Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental PHA PHA2537 Água em Ambientes Urbanos Seminários Políticas de Proteção dos Mananciais da Região Metropolitana de Belém - PA Aline Salamanca Braullio Nunesde Souza Bruno F. Zopolato Larissa A. Martins Marianna B. Tonini - N. USP6817183 - N. USP6817158 - N. USP6817061 - N. USP5085276 - N. USP6817075 Prof. Dr. KamelZahed Filho Prof. Dr. José Rodolfo Scarati Martins Profª. Drª. Monica Ferreira do Amaral Porto Profª. Drª. Ana Paula Zubiaurre Brites 2014
Sumário 1.Introdução... 1 2.Área de Proteção Ambiental dos Mananciais de Abastecimento de Água de Belém... 3 3. Impasses no processo de criação da APA Belém...8 4. Conclusão...9 5. Bibliografia...10
1. Introdução A Região Metropolitana de Belém (RMB) está localizada na zona Guajarina no nordeste do Estado do Pará, compreendendo os municípios de Ananindeua, Belém, Benevides, Marituba e Santa Bárbara. Com cerca de 2.040.843 de habitantes (segundo censo 2010 IBGE), a RMB possui área total de 1.819,337 Km². Figura 1 Região Metropolitana de Belém. Fonte: Google Imagens. Foi principalmente a partir da década de 80 que a RMB começou a sofrer um processo de expansão e crescimento populacional intenso, o qual é, hoje, um dos vetores de maior relevância na pressão das fontes de abastecimento, seja pelo aumento da demanda ou pela ocupação de áreas próximas aos mananciais de abastecimento. Na Grande Belém, osistema de saneamento é extremamente precário, o que faz com que o esgoto bruto seja despejado sem nenhumtratamento nos cursos da água. Segundo Leão (2008), apenas 9% dos domicílios utilizavam a rede pública de esgoto na região metropolitana inteira em 2006, como mostra o mapa a seguir. 1
Figura 2 Sistema de esgotamento sanitário de Belém em 2006. Fonte: Leão, 2008. A notável pressão aos recursos ambientais das UPA s é observada ao longo das duas últimas décadas, especialmente no ano de 1984, período que precede a década de criação das referidas unidades a partir dos decretos estaduais nº 1551 e 1552 de maio de 1993. (CARDOSO, 2009) Além disso, os principais mananciais de água da Grande Belémestão situados em uma área de risco devido à proximidade com o Aterro controlado do Aurá, que não possui tratamento de chorume nem impermeabilização da base (o que evitaria que o material contamine o solo e o lençol freático). 2
Figura 3 Localização do aterro sanitário controlado do Aurá. Fonte: Leão, 2008. Tendo como principal ponto de partida as consequências negativas que podem ocorrer para os recursos naturais provenientes da associação entre as altas taxas de urbanização e a ausência de políticas públicas voltadas para as melhorias sociais, ambientais e infraestruturais, este trabalho tem como objetivo explorar as soluções e políticas para proteção dos mananciais da RMB. 2. Área de Proteção Ambiental dos Mananciais de Abastecimento de Água de Belém É neste cenário, anteriormente comentado, que encontra-se a Área de Proteção Ambiental dos Mananciais de Abastecimento de Água de Belém (também chamado de A.P.A. Belém), cuja criação derivou danecessidade, conforme discrimina o Decreto Estadual nº 1551/93, de proteção dosreservatórios de água dos lagos Bolonha e Água Preta, que são hoje responsáveis pelo abastecimento de 65% da população da região metropolitana debelém(sectam, 2003). A APA Belém possui uma extensão de 7500 hectares e envolve os Municípios de Belém e Ananindeua, compreendendo as bacias hidrográficas dos lagos Bolonha e Água Preta e do Rio Guamá. 3
Figura 4 Bacia Hidrográfica em questão. Fonte: IMBIRIBA JUNIOR, Manoel e COSTA, Francisco Ribeiro da. (sem data) 4
Figura 5 - Reservatórios de água dos lagos Bolonha e Água Preta. Fonte: IMBIRIBA JUNIOR, Manoel e COSTA, Francisco Ribeiro da. (sem data) Além disso, dentro da APA foi criado o Parque Ambiental de Belém, através do Decreto lei 1.552, também em três de maio de 1993, com área total de 1.340 hectares. Figura 6 Parque Ambiental. Fonte: Oswaldo Forte/O liberal (http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/07/parque-do-utinga-em-belem-preserva-belezas-naturais-dafloresta.html) 5
A Área de Proteção Ambiental de Belém (APA Belém) foi criada tendo apresentado dez objetivos principais, segundo seu decreto: 1. Assegurar a potabilidade da água dos mananciais, através da restauração e da manutenção da qualidade ambiental dos lagos Água Preta e Bolonha, do rio Aurá e respectivas bacias hidrográficas; 2. ordenar com base em critérios urbanísticos e ecológicos, o uso do solo; 3. promover o saneamento ambiental e a urbanização das áreas ocupadas, prevendo inclusive, o emprego de tecnologias alternativas de tratamento de esgoto; 4. promover a recuperação das áreas degradadas, incluindo o seu reflorestamento;preservar a biodiversidade representada pelas plantas, animais e ecossistemas das florestas de várzea, igapó e terra firme, remanescentes e em estágio de sucessão, e promover sua recuperação; 5. preservar o Sítio Histórico do Engenho do Murutucu; 6. possibilitar o adequado tratamento e reciclagem dos resíduos sólidos, dos afluentes industriais e dos resíduos oleosos; 7. implementar a educação ambiental comunitária; 8. apoiar e garantir a continuidade das pesquisas científicas desenvolvidas pelas diversas entidades e proteger as áreas institucionais destinadas a este fim; 9. propiciar o desenvolvimento de atividades culturais, educativas, turísticas, recreativas e de lazer em espaços especialmente demarcados; 10. valorizar os municípios de Belém e Ananindeua, permitindo o incremento do ecoturismo. (Decreto Estadual nº 1551/93). Conforme Araújo Júnior et al. (2013), a Lei nº 9.985/2000decide dividir as unidades de conservação em dois grupos, as Unidades de Proteção Integral e as Unidades de Uso Sustentável, cada uma com objetivos específicos legalmente definidos. Por sua vez, as Unidades de Proteção Integral são divididas em Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional (ou Estadual ou Municipal), Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre. A APA-Belém enquadra-se na categoria de Parque Estadual. 6
Figura 7 Expansão urbana sobre as áreas protegidas da RMB. Fonte: Google Imagens. 7
3. Impasses no processo de criação da APA Belém Algumas ressalvas devem ser apontadas quanto ao processo de criação da APA Belém. Em primeiro lugar, cabe levantar que o processo de criação da Área de Proteção Ambiental gerou desentendimentos entre a população e o governo do estado pela forma como foi conduzida a implantação da mesma, desconsiderando a população ai residente. O surpreendente é que, no período entre os anos de 1993 e 2003 a APA só existiu no papel, uma vez que durante esses anos o processo de implantação vem acontecendo de forma arbitrária por desconsiderar a presença da população nativa, residentes acerca de 30 anos no local (ARAUJO JUNIOR, 2013). Durante esse período e nos anos seguintes, a ausência de planejamento consistente possibilitou que houvesse um crescimento da ocupação irregular no entorno do parque, inclusive invadindo os limites previstos. Figura 8 Ocupação irregular nas áreas limítrofes do parque. Foto: Marianna Tonini. 28/10/2014. Para alguns autores, apenas o Planejamento e a Gestão Ambiental podem solucionar tal impasse. Para Rodriguez (1997) (conforme Araújo Júnior et al., 2013) o Planejamento Ambiental é um instrumento da política ambiental que deve traçar as pautas para a Gestão Ambiental, que, por sua vez, deve ser analisada em duas dimensões: a categoria operativa e a categoria política. 8
Na primeira é tratada a condução, direção/controle e administração do uso dos recursos através de determinados instrumentos, medidas e disposições jurídicoinstitucionais, na segunda ocorre um processo de mediação de interesses e conflitos entre atores sociais que atuam sobre o meio ambiente. (Araújo Júnior et al., pág. 127, 2013) Segundo o autor, é necessária uma gestão participativa e abrangente: Gerir recursos hídricos requer conhecimento e participação, com o entrelaçamento destes termos: ao se limitar um, o desenvolvimento do outro é comprometido. Esforços no sentido de desenvolvê-los de forma articulada levam a um efeito sinérgico, de modo que o efeito positivo é potencializado. (...)Bordalo (2006) destaca que entre os anos de 1984-2004 diversas foram às medidas jurídico-políticas criadas com o intuito de proteger a principal fonte de abastecimento hídrico da RMB, no entanto, as ações implementadas não foram eficazes devido ao fato de que durante a implementação dessas políticas, a descentralização das ações entre estado e município não ocorreu de fato, bem como, houve apenas uma tímida participação dos usuários e das entidades da sociedade civil organizada com sede e atuação comprovada na área dos mananciais. (Araújo Júnior et al., pág. 128, 2013) 9
4. Conclusão Os principais mananciais de água da Grande Belém (lagos Bolonha e Água Preta) estão situados em uma área de risco devido à ação antrópica que, além de aumentar a demanda por recursos hídricos, contribui com o avanço do desmatamento, o aumento da poluição com esgoto, lixo e efluentes industriais e o aumento da ocupação das áreas lindeiras aos grandes corpos d água. Em adição à isto, tal cenário é agravado pela ineficiência de políticas públicas e de gestão ambiental.embora tenha ocorrido a criação e planejamento da APA Belém, o projeto demorou 10 anos para ser realmente implantado. Este fato, aliado a uma gestão ineficiente, acarretou um aumento da ocupação irregular ao longo desses anos, e, consequentemente o aumento da degradação dessas áreas. É essencial que exista clareza nas responsabilidades de cada órgão envolvido de modo a fiscalizar e controlar os assentamentos já existentes, sem deixar de lado as questões sociais, como a falta de moradia adequada na RMB. Prover saneamento básico e infraestrutura urbana também é uma medida essencial: aumentar a rede de coleta e implantar o tratamento de esgoto; substituir os lixões e o aterro controlado por aterros sanitários; prover destino adequado aos efluentes industriais; garantir a boa qualidade da água para abastecimento. Soluções essas que visam melhorar a qualidade de vida da população sem deixar de lado a preservação dos recursos naturais. Mas, acima de tudo, é necessária a criação de um Comitê de Gestão das Bacias Hidrográficas da RMB, dentro das normas estaduais, de maneira que o planejamento e a gestão abranjam as categorias operativas e políticas, já comentadas, e que seja feito de maneira participativa com usuários e entidades da sociedade civil. Vale ressaltar a importância de uma política de conscientização da população sobre seu papel na conservação da qualidade da água dos mananciais, desde as ações cotidianas até a participação das reuniões dos comitês de tomada de decisões a longo prazo. 10
5. Bibliografia ARAÚJO JUNIOR, Antonio Carlos Ribeiro, et al. Problemática da água na região metropolitana de belém (rmb) pará: aspectos histórico-geográficos. ACTA Geográfica, Boa Vista, v.7, n.15, mai./ago. de 2013. pp.117-131. CARDOSO, Thiago Moreira. Análise multitemporal da Área de Proteção Ambiental de Belém e ParqueAmbiental de Belém. Anais XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Natal, Brasil, 25-30 abril 2009, INPE, p. 1283-1290. Decreto Estadual nº 1551/93. IMBIRIBA JUNIOR, Manoel e COSTA, Francisco Ribeiro da.recursos Hídricos: O caso dos mananciais dos lagos Bolonha e Água Preta na região metropolitana de Belém, Pará, Brasil. Belém: Publicação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belém. LEÃO, Netuno.Belém Sustentável 2007/Netuno Leão, Carla Alencar, Adalberto Veríssimo. Belém: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, 2008. 11