FÁVERO, N.; TREVIZAN, M.A.; MENDES, I.A.C. Atividades de assistência direta do auxiliar de enfermagem e anotação imediata ou tardia. Revista Paulista de Hospitais, v.29, n.2, p.111-222, 1981. ATIVIDADES DE ASSISTÊNCIA DIRETA DO AUXILIAR DE ENFERMAGEM E ANOTAÇÃO IMEDIATA OU TARDIA Neide Fávero 1, Maria Auxiliadora Trevizan 2, Isabel Amélia Costa Mendes 3 1. INTRODUÇÃO Todos que trabalham no hospital têm obrigação de comunicar-se adequadamente, não só para desempenhar suas funções com eficiência, como também para possibilitar que outros desenvolvam bons padrões de trabalho. A comunicação no Serviço de Enfermagem somente será eficiente quando todos os funcionários utilizarem este processo adequadamente e estiverem conscientes da importância do seu aprimoramento. Das tarefas que são executadas numa instituição hospitalar, quase todas, senão todas, envolvem alguma forma de comunicação, seja pelos gestos, pelos sentidos, pelas expressões faciais, pela escrita, pela leitura, pela postura, pela aparência pessoal e especialmente pelos cuidados de enfermagem prestados (Koontz & O Donnell) (7). A anotação do cuidado de enfermagem é um instrumento do qual devemos dispor para controlar e avaliar a assistência prestada. Carvalho (4) reconhece que o prontuário constitui-se no único meio de medir esta assistência. A mesma autora (3) afirma que o prontuário do paciente deve ser valorizado pelas vantagens que oferece ao paciente, ao hospital, à pesquisa e à defesa legal, como acontece nos países desenvolvidos. Em trabalho anterior sobre atividades de assistência direta ao paciente executadas por enfermeiros e sua respectiva anotação (6), verificamos que é baixo o índice de dedicação deste profissional a estas atividades e, conseqüentemente, a porcentagem de anotação é também muito pequena, sendo ainda ausente em muitas situações. O fato de termos encontrado um número mínimo de atividades diretas exercidas pelos enfermeiros nos indica que esta atividade está sendo executada, na realidade, pelo pessoal auxiliar. Assim é que no presente trabalho nossa preocupação está voltada para o auxiliar de enfermagem frente às atividades diretas com os pacientes e a anotação correspondente, objetivando: quantificar as atividades de assistência direta prestadas aos pacientes pelo auxiliar de enfermagem; verificar em que proporção estas atividades são anotadas; e averiguar o período de latência entre a execução da atividade e sua respectiva anotação. 1 2 3
2. METODOLOGIA O trabalho foi realizado num hospital-escola durante o período de férias escolares a fim de se impedir a intercorrência do ensino na assistência direta ao paciente e no seu registro em prontuário. Os auxiliares de enfermagem das cinco unidades estudadas foram observados diretamente, no desempenho de suas atribuições e devidas anotações, durante cinco dias consecutivos, cada um dos quais destinado à observação de uma unidade de internação. Neste estudo definiu-se a unidade de observação como leito hospitalar ocupado; o material utilizado compreendeu a assistência de enfermagem prestada ao paciente por auxiliares de enfermagem e suas respectivas anotações no prontuário, durante quinze horas consecutivas distribuídas em três plantões. A coleta do referido material foi feita através de observação contínua e anotação simultânea em ficha padronizada, para o que contou-se com a colaboração de onze alunosmonitores regularmente matriculados no Curso de Graduação em Enfermagem. Estes alunos foram selecionados, orientados e treinados quanto aos objetivos do trabalho, metodologia que seria aplicada, o que e como observar e anotar. A amostra ficou fixada em 20% do total dos leitos (*) ocupados de cada unidade. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O campo da enfermagem é composto de tarefas de complexidade crescente que devem ser desempenhadas pelas diferentes categorias componentes da equipe de enfermagem. Como já mencionamos, nossa atenção neste estudo está voltada para as atividades de assistência direta desempenhadas e anotadas pelo auxiliar de enfermagem. A população deste estudo foi constituída por 27 auxiliares de enfermagem, sendo 3 do sexo masculino e 24 do sexo feminino, distribuídos nos 3 plantões das cinco unidades estudadas. Durante o período em que foi realizado o estudo foram executadas 292 atividades de assistência direta ao paciente pêlos auxiliares, nos 20% dos leitos amostrados das cinco unidades ou seja, 36,64% das mesmas atividades executadas por toda a equipe. Do total de atividades executadas pelo auxiliar, 212 (72,60%) foram anotadas, e as oitenta restantes (27,40%) deixaram de ser registradas em prontuário, conforme se vê na Tabela 1. TABELA 1 - Atividades executadas pelo auxiliar durante os 3 plantões, segundo unidade de internação e a presença ou ausência de anotação. U.I. A B C D E Total Anotação Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Sim 76 71,69 21 63,64 43 79,63 57 80,28 15 53,57 212 72,60 Não 30 28,31 12 36,36 11 20,37 14 19,72 13 43,43 80 27,40 Total 106 100,00 33 100,00 54 100,00 71 100,00 28 100,00 292 100,00 Legenda: U.I. = Unidade de Internação.
Podemos observar ainda nesta tabela e no gráfico 1 que na unidade de internação A encontramos a maior quantidade de atividades executadas, enquanto a unidade E é aquela em que se verifica menor número de atividades de assistência direta desempenhadas por estes profissionais. Em relação ao registro da atividade executada, os auxiliares da unidade de internação E aqueles já mencionados como sendo os que desenvolvem menos atividades de assistência direta são também os que menos anotam, pois, das 28 atividades executadas, apenas 15 foram anotadas. Por outro lado, os auxiliares da unidade D são os que mais anotam em relação às atividades que executam. Como já mencionamos, o auxiliar de enfermagem desenvolveu 292 atividades, das quais 80 não foram anotadas. Das 212 registradas (72,60%), 169 (57,87%) foram anotadas imediatamente, sendo que 158 foram registradas pelo próprio executor da atividade e 11 (3,77%) por outros elementos; 43 atividades (14,72%) foram anotadas tardiamente sendo 33 por ele mesmo e as 10 restantes por outras pessoas como mostra a tabela 2. TABELA 2 - Anotação das at1vidades de assistência direta desempenhadas pelo auxiliar de enfermagem e registradas por ele próprio ou por outra pessoa, imediata ou tardiamente. Respons. Latência pela anotação Imediata Tardia Total Executor 158 (54,10%) 33 (11,30%) 191 (65,40%) Outro 11 (3,77%) 10 (3,42%) 21 (7,19%) Total 169 (57,87%) 43 (14,72%) 212 (72,60%) GRÁFICO 1 Percentagem de presença ou ausência de anotação feita pelo auxiliar durante os 3 plantões, segundo unidade de internação.
Estes dados nos sugerem que se desejamos anotações de boa qualidade devemos estimular que sejam feitas imediatamente pelo executor da atividade. A tabela 3 permite analisar as anotações segundo o tipo de assistência direta executada pelo auxiliar de enfermagem. É interessante notar que os sinais vitais e verificação de peso foram registrados 100% das vezes em que foram verificados o que vem demonstrar mais uma vez que em se tratando de rotina o funcionário não deixa de anotar porque faz parte de sua tarefa. Mendes & col. (8) evidenciaram que, de 2783 anotações registradas pelas quatro categorias de pessoal de enfermagem, 78% atendem às rotinas da unidade de internação. Ao analisarem criticamente as anotações de enfermagem, Angerami & col. (1) verificaram que as anotações estão centradas em rotinas pré-estabelecidas, nas solicitações feitas pelo paciente e na execução de prescrição médica fatos também citados por Paim (9), Duarte & col. (5) e Caldas & col. (2). TABELA 3 Atividades de assistência direta executadas pelo auxiliar de enfermagem, segundo presença ou ausência de anotação em enfermagem. Anotação Atividades Sim Não Alimentação 47,50 52,50 Medicação 82,03 17,97 Hidratação 85,72 14,28 Recreação - 100,00 Peso 100,00 - Sinais Vitais 100,00 - Oxigenação - 100,00 Encaminhamento - 100,00 Colheita de Material 60,00 40,00 Higiene e Conforto 20,69 79,31 Sondas e Drenos 66,66 33,34 Exercício Respiratório - 100,00 Fisioterapia - 100,00 Relacionamento 20,0 80,00 Total 72,60 27,39 Os cuidados em relação à medicação e à hidratação do paciente foram anotados em sua grande maioria, sendo seguidos pêlos cuidados relativos a sondas e drenos e colheita de material que recebeu 60% de anotação. Por outro lado, as atividades ligadas a relacionamento e higiene e conforto foram anotadas em cerca de 20% apenas. Ainda gostaríamos de salientar que, quanto às atividades de recreação, oxigenação e exercício respiratório, encaminhamento e fisioterapia houve 100% de ausência de anotação, o que pode sugerir que atividades deste tipo não são consideradas por estes elementos como necessárias ao tratamento, ou ainda podem eles não se sentirem motivados a efetuarem a anotação possivelmente por não valorizarem adequadamente nem a
atividade em si e nem a sua ano- tacão, e/ou ainda por não terem recebido orientação mais detalhada sobre a importância da anotação em enfermagem. 4. CONCLUSÃO a) O auxiliar de enfermagem executou 292 atividades de assistência direta ao paciente, ou seja, 36,64% das mesmas atividades executadas por toda a equipe de enfermagem. b) 212 (72,60%) atividades executadas pelo auxiliar de enfermagem foram anotadas, sendo 191(65,40%) por ele próprio e 21 (7,19%) por outros elementos. c) Quanto ao período de latência entre a execução da atividade e sua anotação, 169 (57,87%) foram anotadas imediatamente, enquanto 43 (14,72%) o foram tardiamente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Angerami, E.L.S.; Mendes, l.a.c.; Pedrazzani, J.C. Análise crítica das anotações de enfermagem. Rev. Bras. Enf., 29 (4):28-37, 1976. 2. Caldas, N.P.; Pereira, A.C.; Alvarez, L.H. Instrumentos de registro das atividades de enfermagem. Rev. Bras. Enf., 29 (3):92-102, 1976. 3. Carvalho, L.F. Prontuário médico e as glosas do INPS. Rev. Paul. Hosp, 22 (9):395-398, 1974. 4. Carvalho, L.F. Serviço de arquivo médico e estatística de um hospital. 2ª ed. São Paulo, Ltr. Editora Limitada, 1977. 5. Duarte, A.B.; Reis, l.e.m.; Santos, V.O. Importância das anotações dos cuidados de enfermagem. Rev. Brás. Enf., 29 (3):83-91, 1976. 6. Fávero, N.; Trevizan, M.A. & Mendes, l.a.c. Atividades de Assistência Direta do Enfermeiro e respectiva anotação. Enfermagem Atual, 3 (14):14-16, nov/dez., 1980. 7. Koontz, H. & O'Donnell, C. Princípios de Administração uma análise das funções administrativas. Trad. Albertino Pinheiro Jr. & Ernesto D'Orsi. 4ª ed., São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1969, vol. 2. 8. Mendes, l.a.c.; Angerami, E.L.S.; Pedrazzani, J.C. Análise crítica do processo decisório em enfermagem. Rev. Bras. Enf., 30 (4):404-411, 1977. 9. Paim, L. Plano assistencial e prescrições de enfermagem. Rev. Bras. Enf., 29 (3):66-82, 1976.