BILINGUISMO E AS CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA COMO SEGUNDA LÍNGUA PARA SURDOS Palavras-chave: Bilinguismo; Aluno surdo; Língua Portuguesa. Thaís Aquino Sigarini Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Maurício Loubet Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Práticas Pedagógicas Inclusivas 1. Introdução Antes da possibilidade de se comunicarem através da língua de sinais e, diante da impossibilidade de se socializarem em língua oral, os surdos sofreram várias formas de exclusão, castigo e abandono, chegando a ser considerados loucos. Nesse contexto, a educação formal do aluno surdo passou por um longo e árduo processo para que se pudesse pensar em uma articulação entre a aprendizagem e a inclusão. Frizanco e Honora (2009) esclarecem três diferentes metodologias usadas para a aprendizagem dos surdos: o Oralismo, a Comunicação Total e o Bilinguismo. Conforme as autoras: A primeira tendência que apareceu na educação dos surdos foi o Oralismo, que tem como objetivo capacitá-los na compreensão e na produção de uma língua oral. Nesse método, a língua de sinais é vista como um impedimento para o desenvolvimento da fala. A segunda abordagem é a Comunicação total [...] que traz como princípios que toda forma de comunicação é válida na tentativa de que a criança deficiente auditiva tenha uma língua. O terceiro é o Bilinguismo [...] teve como princípio metodológico fundamental que a língua de sinais fosse vista como a primeira língua (língua materna) da Comunidade Surda.(FRIZANCO; HONORA, 2009, p.15). Segundo Frizanco e Honora (2009), quando se iniciaram essas tendências, os surdos eram totalmente excluídos da sociedade, sendo considerados doentes passíveis de cura através da realização de tais métodos, como o do Oralismo, desconsiderando-se totalmente a identidade singular desse sujeito como participante em uma sociedade. Buscava-se uma forma de normalizar o indivíduo surdo para que assim não fosse preciso interferir nos padrões impostos pela sociedade.
Com a evolução dos estudos referentes à forma de ensino dos surdos e com os direitos por eles conquistados, passou a se pensar em um método cujo objetivo fosse possibilitar-lhes oportunidades de aquisição de conhecimentos, respeitando a sua maneira específica de aprendizagem. O bilinguismo para surdos requer o uso da língua de sinais, para atender às necessidades deste grupo linguístico específico. O objetivo, em uma dimensão mais ampla, é garantir o direito de ser surdo, de se comunicar por meio da língua de sinais e aprender a Língua Portuguesa em sua expressão escrita. Atualmente ocorrem diversos debates sobre as práticas de ensino dos alunos e alunas surdas na escola regular. Com o advento da inclusão, as práticas pedagógicas tiveram que ser repensadas e reorganizadas a fim de que a escola consiga cumprir o seu papel educacional (GLAT e PLETSCH, 2013). Nessa perspectiva, este estudo tem por objetivo analisar as práticas de ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para surdos; embasado em leituras de artigos, livros contendo relatos de experiências, relatos de atividades e práticas pedagógicas estratégias relacionadas à aprendizagem visual do idioma (e não aprendizagem sonora). 2. Desenvolvimento Atualmente o método mais utilizado no ensino dos surdos nas escolas regulares é o bilinguismo, que enfatiza aquisição da Libras como primeira língua e Língua Portuguesa como segunda, em sua modalidade escrita (FRIZANCO; HONORA, 2009). Faz-se necessário repensar nas práticas de ensino da língua de sinais para os alunos, pois nem todos dominam essa língua. A aprendizagem da Língua Portuguesa oportuniza a aquisição de conhecimentos, entre eles os dispostos no/pelo grupo majoritário. Logo, percebe-se a necessidade de práticas educacionais que favoreçam a aquisição de ambas as línguas, sendo que tais aprendizagens permitem contribuir para o desenvolvimento pleno da linguagem e inclusão do surdo. Partindo de tais necessidades, segundo Favoritto (1999) o professor necessita de conhecimentos específicos sobre metodologia de ensino de Língua Portuguesa como segunda língua para que, assim, ele consiga intermediar o processo de aprendizagem dos alunos surdos. No sentido de atender as demandas sociais dos surdos, foram firmadas leis que visam garantir a inclusão da Língua de Sinais nas escolas regulares, a fim de atender de forma
integral os alunos surdos. Dentre elas, apresenta-se a Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, regulamentada pelo Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005, que prevê a inclusão do ensino da Língua Brasileira de Sinais nos cursos de formação dos profissionais da educação, a fim de garantir uma melhor qualificação dos professores que trabalham com a educação inclusiva na proposta bilíngue. A professora surda Shirley Vilhalva (2001) relata em seu livro toda a sua trajetória de vida. A autora narra diversos acontecimentos e, dentre eles, as suas dificuldades de comunicação com a família, com os amigos, nas instituições de ensino regulares, dentre outros. Em certo episódio, a autora relata o momento em que descobriu que as coisas têm nome ao observar que o desenho de algo tinha o nome escrito ao lado: Observei na oportunidade de ficar na porta que sempre desenhavam algo também colocavam o nome do objeto ensinado do lado. Exemplos, o professor desenhava uma bola e escrevia bola, eu não ouvia, mas prestava atenção quando ele falava, assim fiz minha primeira descoberta que o desenho exposto tinha nome e aquela escrita seria o nome e era isso que saia da boca do professor. (VILHALVA, 2001, p.14). Em outro momento, Shirley narra que, entre 4 e 5 anos, gostava muito de brincar de escolinha com uma vizinha, por sua vez a vizinha ensinava as palavras para ela por meio de figuras. Shirley narra o seguinte episódio: Um fato interessante foi quando eu aprendi a palavra HOMEM e fui beber água, ao chegar perto do pote de barro, eu vi uma cobra cega e logo gritei: HOMEM...HOMEM... olhando para a cobra [...] e ao passar do tempo fui entender que era cobra e não homem, como também entendi que cada pessoa e objeto tem nome, o difícil foi usar tantas palavras que tinha aprendido a falar com a boca e fazer uso destas no dia-a-dia. (VILHALVA, 2001, p.15-16). Muitas pesquisas baseadas na escolarização do surdo têm apontado inúmeras problemáticas envolvendo o processo de escolarização do aluno referente ao letramento na Língua Portuguesa. Segundo Fernandes: A maioria dos encaminhamentos metodológicos envolvendo alunos surdos utiliza-se dos mesmos recursos e estratégias realizadas na alfabetização de crianças e jovens não-surdos, pressupondo a oralidade como requisito fundamental ao domínio da escrita. (FERNANDES, 2006, p.6)
Atualmente, mais do que nunca, existe a real necessidade de pensar e reestruturar as metodologias habitualmente utilizadas nas salas de aula, direcionando o olhar para a educação do aluno surdo como ação do cotidiano escolar. Para isso, o professor deve considerar em seus planejamentos, práticas de letramento que envolva esse aluno, possibilitando uma aprendizagem que seja significativa no contexto social para ele. Assim, teria sentido a aquisição da Língua Portuguesa letrada para o indivíduo com surdez. Considerada a importância do aprendizado da Língua Portuguesa escrita para o aluno surdo, faz-se necessário que o docente organize suas atividades de modo a contemplar todos os alunos, surdos e ouvintes. Ampliando perspectivas na área da educação especial, propõe-se uma prática pedagógica lúdica, que trabalhe a aquisição deste processo de escrita da Língua Portuguesa e promova a inclusão de todos os educandos. Na sequência, exemplificamos uma atividade lúdica que contempla as duas línguas. O jogo da memória é um material que pode ser trabalhado com os alunos desde a sua confecção. Para a confecção do jogo, são necessárias fichas de papel cartão e lápis. Baseados em um tema, os alunos devem registrar nas fichas os pares, podendo este ser em figura e palavra ou sinal e palavra. No momento do jogo, o aluno ou aluna deve anotar os pares que conseguir encontrar. Exemplos de fichas para o tema meios de transporte : 3. Conclusões A aquisição da Língua Portuguesa escrita para o educando surdo visa à imersão em um amplo espaço de aprendizagem, a fim de garantir oportunidades de participação social ativa.
Dentre as leituras realizadas, são enfatizados os benefícios provenientes deste método de ensino, baseando-se no cumprimento da lei, que visa garantir um atendimento de forma integral a todos os alunos, independentemente de suas singularidades. Quando vivenciamos tais métodos, nos é permitido visualizar as múltiplas facetas presentes por traz da teoria. Na prática ainda existe uma grande barreira em relação à educação bilíngue, em que ao aluno surdo possa ser ensinado primeiramente a Libras e, posteriormente, em Língua Portuguesa escrita, evidenciando que ainda existe um despreparo na efetuação de atividades destinadas a tais práticas em salas de aula. Referências FAVORITO, W. Educação Bilíngue para Surdos. In: III Congresso sobre Educação Especial, 1999, Curitiba. Anais do III Congresso sobre Educação Especial. Curitiba: Futuro Eventos, 1999. FERNANDES, S. Práticas de letramento na educação Bilíngue para surdos.curitiba: SEED, Disponível em:www.educacaobilingue.com.acesso em: 31 março 2016. GLAT, Rosana; PLETSCH, Márcia Denise. Estratégias educacionais diferenciadas. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013. HONORA, M.; FRIZANCO, M. L. E. Livro ilustrado de língua brasileira de Sinais: desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009. SCHMIEDT, M. L. P.; QUADROS, R. M. de. Ideias para ensinar português para alunos surdos. Brasília: MEC, SEESP, VILHALVA, S. Recortes de uma vida: descobrindo o amanhã. 1. Ed. Campo Grande/MS., 2001.