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Transcrição:

Crescimento de fibra Simone Goldberg do Rio O setor de papel e celulose no Brasil vive um momento especial: está em meio a um boom de investimentos, iniciado em 2003, que soma US$ 14,4 bilhões até 2012. Os ativos nacionais têm despertado o apetite de gigantes estrangeiros do ramo. Dois dos maiores grupos brasileiros, Votorantim Celulose e Papel (VCP) e Suzano Bahia Sul, querem ingressar no poderoso clube dos principais fabricantes mundiais e a maior fábrica de celulose em linha única do mundo, a Veracel, sociedade entre a brasileira Aracruz e a sueco-finlandesa Stora Enso, foi recentemente inaugurada em Eunápolis, Sul da Bahia, com investimentos de US$ 1,2 bilhão para produção prevista de 900 mil toneladas anuais de celulose, voltadas ao mercado externo. O setor, que opera no limite, tem na demanda externa elevada, principalmente de celulose, e na perspectiva de recuperação do mercado doméstico os estímulos necessários para aumentar a capacidade produtiva. Mesmo o tão comentado menor crescimento da China a expectativa de que o governo chinês irá forçar a desaceleração de seus espetaculares índices de crescimento que vêm puxando preços e engordando o caixa dos exportadores de commodities é visto sem grandes sustos, ainda que esse movimento possa afetar o equilíbrio de preços e a rentabilidade do setor. Os projetos, dizem executivos e analistas, são feitos visando o longo prazo, não sendo afetados por questões conjunturais. N o v e m b r o d e 2 0 0 5 C O N J U N T U R A E C O N Ô M I C A 2 4

O Brasil ainda tem a vantagem de apresentar melhor produtividade e menor custo: aqui é possível retirar 40 metros cúbicos (índice médio) de eucalipto por hectare, cerca de oito vezes mais que alguns países escandinavos. O eucalipto (usado para a produção de celulose de fibra curta destinada à indústria de papel de imprimir e escrever e papéis sanitários e especiais) domina florestas plantadas nacionais de 1,6 milhão de hectares, ocupa 75%. Árvores de pinus (empregado na fabricação de celulose de fibra longa, utilizada em papéis para embalagens) cobrem 24% e o restante 1% é preenchido por outras espécies. Os investimentos já iniciados têm por objetivo elevar, até 2012, a área reflorestada de 1,5 milhão de hectares, em 2003, para 2,6 milhões de hectares. A produção de celulose, que em 2003 era de 9,1 milhões de toneladas, subirá para 14,5 milhões de toneladas. O volume produzido de papel saltará para 13,4 milhões de toneladas, um aumento de 72% em relação a 2003. Com isso, as exportações de celulose terão um acréscimo de 64%, alcançando 7,4 milhões de toneladas e as de papel chegarão a dois milhões de toneladas, 18% em comparação a 2003. As receitas com as exportações de celulose e papel estão estimadas em US$ 4,3 bilhões para 2012 54% acima da de 2003. Investimentos Na lista de planos de expansão, encontram-se, além da recente Veracel, a nova linha de celulose da Suzano Bahia Sul, em Mucuri (Bahia), avaliada em US$ 1,3 bilhão, e uma duplicação da capacidade de papel cartão da Klabin, no Paraná. Há também a implantação e manutenção de 107 mil hectares de florestas de eucalipto em São Paulo e no Rio Grande do Sul a cargo da VCP, que pretende garantir suprimento de madeira para suas unidades paulistas e ainda estuda instalar uma nova fábrica no Sul do país. Outra expansão em curso é o projeto de reflorestamento da Aracruz, também em solo gaúcho, e o aumento da capacidade da sua unidade de Guaíba (RS). Está previsto ainda um grande investimento (US$ 1,4 bilhão) em uma fábrica de papel e celulose da International Paper, em Três Lagoas (MS), dependendo da aprovação da matriz. A maioria dos projetos de aumento de produção, além de melhoramentos técnicos e ambientais do setor, tem apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). São alguns exemplos, Veracel, VCP, Klabin e Suzano, que já obteve da instituição um crédito de R$ 2,59 bilhões. No banco, a carteira da área de papel e celulose soma R$ 20 bilhões para os próximos três anos. Isso inclui projetos em análise, enquadrados, aprovados e já contratados. A demanda externa em alta vem motivando esse ciclo de investimentos, principalmente na celu lose, diz a chefe do Departamento de Papel e Celulose (Depacel) da instituição, Adely Branquinho. Ao mesmo tempo em que financia projetos geradores de divisas e de empregos, o BNDES também vem tentando aumentar o índice de nacionalização nos equipamentos destinados ao setor de celulose e papel. Nem tudo é possível de se fabricar aqui, mas há muitas peças e partes mecânicas que o país tem condições de suprir. No projeto Veracel, o índice de nacionalização foi de 55%, afirma Adely Branquinho. Segundo ela, as melhores margens para as empresas nacionais residem na celulose. No papel, onde há maior valor agregado, a escala de produção no Brasil ainda é considerada pequena se comparada com as maiores produtoras globais. Só para dar uma idéia, a maior empresa do mundo em vendas, a americana International Paper (com faturamento de US$ 25 bilhões), produziu, em 2004, 15,5 milhões de toneladas, reforçando a liderança dos Estados Unidos no setor. Isso é muito mais que toda a produção brasileira: 8,5 milhões de toneladas. Além disso, as fabricantes nacionais esbarram na dificuldade de distribuição de papel no exterior, um mercado que exige muita logística. Mas Adely ressalta que algumas empresas brasileiras já encontraram brechas com a adoção de estratégias específicas e agressividade comercial, como a Suzano e a Klabin, maior exportadora de papéis para embalagens. 2 5 N o v e m b r o d e 2 0 0 5 C O N J U N T U R A E C O N Ô M I C A

As receitas com as exportações de celulose e papel estão estimadas em US$ 4,3 bilhões para 2012 54% acima da de 2003 Uma tendência mundial, aponta Adely, é a descontinuidade de linhas de produção de celulose em países do Primeiro Mundo e sua transferência para outros de custos de produção mais baixos, como Brasil, Chile, Rússia, Indonésia. Nós levamos vantagem pela combinação de clima, solo, tecnologia e áreas disponíveis, que nos faz ser o mais competitivo, diz. A estratégia dos grandes players globais é clara: utilizar o Brasil como base de produção de celulose e embarcá-la daqui às fábricas de papel no exterior, o que é feito, por exemplo, pela Stora Enso, sócia da Veracel. O BNDES pretende fazer um estudo detalhado sobre o setor, composto por 220 empresas, muitas pequenas e de administração familiar. O objetivo é desenhar o perfil e a performance de cada uma delas e visualizar alternativas para agrupá-las por sinergias, formando um mercado mais fortalecido, mas ainda assim pulverizado. De acordo com a chefe do Departamento de Papel e Celulose, uma consolidação excessiva no mercado interno esbarraria no Conselho de Administração e Defesa Econômica (Cade), que não veria com bons olhos o risco que isso traria para a concorrência. Resultados A nova safra de investimentos está trazendo mais impulso ao setor, que nos últimos dez anos investiu US$ 12 bilhões para elevar sua capacidade produtiva. Deu certo: em 1990, as exportações, que eram de US$ 1 bilhão, saltaram para US$ 2,9 bilhões, em 2004. Esses investimentos permitiram ao Brasil se tornar o maior produtor mundial de celulose fibra curta branqueada, ultrapassando os Estados Unidos, e colocar a Aracruz, no posto de empresa líder desse segmento no cenário internacional. O Brasil produziu, em 2004, 9,6 milhões de toneladas de celulose e 8,5 mi lhões de toneladas de papel e o setor faturou R$ 23,3 bilhões, dos quais US$ 2,9 bi lhões com exportações (com um saldo de US$ 2,2 bilhões), o que garantiu uma participação de 1,4% no PIB. O resultado parcial de 2005, de janeiro a agosto, mostra aumento de produção se comparada ao mesmo período do ano passado. Na celulose, o volume saltou de 6,35 milhões de toneladas nos primeiros oito meses de 2004, para 6,63 milhões de toneladas. E no papel, o número subiu de 5,58 milhões de toneladas para 5,72 milhões de toneladas. A previsão é de um aumento de 4% na produção de celulose, em 2005, em comparação ao ano passado, com elevação de 12,5% no volume exportado. No papel, espera-se para 2005 uma produção 2% superior à do ano passado e mais 0,9% de exportação. As vendas externas totais devem atingir, esse ano, US$ 3,45 bilhões, com saldo de US$ 2,6 bilhões, 22,3% maior que o do ano anterior. O setor, caracterizado por investimentos altos e de longa maturação, têm no Brasil uma grande vantagem competitiva, graças às condições favoráveis de clima, solo e O tamanho do setor Faturamento (2004): R$ 23,3 bilhões. Impostos pagos: R$ 2,1 bilhões. Exportação: U$ 2,9 bilhões. Saldo comercial: US$ 2,2 bilhões. Participação no PIB: 1,4% Empregos diretos: 108 mil Balança comercial em 2005(*) Exportação Total: US$ 3,45 bi + 18.6% sobre 2004 Celulose: US$ 2,20 bi + 27,8% sobre 2004 Papel: US$ 1,25 bi + 5,3% sobre 2004 N o v e m b r o d e 2 0 0 5 C O N J U N T U R A E C O N Ô M I C A 2 6

tecnologias de plantio, fazendo do país um potencial celeiro para florestas plantadas de eucalipto. Uma árvore da espécie utilizada para produzir celulose de fibra curta, usada em papéis de imprimir e escrever leva sete anos para crescer aqui, contra cerca de, no mínimo, 30 anos em países do Hemisfério Norte e até 70 anos ou mais nos escandinavos. Além de ser o primeiro do ranking mundial em celulose de fibra curta, o Brasil ocupa a sétima posição em celulose de todos os tipos e a décima primeira entre os maiores produtores de papel. Para manter essa situação, no final de 2004, Suzano Bahia Sul e VCP uniram-se para adquirir a Ripasa, produtora de celulose, papel de imprimir e escrever e cartão. Os analistas avaliam que a compra foi, além de uma oportunidade, um movimento defensivo, para evitar que a empresa caísse nas mãos das estrangeiras International Paper e Stora Enso, quarta do ranking mundial em vendas e líder na produção de papel e cartão. Hoje, o setor é um exemplo de desenvolvimento sustentável e atratividade, graças às nossas condições naturais e tecnológicas, além de mão-de-obra especializada. Por isso, temos sido o foco dos olhares do mundo, assegura o vicepresidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Miguel Sampol Pol, também diretor geral da Klabin. Mas ele informa que os investidores externos carecem de um cenário propício, como regras estáveis de longo prazo e menor carga tributária. Dificuldades que dizem respeito a todos e não somente aos players estrangeiros. Precisamos de políticas públicas que incentivem a plantação de florestas para evitar um apagão florestal, diz. Atratividade Os fabricantes têm pelo menos dois bons argumentos para convencer o governo de que têm razão: o setor é gerador de grandes saldos comerciais, com excelente potencial de crescimento, e promove a inclusão social no campo, via parceria com pequenos produtores de madeira. Mas apesar das dificuldades, a indústria brasileira de papel e celulose tem conseguido, segundo o vice-presidente da Bracelpa, concorrer nos mercados globais com qualidade e custos competitivos, fatores que compensam parcialmente a menor escala. Celulose (*) Produção: 10.000 (+ 4%) Importação: 370 (+14,6%) Exportação: 5.500 (+12,5%) Consumo aparente: 4.870 (-3,6%) Papel (*) Produção: 8.620 (+ 2%) Importação: 750 (+ 2,2%) Exportação: 1.870 (+ 0,9%) Consumo aparente: 7.500 (+ 2,3%) Consumo per capita: 40,4 kg/hab. Foto: Stora Enso Importação Total: U$ 820 mi + 8,2% Celulose: US$ 200 mi + 2,6% Papel: US$ 620 mi + 10,1% Saldo comercial US$ 2,63 bi + 22,3% Fonte: Bracelpa (*) Previsão para 2005 e crescimento em relação a 2004 2 7 N o v e m b r o d e 2 0 0 5 C O N J U N T U R A E C O N Ô M I C A

Brasil tem vantagem competitiva, graças ao clima, solo e tecnologia de plantio, sendo ideal para florestas plantadas de eucalipto Áreas de florestas nativas preservadas 2,6 milhões de hectares Área plantada 1,6 milhão de hectares 24% Pinus As empresas estrangeiras, acredita Sampol Pol, que já estão instaladas há tempos no Brasil, devem ampliar sua presença, uma vez que os custos de produção são menores do que os do Hemisfério Norte. E os exemplos são claros: depois de perder a chance de comprar a Ripasa, International Paper e Stora Enso, por exemplo, tocam projetos de expansão no Brasil, começando do zero, sem descartar a idéia de adquirir novos ativos. A Stora Enso acaba de comprar terras para implantar florestas no Rio Grande do Sul e no Uruguai, visando obter, em sete a dez anos, suprimento de matéria-prima para uma nova unidade industrial. Segundo o vice-presidente da Divisão América Latina da Stora Enso, Otávio Pontes, o Brasil se diferencia dos seus concorrentes na atração por investimentos a Rússia e outros países de clima tropical na Ásia e na América do Sul pela excelente produtividade e ampla disponibilidade de terras. Aqui, garante, menos de 1% das terras é coberto com florestas plantadas, enquanto que na Finlândia esse percentual é de 60%. Em vários países asiáticos, há problemas sérios de propriedade de terra e falta tecnologia comprovada de plantação de árvores. A Rússia, apesar das amplas reservas florestais, sofre com a falta de infra-estrutura para explorar seu potencial, ressalta. A Stora Enso já estuda, junto com a Aracruz, a viabilidade da duplicação da Veracel. Já a International Paper faz planos para montar sua nova fábrica no Centro-Oeste. Ainda que a China e a Rússia estejam competindo por esse investimento, as possibilidades do Brasil são grandes. As empresas sempre buscam vantagens competitivas e por isso vêm fortalecendo sua presença no Hemisfério Sul, afirma o presidente local da International Paper, Máximo Pacheco. O país, garante, é um dos pilares estratégicos da expansão da empresa. A América Latina tem um grande potencial de crescimento interno do consumo de papel. E o Brasil é muito competitivo devido à alta produtividade de eucalipto por hectare e baixo custo de produção, justifica. O baixo consumo de papel no Brasil 40 quilos por habitante/ano contra 300,8 quilos nos Estados Unidos é o argumento usado por Sampol Pol, da Bracelpa, para apostar que a competitividade exibida na celulose pode se repetir no papel. O potencial de crescimento de consumo de papel virá com o aumento da renda. Este ano, devemos exportar mais de 1,8 milhão de toneladas de papel e esse valor tende a aumentar com a venda de produtos de maior valor agregado e na medida em que as empresas brasileiras adquirem capacidade logística de operar na distribuição dos produtos no exterior. Estratégias Empresas brasileiras têm ocupado cada vez mais espaços no mercado externo, com diversas estratégias. Uma delas é aumentando a presença com a instalação de escritórios comerciais, a exemplo do que fez recentemente a Suzano, um dos principais players nacionais no segmento de papel de imprimir e escrever. Além de montar bases nos Estados Unidos e na Suíça, pretende se estabelecer na Ásia. A idéia é a manter a proximidade com os clientes estrangeiros, facilitar parcerias e a prospecção do mercado. A Klabin, primeira do ranking nacional em papel cartão para embalagens e tradicional exportadora, aproveitou-se de oportunidades abertas por uma greve nos países produtores da Europa (além de tempestades que destruíram florestas na Suécia) para conquistar novos clientes. A empresa, única fabricante de cartões para líquidos da América Latina, compete com os produtores escandinavos, maiores especialistas no segmento, fornecendo para a sueca Tetra Pak, líder na 1% Outros Fonte: Bracelpa 75% Eucalipto N o v e m b r o d e 2 0 0 5 C O N J U N T U R A E C O N Ô M I C A 2 8

fabricação de embalagens cartonadas para alimentos e bebidas. Nossos investimentos em papel cartão, aumentando de 320 mil para 650 mil toneladas a capacidade anual da nossa fábrica de Monte Alegre, no Paraná, podem ser interpretados como nova sinalização para as exportações do setor, diz o diretor geral da Klabin, única fabricante de cartões para líquidos da América Latina. Miguel Sampol Pol ressalta que o papel cartão é um produto de maior valor agregado e o mercado para papéis de embalagens no mundo é grande, consolidado e promissor. Alerta As empresas brasileiras de papel e celulose, na opinião do analista da corretora Ágora Sênior, Luiz Otávio Broad, precisam crescer se não quiserem ser engolidas por players estrangeiros de maior poder de fogo. E há duas maneiras de fazer isso: expandindo a capacidade de produção ou efetuando aquisições, afirma. O setor, na sua avaliação, pode passar por alguns outros movimentos de consolidação pós-compra da Ripasa pela Suzano em parceria com a VCP. A Ripasa era, por assim dizer, a bola da vez. Hoje temos quatro grandes players brasileiros: VCP, Suzano, Klabin e Aracruz. A médio prazo, não me surpreenderia um movimento que envolva a Aracruz. Broad acha que a VCP, já no bloco de controle da empresa capixaba, teria interesse em incorporá-la. Assim como a Stora Enso, que é sócia da Aracruz na Veracel, poderia eventualmente comprá-la. A VCP não entrou no bloco de controle da Aracruz apenas para ser investidor. E apesar de a Aracruz crescer sua produção a uma taxa de 10% ao ano, é um ativo muito atraente para os gigantes estrangeiros, não só para a Stora Enso, mas também para a International Paper. Mas o negócio da vez no setor é a venda da Inpacel, empresa da International Paper, única produtora de papel couchê de baixa gramatura da América do Sul. A venda foi decidida dentro do processo de reestruturação por que passa a International Paper no mundo e inclui o descarte não só da unidade fabril, mas da serraria e de uma base florestal no Paraná. A empresa pretende focar suas atividades em embalagens e papéis não-revestidos. A Stora Enso já demonstrou interesse na Inpacel, assim como outra escandinava com atuação no Brasil, a Norske Skog Pisa. E o mercado especula que a VCP também deseja o ativo. A Suzano, outra potencial compradora, não tem interesse porque o seu foco é o crescimento orgânico, com base em seus ativos competitivos. A companhia objetiva, como meta de seu planejamento estratégico, estar entre as grandes do setor no mundo nos próximos dez anos, diz o diretor financeiro e de relações com investidores, Bernardo Szpigel. O dirigente lembra que a indústria de papel e celulose vem passando por uma reestruturação desde 2001 e que as empresas que operam no Brasil têm boas condições de competir no mercado global com base nas competências do país no setor. Para ele, o que fará a diferença são empresas cada vez mais fortes e capitalizadas, apoiadas no Foto: Stora Enso 2 9 N o v e m b r o d e 2 0 0 5 C O N J U N T U R A E C O N Ô M I C A

As empresas brasileiras de papel e celulose precisam crescer para não serem engolidas por estrangeiras de maior poder de fogo mercado de capitais e participando dos principais mercados consumidores do mundo. E falar em principais mercados do mundo é falar na China. Na visão do diretor técnico e de crescimento da VCP, Francisco Valério, a alta da demanda chinesa deve continuar pelos próximos 25 anos. Antes disso, o mundo deve chegar a 2015 consumindo perto de 455 milhões de toneladas de papel de todos os tipos, o que são mais 125 milhões de toneladas em relação ao consumo atual. Muito da fibra necessária para suprir esse aumento sairá daqui, diz. No Brasil, acredita, o ritmo de crescimento da demanda deve seguir pouco acima do PIB. A VCP, segundo o executivo, tem planos de mais que triplicar sua receita em 15 anos. Almejamos chegar a US$ 4 bilhões, em 2020, saindo de US$ 1 bilhão, em 2004. A empresa pretende atingir sua meta com aumento da produção, investindo em florestas no Sul, visando o mercado externo de celulose e em suas linhas de papel. Também está de olho em oportunidades de aquisição, mas não comenta oficialmente seu interesse na Inpacel. Consumo per capita de papel (kg/hab./ano) dados 2004 Mudança A tendência de transferência de linhas de produção dos países desenvolvidos para outros do Hemisfério Sul, de custos mais baixos, é reconhecida também por Valério. E não só no que se refere às linhas de produção de celulose voltadas para exportação. Ele acredita que a produção de papéis para embalagens e papéis não-revestidos pode vir para o Cone Sul. Como exemplo, lembra os projetos da Botnia, empresa finlandesa que pertence à UPM-Kymmene, e da espanhola Ence, no Uruguai. Acredita que no Brasil, Rússia, Índia e China a demanda por papel vai crescer na medida em que aumente a renda per capita. Os resultados das empresas do setor revelam-se positivos em vários indicadores ao longo de 2005, mas o dólar baixo vem prejudicando a rentabilidade das vendas externas. Como o mercado interno anda fraco, o crescimento está sendo buscado pela via das exportações. Segundo analistas, o setor tem sazonalmente um aquecimento do mercado doméstico no segundo semestre. Além disso, a perspectiva de redução continuada de juros permite esperar uma recuperação do dólar frente ao real, o que garantirá melhores margens nas exportações. Canadá 221,5 Reino Unido 206,8 Alemanha 224,7 EUA 300,8 México 53,8 França 179,7 Itália 190,2 Japão 241,9 Rússia 30,7 China 35,8 Chile 56,4 Argentina 44,3 Brasil 40,0 Média anual no mundo 51,8 Fonte: Bracelpa N o v e m b r o d e 2 0 0 5 C O N J U N T U R A E C O N Ô M I C A 3 0