Avaliação do consumo alimentar de idosos institucionalizados da cidade de Paracatu, MG

Documentos relacionados
Unidade: APLICAÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS NO PLANEJAMENTO DE DIETAS. Unidade I:

Nutrição Aplicada à Educação Física. Cálculo da Dieta e Recomendações dietéticas. Ismael F. Freitas Júnior Malena Ricci

NUTRIÇÃO DO IDOSO. Universidade de São Paulo Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Nutrição e Metabolismo Nutrição Humana

Dieta para vegetarianos

NUTRIÇÃO NA TERCEIRA IDADE. Como ter uma vida mais saudável comendo bem.

Erly Catarina de Moura NUPENS - USP

3. Material e Métodos

Programa Nacional de Alimentação Escolar ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

Avaliação do consumo alimentar de idosos acamados pertencentes a duas estratégias de saúde da família em Batatais-SP

AVALIAÇÃO DA QUANTIDADE DE FIBRAS OFERTADA NO CARDÁPIO DE UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS

CONSUMO ALIMENTAR DE ESCOLARES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO NO MUNICÍPIO DE PALMAS TO

PERFIL NUTRICIONAL E DIETÉTICO DE IDOSOS NÃO INSTITUCIONALIZADOS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA-PB

Avaliação do Consumo Alimentar de Escolares da Rede Publica de Ensino Fundamental de Piracicaba

UFSC - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CCS - CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO NUTRIÇÃO PROGRAMA E PLANO DE ENSINO SEMESTRE

DESENVOLVIMENTO DE DIETA ENTERAL ARTESANAL COM ALIMENTOS FUNCIONAIS E ANÁLISE BROMATOLÓGICA - UNIMED CAMPINAS

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL. Dra. Helena Maia Nutricionista

Inquérito Alimentar. Profa. Assoc. Regina Mara Fisberg 2012

Biologia. Qualidade de Vida das Populações Humanas. Hábitos Alimentares e Exercícios Físicos Parte 1. Prof. Daniele Duó

1º DIA - 13 DE AGOSTO - TERÇA-FEIRA

AVALIAÇÃO DA INGESTÃO DE CÁLCIO DAS CRIANÇAS DE UMA ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA 1

Valor Calórico, Carboidratos, Proteínas, Gorduras Totais, Gorduras Saturadas, Colesterol, Fibra Alimentar, Cálcio, Ferro e Sódio.

NUT-154 NUTRIÇÃO NORMAL III. Thiago Onofre Freire

Izabela Alves Gomes Nutricionista UERJ Mestranda em Alimentos e Nutrição - UNIRIO

CONSUMO ALIMENTAR DE ESCOLARES DO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA ZONA RURAL DA CIDADE DE GUAXUPÉ-MG RESUMO

Movimento e alimento. Eliane Petean Arena Nutricionista

SERVIÇO DE NUTRIÇÃO DO CRATOD

Estudo Multicêntrico do Consumo Alimentar de Pré-escolares

INQUÉRITOS NACIONAIS DE SAÚDE E NUTRIÇÃO. Profa Milena Bueno

Introdução. Nutricionista FACISA/UNIVIÇOSA. 2

CONSUMO ALIMENTAR DAS MULHERES DO CENTRO DE MELHOR IDADE E SUA CORRELAÇÃO COM AS DOENÇAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (OSTEOPOROSE)

ALIMENTAÇÃO E SAÚDE 1 - A RELAÇÃO ENTRE A ALIMENTAÇÃO E SAÚDE

TÍTULO: ANÁLISE DO CONSUMO DE ALIMENTOS FONTE DE GORDURAS E FATORES QUE INFLUENCIAM SUAS ESCOLHAS

PAPEL DA NUTRIÇÃO NO ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL: UMA REVISÃO NA LITERATURA

CONSUMO ALIMENTAR DE COLETORES DE LIXO DO MUNICÍPIO DE IMPERATRIZ- MA FOOD CONSUMPTION OF GARBAGE COLLECTORS OF MUNICIPAL IMPERATRIZ- MA

Palavras-chave: Idosos, ILPs (Instituição de Longa Permanência), Macronutrientes e Micronutrientes.

ACEITAÇÃO DE REFEIÇÕES POR IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS DE NATAL/RN

Vegetarianismo na Infância e Adolescência. Ana Paula Pacífico Homem

PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS QUE FREQUENTAM UM CMEI NA CIDADE DE APUCARANA

COMPOSIÇÃO DAS LANCHEIRAS DE ALUNOS DE UMA ESCOLA PARTICULAR DE APUCARANA PR BARBARA CRISTINA HAUPTMANN FRANCO DE SOUZA 1 ; TATIANA MARIN, 2

RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS (macro e micronutrientes)

PERFIL ALIMENTAR DE IDOSOS EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA DE BELO HORIZONTE, MG

CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: NUTRIÇÃO INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

LANCHAR OU JANTAR? ESCOLHAS SAUDÁVEIS. Nutricionista: Patrícia Souza

Elaboração de Cardápio

PROGRAMA DE DISCIPLINA. 1. Nome da disciplina: Composição de Alimentos (NUT 004)

Alimentação na Infância e Adolescência

AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS MENORES DE 5 ANOS EM CRECHES BRASILEIRAS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

PERFIL NUTRICIONAL PESSOAL

CONSUMO ALIMENTAR DE ESTUDANTES DE EDUCAÇÃO BÁSICA 1

À minha namorada Patrícia, por ser luz na minha vida e neste trabalho.

Brícia Baião de Laia et all AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS DE JEQUERI, MG1

ALIMENTAÇÃO DA CRIANÇA

- avaliar os hábitos alimentares e o consumo de energia e nutrientes de adultos e idosos; - analisar e adequar macro e micronutrientes de planos

EXIN Nutrição SÉRIE 4MA e 4NA Assuntos 1a chamada Assuntos 2a.chamada. Nutriçao Social

ALIMENTAÇÃO EQUILIBRADA GUIA PARA UMA VIDA MAIS SAUDÁVEL

NUTRIÇÃO. Problemas nutricionais associados à pobreza: Desnutrição /Hipovitaminose / Bócio

O pão engorda. Mitos Alimentares

CAPACITAÇÃO DE PROFISSIONAIS EM SAUDE MENTAL NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO NUTRIÇÃO NO IDOSO

AVALIAÇÃO IMC E DE CONSUMO DE ALIMENTOS FONTE DE PROTEÍNA, VITAMINA C E MAGNÉSIO POR ESCOLARES

Campus Universitário Caixa Postal 354 CEP INTRODUÇÃO

Todos os Direitos Reservados. Página 1

Pirâmide alimentar: guia para alimentação saudável

ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS: QUALIDADE DA DIETA E SAÚDE. Renata Bertazzi Levy

Dieta refere-se aos hábitos alimentares individuais. Cada pessoa tem uma dieta específica. Cada cultura costuma caracterizar-se por dietas

18º Congresso de Iniciação Científica DESENVOLVIMENTO DE INDICADOR NUTRICIONAL DA CESTA BÁSICA DO MUNICIPIO DE PIRACICABA- SP E REGIÃO

ANEXO 2 INGESTÃO NUTRICIONAL

ARROZ INTEGRAL SEM GLÚTEN. SEM LACTOSE. SEM OVOS. SEM TRANSGÊNICOS.

* Exemplos de Cardápios. Equipe: Divair Doneda, Vanuska Lima, Clevi Rapkiewicz, Júlia Prates

Especial Online RESUMO DOS TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO. Nutrição ISSN

ISSN Análise de cardápios oferecidos á idosos... Sousa, M. O; Marques, M. P; Vasconcelos, S. M. PESQUISA

ENTENDENDO O CARDÁPIO. Centro Colaborador de Alimentação e Nutrição do Escolar (CECANE)

A Dieta da Cenoura Para Emagrecer Como Funciona e Dicas Seg, 17 de Outubro de :23 - Última atualização Seg, 17 de Outubro de :30

CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: NUTRIÇÃO INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

Índice. Índice de Figuras. Índice de Tabelas. Lista de Abreviaturas. Resumo e Palavras-chave. 1. Introdução Objetivos 6

Aceitação da merenda em uma escola municipal de Barbacena-MG.

Dieta Hipercalórica e Hiperproteica

CONSUMO DE LEITE POR INDIVÍDUOS ADULTOS E IDOSOS DE UM MUNICÍPIO DA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL 1

Ficha Técnica de Preparo de Alimentos

HI! WE ARE STUDENTS FROM D. ANTÓNIO DA COSTA SCHOOL IN ALMADA - PORTUGAL AND OUR WORK IS BASICALLY

ROTULAGEM NUTRICIONAL. Nutricionista Geisa L. A. de Siqueira

revogada(o) por: Resolução RDC nº 269, de 22 de setembro de 2005 atos relacionados: Resolução nº 18, 1994

Nutrientes. Leonardo Pozza dos Santos

SEMENTE DE CHIA. Ficha técnica. REGISTRO: Isento de Registro no M.S. conforme Resolução RDC n 27/10. CÓDIGO DE BARRAS N :

100 ml leite UHT, com 87 % umidade equivalem a 13 g de matéria seca: ( = 13).

Resumo INTRODUÇÃO. , Tatiana Uchôa Passos

adota a seguinte Resolução de Diretoria Colegiada e eu, Diretor-Presidente, determino a sua publicação:

PRODUÇÃO DE REFEIÇÕES. Aceitação da inclusão de refeição vegetariana na merenda por alunos

Você é o que você come? A composição química dos seres vivos

TÍTULO: AVALIAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR FORNECIDA PARA ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL, DE ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE ÁGUAS DE LINDÓIA

Teste de Capacidade Física Instruções Gerais Polícia Federal 2008

CONSUMO ALIMENTAR E MORBIDADE DE IDOSOS BRASILEIROS: AS PARTICULARIDADES DA REGIÃO NORDESTE

HÁBITOS ALIMENTARES DE ACADÊMICOS DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

ANALISE E IDENTIFICAÇÃO DE HÁBITOS ALIMENTARES DE CRIANÇAS DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO INFANTIL DA CIDADE DE GUAXUPÉ/MG RESUMO

PREVENÇÃO E FORÇA NUTRILITE PACOTE A COMBINAÇÃO PERFEITA PARA AS NECESSIDADES FEMININAS

Unidade: Alimentação da infância ao envelhecimento. Unidade I:

A Biodiversidade no Prato

Nutrição e Dietética DISTRIBUIÇÃO DA CARGA HORÁRIA TEÓRICA EXERCÍCIO LABORATÓRIO OUTRA ,5

Alimentar-se bem, para um envelhecer mais saudável. Juliana Aquino

Alimentação saudável

FACULDADE UNIÃO DE GOYAZES. Prof. MSc. Jean Carlos Rodrigues Lima CRN 1/6002

Transcrição:

Avaliação do consumo alimentar de idosos institucionalizados da cidade de Paracatu, MG Mestre em Promoção de Saúde UNIFRAN; Professora Faculdade Tecsoma; Nutricionista da Prefeitura Municipal de Paracatu. RESUMO O crescimento da população idosa cresce vertiginosamente nos países desenvolvidos e nos países emergentes devido às melhorias das condições de vida. Estima-se que daqui a aproximadamente duas décadas o Brasil seja o quinto país com maior número populacional de idosos. O processo do envelhecimento engloba alterações nas características fisiológicas, funcionais e corporais dos indivíduos, o que reflete diretamente sobre o seu estado nutricional. Objetivou-se avaliar o consumo alimentar dos idosos institucionalizados de Paracatu. Para tanto, a avaliação alimentar foi realizada por meio do resto ingestão. Os dados do consumo alimentar foram avaliados por meio do software de nutrição Avanutri versão 1.0. Resultados: os lipídeos foram o único macronutriente que apresentou consumo abaixo das recomendações, entretanto todas as vitaminas lipossolúveis, como a maioria dos micronutrientes, foram pouco consumidas. Palavras-chave: Idosos. Consumo alimentar. Alimentação. 21

Revista Augustus ISSN 1415-398X Rio de Janeiro v. 16 n. 32 Julho de 2011 Semestral Avaliação do consumo alimentar de idosos SENIORS FOOD CONSUMPTION EVALUATION IN PARACATU, MG ABSTRACT The growth of the elderly population grows dramatically in developed countries and emerging countries due to improvements in living conditions. It is estimated that within about two decades, Brazil is the fifth largest number of elderly population. The aging process involves changes in physiological characteristics, and functional body of individuals which reflects directly on their nutritional status. The objective was to assess dietary intakes of institutionalized elderly Paracatu. For this, the food assessment was performed by ingestion of the rest. The food consumption data were assessed using the nutrition software Avanutri version 1.0. Results: lipids were the only macronutrient that showed consumption of the recommendations below, however all fat soluble vitamins like most micronutrients were not consumed. Due to the impact of nutrition on the body s metabolism changes in dietary intake of this population must be made urgently. Keywords: Seniors. Food Consumption. Food. 1 INTRODUÇÃO O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que ocorreu nos países desenvolvidos de forma gradual, e de forma brusca nos países em desenvolvimento (MAGNONI, 2005; MORAES; RODRIGUES; GERHARDT, 2008). O Brasil, assim como a maioria dos países em desenvolvimento, vem apresentando um declínio nas taxas de mortalidade e de fecundidade, o que altera a sua pirâmide populacional, a qual passa a ter um estreitamento na sua base e um alargamento nas porções média e superior da pirâmide etária (MORAES; RODRIGUES; GERHARDT, 2008). O envelhecimento é um processo multifatorial que engloba aspectos biológicos, cronológicos, funcionais, psíquicos e sociais (FRANK; SOARES, 2002; MAGNONI, 2005). Conforme Hargreaves (2007), a alimentação não balanceada na terceira idade aumenta o risco de desenvolvimento de doenças crônicas, tais como obesidade, diabetes, doença vascular, hipertensão arterial e osteoporose. Além disto, as dificuldades socioeconômicas, a falta de informação sobre os alimentos, a má condição dentária e o isolamento social contribuem para uma menor ingestão de nutrientes nesta população (FRANK; SOARES, 2002; MORAES; RODRIGUES; GERHARDT, 2008). 22

Desta forma, torna-se imprescindível para esta população uma série de cuidados nutricionais, entre os quais pode-se citar: ingestão reduzida de gordura saturada e colesterol; evitar o excesso de carboidrato simples; ingestão adequada de nutrientes tais como vitaminas e fibras para garantir o êxito da qualidade de vida do idoso (FRANK; SOARES, 2002). As instituições de longa permanência para idosos surgem como uma alternativa; entretanto, a mudança para estas instituições ocasiona alterações na rotina do idoso, principalmente na área da alimentação, o que pode modificar o seu estado nutricional e desta forma fragilizar sua saúde (SANTELLE; LEFEVRE; CERVATO, 2005). 2 OBJETIVO Avaliar o consumo alimentar de idosos institucionalizados da cidade de Paracatu, MG. 3 CAMPO DE ESTUDO O estudo foi realizado com idosos internos no Lar São Vicente de Paulo, única instituição asilar para idosos do município de Paracatu, MG. Fizeram parte deste trabalho 35 idosos de ambos os sexos. 4 AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR O consumo alimentar para idosos institucionalizados foi avaliado pelo método do Resto Ingestão durante duas semanas, sendo avaliados quatro dias durante a semana e dois dias ao final de semana. As preparações foram pesadas em balança para alimentos da marca Marte, com capacidade para 20 quilos e especificidade de 100 gramas. Foi analisada a adequação dos seguintes nutrientes: proteína, carboidrato, lipídeo, cálcio, ferro, zinco e as vitaminas A, E, C e D. A quantidade média dos alimentos ingeridos (em gramas) foi lançada no programa Avanutri, versão 1.0 para Windows -2007, que permitiu a obtenção do consumo dos macro e micronutrientes. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Franca, sob o n o 153/08. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na instituição de longa permanência avaliada são oferecidas cinco refeições, sendo quatro durante o dia (desjejum, almoço, lanche e jantar) e uma à noite (ceia). A instituição não conta com o trabalho de um nutricionista e a alimentação é adquirida por meio da aposentadoria dos idosos, verbas destinadas ao seu funcionamento ou por doações (tanto de alimentos crus como de alimentos já coccionados). Ao analisar o cardápio servido pela instituição, este apresentou escassez de frutas, monotonia no café da manhã e preparações repetidas no almoço e jantar. As refeições servidas no asilo não apresentam modificações na consistência, o que prejudica a nutrição dos idosos, visto que a maior parte é desprovida de dentes e ou de próteses. Vários autores (BUSNELLO, 2007; FRANK; 23

Revista Augustus ISSN 1415-398X Rio de Janeiro v. 16 n. 32 Julho de 2011 Semestral Avaliação do consumo alimentar de idosos SOARES, 2002; SANTELLE; LEFEVRE; CERVATO, 2005) citam que as escolhas dos alimentos, assim como a técnica de preparo, são evidentemente importantes, principalmente para indivíduos senis que apresentem alguma dificuldade de mastigação. Em um estudo o autor (SANTELLE; LEFEVRE; CERVATO, 2005) observou impacto negativo no comportamento alimentar de idosos, em função da sua mudança para a instituição asilar, devido principalmente à monotomia alimentar apresentada por este local. Quantitativamente, foram obtidos resultados para macro e micronutrientes que estão apresentados nas Tabelas 1 e 2, respectivamente. Tabela 1: Percentual de ingestão média de macronutrientes Macronutriente Porcentagem consumida Carboidrato 58,3 Lipídeos 24,6 Proteínas 17,1 No presente estudo, utilizou-se como recomendação 55% (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989) o valor calórico total das refeições como devendo ser proveniente de carboidratos. Entretanto, encontrou-se uma média de consumo acima dos valores preconizados. Apesar de o consumo de carboidratos ter sido acima das recomendações, a maior parte do consumo foi de carboidrato simples (presente no arroz, macarrão e pão branco), ao passo que o consumo de carboidrato complexo foi em menores quantidades. Ao avaliar o consumo alimentar de idosos asilares (MACHADO et al., 2009), observou-se um consumo de 53,7% de carboidrato. Em relação aos lipídeos, utilizou-se como recomendação 30% (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989) do valor energético total das refeições, sendo que se encontrou uma média de consumo menor para a presente população. Em outro estudo (POSNER, 1994) relata-se um consumo lipídico de 35,7% na dieta de idosos pesquisados. No consumo calórico proveniente de lipídeos deve- se limitar a gordura saturada, visto que a mesma é veículo de ingestão de colesterol, o qual favorece as doenças coronarianas, especialmente a arteriosclerose (BUSNELLO, 2007; FRANK; SOARES, 2002). Para as proteínas, utilizou-se como recomendação 15% (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989) do valor calórico total das refeições. Assim, encontrou-se uma média de consumo maior que as recomendações, no entanto, apesar de o consumo de proteínas ter sido elevado, deve-se destacar que predomina na instituição a oferta de proteínas de baixo valor biológico (cereais e leguminosas). Em outros estudos encontrou-se um percentual energético derivado de proteína de 14,5% do consumo alimentar de 77 idosos canadenses institucionalizados (LOPES et al., 2005) e 15,5 % para os idosos avaliados em um estudo de base populacional (MARUCCI, 1992). A Tabela 2, apresentada a seguir, mostra os resultados encontrados para vitaminas e minerais dos idosos institucionalizados. As recomendações utilizadas (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989) distinguem o consumo de nutrientes por sexo para os seguintes nutrientes: vitamina C, ferro e zinco. 24

Tabela 2: Percentual de adequação da ingestão de micronutrientes pelos idosos Mulheres Homens Vit. A 114,18 114,18 Vit. C 1,15 1,15 Vit. D 0,32 0,32 Vit. E 63,75 64,02 Cálcio 266,76 266,76 Ferro 5,97 5,18 Zinco 4,15 4,14 Tem-se para as médias encontradas para a vitamina A valores elevados nos dias em que serviam cenoura no cardápio. Ao avaliar o inquérito dietético de indivíduos idosos institucionalizados observou-se uma inadequação para o consumo de vitamina A de 55% (FRANK; SOARES, 2002). Em outro estudo (MARUCCI, 1992), observou-se um consumo de 365,5 mg de vitamina A para a população idosa avaliada, ou seja, valores muito acima do encontrado no presente estudo. O consumo de vitamina D foi bem abaixo da recomendação para a população avaliada. O consumo de alimentos ricos em vitamina D por idosos é reduzido, em função por muitos gerontes apresentarem deficiência em lactose ou por acreditarem que não precisam beber leite, visto que não são crianças (MAGNONI, 2005). Em um estudo realisado nas instituições asilares de São Paulo encontrou-se uma inadequação de 90% no consumo de vitamina D (ARANHA et al., 2009). O consumo de vitamina E foi bem abaixo dos valores recomendados pela RDA (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989). Tais resultados estão de acordo com os encontrados em outros estudos, inadequação de 50% no consumo de vitamina E em idosos institucionalizados (FRANK; SOARES, 2002) e uma média de 11, 1 mg no consumo de vitamina E na população pesquisada (MARUCCI, 1992). Encontrou-se para a vitamina C um consumo insuficiente perante as recomendações RDA (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989). Outros autores também encontraram baixo consumo de vitamina C, observou-se uma média de 150 mg para os idosos avaliados (MARUCCI, 1992) e média de ingestão de 36 mg/dia (BORGES; WADA; BORGES, 2009). A média referente ao consumo de cálcio demonstrou-se insuficiente para ambos os sexos, portanto torna-se preocupante, pois foi apenas de 12% dos valores recomendados. Tal inadequação é agravada principalmente para as mulheres acima dos 80 anos, pois elas tendem a absorver apenas 26% do mineral consumido devido às alterações hormonais (FRANK; SOARES, 2002; MAGNONI, 2005). Quanto ao consumo de ferro, a população institucionalizada apresentou um consumo insuficiente. Este resultado é agravante, pois devese ressaltar que a maior parte do ferro presente no cardápio da instituição não é proveniente de ferro heme, visto que a oferta de carnes é baixa. Assim, ele é oriundo do ferro não-heme, o qual apresenta baixa biodisponibilidade, e que se apresenta agravada com a pequena oferta de vitamina C. Em relação ao consumo de zinco, os valores para a população institucionalizada estão abaixo do recomendado. Ao avaliar o consumo de zinco em idosos encontrou-se um consumo de 19,7 mg/d para 25

Revista Augustus ISSN 1415-398X Rio de Janeiro v. 16 n. 32 Julho de 2011 Semestral Avaliação do consumo alimentar homens e 10,8 mg/d para mulheres (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989). Em um estudo dietético encontraram um percentual de adequação para o zinco, em relação à recomendação, abaixo de 60% para idosos institucionalizados (RUDMAN et al., 1995). Uma inadequação no consumo de zinco, em relação à recomendação, inferior a dois terços em idosos institucionalizados em Carabobo, Venezuela (RUDMAN et al., 1995). 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O aumento do número de idosos na população brasileira requer uma nova assistência à saúde que vise ações preventivas e não curativas. Também se torna necessário a formação de profissionais especializados em gerontologia, para que cuidados específicos e corretos sejam destinados a esta população; desta forma, a promoção de saúde torna-se essencial no processo do envelhecimento. Os resultados obtidos foram interpretados considerando-se apenas as características da população estudada, restrita aos idosos institucionalizados, não podendo ser estendidos a toda população idosa de Paracatu. Em relação ao consumo alimentar, a ingestão ficou bem distante dos valores recomendados. Tal fato pode ser explicado pelo fato de as refeições servidas na instituição estudada não apresentarem modificações na consistência, o que prejudica a nutrição dos idosos, visto que a maior parte é desprovida de dentes e/ou de próteses. Deve-se considerar que as escolhas dos alimentos, assim como a sua técnica de preparo, são evidentemente importantes, principalmente para indivíduos senis que apresentem alguma dificuldade de mastigação. Além disto, idosos adontes, ou que fazem uso de próteses, apresentam dificuldade na mastigação, o que pode contribuir com a inapetência e consequentemente com o agravo do quadro nutricional. A aceitação da dieta planejada nutricionalmente permite mudanças nos hábitos alimentares, satisfação no ato de alimentar-se e alcance dos objetivos nutricionais previamente determinados. Em função do aumento da população idosa brasileira, mais pesquisas como esta devem ser feitas para que se possa cuidar melhor de nossos senis. REFERÊNCIAS ARANHA, F. Q. et al. Normalização dos níveis séricos de ácido ascórbico por suplementação com suco de acerola (Malpighia glaba L.) ou farmacológica em idosos institucionalizados. Revista de Nutrição, Campinas, v. 17, n. 3, p. 309-317, set. 2004. Disponível em: <http:// dx.doi.org/10.1590/s1415-52732004000300004>. Acesso em: 24 ago. 2009. BORGES, T. C.; WADA, S. R.; BORGES, R. G. Zinco plasmático e estado nutricional em idosos. Revista de Nutrição, Campinas, v. 18, n. 3, p. 357-365, 2005. Disponível em: <http:// dx.doi.org/10.1590/s1415-52732005000300008>. Acesso em: 23 jun. 2009. BUSNELLO, F. M. Aspectos nutricionais no processo do envelhecimento. Rio de Janeiro: Atheneu, 2007. FRANK, A. A.; SOARES, E. A. Nutrição no envelhecer. Rio de Janeiro: Atheneu, 2002. HARGREAVES, L. H. H. Geriatria. Brasília, 26

DF: Editora Secretaria Especial de Editoração e Publicações do Senado Federal, 2006. LOPES, A. C. S. et al. Consumo de nutrientes em adultos e idosos em estudo de base populacional: Projeto Bambuí. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 4, p. 1201-1209, jul./ago. 2005. MACHADO, J. et al. Estado nutricional na doença de Alzheimer. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 55, n. 2, p. 188-191, 2009. Disponível em: <http://dx.doi. org/10.1590/s0104-42302009000200024>. Acesso em: 24 jan. 2010. RUDMAN, D. et al. Observations on the nutrient intakes of eating-dependent nursing home residents: under utilization of micronutrient supplemets. Journal American Nutrition, New York, v. 14, n. 6, p. 604-6013, Dec. 1995. SANTELLE, O.; LEFEVRE, A. M.; CERVATO, A. M. Alimentação institucionalizada e suas representações sociais entre moradores de instituições de longa permanência para idosos, São Paulo, Brasil. Revista de Nutrição, Campinas, v. 18, n. 1, p. 3061-3065, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/ v23n12/28.pdf>. Acesso em: 11 maio 2009. MAGNONI D.; CUKIER, C.; OLIVEIRA, P. A. Nutrição na terceira idade. São Paulo: Sarvier, 2005. MARUCCI, M. F. N. Aspectos nutricionais e hábitos alimentares de idosos matriculados em ambulatório geriátrico. 1992. 116 f. Tese (Doutorado). Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992. MORAES, E. P.; RODRIGUES, R. A. P.; GERHARDT, T. E. Os idosos mais velhos no meio rural: realidade de vida e saúde de uma população do interior gaúcho. Texto & Contexto: Enfermagem, Florianópolis, v. 17, n. 2, p. 374-383, abr./jun. 2008. NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Recommended Dietary Allowances. 10 th edition. Whashington, DC: The National Academies Press, 1989. POSNER, B. M. Nutritional risk in new England elders. Journal of Gerontology, Oxford, v. 49, n. 3, p. 123-132, 1994. ROEBOTHAN, B. V.; CHANDRA, R. K. Nutrient consumption and body size in a group of non institutionalized health elderly. Journal American Nutrition, Bethesda, v. 14, n. 3, p. 41-45, 1994. 27