FERRAGUDO ALBUFEIRA (M4)

SISTEMA AQUÍFERO: BACIA DE ALVALADE (T6)

SISTEMA AQUÍFERO: VIEIRA DE LEIRIA - MARINHA GRANDE (O12)

SISTEMA AQUÍFERO: CAMPINA DE FARO (M12)

SISTEMA AQUÍFERO: ALMÁDENA-ODEÁXERE (M2)

SISTEMA AQUÍFERO: VEIGA DE CHAVES (A1)

SISTEMA AQUÍFERO: MEXILHOEIRA GRANDE PORTIMÃO (M3)

SISTEMA AQUÍFERO: ALPEDRIZ (O19)

SISTEMA AQUÍFERO: POUSOS-CARANGUEJEIRA (O14)

SISTEMA AQUÍFERO: ANÇÃ-CANTANHEDE (O4)

SISTEMA AQUÍFERO: VERRIDE (O8)

SISTEMA AQUÍFERO: OTA ALENQUER (O26)

SISTEMA AQUÍFERO: SINES (O32)

SISTEMA AQUÍFERO: PISÕES-ATROZELA (O28)

ORLA MERIDIONAL (M) Introdução. Hidrogeologia. Características Gerais

SISTEMA AQUÍFERO: OURÉM (O15)

SISTEMA AQUÍFERO: MONFORTE-ALTER DO CHÃO (A3)

SISTEMA AQUÍFERO: QUERENÇA SILVES (M5)

SISTEMA AQUÍFERO: S. JOÃO DA VENDA QUELFES (M10)

SISTEMA AQUÍFERO: CALDAS DA RAINHA NAZARÉ (O33)

SISTEMA AQUÍFERO: CÁRSICO DA BAIRRADA (O3)

SISTEMA AQUÍFERO: ESCUSA (A2)

SISTEMA AQUÍFERO: CONDEIXA-ALFARELOS (O31)

SISTEMA AQUÍFERO: ALBUFEIRA-RIBEIRA DE QUARTEIRA (M6)

SISTEMA AQUÍFERO: MARGEM DIREITA (T1)

SISTEMA AQUÍFERO: PENELA TOMAR (O9)

DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS

SISTEMA AQUÍFERO: COVÕES (M1)

SISTEMA AQUÍFERO: LEIROSA - MONTE REAL (O10)

SISTEMA AQUÍFERO: MOURA FICALHO (A10)

SISTEMA AQUÍFERO: S. BARTOLOMEU (M16)

SISTEMA AQUÍFERO: VISO-QUERIDAS (O30)

ASPECTOS QUANTITATIVOS DOS SISTEMAS AQUÍFEROS DO BAIXO TEJO

SISTEMA AQUÍFERO: ALUVIÕES DO TEJO (T7)

Estudo da interacção água subterrânea/água superficial nos sistemas associados à Lagoa de Albufeira, em periodo de barra aberta

RISCO DE INTRUSÃO SALINA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - GESTÃO INTEGRADA DE ÁGUA SUBTERRÂNEAS

Características hidroquímicas e hidrodinâmicas do aquífero na planície arenosa da Costa da Caparica

SISTEMA AQUÍFERO: LOURIÇAL (O29)

SISTEMA AQUÍFERO: QUATERNÁRIO DE AVEIRO (O1)

Água, ecossistemas aquáticos e actividade humana PROWATERMAN. Caracterização geológica e hidrogeológica das áreas de estudo.

10.1 Caracterização hidroquímica do Sistema Aquífero Moura-Ficalho

SISTEMA AQUÍFERO: TENTÚGAL (O5)

SISTEMA AQUÍFERO: ALUVIÕES DO MONDEGO (O6)

SISTEMA AQUÍFERO: GABROS DE BEJA (A9)

SISTEMA AQUÍFERO: VIANA DO ALENTEJO ALVITO (A6)

SISTEMA AQUÍFERO: LUSO (A12)

ANEXO I TABELA CRONOSTRATIGRÁFICA

Análise de Cenários de Exploração no Sistema Aquífero da Campina de Faro

IMPORTÂNCIA DA MONITORIZAÇÃO NA GESTÃO INTEGRADA DOS RECURSOS HÍDRICOS

Sociedade de Geografia 15 de Novembro de 2012

Recursos Hídricos na Região do Algarve

SISTEMA AQUÍFERO: CESAREDA (O24)

ÁREAS CONTAMINADAS NO CONCELHO DO SEIXAL

Considerações gerais sobre a hidrogeologia do continente

O uso da água e a gestão dos aquíferos na região de Aveiro - Orla Mesocenozóica Ocidental Portuguesa.

Aluviões. Miocénico. Paleogénico. Neo-cretácico. Cretácico. Rio Tejo

SISTEMA AQUÍFERO: ELVAS-VILA BOIM (A5)

Introdução ao Ciclo hidrológico

ÁGUA SUBTERRÂNEA E OBRAS DE CAPTAÇÃO

AFLORAMENTOS ROCHOSOS E ESTRUTURAS GEOLÓGICAS NO INTERIOR DO CONCELHO DE LOULÉ COMO RECURSOS EDUCATIVOS

Palavras Chave: Condutividade eléctrica, ph, Águas subterrâneas, Formação de Mértola, Formação de Mira

ÁGUA SUBTERRÂNEA BAIXO MONDEGO

SISTEMA AQUÍFERO: FIGUEIRA DA FOZ-GESTEIRA (O7)

PROPOSTA DE PADRONIZAÇÃO DAS DENOMINAÇÕES DOS AQUÍFEROS NO ESTADO DE SÃO PAULO. José Luiz Galvão de Mendonça 1

SISTEMA AQUÍFERO: ESTREMOZ-CANO (A4)

CEVALOR - Centro Tecnológico para o Aproveitamento e Valorização das Rochas Ornamentais e Industriais DEPARTAMENTO TÉCNICO.

SISTEMA AQUÍFERO: ELVAS-CAMPO MAIOR (A11)

ESTUDO DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS NO ESTUÁRIO DO RIO GUADIANA E ZONAS ADJACENTES

ANÁLISE DO IMPACTE DO USO DA ÁGUA NO SISTEMA AQUÍFERO ALMÁDENA-ODEÁXERE UM EXEMPLO DAS QUESTÕES A NIVEL LOCAL E REGIONAL

A GEOFÍSICA NA PROTECÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS. MAPEAMENTO DE ZONAS DE RISCO NO VALE DO TEJO-SADO RECORRENDO A PROSPECÇÃO GEOELÉCTRICA.

A ANÁLISE GEOESTATÍSTICA DA CONCENTRAÇÃO DE NITRATOS NAS MASSAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA CONFEDERAÇÃO HIDROGRÁFICA DO JÚCAR, ESPANHA

AQUÍFERO BARREIRAS: ALTO POTENCIAL HÍDRICO SUBTERRÂNEO NA PORÇÃO DO BAIXO RIO DOCE NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.

ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA RH-VIII BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS MACAÉ, DAS OSTRAS E LAGOA DE IMBOASSICA ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA RH-VIII

Ambientes insulares vulcânicos. RECURSOS HÍDRICOS DA ILHA DA MADEIRA Susana Prada. Modelo hidrogeológico conceptual para a ilha da Madeira

CAPÍTULO 3 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

Palavras-chave: Aquífero, Hidroquímica, Gnaisses, Condutividade eléctrica, ph, Caudais.

A importância da água subterrânea para o montado

ORLA OCIDENTAL (O) Introdução

Palavras-chave: Águas subterrâneas, Poluição, Salinização Diapiro, Geofísica, Geoestatística

CAPÍTULO 2 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS Clima Relevo Hidrografia Solos Vegetação... 13

PLANO MUNICIPAL DA ÁGUA

SISTEMA AQUÍFERO: CRETÁCICO DE AVEIRO (O2)

HIDROGEOLOGIA. Acção de Formação Modelos Hidrogeológicos: Elaboração e Experimentação. Novembro de 2004

CARACTERÍSTICAS DO POÇO

VULNERABILIDADE DE AQÜÍFEROS

Hidrogeologia vs. Engª do Ambiente

ESTIMATIVA DE RECARGA DO SISTEMA AQUÍFERO SERRA GERAL UTILIZANDO BALANÇO HÍDRICO

Caracterização hidroquímica das águas subterrâneas do sector oeste do concelho de Alter do Chão

ZONAS DE INFILTRAÇÃO MÁXIMA

Exercícios de Geologia

EVOLUÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA ZONA ENVOLVENTE AO COMPLEXO QUÍMICO DE ESTARREJA. PERSPETIVAS FUTURAS

Caracterização da Situação de Referência. Pedreiras de Lourosa

CAPÍTULO 4 HIDROGEOLOGIA. 4.1 Aspectos Gerais. 4.2 Unidades Hidrogeológicas

Transcrição:

SISTEMA AQUÍFERO: LUZ-TAVIRA (M15) Figura M15.1 Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquífero Luz-Tavira Sistema Aquífero: Luz-Tavira (M15) 575

Identificação Unidade Hidrogeológica: Orla Meridional Bacia Hidrográfica: Ribeiras do Sotavento Distrito: Faro Concelho: Tavira Enquadramento Cartográfico Folha 608 da Carta Topográfica na escala 1:25 000 do IGeoE Folha 53-B do Mapa Corográfico de Portugal na escala 1:50 000 do IPCC Folha 53-B da Carta Geológica de Portugal na escala 1:50 000 do IGM TAVIRA 608 OLHÃO 53B 612 Figura M15.2 Enquadramento geográfico do sistema aquífero Luz-Tavira Enquadramento Geológico Estratigrafia e Litologia As formações aquíferas dominantes são os Calcários Bioconstruídos de Cerro da Cabeça, Calcários do Escarpão (Jurássico superior), Formação de Cacela (Miocénico) e Camadas de Morgadinho (Pliocénico). Ocupam menor extensão as formações do Cretácico e as Areias e Cascalheiras de Faro-Quarteira constituem apenas uma cobertura de espessura reduzida ou irregular. Sistema Aquífero: Luz-Tavira (M15) 576

Os Calcários do Escarpão são constituídos pela alternância de calcários compactos, calcários argilosos nodulares e margas, de idade Kimeridgiano a Titoniano e com cerca de 500 metros de espessura máxima (Manuppella, 1992). Os Calcários Bioconstruídos do Cerro da Cabeça, do Kimeridgiano, são constituídos por bancadas de calcários compactos, cinzentos a rosados, com algumas passagens de brechas intraformacionais e bioérmicas. A espessura das camadas pode atingir dois metros, enquanto que a espessura total da formação se mantém entre 30 e 70 metros (Manuppella, 1992). A Formação de Cacela (Miocénico) é constituída por conglomerados grosseiros, fortemente consolidados, por vezes com fósseis de grandes dimensões, biocalcarenitos e siltes glauconíticos. As Camadas de Morgadinho (Pliocénico) são constituídas por areias, margas, argilas lenhitosas, calcários margosos e siltes, com espessura superior a 120 metros (Antunes e Pais, in Manuppella et al., 1987). As formações do Cretácico constituem pequeno afloramento de calcários siltosos do Hauteriviano (Manuppella et al., 1987), perto de Bernardinheiro, mas deverão prolongar-se para sul sob a Formação de Cacela. A formação das Areias e Cascalheiras de Faro-Quarteira é constituída por areias feldspáticas rubeficadas e arenitos grosseiros, argilosos, acastanhados, passando a cascalheiras e conglomerados. Anteriormente consideradas pliocénicas ou do Plio- Quaternário foram recentemente incluídas no Plistocénico (Pais, 1992). A espessura máxima é, segundo Moura e Boski (1994), de 30 metros. Tectónica Segundo Silva (1984), a região abrangida por este sistema aquífero constitui o flanco sul do anticlinal Tavira-Foupana, com direcção NE-SW. Esta estrutura está cortada longitudinalmente pela falha Boavista Moncarapacho, ao longo da qual se conhecem algumas intrusões basálticas e que constitui o limite norte do sistema. Esta falha pode ser interpretada como um cavalgamento cortando a falha normal anterior, em resultado de episódio de inversão na Bacia Algarvia (Terrinha, 1998). Em Bernardinheiro, outra falha com a mesma direcção fez abater o bloco sul, pondo em contacto o Cretácico e o Jurássico. As camadas jurássicas têm inclinações entre 10º e 40º para sul e sueste, enquanto que as formações cenozóicas estão sub-horizontais. Transversalmente a estrutura está cortada por falhas com direcção NW-SE. Na região de Luz define-se uma fossa preenchida com os sedimentos do Pliocénico (Telles e Pais, in Manuppella et al., 1987), eventualmente delimitada por falhas com as duas direcções referidas. Hidrogeologia Características Gerais O sistema aquífero da Luz-Tavira, com uma área de 28 km 2, é limitado a Sul pelo mar, a Oeste pelas formações do Cretácico inferior, e a Norte pelos calcários margosos e margas do Peral, do Oxfordiano. Trata-se de um sistema multiaquífero, constituído por um aquífero Sistema Aquífero: Luz-Tavira (M15) 577

cársico, livre a confinado, cujo suporte são os Calcários Bioconstruídos de Cerro da Cabeça e Calcários do Escarpão (Jurássico superior), a que sobrepõe um aquífero poroso, também ele livre a confinado, cujo suporte são formações detrítico-carbonatadas terciárias. Localmente existem conexões hidráulicas entre estes dois aquíferos, como é demonstrado pela existência de artesianismo repuxante em alguns poços implantados em níveis miocénicos, enquanto a curta distância os níveis se situam alguns metros abaixo do solo (Silva, 1984). O substrato impermeável é formado pelos, já referidos, Calcários e Margas do Peral. No entanto, ao longo do limite sul, foram registados vários casos que indicam a ocorrência de ascensão das rochas evaporíticas do Hetangiano, que assim iria constituir o limite impermeável (Silva, 1984). A evidência de uma anomalia gravimétrica, correspondente a um diapiro de orientação N53ºE, situado a NE de Moncaparacho, bem como as condições estruturais existentes na região e os limites das séries litológicas, favorecem a existência de um fluxo subterrâneo de direcção sensivelmente E-W entre a zona do Cerro da Cabeça e Tavira, que aproveitaria as características litológicas dos calcários do Jurássico superior (Silva, 1984). Este facto sugere portanto uma transferência subterrânea do Sistema Aquífero de Peral-Moncaparacho para o de Luz-Tavira que, dadas as dificuldades em estimar os recursos entrados, não foi quantificada. Parâmetros Hidráulicos e Produtividade As características da produtividade do sistema aquífero podem ser avaliadas pelo Quadro M15.1 e Figura M15.3 (estatísticas calculadas a partir de 220 dados de dados de caudais de exploração, expressos em L/s): Média Desvio padrão Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo 5,2 2,9 0,0 2,8 5,6 6,0 19,5 Quadro M15.1 Principais estatísticas dos caudais Os valores de transmissividade estimados a partir do caudal específico variam entre 25 e 1938 m 2 /dia, sendo a mediana e a média de 104 e 384 m 2 /dia, respectivamente. Em zonas vizinhas, foram encontrados valores muitos variáveis, o que demonstra bem a heterogeneidade do meio. Figura M15.3 - Distribuição cumulativa dos caudais Sistema Aquífero: Luz-Tavira (M15) 578

Análise Espaço-temporal da Piezometria Embora se disponha de séries relativamente extensas de observações piezométricas, o número máximo de dados referentes a uma mesma campanha nunca ultrapassa 6 observações o que não é suficiente para esboçar uma mapa da superfície piezométrica. Além disso, o número de observações é repartido por diferentes aquíferos, não permitindo sequer extrair grandes conclusões sobre o padrão de fluxo do sistema. Aparentemente, existe um aquífero com níveis bastante homogéneos, em que o fluxo se faria de oeste para leste, com gradientes suaves, por vezes entre 1 e 2. O segundo aquífero apresenta níveis que poderão situar-se, em certas épocas, cerca de 20 m abaixo do anterior. Em Morgadinho é o piezómetro mais profundo que apresenta os níveis mais baixos. Estas diferenças indicam um independência entre os dois aquíferos, pelo menos nalguns sectores. Uma caracterização mais aprofundada destes aspectos necessitaria de maior número de observações e, sobretudo, de piezómetros perfeitos, isto é, intersectando apenas um dos aquíferos. A análise das séries de observações piezométricas mostra um comportamento semelhante entre os vários piezómetros, com excepção do 608/473, localizado em Pedras D'El-Rei. Os dois piezómetros situados em Morgadinho, mas intersectando diferentes aquíferos, apresentam uma evolução muito semelhante, embora as oscilações sejam mais amortecidas no que intersecta o aquífero superior. Assim, enquanto o piezómetro 608/470 (Fig. M15.4), com 145 m, apresenta uma amplitude máxima de oscilação, no período de 1990 a 1996, de 45 m e oscilações interanuais que podem atingir 20 m, o piezómetro 608/471 (Fig. M15.5) apresenta uma amplitude máxima de oscilação, para o mesmo período, de 20 m, e oscilações interanuais da ordem de 10 m. Os piezómetros 608/143 (Fig. M15.6) e 608/473 (Fig. M15.7) apresentam um comportamento semelhante ao 608/470, com amplitudes máximas de variação da ordem de 50 m e variações interanuais de que podem ser da ordem de 20 m. Os níveis mínimos foram observados em 1983, 1987 e 1996 e os máximos em 1990/1991. A partir de 1996 observou-se uma recuperação dos níveis que se aproximaram dos valores de 1990. Quanto ao piezómetro 608/473, embora apresente uma evolução semelhante aos restantes, as oscilações são muito mais pequenas, indicando que provavelmente este piezómetro intersecta um nível aquífero diferente. Na figura M15.8 pode observar-se a distribuição geográfica dos quatro piezómetros acima referidos. 608/470 Nível Piezométrico (m) 30 25 20 15 10 5 0-5 -10-15 -20-25 Jul-90 Jan-91 Jul-91 Jan-92 Jul-92 Jan-93 Jul-93 Jan-94 Jul-94 Jan-95 Jul-95 Jan-96 Jul-96 Jan-97 Jul-97 Jan-98 Jul-98 Jan-99 Jul-99 Figura M15.4 Evolução do nível piezométrico no piezómetro 608/470 Sistema Aquífero: Luz-Tavira (M15) 579

40 608/471 35 30 25 20 15 10 Jul-90 Jan-91 Jul-91 Jan-92 Jul-92 Jan-93 Jul-93 Jan-94 Jul-94 Jan-95 Jul-95 Jan-96 Jul-96 Jan-97 Jul-97 Jan-98 Jul-98 Jan-99 Jul-99 Nível Piezométrico (m) Figura M15.5 Evolução do nível piezométrico no piezómetro 608/471 40 35 30 25 20 15 10 5 0-5 -10 608/143 Aug-83 Aug-84 Aug-85 Aug-86 Aug-87 Aug-88 Aug-89 Aug-90 Aug-91 Aug-92 Aug-93 Aug-94 Aug-95 Aug-96 Aug-97 Aug-98 Aug-99 Nível Piezométrico (m) Figura M15.6 Evolução do nível piezométrico no piezómetro 608/143 608/473 10 Nível Piezométrico (m) 8 6 4 2 0-2 -4 Jul-90 Jan-91 Jul-91 Jan-92 Jul-92 Jan-93 Jul-93 Jan-94 Jul-94 Jan-95 Jul-95 Jan-96 Jul-96 Jan-97 Jul-97 Jan-98 Jul-98 Jan-99 Jul-99 Figura M15.7 Evolução do nível piezométrico no piezómetro 608/473 Sistema Aquífero: Luz-Tavira (M15) 580

# 608/143 608/473 608/470 ## 608/471 # Figura M15.8 Localização dos piezómetros no sistema aquífero Luz-Tavira Balanço Hídrico Para obter uma estimativa dos recursos médios anuais considerou-se uma superfície de 13,5 km 2 para a área coberta por depósitos detríticos e 8,5 km 2 para a restante. Considerou-se como taxa média de recarga 20% para os depósitos detríticos e 50% para os calcários sem aquela cobertura. Assim, considerando uma precipitação média de 600 mm, os recursos médios ascendem a cerca de 4 hm 3 /ano. As extracções para abastecimento público foram, de acordo com o Inventário de Saneamento Básico, em 1994, de 0,8 hm 3. As extracções para rega, de acordo com os inventários da DRAOT Algarve deverão aproximar-se dos 3 hm 3 /ano. Qualidade Considerações Gerais As águas deste sistema apresentam uma qualidade fraca, quer para abastecimento, quer para regadio. De facto, os VMR estabelecidos para água para consumo humano, são ultrapassados em quase todas as análises de cloretos, cálcio, magnésio, sódio, condutividade e dureza. Por outro lado, verifica-se elevada frequência de violações dos VMA referentes ao magnésio e dureza. Quanto à qualidade para rega, os VMR relativos aos cloretos e condutividade são ultrapassados na maioria das análises. A fácies dominante é bicarbonatada cálcica, como o indica a figura seguinte (Fig. M15.9). Quanto à tendência evolutiva dos nitratos, observa-se que, a partir de 1995, houve um aumento brusco, passando-se de valores perto dos 30 mg/l para valores superiores a 40 mg/l. Sistema Aquífero: Luz-Tavira (M15) 581

Figura M15.9 - Diagrama de Piper relativo às águas do sistema de Luz-Tavira As estatísticas principais constam do Quadro M15.2. Condutividade (µs/cm) n Média Desvio Padrão Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo 27 1364 868 600 950 1050 1290 4750 ph 163 7,4 0,5 6,7 7,2 7,3 7,6 10,2 Bicarbonato (mg/l) 43 399 109 24 348 427 476 525 Cloreto (mg/l) 166 188 521 37 71 85 156 6461 Sulfato (mg/l) 50 74 123 6 19 38 75 822 Nitrato (mg/l) 45 22 30 0 4,5 11 27 162 Nitrito (mg/l) 43 0,02 0,03 0,001 0,001 0,001 0,019 0,094 Fosfato (mg/l) 22 0,02 0,03 0,002 0,005 0,006 0,15 0,126 Dureza Total (mg/l) 42 570 263 243 420 453 643 1450 Sódio (mg/l) 155 64 58 20 35 43 62 361 Potássio (mg/l) 156 1,9 2 0,5 0,8 1,2 2,2 13,5 Cálcio (mg/l) 39 174 132 44 126 134 167 693 Magnésio (mg/l) 39 78 178 15 22 32 52 361 Quadro M15.2 - Estatísticas principais dos parâmetros físico-químicos Sistema Aquífero: Luz-Tavira (M15) 582

Qualidade para Consumo Humano Para caracterizar este aspecto da qualidade química das águas foram utilizadas análises anteriores a 1995 para a maior parte dos parâmetros, não se tendo usado mais do que uma análise por ponto de água. As análises mais recentes de sódio e potássio datam de 1992 e de cálcio e magnésio de 1993. No caso do ferro, nitritos, azoto amoniacal, fosfatos, oxidabilidade e manganês foram usadas análises recentes incluindo mais do que uma análise por captação. A apreciação da qualidade face aos valores normativos consta do quadro seguinte (Quadro M15.3). Anexo VI Anexo I Categoria A1 Parâmetro <VMR >VMR >VMA <VMR >VMR >VMA ph 98 2 2 98 2 Condutividade 0 100 33 67 Cloretos 0 100 80 20 Dureza total 62 38 Sulfatos 36 64 6 92 8 6 Cálcio 15 85 Magnésio 44 56 28 Sódio 0 100 6 Potássio 100 0 0 Nitratos 73 27 13 73 27 13 Nitritos 0 Azoto amoniacal 100 0 0 100 0 Oxidabilidade 100 0 0 Ferro 50 50 50 50 50 50 Manganês 100 0 0 100 0 Fosfatos 100 0 0 100 0 Quadro M15.3 Apreciação da qualidade da água face aos valores normativos Uso Agrícola A maioria das águas analisadas pertence à classe C 3 S 1 (72%) e as restantes distribuem-se pelas classes C 2 S 1 (8%), C 4 S 1 (13%), C 4 S 2 (3%) e C 4 S 4 (4%) (ver Figura M15.10). Quanto aos parâmetros fisico-químicos, nenhum excede o VMA. A condutividade excede o VMR em cerca de 56% dos casos e os cloretos excedem aquele limite em cerca de 74% das análises e os nitratos em 13%. Sistema Aquífero: Luz-Tavira (M15) 583

Figura M15.10 - Diagrama de classificação da qualidade para uso agrícola Bibliografia Costa, F. E., Brites, J. A., Pedrosa, M. Y., Silva, A. V. (1985) - Carta Hidrogeológica da Orla Algarvia, esc. 1:100 000. Notícia Explicativa. Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa. Manupella, G., Ramalho, M., Antunes, A. T., Pais, J. (1987) - Carta Geológica de Portugal na Escala 1:50 000, Notícia Explicativa da Folha 53-B, TAVIRA. Serviços Geológicos de Portugal, 36 pág. Manuppella, G. (coord.) (1992) - Carta Geológica da Região do Algarve, escala 1/100 000. Nota explicativa, Serviços Geológicos de Portugal, 15 pág. Moura, D. e Boski, T. (1994) - Ludo Formation - a New Lithostratigraphic Unit in Quaternary of Central Algarve. Gaia, Lisboa, 9: pp. 95-98. Pais, J. (1992) - Cenozóico, in Manuppella, G. (ccord.) (1992) - Nota Explicativa da Carta Geológica da Região do Algarve, escala 1/100 000, pp. 8-9. Silva, M. O. (1984) - Hidrogeologia do Algarve Oriental. Dissertação para a Obtenção do Grau de Doutor em Geologia. Departamento de Geologia da FCUL, 260 pág. Terrinha, P. (1998) - Structural Geology and Tectonic Evolution of the Algarve Basin, South Portugal. Thesis submitted for the Degree of Doctor of Philosophy at the University of London, 430 pág. Sistema Aquífero: Luz-Tavira (M15) 584