MEDIÇÃO DA ARQUITETURA MUSCULAR DO M. GASTROCNÊMIO LATERAL, ATRAVÉS DA TÉCNICA DE ULTRA-SONOGRAFIA

Documentos relacionados
ESTIMATIVA DO TORQUE MÁXIMO DO TRÍCEPS SURAL ATRAVÉS DE MODELO MATEMÁTICO

Deformação relativa e frouxidão do tendão calcanear durante mobilização articular passiva através de ultra-sonografi a por imagem

ULTRASSONOGRAFIA. Músculo Esquelético CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM BIOMECÂNICA EEFD - UFRJ MÚSCULO ESQUELÉTICO

ESTIMATIVA DA FORÇA MUSCULAR MÁXIMA UTILIZANDO ULTRASSOM

ESTIMATIVA DA DISTRIBUIÇÃO DE TORQUE NOS MÚSCULOS DO TRÍCEPS SURAL COM PARÂMETROS OBTIDOS POR ULTRASSOM. Rafael Griffo de Lacerda

INFLUÊNCIA DO TEMPO DE PRÁTICA DO TAI CHI CHUAN NA ARQUITETURA MUSCULAR DE IDOSAS

Influência de posições do joelho no torque e atividade mioelétrica do tríceps sural na flexão plantar isométrica máxima

ARQUITECTURA MUSCULAR - PARTE I

Efeito agudo de saltos intermitentes na arquitetura muscular do Vasto Lateral em atletas de voleibol

COMPARAÇÃO DO TORQUE DE RESISTÊNCIA EXTERNO DE EXERCÍCIOS DE FLEXÃO DO COTOVELO

TIPOS DE RESISTÊNCIA TIPOS DE RESISTÊNCIA TIPOS DE RESISTÊNCIA TIPOS DE RESISTÊNCIA TIPOS DE RESISTÊNCIA 4- CADEIAS CINÉTICAS 19/8/2011 PESOS LIVRES:

Estimation Of Muscle Volume Of Water Polo Athletes Of Dominant And Non- Dominant Limbs

CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO DO TORQUE MUSCULAR DOS MÚSCULOS ADUTORES E ABDUTORES DO QUADRIL

27/5/2011. Arquitetura Muscular & Envelhecimento. Envelhecimento: Associado à idade cronológica. Evento multideterminado (difícil determinação)

EFEITO DO TREINAMENTO DE EXERCÍCIOS DE FLEXIBILIDADE SOBRE A MARCHA DE IDOSAS

ESTIMATIVA DA FORÇA MUSCULAR RESULTANTE DOS FLEXORES DO COTOVELO A PARTIR DO TORQUE RESULTANTE

Rafael Reimann Baptista 1, Marco Aurélio Vaz 2 ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA. APRESENTAÇÃO mar ACEITO PARA PUBLICAÇÃO out.

Reconhecimento de Sinais EMG (Plano Horizontal Sem Carga)

COMPARAÇÃO DE VALORES DE TESTES DE FORÇA EXTERNA MÁXIMA DO QUADRÍCEPS FEMORAL

e torque ativo de flexão dorsal em ginastas rítmicas e não atletas

Serão o tipo de contração e a amplitude dos exercícios de treino de força, determinantes na melhoria da funcionalidade e qualidade muscular?

INFLUÊNCIA DO TORQUE PASSIVO DE FLEXÃO PLANTAR SOBRE O TORQUE ATIVO DE FLEXÃO DORSAL EM ATLETAS DE GINÁSTICA RÍTMICA E MENINAS NÃO ATLETAS

EXERCÍCIO DE FLEXÃO DE JOELHOS: MÁQUINA X CANELEIRA

Espessura e qualidade musculares medidas a partir de ultrassonografia: influência de diferentes locais de mensuração

Métodos de Medição em Biomecânica

Viscoelasticidade dos flexores plantares, salto vertical e envelhecimento

IDENTIFICAÇÃO DE PARÂMETROS BIOMECÂNICOS DO TRÍCEPS SURAL ATRAVÉS DO MÉTODO DE MONTE CARLO VIA CADEIA DE MARKOV

Estudo dos momentos e forças articulares. Problema da dinâmica inversa. Ana de David Universidade de Brasília

ESTIMATIVA IN VIVO DA DISTÂNCIA PERPENDICULAR DO LIGAMENTO PATELAR A PARTIR DO MÉTODO GEOMÉTRICO.

Confiabilidade da Medida de Espessuras Musculares Pela Ultrassonografia

INFLUÊNCIA DO MÉTODO DE CÁLCULO NA DEFASAGEM ELETROMECÂNICA EM SALTOS VERTICAIS: UM ESTUDO DE CASO

8/4/2011 RELEMBRANDO INTRODUÇÃO TENDÃO TIPOS DE TENDÕES TENDÃO: ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO SISTEMA NERVOSO + INTERAÇÃO MÚSCULO/TENDÃO

O corpo em repouso somente entra em movimento sob ação de forças Caminhada em bipedia = pêndulo alternado A força propulsiva na caminhada é a força

CARACTERIZAÇÃO DO TORQUE DE RESISTÊNCIA A PARTIR DAS CARACTERÍSTICAS MUSCULARES DO QUADRÍCEPS

Mecânica Articular 15/8/2011. Agradecimentos. Objetivos. Dinâmica da disciplina. Anatomia Complexo do ombro. Observação MEMBROS SUPERIORES 06/08/2011

DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE SOFTWARE PARA QUANTIFICAÇÃO DE PARÂMETROS DA ARQUITETURA MUSCULAR EM IMAGENS DE PHANTOM ULTRASSÔNICO

ESTIMATIVA IN VIVO DA DISTÂNCIA PERPENDICULAR EFETIVA DO TENDÃO DO QUADRÍCEPS NO PLANO SAGITAL.

Músculos da Perna e Pé

Efeitos do método isostretching sobre parâmetros morfológicos e sobre um conjunto de testes motores em idosas

Biomecânica do Movimento Humano: Graus de Liberdade, Potência articular e Modelamento Biomecânico. Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

Músculos da Perna e Pé. Profa. Dra. Cecília H A Gouveia Ferreira Departamento de Anatomia Instituto de Ciências Biomédicas Universidade de São Paulo

BIOMECÂNICA DOS TENDÕES. Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

Resistência Muscular. Prof. Dr. Carlos Ovalle

Análise Clínica da Marcha Exemplo de Aplicação em Laboratório de Movimento

Por que devemos avaliar a força muscular?

ASPECTOS BIOMECÂNICOS DA UNIDADE MÚSCULO- TENDÍNEA SOB EFEITO DO ALONGAMENTO.

COMPORTAMENTO DO SINAL EMG NOS MÚSCULOS TIBIAL ANTERIOR E SÓLEO EM HUMANOS DURANTE A FADIGA

Jessica Henriques Duarte Chelidonopoulos

BIOMECÂNICA DA AÇÃO MUSCULAR EXCÊNTRICA NO ESPORTE. Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

JUSTIFICATIVA DA EXISTÊNCIA DE MOMENTO FLEXOR DO JOELHO DURANTE A FASE PROPULSIVA DE UM SALTO HORIZONTAL.

EXAME NEUROLÓGICO III

FUNDAÇÃO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DE BARUERI. Sistema Muscular

Instituto de Cultura Física

Avaliação do perfil da arquitetura neuromuscular em pacientes submetidos a cirurgia do ligamento cruzado anterior.

Adaptações Neuromusculares de Flexores Dorsais e Plantares a Duas Semanas de Imobilização Após Entorse de Tornozelo

importantíssimo para o funcionamento do corpo humano Origem MESODÉRMICA Presença de miofibrilas contidas no citoplasma

18/6/2011 ULTRASSONOGRAFIA. Introdução. Introdução. Introdução. Introdução. Ultrassonografia. Arquitetura Muscular

Apostila de Cinesiologia. Cotovelo

PROJETO DE GRADUAÇÃO II

Prof. Ms. Sandro de Souza

Ossos da Perna Vista Anterior

Fasciite PLANTAR UNIFESP - SÃO PAULO. LEDA MAGALHÃES OLIVEIRA REUMATOLOGIA - fisioterapeuta.

Cinemática do Movimento

PRODUÇÃO DE FORÇA DOS MÚSCULOS FLEXORES DO COTOVELO EM DIFE- RENTES POSIÇÕES DA ARTICULAÇÃO DO OMBRO

TABELA 1 Efeito da inclinação do tronco na atividade 1995)... 14

POSICIONAMENTOS DOS MEMBROS INFERIORES. Prof.ª Célia santos

Tratamento estatístico de observações geodésicas

Concepção de uma ortótese para a articulação do joelho

MEMBROS INFERIORES. Anatomia Humana Segmentar Profª. Kátia Nóbrega Profª. Terezinha Nóbrega

INFLUÊNCIA DO EXCESSO DE PESO NA FORÇA MUSCULAR DE TRONCO DE MULHERES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO CAROLINE PIETA DIAS

ANÁLISE DA COATIVAÇÃO E COMPARTILHAMENTO DE TORQUE DO TRÍCEPS SURAL EM IDOSOS POR MODELO EMG-DRIVEN. Débora Rodrigues de Oliveira Verneque

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO

COMPRESSÃO DE SINAIS DE ELETROMIOGRAFIA

MODELO DE QUANTIFICAÇÃO DA FORÇA MUSCULAR DO TRÍCEPS BRAQUIAL UTILIZANDO A EMG DE SUPERFÍCIE

10/17/2011. Conhecimento Técnico. Construir Argumentos

SISTEMA PARA DETERMINAR ÂNGULOS DOS MOVlMENTOS DO CORPO HUMANO DURANTE O EXERCíCIO FíSICO

Análise da força isométrica máxima e do sinal de EMG em exercícios para os membros inferiores

Cinesiologia aplicada a EF e Esporte. Prof. Dr. Matheus Gomes

Efeito das variações de técnicas no agachamento e no leg press na biomecânica do joelho Escamilla et al. (2000)

Centro Universitário de Brasília Instituto CEUB de Pesquisa e Desenvolvimento - ICPD

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA

DISCIPLINA: NIVELAMENTO EM FÍSICA/MATEMÁTICA LISTA DE EXERCÍCIOS AULA 1 ENTREGAR NA AULA DO DIA 09/04/2011

Miologia. Mio Músculo Logia Estudo Quatrocentos músculos esqueléticos 40 50% da massa corporal.

Análise teórica e experimental da energia despendida no exercício de extensão do joelho para aplicações em engenharia de reabilitação

Equilibrio postural e musculoesquelético de skatistas

RULA (RAPID UPPER LIMB ASSESSMENT)

TÉCNICAS RADIOLÓGICAS APLICADAS NOS ESTUDOS DAS INSTABILIDADES

Comparação entre a realização da flexão de joelhos na máquina e com peso livre: modelamento baseado na mecânica newtoniana

para ante-perna e joelho.

ANÁLISE DOS MOVIMENTOS DO MÉTODO PILATES LUCIANA DAVID PASSOS

MODELAGEM DE MARCHA E SIMULAÇÃO DE DESGASTE EM PRÓTESE DE JOELHO

Congresso de Inovação, Ciência e Tecnologia do IFSP

Título do Trabalho: Aplicação Da Kinesio Taping Na Correção Funcional Da Marcha

Análise de Forças no Corpo Humano. = Cinética. = Análise do Salto Vertical (unidirecional) Exemplos de Forças - Membro inferior.

SIMULAÇÃO E DETERMINAÇÃO DE DESLOCAMENTO COM GNSS (GPS) Simulation and Determination of Displacement with GNSS (GPS)

PROPOSTA DO MAWASHI GERI DO KARATÊ SHOTOKAN COM PRINCÍPIOS DA BIOMECÂNICA

Revista Brasileira de Pesquisa em Ciências da Saúde

Desenvolvimento de Sistemas de Aquisição, Processamento e Análise de Sinais Eletrocardiográficos. Introdução

Transcrição:

MEDIÇÃO DA ARQUITETURA MUSCULAR DO M. GASTROCNÊMIO LATERAL, ATRAVÉS DA TÉCNICA DE ULTRA-SONOGRAFIA Rafael Griffo¹, Thiago Torres da Matta¹, Jurandir Nadal², Liliam Fernandes de Oliveira¹ ¹Laboratório de Biomecânica Escola de Educação Física e Desportos UFRJ Rio de Janeiro ²Laboratório de Processamento de Sinais Programa de Engenharia Biomédica COPPE/UFRJ Rio de Janeiro Resumo: Os modelos matemáticos que estimam o valor da força de um músculo específico utilizam parâmetros de arquitetura muscular medidos diretamente, entre os quais o ângulo de penação e o comprimento do fascículo dos músculos, em que a ultra-sonografia vem sendo uma das técnicas mais empregadas neste tipo de análise. O propósito deste trabalho foi medir o ângulo de penação e o comprimento do fascículo do músculo gastrocnêmio lateral, por ultrasonografia, em repouso e em contração voluntária máxima (CVM), estando o tornozelo a 90 e o joelho em extensão. O ângulo de penação médio foi de 15,8º (±1,6) em repouso e 22,5º (±2,9) em CVM e o comprimento médio do fascículo de 57,0 mm (±7,3) em repouso e de 43,7 mm (±4,6) em CVM, ratificando a literatura. Estes resultados demonstram a redução do comprimento do fascículo e um aumento do ângulo de penação como estratégia de reestruturação interna durante a contração. Palavras Chave: ângulo de penação, comprimento do fascículo, Ultra-som, Gastrocnêmio lateral Abstract: The mathematical models that estimate the muscle strength use muscle architecture parameters directlymeasured as the pennation angle and the fascicle length of the muscles. Currently, the ultrasonography is one of the most used techniques in this type of analysis. The purpose of this work was to measure the pennation angle and the fascicle length of the lateral gastrocnemius by ultrasonography, at rest and maximal voluntary contraction (MVC), with the ankle at 90º and the knee at 0º (full extension). The pennation angle measured was 15,8º (±1,6) at rest and 22,5º (±2,9) at MVC. The fascicle length had the average value of 57,0mm (±7,3) at rest and 43,7 mm (±4,6) at MVC, ractifying the literature. These demosntrated the fascicule length reduction and the pennation angle increasing as an internal muscle reconfiguration during contraction. Keywords: pennation angle, fascicle length, ultrasonography, lateral gastrocnemius. INTRODUÇÃO Modelos matemáticos têm sido largamente utilizados para estimar a contribuição de cada músculo na produção do torque muscular [1]. Os primeiros modelos descritos utilizavam parâmetros arquitetônicos do músculo derivados de medições feitas em cadáveres [2,3], o que introduzia erros nos valores preditos. Posteriormente, com a aplicação das técnicas de imagem como a MRI (Magnetic Ressonance Image), o Raio-X, a Tomografia computadorizada e o Ultra-som por imagem (US), tem sido possível medir os parâmetros musculares in vivo, proporcionando maior acurácia nos resultados da modelagem. Dentre tais técnicas, a ultra-sonografia tem adquirido importância, pois apresenta baixo custo relativo, boa reprodutibilidade e é de fácil manuseio [4,5]. Dentre os parâmetros da arquitetura muscular mais estudados estão o ângulo de penação, definido como o ângulo formado entre o fascículo e a aponeurose interna do músculo e o comprimento do fascículo, como sendo a distância do ponto da junção deste fascículo com a aponeurose interna, até a aponeurose externa (epimísio). Estes parâmetros têm sido descritos na literatura, derivados de imagens por US para vários grupamentos musculares como os extensores e flexores do cotovelo [6,7,8], extensores do joelho [9,10], dorsiflexores [11,12] e flexores plantares [13,14,15,16,17] Os flexores plantares são muito utilizados neste tipo de análise devido às vantagens

metodológicas, como a facilidade na visualização das estruturas e no manuseio do transdutor do US [1]. Além disso, o tríceps sural tem relevância funcional já que é fundamental na compreensão de importantes características do corpo humano, como a marcha e o equillíbrio. Os estudos neste contexto apresentam diferenças metodológicas, como a padronização do local da medida, a característica do grupo estudado e o nível de expertise do avaliador. A condição muscular em que estes parâmetros são medidos também variam nos estudos, como análises em repouso e em contrações isométricas máximas e submáximas [14,18,19,20,21]. Estes aspectos contribuem para a alta variabilidade dos resultados da literatura. O objetivo deste estudo foi quantificar o ângulo de penação e o comprimento do fascículo do músculo gastrocnêmio lateral de indivíduos jovens, em repouso e em contração voluntária máxima (CVM), utilizando a técnica de ultrasonografia. MATERIAIS E MÉTODOS O grupo foi composto por 15 homens, estudantes do Curso de Educação Física, idade média de 23,87 (±2,85) anos, massa corporal 77,54 (± 9,45) kg e estatura de 175,1 (± 4,86) cm. Os indivíduos assinaram termo de consentimento livre e esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRJ. A instrumentação consistiu de um aparelho de ultra-som (modelo EUB-405, Hitachi Medical Corporation), com um transdutor linear (freqüência fundamental de 7.5 MHz). Foi utilizado um gel (Ultrex-gel, Farmativa Indústria e Comércio Ltda.) para o acoplamento acústico na superfície da pele. O mesmo pesquisador manuseou o aparelho durante todo o período de coleta dos dados. As imagens de ultra-som foram digitalizadas com uma freqüência de 30 quadros/segundo. Uma filmadora digital Sony (DCR-HC42) gravou as imagens, acoplada ao Ultra-som e ao computador. Os filmes produzidos foram editados posteriormente em um computador portátil (Pentium 4 Microsoft Windows XP). O protocolo consistiu em medir o comprimento da perna direita (distância entre a fossa poplítea e o maléolo lateral), do indivíduo em decúbito ventral sobre uma maca fixa ao solo, e acoplar longitudinalmente o transdutor do US, a 30% proximal desta distância [14]. Neste ponto foram captadas as imagens do ângulo de penação e do comprimento do fascículo em repouso. O pé direito foi firmemente fixado a um pedal por meio de tiras de velcro, com o tornozelo a 90 para o teste de CVM, mantendo o joelho em extensão completa e os membros inferiores fixados à maca através de tiras contensoras. O transdutor recolocado sobre a marcação anterior buscando a melhor imagem. Para a CVM o indivíduo foi encorajado a realizar a flexão plantar máxima em rampa de 4 segundos, permanecendo por mais 4 segundos e retornando ao repouso no mesmo tempo, como descrito por Kubo e cols [22]. O teste de CVM foi realizado duas vezes, com um intervalo de três minutos. Após inspeção visual, os quadros relativos às condições de repouso e de CVM foram selecionados de acordo com a qualidade da imagem. Utilizando recursos básicos do aplicativo de editor de imagem, o ângulo de penação e o comprimento do fascículo foram medidos e escalonados (Figura 1).

DISCUSSÃO Os valores encontrados neste estudo foram comparados com relatados na literatura, sumarizados na tabela 2. Tabela 2: Estudos anteriores com metodologia similar à adotada neste estudo Figura 1: Medidas do ângulo de penação e comprimento do fascículo em repouso Para análise estatística foi aplicado o teste não paramétrico de Wilcoxon para comparação das variáveis: ângulo de penação (âng.pen) e o comprimento do fascículo (Lfasc), em repouso e em CVM e entre as medidas consecutivas. O nível de significância (α) adotado foi de 0,05 (5%). RESULTADOS Não houve diferença significativa entre os valores obtidos nas duas medidas consecutivas dos parâmetros, tanto em repouso quanto em CVM. Portanto, na análise das diferenças foi adotada a média de ambas as medidas. A Tabela 1 apresenta os resultados médios dos parâmetros analisados. Tabela 1: Valores médios (±dp) dos parâmetros, em repouso e em CVM Parâmetro repouso CVM Ang pen( ) 15,8 (±1,6) 22,5 (±2,9)* L fasc. (mm) 57,0(±7,3) 43,7(±4,6)** *p =0,000655 **p=0,000805 L fascículo (mm) Âng_penação ( ) Autores repouso CVM repouso CVM Kawakami [14] 56±8 38±6 13±1 24±4 Maganris[20] 74±3,4 35±3 11,3±1,2 35±2,4 Chow [18] 44,6±8,4-15,5±3 - Maganaris [16] - 41±6-27±4 Maganaris[1] 56±4 33±2-24±4 Os valores do comprimento do fascículo em repouso obtidos ratificam os estudos com metodologia similar, como os de Kawakami e cols [14], Chow e cols [18] e Maganaris [1]. O trabalho de Maganaris e cols [16] foi metodologicamente diferente, em que os indivíduos apresentavam o joelho com flexão de 90. Neste caso, o músculo já estaria em condição encurtada, favorecendo um aumento do ângulo de penação para um rearranjo da unidade músculotendínea. Além disso, o cálculo do ângulo de penação também foi diferente, definido por ele, neste estudo, como o ponto de interseção do fascículo com a aponeurose externa e não com a interna como neste e nos demais trabalhos. Esta abordagem pode ter resultado em maiores valores do ângulo de penação em CVM. O comportamento do comprimento do fascículo em CVM encontrado ratifica os outros trabalhos. A redução de aproximadamente 23,3% foi menor do que os reportados com metodologia similar (32% para Kawakami e cols [14] e 41%

para Maganaris [1]). Possíveis explicações remontam à questão metodológica. Alguns indivíduos do grupo estudado relataram incômodo na fixação do pé ao pedal, fato que poderia ter interferido na realização da força máxima A falha em atingir a CVM caracterizaria uma menor diminuição do comprimento do fascículo. A fixação do tornozelo durante a CVM é um problema relatado em vários estudos. Durante a CVM, mesmo sendo uma contração isométrica, há movimentação interna na articulação do tornozelo. Caso não seja firmemente fixado ao pedal, durante a CVM, o tornozelo pode apresentar ainda movimentação articular significativa, o que interferiria na medição destes parâmetros [19]. Para evitar tais movimentos, optamos por uma forte fixação do pé, gerando desconforto em alguns indivíduos e contribuindo para que não tenham conseguido atingir a CVM. Isto pode explicar os menores valores do ângulo de penação em CVM encontrados neste estudo. Já o ângulo de penação em repouso está de acordo com os demais estudos. A utilização de outras técnicas de medição durante a CVM, como a dinamometria e a eletromiografia, podem contribuir, em futuros estudos, para a melhoria desta metodologia, uma vez que são indicativos de produção de força máxima. CONCLUSÃO Este estudo descreveu a redução do comprimento de fascículo e o aumento do ângulo de penação do m. gastrocnêmio, em contração voluntária máxima a partir do repouso, obtendo valores compatíveis com a literatura. A aplicação desta metodologia parece ser adequada na medição destes parâmetros biomecânicos in vivo, proporcionando um maior acurácia dos valores estimados nos modelos matemáticos. AGRADECIMENTOS Este estudo foi parcialmente financiado com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). REFERÊNCIAS [1] Maganaris, C N. A predictive model of moment angle characteristics in human skeletal muscle: Application and validation in muscles across the ankle joint. J Theor Biol 2004; 230:89-98. [2] Chang, Y, Su, F, Wu, H, An K. Optimum length of muscle contraction. Clin Biomec 1999; 14:537-42. [3] Herzog, W, Read, L J, Keurs H E D J. Experimental determination of forcelength relations of intact human gastrocnemius. Clin Biomech 1991; 6:230-8. [4] Miyatani M, Kanehisa H, Ito M, Kawakami Y, Fukunaga T. The accuracy of volume estimates using ultrasound muscle thickness measurements in different muscle groups. Eur J Appl Physiol 2004; 91: 264 72. [5] Narici M. Human skeletal muscle architecture studied in vivo by non-

invasive imaging techniques: functional significance and applications. J Electromyogr Kinesiol 1999; 9: 97-103. [6] Fukunaga T, Miyatani M, Tachi M, Kouzaki M, Kawakami Y, Kanehisa H. Muscle volume is a major determinant of joint torque in humans. Acta Physiol Scand 2001; 172 (4): 249-55 [7] Herbert R D, Gandevia S C. Changes in pennation with joint angle and muscle torque - in-vivo measurements in human brachialis muscle. J Physiol London 1995; 484 (2): 523-32 [8] Kawakami Y, Abe T, Kuno S Y, Fukunaga T. Training-induced changes in muscle architecture and specific tension. Eur J Appl Physiol 1995; 72 (1-2): 37-43 [9] Chleboun G S, France A R, Crill M T, Braddock H K, Howell J N. In vivo measurement of fascicle length and pennation angle of the human biceps femoris muscle. Cells Tissues Organs 2001; 169 (4): 401-9 [12] Maganaris C N. In vivo measurementbased estimations of the moment arm in the human tibialis anterior muscle-tendon unit. J Biomec 2000; 33(3): 375-9 [13] Herbert R D, Moseley A M, Butler J E, Gandevia S C. Change in length of relaxed muscle fascicles and tendons with knee and ankle movement in humans. J Physiol 2002; 539.2:637-45. [14] Kawakami Y, Ichinose Y, Fukunaga T. Architectural and functional features of human triceps surae muscles during contraction. J Appl Physiol 1998; 85: 398-404. [15] Kawakami Y, Abe T, Kanehisa H, Fukunaga T. Human skeletal muscle size and architecture: Variability and interdependence. Am J Human Biol 2006; 18 (6): 845-8 [16] Maganaris, C N. Force-Length Characteristics of the In vivo human Gastrocnemius Muscle. Clin Anat 2003; 16:215-23. [10] Fukunaga T, Ichinose Y, Ito M, Kawakami Y, Fukashiro S. Determination of fascicle length and pennation in a contracting human muscle in vivo. J Appl Physiol 1997; 82 (1): 354-8 [11] Fukunaga T, Kawakami Y, Kuno S, Funato K, Fukashiro S. Muscle architecture and functions in humans. J Biomech 1997; 30: 457-63. [17] Narici M V, Maganaris C N, Reeves N D, Capodaglio P. Effect of aging on human muscle architecture. J. Appl Physiol 2003; 95: 2229-34. [18] Chow R S, Medri M K, Martin D C, Leekam R N, Agur A M, McKee N H. Sonographic studies of human soleus and gastrocnemius muscle architecture:

gender variability. Eur J Appl Physiol 2000; 82:236-44 [19] Karamanidis K, Stafilidis S, DeMonte G, Morey-Klapsing G, Brüggemann G P, Arampatzis A. Inevitable joint angular rotation affects muscle architecture during isometric contraction. J Electromyogr Kinesiol 2005; 15: 608 16. [20] Maganaris C N, Baltzopoulos V, Sargeant A J. In vivo measurements of the triceps surae complex architecture in man: implications for muscle function. J Physiol 1998; 512:603-14. [21] Maganaris C N. Validity of procedures involved in ultrasound-based measurement of human plantarflexor tendon elongation on contraction. J Biomec 2005; 38 (1): 9-13 [22] Kubo K, Kanehisa H, Kawakami Y, Fukunaga T. Influence of static stretching on viscoelastic properties of human tendon structures in vivo. J Appl Physiol 2001; 90:520-27 e-mail: biomecanica_ufrj@yahoo.com.br liliam@bridge.com.br