Programa de Intervenção para a Adesão ao Regime Medicamentoso Casa de Saúde da Idanha 2011 Autores: Mariana Bordalo Rodrigues (Enfermeira chefe Unidade de S. Rafael) Bruno José Prates (Enfermeiro Especialista em SMP) Coordenadores: Carla Alexandra Silva Pombo (Coordenadora do Programa Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem, Casa de Saúde da Idanha) Paula Carneiro (Directora de Enfermagem da Casa de Saúde da Idanha) Contacto: dir.enf.csi@irmashospitaleiras.pt 0
Índice 1. Identificação e descrição do problema 2. Dimensão do problema 3. Causas da não adesão 4. Objectivos do programa 5. Medidas correctivas 6. Indicadores do programa 7. Considerações finais 8. Referências Bibliográficas
Identificação e descrição do problema
1. IDENTIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DO PROBLEMA O que é a Adesão ao Regime Terapêutico? Grau ou extensão em que o comportamento da pessoa em relação à toma da medicação, ao cumprimento da dieta e alteração de hábitos ou estilos de vida, corresponde às recomendações veiculadas pelo profissional de saúde (WHO, 2003). Os comportamentos de não-adesão são definidos como respostas dos indivíduos à falta de coincidência entre as suas ideias e as do médico relativamente aos seus problemas e/ou tratamentos (Klein e Gonçalves, 2005, citados por Cabral e Silva, 2010, p. 2). 3
Factores implicados na adesão ao regime medicamentoso Factores relacionados com a adesão terapêutica (WHO, 2003) Motivos relacionados com a não adesão à terapêutica (Cabral e Silva, 2010) 4
1. IDENTIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DO PROBLEMA A identificação do problema de não adesão ao regime medicamentoso partiu da percepção da equipa de que as pessoas reinternadas na unidade não cumpriam adequadamente com o esquema medicamentoso prescrito. Dificuldade na quantificação do problema: Não existia a prática de identificar claramente a não adesão ao regime medicamentoso; Não utilização de instrumentos que permitissem a sua avaliação. 5
Dimensão do problema
2. DIMENSÃO DO PROBLEMA Medida de Adesão aos Tratamentos (MAT) Este método, para avaliação da adesão aos tratamentos, baseia-se na falta de aderência por: Esquecimento; Descuido com as horas; Melhoria sintomática; Reacções adversas; Excesso relativamente à prescrição; Dificuldades de carácter económico; Figura 2 Medida de Adesão aos Tratamentos (MAT) in Delgado e Lima (2001). Outras causas não expressas nas perguntas anteriores. 7
2. DIMENSÃO DO PROBLEMA Prevalência de adesão ao regime medicamentoso = N.º de doentes reinternados com adesão x 100 Nº total de doentes reinternados 40,74% dos doentes reinternados que praticavam auto gestão do regime medicamentoso no período de Janeiro a Junho de 2011 (n = 54), foram considerados como aderentes (score de MAT 5). O que significa que: 59,26% foram considerados como não aderentes 8
Causas da não-adesão
3. CAUSAS DA NÃO-ADESÃO De forma a possibilitar a identificação das causas mais prevalentes de não adesão ao regime medicamentoso, foi realizado o tratamento estatístico (em frequências absolutas) das respostas obtidas em cada uma das questões da Medida de Adesão Terapêutica (MAT) no período de Janeiro a Junho de 2011 (n=107), tendo sido obtidos os seguintes valores: 10
Objectivos do programa
4. OBJECTIVOS DO PROGRAMA Objectivo Geral Aumentar a adesão ao regime medicamentoso dos doentes reinternados na unidade em 20%, após 12 meses de implementação do programa. Justificação: % de Adesão ao regime medicamentoso é reconhecido como um indicador importante da eficiência dos serviços de saúde (WHO, 2003); % de Adesão ao regime medicamentoso obtida está abaixo do descrito internacionalmente (54% nas patologias crónicas, 78% nas patologias agudas) (Joyce-Moniz e Barros, 2005); A não adesão ao regime medicamentoso acarreta aumento da incidência e da prevalência de várias patologias (WHO, 2003); 12
Objectivos Específicos 30% dos doentes internados durante o período considerado (12 meses) sejam abrangidos por sessões psicoeducativas; 30% dos doentes internados durante o período considerado (12 meses) sejam abrangidos por consultas/entrevistas motivacionais; 30% dos doentes em ambulatório durante o durante o período considerado (12 meses) sejam abrangidos pelo follow-up telefónico. 13
Medidas correctivas
5. MEDIDAS CORRECTIVAS Diferentes tipos de intervenções têm sido sugeridas: Psicoeducação (Colom et al., 2004); Terapia cognitivo-comportamental (TCC) (Kemp et al., 1996); Entrevistas motivacionais (Kemp et al.,1996); Acompanhamento ou contacto telefónico (Simon et al., 2000). Nenhuma intervenção por si só demonstra ser suficientemente abrangente face ao problema da adesão terapêutica, ao ponto de obter ganhos significativos (Zygmunt et al., 2002). Sessões Psicoeducativas sobre o tema Adesão Terapêutica ; Consulta/Entrevista Motivacional; Follow-up Telefónico. 15
Sessões Psicoeducativas sobre o tema Adesão Terapêutica Periodicidade quinzenal; Alvo: todas as pessoas internadas no serviço que pratiquem auto gestão do regime medicamentoso; São abordadas genericamente as vantagens da adesão ao regime terapêutico, as consequências da não adesão e estratégias genéricas a considerar para melhorar a adesão/cumprir com o esquema terapêutico proposto; Recurso à metodologia de grupo terapêutico, onde após exposição, pelo enfermeiro dinamizador da acção, da importância da adesão ao regime terapêutico (medicamentoso) é dada oportunidade aos elementos do grupo de exporem e partilharem as suas dúvidas e experiências pessoais relativas ao tema; Duração aproximada de 50 minutos; Disponibilizada informação em suporte de papel (folheto); Realizada uma súmula dos aspectos mais importantes da sessão. 16
Consulta/Entrevista Motivacional São desenvolvidas pelos enfermeiros a todas as pessoas internadas no serviço que pratiquem auto gestão do regime terapêutico, em momento oportuno aquando da preparação para a alta; São abordadas as questões/dúvidas individuais da pessoa relativamente ao esquema terapêutico prescrito para a alta, as dificuldades que prevê que possa ter na gestão do regime medicamentoso e as estratégias a considerar em relação às suas dificuldades; São reforçadas as informações transmitidas anteriormente na sessão psicoeducativa, pela disponibilização de panfletos informativos sobre a importância da adesão terapêutica a entregar juntamente com o guia terapêutico; É realizado um contrato terapêutico relativamente ao follow-up telefónico a manter no pós-alta. 17
Follow-up telefónico Concordância prévia da pessoa e o estabelecimento de um contrato terapêutico a efectuar na entrevista motivacional; São realizados contactos telefónicos na 1ª, 2ª e 4ª semana pós alta, onde serão avaliadas as dúvidas e as dificuldades das pessoas relativamente ao esquema terapêutico proposto; Se necessário, é realizada articulação com o médico assistente para alteração/reajuste do esquema terapêutico (presencial em consulta médica a marcar, ou por indicação telefónica); São ainda reforçadas as indicações dadas anteriormente nas sessões psicoeducativas e na consulta/entrevista motivacional. Para a operacionalização desta intervenção, foi desenvolvido um guião de entrevista segundo o modelo utilizado e proposto por Dudas et al. (2001). 18
Guião de Entrevista de Follow-up 19
Indicadores do programa
6. INDICADORES DO PROGRAMA Indicadores de Estrutura Existência de sessões psicoeducativas quinzenais Existência de uma consulta/entrevista motivacional de preparação para a alta Existência de follow-up telefónico no pós alta Indicadores de Processo % de doentes abrangidos pelas sessões psicoeducativas % de doentes abrangidos pelas consultas/entrevistas motivacionais % de doentes abrangidos pelo follow-up telefónico % de doentes a quem foi cumprido o protocolo/norma 21
6. INDICADORES DO PROGRAMA Indicador Epidemiológico Prevalência de adesão ao regime medicamentoso = N.º de doentes reinternados com adesão x 100 Nº total de doentes reinternados Indicador de Resultado Semestral Modificação positiva na adesão ao regime medicamentoso = Nº. de doentes com diag. não-adesão que passaram a adesão com pelo menos 1 intervenção de enf. Doc. X 100 Nº total de doentes com diagnóstico de não-adesão Anual 22
Base de dados em Excel 23
Considerações finais
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS A enfermagem, pelas suas intervenções, assume uma importância fundamental na melhoria da qualidade e dos ganhos de saúde, devido: Ao conhecimento alargado dos contextos (informação relacionada com os problemas) À experiência e visão integrada dos problemas no contexto de saúde/doença das pessoas. Tendo em consideração os objectivos que estiveram na base deste programa, pretende-se: Sensibilizar para a importância da identificação de problemas de saúde (e das suas causas) no planeamento de projectos de melhoria contínua da qualidade; Demonstrar os ganhos de saúde que poderão decorrer das intervenções autónomas de enfermagem propostas, no caso concreto, para o problema da adesão terapêutica. 25
Referências Bibliográficas
8. Referências Bibliográficas Cabral, M. e Silva, P. (2010). A adesão à terapêutica em Portugal: atitudes e comportamentos da população portuguesa perante as prescrições médicas. Acedido em 7 de Abril de 2011, no Web site da: Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica APIFARMA: http://www.apifarma.pt/uploads/conclus%c3%b5es%20ades%c3%a3o%20% C3%A0%20Terap%C3%AAutica%20PT.pdf. Conselho Internacional de Enfermeiras. (2002). Classificação Internacional para a prática de Enfermagem Versão β 2. 1ª edição, ICN. Genebra. Delgado, A. e Lima, M. (2001). Contributo para a validação concorrente de uma medida de adesão aos tratamentos. Psicologia, saúde & doenças, 2 (2): 81-100. Demyttenaere, K. (2001). Adesão ao tratamento antidepressivo. Saúde Mental, 3 (5): 15-24. Joyce-Moniz, L. e Barros, L. (2005). Psicologia da doença para cuidados de saúde: Desenvolvimento e intervenção. Edições ASA. Porto. 27
8. Referências Bibliográficas Leite, S. e Vasconcellos, M. (2003). Adesão à terapêutica medicamentosa: elementos para a discussão de conceitos e pressupostos adoptados na literatura. Ciência & Saúde Colectiva, 8 (3): 775-782. Ordem dos Enfermeiros. (2007). Resumo Mínimo de Dados e Core de Indicadores de Enfermagem para o Repositório Central de Dados da Saúde. OE. Lisboa. Acedido em 8 de Abril de 2011, no Web site da: Ordem dos Enfermeiros: http://www.ordemenfermeiros.pt/documentosoficiais/documents/rmde_indicad ores-vfout2007.pdf. Santin, A., Ceresér, K., Rosa, A. (2005). Adesão ao tratamento no transtorno bipolar. Revista de Psiquiatria Clínica, 32 (1): 105-109. World Health Organization (2003). Adherence to long-term therapies: Evidence for action. Acedido em 7 de Abril de 2011, no Web site da: World Health Organization: http://www.who.int/chronic_conditions/adherence/en/. Zygmunt, A., Olfson, M., Boyer, C., Mechanic, D. (2002). Interventions to improve medication adherence in schizophrenia. The American Journal of Psychiatry, 159 (10): 1653-1664. 28