Para o presente estudo, foram obtidos os dados através das bases de dados Bloomberg e Ipeadata.

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Transcrição:

3 Metodologia 3.1. Variáveis analisadas Foram selecionadas algumas variáveis relacionadas ao carry trade do real; esta selação foi baseada nos estudos de Carvalho e Divino (2009) e Nishigaki (2007). As variáveis analisadas foram a taxa de juros do Brasil (SWAP e LTN), a taxa de juros americana (FED e TBILL), o diferencial entre elas (SWAPFED), sentimento do investidor no mercado brasileiro (CONFIANCA), a taxa de câmbio entre o real e o dólar (CAMBIO); a expectativa para esta taxa (FOCUS), o preço das ações nos Estados Unidos (SP) e no Brasil (IBOVESPA) e uma variável proxy para as posições em carry trade (POSICAO). 3.2. Coleta dos dados Para o presente estudo, foram obtidos os dados através das bases de dados Bloomberg e Ipeadata. Para a taxa de juros do Brasil, foram utilizadas duas taxas. A primeira é a taxa correspondente à operação de swap DI X pré (180 dias), ou seja, permuta entre a taxa do depósito interbancário (taxa média das operações interbancárias de empréstimo por um dia) e a taxa de juros pré-fixada de 180 dias, realizada através da BM&F Bovespa.A segunda é a LTN de 1 mês. Para a taxa de juros dos EUA, foi considerada a Federal Funds Rate americana, escolha análoga à de Nishigaki (2007) e Carvalho e Divino (2009). Foi utilizada também a Treasury Bill de 3 meses, adotada por Liu (2007) como proxy para a taxa de juros americana, ao avaliar paridade de juros.

22 A variável CONFIANCA representa o sentimento do investidor no mercado brasileiro, e é representada pelo Índice de Confiança do Consumidor calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getúlio Vargas. A variável CAMBIO corresponde à taxa de câmbio real dólar à vista, e a variável FOCUS representa a mediana das expectativas para a taxa de câmbio do mês seguinte. Para a variável POSICAO, foi considerada a média mensal da posição dos investidores estrangeiros na BM&F Bovespa em DDI e dólar futuro como proxy para o carry trade. McGuire e Upper (2007) mostram que dados de posição comprada em taxas de câmbio futuras representam evidência de operações de carry trade. Para o Brasil, foi considerado o somatório das posições em dólar futuro e DDI porque muitas vezes os investidores realizam as duas operações simultaneamente. O gráfico abaixo ilustra a evolução da variável POSICAO. Gráfico 3.1 - Evolução temporal da variável POSICAO Fonte: Bloomberg; elaboração própria Foi utilizado o índice S&P 500, calculado pela agência Standard and Poor s com 500 ações de grandes empresas americanas, para o preço das ações nos EUA (variável SP), e o índice Ibovespa, calculado pela BM&F Bovespa, para o preço das ações no Brasil (variável IBOVESPA).

23 Os dados analisados são observações mensais de setembro de 2005 a fevereiro de 2011. Para a primeira parte do estudo, foram utilizadas também variáveis com observações diárias de março de 2001 a abril de 2011. Tabela 3.1 Variáveis Analisadas Variável Descrição TBILL LTN FOCUS SWAP FED POSICAO IBOVESPA CONFIANCA CAMBIO Treasury Bill 3 meses LTN 1 mês Mediana das expectativas para a taxa de câmbio Swap pré X DI 180 dias Federal Funds Rate Posição dos investidores estrangeiros em DDI e dólar futuro Índice Ibovespa Índice de Confiança do Consumidor Taxa de câmbio real-dólar SP Índice S&P 500 SWAPFED L_IBOVESPA L_CONFIANCA L_CAMBIO L_SP Fonte: Própria SWAP - FED logaritmo de IBOVESPA logaritmo de CONFIANCA logaritmo de CAMBIO logaritmo de SP 3.3. Tratamento dos dados 3.3.1. Modelos de paridade de juros Primeiramente, foi analisado se a condição de paridade de taxas de juros se verifica para o Brasil. Para isso, foram realizadas estimações através dos modelos de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) e Método Generalizado dos Momentos (GMM). O modelo estimado foi o seguinte: (1+ i) = β (1+ i*) (e t+1 /e t ) + u Ou, utilizando nossas variáveis:

24 (1) (1+ SWAP) = β 1 (1+ FED) (CAMBIO t+1 /CAMBIO t ) + u 1 (2) (1+ SWAP) = β 2 (1+ TBILL) (CAMBIO t+1 /CAMBIO t ) + u 2 (3) (1+LTN) = β 3 (1+ FED) (CAMBIO t+1 /CAMBIO t ) + u 3 (4) (1+ LTN) = β 4 (1+ FED) (FOCUS t+1 /FOCUS t ) + u 4 Para simplificar, denominamos as variáveis independentes de auxiliares: (1) RSWAP = β 1 AUX1 + u 1 (2) RSWAP = β 2 AUX2 + u 2 (3) RLTN = β 3 AUX3 + u 3 (4) RLTN = β 4 AUX4 + u 4 As equações (1) e (2) foram estimadas com os dados mensais; a (3) e a (4) incluem variáveis com observações diárias. As quatro equações foram estimadas por MQO e a (3) foi estimada também pelo método GMM, utilizando os valores passados de AUX3 como instrumentos. O modelo GMM estima os parâmetros do modelo especificando um mínimo de condições de momentos. Este método exige que o número de parâmetros a ser estimado seja igual ao número de restrições impostas sobre os momentos. Depois de estimados os modelos, foi feito o teste de Wald para testar a hipótese nula de que o β seja significativamente igual a 1.Uma comprovação de que o β seja significativamente diferente de 1 revelaria uma não-validade da condição de paridade de taxa de juros, viabilizando operações como o carry trade. Sendo assim, esta operação foi estudada através do modelo SVAR seguinte.

25 3.3.2. Modelo SVAR Um modelo VAR é uma extensão multivariada de um modelo autoregressivo. Neste modelo, cada variável depende das suas observações em períodos anteriores e das observações passadas de outras variáveis. Para que o modelo seja bem estimado, é recomendado que sejam realizados testes para verificar a estacionariedade das variáveis, testes de causalidade de Granger, testes para avaliar se há alguma variável exógena no modelo, como o teste para exogeneidade em bloco, e testes para avaliar a quantidade de lags ideal no modelo, por exemplo. Os coeficientes do modelo VAR podem ser estimados através de uma estimação MQO. (ENDERS, 2004) A chamada decomposição de Cholesky inclui no modelo outra equação necessária para a identificação do modelo estrutural, impondo uma restrição tal que uma variável não tenha efeito contemporâneo sobre a outra. (ENDERS, 2004) Para cada variável do modelo, é possível ver a porcentagem da variância dos erros de previsão atribuída a outras variáveis, e as funções de impulso resposta. (ENDERS, 2004) O modelo SVAR une a teoria econômica com a análise VAR. O objetivo do VAR estrutural é usar a teoria econômica (em vez da decomposição de Cholesky) para recuperar as inovações estruturais dos resíduos. As restrições impostas ao modelo são as determinadas pelo pesquisador. Com o SVAR, é possível verificar a resposta de uma variável a um choque estrutural nas outras variáveis. Para avaliar a relação de outras variáveis financeiras com o carry trade, foi realizado estudo análogo ao de Nishigaki (2007). Através do modelo SVAR, pode ser verificada a resposta da variável carry trade (POSICAO) a um choque nas outras variáveis que a afetam e, também, a resposta das outras variáveis a um choque na variável POSICAO. O modelo em questão considerará, então, a seguinte equação:

26 Onde u representa os resíduos das equações e e representa os distúrbios estruturais. A primeira linha da matriz representa a primeira equação, mostrando o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos sendo tratado como variável exógena. A segunda linha corresponde à segunda equação, que considera que o sentimento do investidor, CONFIANCA, é influenciado pelo diferencial de juros. A terceira equação considera que o carry trade, POSICAO, depende do diferencial de juros, SWAPFED, e do sentimento do investidor, CONFIANCA. Um menor diferencial de juros aumentaria o risco de entrar numa operação de carry trade, tornando-a menos atrativa, e uma queda no sentimento do investidor afetaria negativamente o carry trade. A quarta equação considera que a taxa de câmbio é afetada pelo diferencial das taxas de juros, pelo sentimento do investidor, e pela POSICAO. Carins, Corrinne, e McCauley (2007) afirmaram que quando a volatilidade do mercado aumenta, as moedas de países com altas taxas de juros tendem a se depreciar. Através da análise de quatro períodos distintos de alta volatilidade no mercado global, eles mostraram que isso foi verificado empiricamente, principalmente em maio de 2006, inclusive para a moeda brasileira. Nishigaki (2007) considera a volatilidade como uma variável

27 proxy para o sentimento do investidor. Isso se refletiria no modelo SVAR como uma causalidade positiva entre as variáveis CONFIANCA e CAMBIO. A quinta equação representa os preços das ações no Brasil, afetados pelo diferencial de juros, sentimento do investidor, carry trade, e câmbio, e a sexta equação representa o mercado acionário americano sendo afetado por todas as outras variáveis financeiras. Nishigaki (2007) considera que os preços das ações nos EUA estão negativamente relacionados com a volatilidade, sua medida de sentimento do investidor. Um aumento de operações de carry trade entre as moedas brasileira e americana aumentaria o fluxo de capitais para o Brasil, aumentando assim a variável IBOVESPA e diminuindo SP. Foi estimado este modelo SVAR e depois calculadas as funções impulso resposta estruturais e a decomposição de variância estrutural. Após isso, foram estimados outros dois modelos SVAR adicionais. O primeiro corresponde à estrutura proporcionada pelos testes de causalidade de Granger. A restrição, neste caso, corresponderia a só incluir no modelo os coeficientes correspondentes aos valores passados das variáveis que Granger-causarem outras (os coeficientes contemporâneos seriam mantidos). O segundo corresponde a estimar o SVAR colocando a variável POSICAO como sendo influenciada pelos choques em todas as outras variáveis. Os modelos foram estimados utilizando o pacote econométrico Eviews.