Sugestões de atividades e jogos para promover a construção do número pela criança Curso Construção de jogos, materiais e atividades de Matemática para as séries iniciais
Querido(a) professor(a), Apresento, neste documento, alguns exemplos de jogos e atividades que eu costumava utilizar para promover o processo de construção do número de meus alunos. Muitos deles foram adaptados das propostas presentes no livro A criança e o número, da Constance Kamii. Uma ideia poderosa que aprendi com essa pesquisadora é que eu não posso ENSINAR o número. A criança constrói o número nas situações do dia-a-dia. Eu, como professora, posso: a) criar situações e aproveitar as situações cotidianas que possam contribuir com esse processo;
b) encorajá-la a colocar todos os tipos de objetos, ideias e eventos em relação, em vez de focalizar apenas a quantificação; c) incentivá-la a pensar sobre números e quantidades de objetos significativos para ela; d) desafiá-la a criar agrupamentos (conjuntos) de objetos e comparar diferentes conjuntos; e) intervir, fazendo a criança verbalizar o que está pensando e contra-argumentar para testar a convicção de suas ideias; f) promover resolução de conflitos e trocas de ideias entre colegas. Espero que os exemplos a seguir inspirem e abram novas possibilidades ao trabalho de vocês! Abraços! Silvia Kist
Atividades cotidianas - distribuição de materiais Na sala de aula, em vez de nós professores distribuirmos o material, podemos pedir que as crianças os selecionem e distribuam. Por exemplo, em vez de oferecer 5 caixas de jogos, uma para cada grupo, podemos pedir que uma criança pegue o número de caixas suficiente para cada um dos grupos. É importante que ela faça essa correspondência: se são 5 grupos, precisa pegar 5 caixas. O mesmo vale para a distribuição de folhas, tesouras, tubos de cola, brinquedos, etc. Solicitações como: traga o número suficiente para todos na mesa fazem a criança pensar sobre a quantificação em situações cotidianas.
Atividades cotidianas - recolher coisas Recolher coisas, tais como agendas, bilhetes assinados pelos pais, tema de casa, dinheiro, folha de atividades etc. proporciona uma oportunidade natural de ensinar a composição aditiva do número. Por exemplo, podemos incentivar os alunos a pensarem: quantos são ao todo na turma? Quantos trouxeram o dinheiro ontem? Quantos trouxeram hoje? Quantos ainda faltam trazer? Ou quantos fizeram o tema de casa, quantos faltaram à aula e quantos não fizeram. Fazer uma lista dos alunos em um cartaz e marcar atividades realizadas por cada um e atividades pendentes é outra oportunidade de explorar a composição aditiva.
Atividades cotidianas - quadros de registros Podemos fazer cartazes com os nomes dos alunos, de forma que possam registrar diariamente quantos vieram à aula, quantos estão ausentes, etc. Calendários com os dias da semana ou mês também são importantes para a criança se organizar no tempo. Podemos conversar sobre esse material diariamente. Que dia é hoje, que dia foi ontem, em que dia será o passeio, quantos dias faltam para o fim de semana, etc. Registros do número de peças nas caixas dos jogos ajudam a criança a verificar se faltam peças no momento de guardá-las.
Jogo de batalha Para o jogo de batalha, podemos confeccionar as cartinhas com as crianças ou usar as cartas de um baralho convencional. Cada criança vai precisar de um número de cartinhas (podem ser 10 ou 15) e colar números nessas cartinhas ou desenhá-los. Com alunos maiores, eu gosto de confeccionar as cartinhas com recortes de preços de encartes que envolvem números decimais (com vírgula).
Jogo de batalha Pode-se jogar em duplas ou trios. Cada criança pega a primeira cartinha da sua pilha e a põe na mesa. Quem tiver colocado a cartinha com o número maior, leva as cartinhas dos colegas. Vence quem tiver mais cartinhas.
Jogo de adivinhação Uma criança pode escolher uma cartinha com números de 1 a 10, por exemplo, e as demais têm que adivinhar qual foi a carta escolhida. À medida que as crianças vão tentando adivinhar, a criança que escolheu a cartinha diz se o número é mais ou menos, ou seja, se o número é maior ou menor.
Jogos de tabuleiro O jogo pode ser criado com um pedaço de cartolina, fichas para serem colocadas nos quadrados e um dado. Ele consiste em jogar o dado e distribuir o número de fichas correspondentes no tabuleiro. O objetivo do jogo é ser o primeiro a encher o cartão, ou enchê-lo e depois esvaziá-lo, retirando o número de fichas indicado no dado. Abaixo, estão exemplos de tabuleiros que podemos confeccionar.
Jogo das roupinhas - coordenação de atributos Este jogo é um dos que mais gosto! Ele requer 18 peças e 3 dados: Tipo de roupa: calça, saia e camisa. Cor: verde, vermelho e azul Tamanho: grande e pequeno
Dados do Jogo das roupinhas Confeccionamos: um dado de COR, em que cada face possui uma das cores: verde, vermelho e azul (na verdade, haverá duas faces com cada cor porque usamos somente 3 cores); Um dado de TIPO DE ROUPA, em que cada face possui a imagem de uma peça de roupa: calça, saia e camisa (duas faces para cada tipo); Um dado que representa TAMANHO, em que 3 faces têm tamanho pequeno e 3 faces têm tamanho grande.
Jogo das roupinhas - como jogar A criança joga os três dados juntos e precisa achar a peça que corresponde aos três atributos. Para achar a peça, ela precisa coordenar esses três atributos. Crianças que estão em processo inicial de construção do número têm dificuldade em fazer coordenação, e esse jogo pode ajudá-las a desenvolver tal operação. No exemplo abaixo, a partir da combinação dos dados, a criança tem que localizar a peça: camiseta, vermelha, pequena.
Molde para confeccionar o jogo das roupinhas. Elas podem ser feitas de papel cartão ou E.V.A.
Blocos lógicos Materiais para conjuntos São 48 peças de madeira ou plástico: Formas: quadrados, triângulos, retângulos e círculos Tamanhos: grande e pequeno Cores: amarelo, azul e vermelho Espessura: grosso e fino * As peças também podem ser confeccionadas em papelão ou E.V.A, eliminado o atributo espessura.
Sugestões de atividades com Blocos lógicos *algumas dessas ideias também podem ser adaptadas para o jogo das roupinhas. Exploração livre: deixar o aluno brincar livremente para promover a familiarização com o material. Depois, incentivá-lo a classificar ora por cores, ora por formas, tamanho ou espessura. Identificação das peças: pedir que o aluno mostre o quadrado vermelho, grande e fino, por exemplo. Depois, mostrar uma peça e pedir a descrição. Jogo das diferenças: mostrar duas peças e pedir que os alunos apontem as diferenças. Ex: a cor e a espessura são diferentes.
Sugestões de atividades com Blocos lógicos Jogo do trenzinho ( uma diferença, nem mais, nem menos ): distribuir as peças para as crianças. Uma delas começa o jogo, colocando no centro da mesa uma peça qualquer (ex: um círculo azul, pequeno, grosso); a segunda criança deve colocar ao lado da primeira peça uma outra que possua uma diferença e três permanências (ex: um círculo, azul, grande, grosso); a brincadeira continua, tendo como referência qualquer uma das peças das pontas. Se a criança não tiver peça para colocar, pula a sua vez. Quem colocar primeiro todas as peças ganha o jogo.
Sugestões de atividades com Blocos lógicos Jogo da seriação: colocar algumas peças em fila para o aluno descobrir a regra e continuar. Uma regra pode ser uma sequência de cores: amarelo, azul, vermelho, amarelo, azul, vermelho (usando peças de qualquer forma, tamanho ou espessura). Outra regra pode ser forma: triângulo, quadrado, círculo, triângulo, quadrado, círculo (usando peças de qualquer cor, tamanho ou espessura).
Jogo da caixa de fósforo - Conservando 10 Material: - caixa pequena com uma partição entre as duas seções. Podemos usar uma caixa de fósforos grande. Aí, dobramos um pouco a partição no meio para que as peças possam se movimentar entre os dois lados. - 10 pecinhas na caixa. Podemos usar botão, feijão, etc.
Jogo da caixa de fósforo - Conservando 10 Objetivo: conservar 10. A criança vai vivenciar diferentes maneiras de formar o número 10: 10+0, 9+1, 8+2, 7+3, etc. Como jogar: agitamos a caixa, para que algumas pecinhas fiquem numa partição e outras, na outra. Primeiro, sem abrir a caixa, perguntamos quantas peças a criança acha que há em cada lado. Depois, abrimos apenas um lado e deixamos o outro coberto. Pedimos que a criança conte quantas estão no lado aberto e perguntamos quantas devem estar no outro lado. Ex: se no lado aberto há 4 pecinhas, ela deve pensar quantas estão no outro lado, sabendo que no total há 10.
Referências: KAMII, Constance. A criança e o número: implicações educacionais da teoria de Piaget por atuação. 6. ed. Campinas: Papirus, 1987. NETO, Ernesto Rosa. Didática da Matemática. 11. ed. São Paulo: Ática, 2001.