PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gab Des Rildo Albuquerque Mousinho de Brito Avenida Presidente Antonio Carlos 251-10º andar - Gab.17 Castelo Rio de Janeiro 20020-010 RJ ACÓRDÃO 3ª TURMA PROCESSO: 0003600-15.2005.5.01.0062 - RTOrd EMENTA: EQUIPARAÇÃO SALARIAL. MESMA FUNÇÃO. FATO PROVADO. DEFERIMENTO. Restando evidenciada a identidade de função entre a reclamante e a paradigma, procede o pedido de equiparação salarial se a reclamada não se desvencilhar do ônus de provar fato impeditivo, modificativo ou extintivo desse direito (Súmula 6, VIII, do TST). Vistos, relatados e discutidos os presentes autos dos recursos ordinários interpostos em face da sentença de fls. 473/478, proferida pelo Exmo. Sr. Juiz Marco Antônio Belchior da Silveira, da 62ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, em que são partes TELEMAR NORTE LESTE S.A. e MARTA HELENA NATIVIDADE DE OLIVEIRA, recorrentes e recorridas. A decisão recorrida acolheu parcialmente o pedido para condenar a reclamada ao pagamento de saldo salarial e de horas extras com reflexos. A demandada busca a reforma da sentença, por meio do apelo de fls. 479/493, sustentando a inexistência de provas das horas extras deferidas à reclamante. A demandante também se insurge contra a sentença, mediante o recurso ordinário de fls. 506/515, insistindo no pedido de equiparação salarial, como também pela interposição do apelo adesivo nas fls. 531/533, pretendendo a retificação da jornada semanal fixada e do critério para apuração do imposto de renda. Contrarrazões oferecidas pelas partes (fls. 526/530 e 557/563). O Ministério Público do Trabalho não interveio no processo. É o relatório. VOTO CONHECIMENTO Porque presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço 5547 1
dos recursos ordinários, mas não conheço do apelo adesivo (fls. 531/533), pois, em data anterior à sua protocolização, a reclamante já havia praticado o ato de recorrer (fls. 506/515), de modo que se operou a preclusão consumativa. Por seu turno, também não conheço dos documentos juntados com as razões recursais da autora (fls. 516/524), em cumprimento à orientação da Súmula 8 do TST. RECURSO DA RECLAMADA HORAS EXTAS E REFLEXOS Insurge-se a recorrente contra a condenação ao pagamento de horas extras e reflexos, sob o o argumento de que foi pautada em depoimento de testemunha suspeita. Afirma ainda que, por força de norma coletiva, não estava obrigada a anotar a jornada de trabalho da acionante. Inicialmente, cumpre registrar que o Tribunal Superior do Trabalho já pacificou o entendimento, por meio da Súmula 357, de que o simples fato de estar a testemunha litigando contra o mesmo empregador não a torna suspeita. A reclamante afirmou, em sua inicial, que as horas extras não eram pagas corretamente e que os registros de ponto eram manipulados pela empregadora (vide fls. 05/06). A acionada, em sua contestação (fls. 84/104), disse que a jornada de trabalho da acionante foi diversa daquela apontada na exordial, bem como que as horas extras laboradas restaram corretamente adimplidas. Quanto à alegação feita pela empresa de que estava desobrigada desse registro, por força de norma coletiva celebrada com o sindicato profissional, não pode ser acolhida, visto que o princípio da autonomia privada coletiva não opera validamente no campo das normas trabalhistas que consubstanciam uma proteção mínima à dignidade da pessoa humana, tal qual sucede com o art. 74 da CLT. Aliás, essa matéria já se encontra pacificada no âmbito do TRT da 1ª Região, por meio da Súmula 14, que possui o seguinte teor: CONTROLE DE JORNADA. ISENÇÃO DE MARCAÇÃO PREVISTA EM NORMA COLETIVA. INEFICÁCIA DA CLÁUSULA. Tendo o empregador mais de dez empregados, a obrigatoriedade de controle da jornada de trabalho é imperativo legal (CLT, artigo 74, 1º e 2º), sendo ineficaz, de pleno direito, a cláusula normativa que dispõe em sentido contrário. Pela análise do conjunto probatório, verifico que os cartões de ponto apresentados pela demandada (fls. 163/228) não podem ser tidos como meio hábil para demonstrar a efetiva jornada prestada pela empregada, porque, enquanto parte deles sequer contém qualquer registro de horário, a maioria consigna horários sem qualquer variação quanto ao início e término do expediente (modelo britânico). É de se aplicar, portanto, o entendimento jurisprudencial contido na Súmula 338, inciso III, do TST. Dessa forma, invertendo-se o ônus da prova, cabia à reclamada demonstrar que a jornada da reclamante não era aquela apontada na exordial, 5547 2
encargo do qual não se desvencilhou. O depoimento da testemunha autoral a respeito do horário confirma a extrapolação denunciada pela reclamante. Já as testemunhas da reclamada, além de ainda trabalharem na empresa, o que recomenda reserva quanto às suas declarações, não forneceram elementos com credibilidade capazes de confirmar o quadro descrito na defesa, conforme, por sinal, registrou o julgador de primeiro grau. Por conseguinte, está correta a sentença ao condenar a acionada ao pagamento do labor em sobrejornada, bem como do auxílio refeição em horas extras, benefício esse garantido ao empregado que laborava em regime extraordinário, conforme estipulado pelos instrumentos coletivos anexados aos autos (fls. 273/316). Entretanto, para o respectivo cálculo, em relação ao período de 01.12.2000 e 30.11.2001, vigência do Acordo Coletivo 2000/2001, o valor da hora extra deverá ser calculado na forma estabelecida pela cláusula 3ª, levando em conta o valor da hora normal, não acrescida de outros adicionais (vide folha 294). O princípio da autonomia privada coletiva permite ao sindicato da categoria profissional fazer esse tipo de acerto, porque a base de cálculo das horas extras não constitui norma de ordem pública. Para os demais períodos não cobertos pela prescrição, não há previsão normativa nesse sentido. Dou parcial provimento. RECURSO DA RECLAMANTE EQUIPARAÇÃO SALARIAL A recorrente pede a reforma da sentença na parte em que julgou improcedente o pedido de diferenças salariais, reiterando a tese de que fazia o mesmo serviço de Renata dos Santos Soares, mas recebia um salário inferior. A reclamada alegou em sua defesa que a demandante e a paradigma jamais exerceram as mesmas funções, bem como negou o preenchimento dos demais requisitos necessários para a procedência do pedido. O elemento básico da equiparação salarial é a identidade de função, cuja prova está a cargo do empregado, cabendo ao empregador demonstrar o fato impeditivo, modificativo ou extintivo (Súmula 6, VIII/TST). Pois bem, o laudo pericial confirmou que...a partir de 02/01/2002, as Comparadas, como PREPOSTAS, desenvolviam tarefas idênticas, sempre, no mesmo setor, ou seja, Departamento Jurídico Trabalhista... (vide folha 370). Registre-se que se tratava das chamadas prepostas profissionais, designadas permanentemente para essa função, ao menos durante o período aqui discutido, e não de funcionárias que eventualmente desempenhavam esse papel. Ora, se os cargos são iguais, a presunção que se impõe é a de que as atribuições dos funcionários que os desempenham são as mesmas. É isso o que emerge dos autos. Cabia à recorrida, nesse contexto, demonstrar que, a 5547 3
despeito da identidade de denominação, as atribuições da reclamante e da paradigma eram diferentes, encargo do qual não se desvencilhou. A prova oral produzida nos autos em nada muda o quadro probatório favorável à autora, na medida em que os depoimentos prestados se contrapõem. Destaco ainda que, diversamente do entendimento esposado pelo juízo a quo, os fatos narrados pela modelo em audiência não são substanciais o bastante para se concluir de maneira diversa (vide depoimento na folha 471), além de o seu depoimento merecer reservas, porque, ao depor, ela ainda estava vinculada à empresa. Portanto, considerando que o tempo na função entre a autora e a paradigma era inferior a dois anos (CLT, art. 461, 1º), e que esta última recebia remuneração superior, faz jus a recorrente à respectiva diferença, levando-se em conta somente o salário-base, com reflexos (os únicos que se mostram cabíveis) sobre férias + 1/3, gratificações natalinas, aviso prévio, saldo de salário e FGTS + 40%, tudo a partir de janeiro de 2002. Dou provimento. CRIME DE FALSO TESTEMUNHO Por fim, requer a reclamante o envio de peças à autoridade competente para apuração do delito de falso testemunho supostamente praticado pela testemunha Renata dos Santos Soares. Com efeito, embora o depoimento da citada testemunha não tenha merecido a mesma credibilidade dada às demais provas dos autos, suas declarações, por si só, não comprovam a ocorrência de falso testemunho. Nego provimento. CONCLUSÃO Ante o exposto, conheço dos recursos ordinários, mas não conheço do apelo adesivo (fls. 531/533), e, no mérito, dou parcial provimento ao da reclamada, a fim de determinar que, para o período compreendido entre 01.12.2000 e 30.11.2001, o valor da hora extra deverá ser calculado levando em conta o valor da hora normal, não acrescida de outros adicionais; e dou provimento parcial ao da reclamante, para, reformando a sentença, conceder diferenças salariais com os respectivos reflexos, nos termos da fundamentação. Custas acrescidas para R$ 400,00, calculadas sobre R$ 20.000,00, novo valor arbitrado à condenação. ACORDAM os Desembargadores que compõem a 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer dos recursos ordinários, mas não conhecer do apelo adesivo (fls. 531/533), e, no mérito, por unanimidade, dar parcial provimento ao da reclamada, a fim de determinar que, para o período compreendido entre 01.12.2000 e 30.11.2001, o valor da hora extra deverá ser calculado levando em conta o valor da hora normal, não acrescida de outros adicionais; e, por maioria, dar provimento parcial ao da reclamante, para, reformando a sentença, conceder diferenças salariais com os respectivos reflexos, nos termos da fundamentação. Custas acrescidas para R$ 400,00, calculadas sobre R$ 20.000,00, novo valor arbitrado 5547 4
à condenação. Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 2012. DESEMBARGADOR RILDO ALBUQUERQUE MOUSINHO DE BRITO Relator m 5547 5