Investigação. 2013;13:4-10.

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Investigação. 03;3:4-0 Investigação ISSN 77-4080 (on-line) http://publicacoes.unifran.br Artigo Original Análise acústica da voz pré e pós-intervenção fonoaudiológica no Grupo C&A Vocal Enrico Nery da cidade de Franca-SP Acoustic analysis of voice in pre and post intervention speech therapist in Group C&A Vocal Enrico Nery the city of Franca-SP Keila Trindade de Morais *, Simone Divina Fernandes, Flávia Maria Cardoso Consoni, Nívea Maria Símaro Gomes, Carlos Eduardo Martins Barcelos Departamento de Ciências Médicas da Universidade Nove de Julho, São Paulo, São Paulo, Brasil. Recebido em: /0/ Revisado em: /8/ Aceito em: 8/0/ Disponível online em: 30/7/3 r e s u m o O presente estudo teve por objetivo verificar a efetividade da intervenção fonoaudiológica no Grupo C&A Vocal Enrico Nery da cidade de Franca-SP, pré e pós-intervenção fonoaudiológica. A amostra foi composta por 4 sujeitos do gênero masculino e 7 do gênero feminino. O procedimento de coleta foi realizado mediante a aplicação da entrevista e Análise Acústica Vocal pelo programa Voxmetria, em que foram explorados os parâmetros na função Qualidade Vocal, incluindo a média de, jitter, shimmer, irregularidade e ruído, e para a função Análise de Voz a média de, mínima e máxima intensidade, variabilidade e semitons. Posteriormente, se deu a intervenção fonoaudiológica, compreendendo 8 sessões, em que os coralistas receberam orientações sobre bem-estar vocal, seguido da prática de exercícios de aquecimento e desaquecimento vocal. Logo após foi executada a segunda coleta da Análise Acústica Vocal. Houve diminuição das medidas nas variáveis jitter, shimmer e ruído, e aumento na média de considerados favoráveis, porém não estatisticamente significativos. A irregularidade foi reduzida, sendo o único parâmetro estatisticamente significativo. Concernente aos valores de para a vogal a grave e semitons, apenas o gênero feminino apresentou melhora. As medidas da mínima e máxima intensidade e para a agudo apresentaram evolução em ambos os gêneros e em seu total; quanto à variabilidade e semitons, não foi observada melhora. A intervenção fonoaudiológica no grupo de coralistas surtiu efeito positivo, embora estatisticamente não significante em sua maioria. Estudos devem ser realizados com um número considerável de sujeitos e período maior de sessões. Palavras-chave: fonoaudiologia; voz; intervenção. a b s t r a c t This present study aims to verify the accuracy of the speech therapist intervention in Group C&A Vocal Enrico Nery of the city of Franca, SP. The collection proceedments was performed through an survey application and Vocal Acoustic Analysis pre and post speech therapist intervention. The sample consisted of 4 male and 7 female subjects using Voxmetria software, where the parameters were explored on Vocal Quality function, including Fo, jitter, shimmer, irregularities and noises average, and Voice Analisys function, minimum and maximum intensity variability and semitones average. Afterward, phonological intervention was performed, enhancing 8 section, where the chorales received orientations about vocal hygiene, followed by practice of warm-up and unwarm-up exercise. Right after, it was performed the second collection of the Vocal Acoustic Analysis. There was a decrease of the measurements on jitter, shimmer and noise variable, and an increase on considered favorable, but not statistically favorable. Irregularities were reduced, being the only parameter statistically significant. Concerning to the values to vowels "a" low tone and semitones, only the females presented improvements. The minimum and maximum intensity measure and to "a" high tones presented an evolution for both genders and as a whole; concerning to the variability and semitones it was not observed any increase. Speech therapist interference in the chorales group had a positive effect, although statistically not significant for most of it. Studies must be performed with a considerable number of subjects and a larger period of sections. Key-words: speech therapist; voice; intervention. * Autor correspondente Endereço: Rua Allan Kardec, 68, 4405-369, Franca, São Paulo, Brasil. Telefone: (6) 907-9874/(6) 857-9. E-mail: keila_tdbmio@ hotmail.com

Morais KT et al. Investigação. 03;3:4-0 5 Introdução A voz é produzida por meio da vibração das pregas vocais durante a expiração, o que promove o deslocamento de sua túnica mucosa, com formação de uma onda ascendente, descrita como um som capaz de ser captado pela orelha humana (). Sua função vai além da simples transmissão alavras, gera musicalidade e exprime emoção; é um reflexo da personalidade do indivíduo (). A voz cantada se dá mediante a articulação e múltiplas modificações vocais, dotada de significantes possibilidades e qualidades capazes de suscitar um conjunto de emoções e sensações ao ouvinte (3). No canto são utilizadas as mesmas estruturas que produzem a voz falada, porém, com distintas adequações devido às suas particularidades; a respiração torna-se mais intensa, os ciclos vibratórios das pregas são mais controlados e com maior energia acústica, as caixas de ressonância estão expandidas, o que implica na elevação da amplificação do som básico (4). O conjunto de características que identificam a voz humana é denominado qualidade vocal, determinado por um padrão básico de emissão individual, capaz de fornecer informações gerais do sujeito (5). A configuração do trato vocal também implica esta distinção; inclui-se o comprimento, o tamanho da cavidade e a área de corte transversal (). Participam desta caracterização principalmente a frequência, designada pela sensação auditiva da altura da voz, classificada em grave, média ou aguda; a intensidade, que é o parâmetro físico vinculado à pressão subglótica da coluna aérea e que depende de fatores como amplitude de vibração e tensão das pregas vocais; além da ressonância, que é responsável pela projeção e amplificação do som emitido na glote através das cavidades superiores (6). A extensão vocal humana compreende entre a voz do baixo profundo e a da soprano coloratura, ou seja, aproximadamente cinco oitavas (60Hz a.800hz), em que os harmônicos da voz variam entre 00Hz e 8.000Hz (7). O canto coral é o agrupamento de várias vozes harmonizadas, e essa representação física sonora proporciona o exercício da interpretação musical (3). Tal variação permite a classificação vocal dos cantores: as vozes masculinas compõem-se de tenor, barítono e baixo; as vozes femininas em soprano, meio-soprano e contralto - classificação estabelecida pelo regente. Cabe ao fonoaudiólogo equilibrar as vozes dos coralistas a fim de atingir um supremo desempenho com o menor esforço vocal, mediante orientação sobre bem-estar vocal, preparação para fornecer um suporte fonatório por meio de técnicas de aquecimento e desaquecimento vocal e encaminhamento a profissionais especializados (8). A integração entre o fonoaudiólogo e o professor de canto visa à estética vocal cantada em toda sua totalidade (9). As técnicas vocais devem ser empregadas a fim de adequar a emissão, promover a elasticidade do tireoaritenoideo, soltura da mucosa das pregas vocais e maior coaptação glótica; são trabalhadas também a articulação e ressonância que propiciam ampliação e projeção vocal (0). O equilíbrio ressonantal é imprescindível para atenuar a sobrecarga muscular da laringe (8); a aplicação das técnicas de ressonância auxilia na modulação vocal, modificando os formantes da voz conforme as cavidades de ressonância empregadas. A associação desta técnica com a técnica mastigatória promove o equilíbrio da produção da voz (). A execução de exercícios de função vocal, isométricos e isotônicos aquece a voz e proporcionam melhor controle e flexibilidade muscular (). No aquecimento da musculatura do aparelho fonador, o cantor integra os sistemas respiratório, laríngeo e ressonantal, poupa-se do esforço e sobrecarga desnecessária e contribui para a prevenção de lesões e alterações passíveis de ocorrer quando na ausência da preparação apropriada (3). O desaquecimento vocal propicia o retorno dos ajustes fonorrespiratórios da voz falada comum, quebrando o padrão da voz cantada com frequência mais elevada e intensidade forte para o habitual, assim como a eliminação de tensões laríngeas (8, ). Os Programas de Análise Acústica fornecem características objetivas de um sinal acústico através de uma avaliação não invasiva da qualidade vocal (4); tem como finalidade quantificar e caracterizar o sinal sonoro (5). Este procedimento permite instituir correlações entre aspectos perceptivo-auditivos e fisiológicos da produção de fala, inclusive os ajustes de longo termo da qualidade vocal, o que possibilita esmiuçar o papel de diversos segmentos do aparelho fonador (6). Mediante o processamento de sinais e algoritmos, é possível obter o traçado do formato da onda sonora, análise de frequência fundamental, intensidade, medidas erturbação (irregularidade) como jitter e shimmer, e medidas de ruído, possibilitando descrever quase completamente a voz humana (7). A frequência ( ) de vibração das pregas vocais denomina-se frequência fundamental, definida como a velocidade na qual uma forma de onda se repete por unidade de tempo (8). A variabilidade de é um dado que fornece as variações da frequência fundamental em semitons (). A intensidade da voz cantada pode variar de 45 a 0 db, quando o indivíduo necessita atingir de um pianíssimo ao fortíssimo (9). O jitter, índice erturbação da no curto prazo, exibe a variabilidade da frequência fundamental e mostra o quanto um período é distinto do anterior ou de seu sucessor imediato. O shimmer, perturbação da amplitude no curto prazo, denota a variabilidade da amplitude da onda sonora, isto é, retrata as alterações irregulares na amplitude dos ciclos glóticos, de um ciclo a outro (8). Para as medidas de ruído, existem diversos índices acústicos que analisam os componentes aperiódicos do sinal sonoro; o ruído acústico pode ser um primoroso correlato do que a orelha humana avalia como disfonia (0). O presente estudo tem como objetivo verificar a efetividade da intervenção fonoaudiológica no Coral C&A Vocal Enrico Nery de Franca-SP, por meio da análise acústica vocal, pré e pós- -intervenção fonoaudiológica, visto que a saúde e estética vocal da população em questão é imprescindível para a manutenção de uma boa performance vocal. Material e métodos A pesquisa constitui-se de uma linha esquisa de campo,

6 Morais KT et al. Investigação. 03;3:4-0 observacional, transversal, com enfoque em diagnóstico e intervenção. O projeto esquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Franca, sob o protocolo 0033/, portanto atende ao preconizado na Resolução 96/96 do Conselho Nacional de Pesquisa. Participaram desta pesquisa sujeitos, sendo 7 do gênero feminino e 4 do gênero masculino. A idade da população estudada variou entre 8 e 47 anos. Os mesmos foram informados sobre o teor da pesquisa; o Termo de Consentimento Livre Esclarecido foi lido e assinado pelos participantes concordantes. Foram incluídos na pesquisa todos os indivíduos integrantes do Coral C&A Vocal Enrico Nery de Franca que haviam sido submetidos ao exame de nasofibrolaringoscopia e que concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido, portando o laudo. Este foi previamente fornecido pelos coralistas e realizado por conta própria. Também foram incluídos os que concluíram as etapas de coleta e intervenção fonoaudiológica. Foram excluídos da pesquisa os sujeitos que participavam do coral por período inferior a um ano e/ou apresentaram alterações laringológicas diagnosticadas pelo exame de nasofibrolaringoscopia. A pesquisa foi realizada na Clínica de Fonoaudiologia da Universidade de Franca, no período de maio a setembro de 0. Inicialmente foi aplicada uma entrevista estruturada aos sujeitos baseada no protocolo de avaliação da voz de Behlau e Rehder (4), composta por dados pessoais e perguntas dirigidas ao comportamento vocal. Foram coletadas informações como quantidade de dias e horas dedicadas ao canto, presença de queixa e/ou alterações fonatórias e dificuldades apresentadas na performance vocal, designada a caracterizar a população para definir o tipo de intervenção e, posteriormente, correlacionar com os resultados da análise acústica da voz. Em seguida, os coralistas foram submetidos à primeira avaliação acústica da voz individualmente, no programa Voxmetria, versão 3.3 da CTS Informática instalada no computador IBM G54. O sinal foi captado por um microfone unidirecional da marca Coby CM-P4, posicionado em um tripé a 8 centímetros do queixo do indivíduo, num ângulo direcional de 90 graus. O mesmo permaneceu em cabina acusticamente tratada, em pé, já que esta é a postura adotada nos ensaios do grupo. Na função qualidade vocal foi gravada a emissão prolongada da vogal [ε], no padrão habitual de fala, pelo máximo de tempo que o sujeito fosse capaz de manter. Na função Análise de Voz foi gravada a emissão sustentada da vogal a nas modalidades grave, aguda, fraca, forte em uma só inspiração, pelo máximo de tempo que o indivíduo conseguisse manter, e o canto de um trecho de música considerada difícil pelo mesmo (desconfortável). Para ambas as funções de análise acústica da voz foram recortados e excluídos o início e o final de cada emissão e também do trecho da música, sendo utilizados, portanto, 0 segundos da amostra, por conterem trechos sem voz ou entrecortados que poderiam interferir nos valores dos parâmetros pesquisados, gerando um dado errôneo. O procedimento de análise acústica da voz foi realizado por meio da exploração das medidas na função de qualidade vocal, que compreendem a média de, irregularidade, jitter, shimmer e ruído. Para a função de análise vocal foram utilizados respectivamente os parâmetros da média de para análise das emissões da vogal a grave e agudo; a mínima intensidade (mín. int.) na avaliação da emissão da vogal a (fraca) e a máxima intensidade (máx. int.) na emissão da vogal a (forte). O trecho de música desconfortável também foi examinado na função de análise vocal e foram empregados na análise os valores de variabilidade e semitons. A intervenção fonoaudiológica foi composta por 8 sessões prévias aos ensaios do coral, realizada coletivamente, nas quais os participantes receberam orientações sobre bem-estar vocal baseado em Behlau e Rehder (4). As sessões tiveram duração de 0 minutos para o aquecimento vocal e 0 minutos para o desaquecimento vocal. Inicialmente os coralistas ingeriram um copo de água. Os exercícios de aquecimento vocal foram realizados cada qual em um período de tempo específico, composto por exercícios utilizando o som facilitador nasal /m/ associado ao estalo de língua por 3 minutos, rotação de língua no vestíbulo, movimentos mastigatórios, varredura do palato com a língua isoladamente por minuto cada e vibração de lábios sem som por minutos, seguida da vibração de língua sonorizada em escala ascendente por 3 minutos. Logo após foram aplicados exercícios moduladores de frequência e intensidade, executados com a emissão da vogal a, na frequência habitual de voz, em Messa di voce, nas intensidades fraco/forte/fraco, por 4 minutos; a emissão da vogal a produzida simultaneamente em intensidade forte e frequência alta; depois, grave e fraco, agudo e fraco, grave e forte por 5 minutos. Prosseguia-se o ensaio, em que os mesmos cantavam por horas e sucessivamente foram aplicadas as técnicas de desaquecimento vocal que compreendem bocejar lentamente em 5 expirações; bocejar concomitante à emissão das vogais a, e, i, o, u por minuto; bocejar em escala descendente por minutos; mastigação sonorizada lenta com a emissão do som nasal /m/ por minutos, finalizando com a vibração de língua em escala descendente por 4 minutos. Os sujeitos permaneceram em repouso vocal por 5 minutos e depois ingeriram um copo de água. Posteriormente, efetuou-se a segunda avaliação acústica mediante a execução dos mesmos procedimentos utilizados na primeira coleta, assim como o processo de análise acústica da voz e estudo dos valores de cada parâmetro. No tratamento estatístico foram comparados os valores dos parâmetros vocais das funções: qualidade vocal e análise de voz, realizadas separadamente nos períodos pré e pós-intervenção fonoaudiológica, quanto ao gênero e posteriormente na população total. A metodologia estatística proposta para comparação dos resultados utilizou o teste não paramétrico Wilcoxon para shimmer, jitter, média para a vogal a grave e aguda, variabilidade e semitons, pelo fato de essas variáveis não apresentarem uma distribuição normal. Os parâmetros ruído, irregularidade,, mínima intensidade e máxima intensidade foram analisados estatisticamente pelo teste paramétrico T de Student para amostras pareadas, pois suas variáveis apresentaram uma distribuição normal. Valores de P menores que 0,05 foram consi-

Morais KT et al. Investigação. 03;3:4-0 7 derados estatisticamente significantes. Todos os procedimentos foram realizados no software R... Resultados A amostra foi composta por cantores do grupo C&A Vocal Enrico Nery, da cidade de Franca, sendo 4 indivíduos (66,66%) do gênero masculino e 7 indivíduos (33,33%) do gênero feminino, com média de idade de 5 anos. A análise dos dados obtidos por meio da aplicação da entrevista demonstram que a média de ensaios foi de 4 dias por semana, sendo horas por dia. Em relação aos problemas vocais, 8,6% referiram já ter apresentado algum tipo; 3,8% relataram sensação de dor na região cervical no ato de cantar e 8,6% responderam que se automedicam na ocorrência de alterações vocais. Quanto aos hábitos de vida, apenas 9,6% afirmaram que fumam cigarro e 4,8% responderam fazer uso de álcool moderadamente. Sobre o desempenho vocal, 8,6% revelaram dificuldade em atingir o fortíssimo; 38% em alcançar o pianíssimo; 57,% consideram complexo atingir notas agudas e 8,6 notas graves. Um total de 6% utiliza a voz como instrumento em outras atividades profissionais ou outros tipos de atividades. Para o resultado da análise acústica, compararam-se os valores apresentados nos períodos pré e pós-intervenção fonoaudiológica, estabelecendo duas hipóteses: a hipótese nula H 0, em que o parâmetro analisado independe do tratamento, e a hipótese alternativa H, em que o parâmetro analisado depende do tratamento. Considerando-se que, para p < 0,05, rejeita-se a hipótese H 0 e aceita-se a hipótese H, confirmando a diferença estatística significante. As informações da análise acústica na função qualidade vocal apresentados na Tabela mostram a média, o desvio padrão (DP) e respectivo p-valor das seguintes variáveis: F o, jitter, shimmer, irregularidade e ruído no gênero masculino, pré e pós-intervenção fonoaudiológica, que denotam valores não significativos. Tabela - da função qualidade vocal no gênero masculino. (Hz) 6,3 48.4 7.6 49.5 0,4355 Jitter (%) 0,65 0.86 0.9 0.37 0,95² Shimmer (%) 3,93.37.46 0,69 0,0975² Irregularidade 3,74.03 3.8 0, 0,0970 Ruído.0 0.56 0.87 0,3 0,5336² Na Tabela, os valores da análise acústica na função qualidade vocal mostram a média, o desvio padrão e respectivo p-valor das seguintes variáveis: F o, jitter, shimmer, irregularidade e ruído no gênero feminino, pré e pós-intervenção fonoaudiológica em que os valores não tiveram significância. Tabela - da função qualidade vocal no gênero feminino. (Hz).9 49,98 8, 44,39 0,445 Jitter (%) 0,38 0,3 0,4 0,05 0,939¹ Shimmer (%) 3,78,,5 0,5 0,3¹ Irregularidade 3,67 0,7 3,0 0, 0,347 Ruído 0,63 0,9 0,64 0, 0,9467¹ Teste t (de Student) Quanto ao parâmetro irregularidade, a Tabela 3 mostra que houve uma diferença significativa (p = 0,0339) entre as médias pré e pós-intervenção fonoaudiológica, calculados dentro do grupo de sujeitos, portanto, percebe-se que este valor apresentou- -se reduzido. Os demais parâmetros (, jitter, shimmer e ruído) não apresentaram diferença significativa. Tabela 3 - da função qualidade vocal na população total. Pré Pós Valor (Hz) 8,0 54,87 87, 53,68 0,608 Jitter (%) 0,54 0,75 0,5 0,3 0,063 Shimmer (%) 3,63,,4,0 0,0645 Irregularidade 3,66 0,93 3,6 0,5 0,0339 * Ruído 0,90 0,5 0,79 0,30 0,754 *Valores estatisticamente significantes A tabela 4 da função análise de voz exibe a média, o desvio padrão e respectivo p-valor das variáveis média de para a vogal a grave e aguda, mínima intensidade, máxima intensidade, variabilidade e semitons da primeira coleta confrontados com os valores da segunda coleta para o gênero masculino. Não foram observados valores significantes. Tabela 4 - da função análise de voz no gênero masculino. grave(hz) 3.80 36,78 39.65 40,98 0,66² agudo (Hz) 33.0 50,4 348.3 58,77 0,3669² Mín. Int. Máx. Int. Variabilidade (Hz) 64.5,84 6.99,93 0,969² 7.5 6,45 7.34 6,08 0,057¹ 47.46 63,9 6.93 74,65 0,687² Semitons 7.3 6, 6. 3,76 0,9834²

8 Morais KT et al. Investigação. 03;3:4-0 Ainda sobre a função análise de voz, a Tabela 5 indica a média, o desvio padrão e respectivo p-valor das variáveis - média de para a vogal a grave e aguda, mínima intensidade, máxima intensidade, variabilidade e semitons da primeira e segunda coleta comparados entre si para o gênero feminino. Os valores encontrados não exprimiram significância. Tabela 5- da função análise de voz no gênero feminino. grave(hz) 73.5 8,34 60.3 9,96 0,66¹ agudo (Hz) 577. 9,43 638. 38,5 0,4038¹ Mín. Int. 64.5,85 64.35,60 0,90¹ Máx. Int. Variabilidade (Hz) 7.36 6,74 75.5 6,58 0,8478¹ 66.0 96,3 45. 64,7 0,340¹ Semitons 4.4 4,34 5.4 3,84 0,34¹ Na Tabela 6 da função análise de voz, pode-se verificar que nenhum dos parâmetros apresentou diferença significativa, avaliado no total de sujeitos. Tabela 6 - da função análise de voz na população total. grave(hz) 34,89 37,47 44, 35,97 0,79 agudo (Hz) 39,63 93,35 444,4 33,5 0,3963 Mín. Int. 64,3,8 63,38,68 0,850 Máx. Int. Variabilidade (Hz) 70,79 5,73 7,9 6,06 0,0667 5,48 46,66 5,90 73, 0,6904 Semitons 6,33 5,84 5,90 3,8 0,8597 Discussão A entrevista é um meio de levantamento de dados, que visa gerar informações específicas e traçar o perfil vocal de determinada população; esta foi empregada em uma pesquisa realizada com coralistas amadores e obteve uma média de ensaios semanais inferior à constatada no presente estudo, fato que demonstra uma maior sobrecarga vocal e, portanto, enfatiza-se a necessidade dos cuidados com a voz (). Estudos analisaram os hábitos e perfil vocal em coralistas quanto às afecções, queixas vocais, sensação de cansaço e irritação na garganta durante o canto (). Foram encontrados valores inferiores em relação ao presente trabalho. Dentre os achados estão laringite, rinite, sinusite, alergias e outros. Um valor superior foi encontrado a respeito da automedicação na ocorrência de alterações vocais, em pesquisa realizada por Dassie-Leite et al. (3), nesta, os cantores líricos afirmaram utilizar distintos produtos, como chá, pastilhas, gengibre e gargarejos. Concernente aos hábitos deletérios nocivos à saúde vocal, em pesquisa executada menos da metade afirmou fumar e nenhum referiu ingerir bebida alcoólica (); em outro trabalho os achados mostraram um valor nulo de fumantes e quase a metade eram etilistas moderados (3). Confrontados com a presente pesquisa, os resultados encontrados se assemelham à primeira e discordam da segunda quanto ao tabagismo, fator preocupante para a saúde vocal e geral, já que o fumo é extremamente prejudicial à laringe, causa irritação direta no trato vocal, pigarro, inflamação na região laríngea, tosse e aumento de secreção, favorecendo o desenvolvimento de diversas lesões como edemas, pólipos, hiperplasias e outros (4). Referente ao uso de bebida alcoólica, os resultados foram equivalentes na segunda pesquisa, consideravelmente alto, visto que o álcool provoca irritação em todo o trato vocal, vasodilatação na mucosa laríngea, sensação de anestesia da região faríngea, o que reduz a sensibilidade e leva à prática de abuso vocal (5). No referido estudo um percentual menor de cantores afirmaram fazer uso da voz como instrumento de trabalho se comparado aos achados do presente trabalho, sendo, portanto, digno de atenção, pelo fato de que principalmente nas atividades profissionais os cuidados com a voz são imprescindíveis (). Um dos problemas encontrados durante a atividade do canto foi a dificuldade em atingir notas agudas, dado afirmado pela maioria dos sujeitos que pode ser explicado, visto que a maior parte da amostra é composta pelo gênero masculino. A entrevista aplicada permitiu verificar no grupo práticas vocais inadequadas, de acordo com a literatura, que enfatiza que hábitos nocivos como pigarrear, falar muito ou cochichado, gritar, ambientes secos, descanso inadequado, estresse, fumo e álcool, são altamente prejudiciais à saúde vocal. Sendo assim as orientações fornecidas aos sujeitos sobre cuidados e bem-estar vocal promoveram conscientização e contribuiu para a melhora da performance vocal (4). A análise da função qualidade vocal para o sexo masculino, feminino e da somatória destes apresentou valores dentro dos padrões de normalidade, pois de acordo com a literatura, as medidas estabelecidas pelo programa Voxmetria para jitter é 0,6% e para shimmer 6,5% (0). A variável exibiu um valor maior no período pós-intervenção fonoaudiológica, em cada gênero e em seu total, dado que denota avanço neste aspecto. Mendes et al. (6) executaram uma pesquisa com a finalidade de verificar se o treinamento da voz cantada, mediante a realização do aquecimento vocal, implicaria sobre a voz falada. Os resultados apontaram que a frequência fundamental da fala se elevou, enquanto os parâmetros jitter e shimmer reduziram gradativamente; entretanto nenhuma das medidas apresentou diferença significativa, logo concordam com os resultados da presente pesquisa. Nesta mesma função, o valor do parâmetro irregularidade mostrou-se estatisticamente significativo, no total de sujeitos, pelo seu rebaixamento após a intervenção fonoaudiológica, dado

Morais KT et al. Investigação. 03;3:4-0 9 que valida o benefício dos exercícios empregados. Mendonça et al. (7) confirmaram este achado mediante a aplicação de exercícios funcionais vocais específicos, considerados como aquecimento vocal pelos mesmos, em que houve redução da variável irregularidade. A literatura descreve que a prática de aquecimento vocal proporciona um maior tempo de fonação ao cantor; facilita a coaptação das pregas vocais, propicia a redução de edemas das pregas vocais; adapta a lubrificação laríngea, reduzindo a viscosidade do muco; altera o padrão vocal habitual para uma voz mais forte e com frequência mais aguda (). Porém, para os gêneros feminino e masculino isolados, as medidas foram estatisticamente não significativas. Confirmado também por Andrade et al (8), o qual expõe que o aquecimento vocal favorece a coaptação das pregas vocais, pois libera as articulações envolvidas na fonação, fortalece a musculatura, mobilizando sua mucosa; também adéqua os padrões vocais de intensidade, projeção e articulação dos sons, tendo como efeito maiores componentes harmônicos; o que explica os resultados encontrados na atual pesquisa. Behlau (5) afirma ainda, que a aplicação do som de apoio nasal /m/ suaviza a emissão e reduz a tensão da laringe e faringe, por deslocar o foco de ressonância de inferior para superior. Os achados das Tabelas 4, 5 e 6 da função análise de voz, evidenciam resultados favoráveis nos parâmetros para a vogal a aguda e máxima intensidade, em ambos os gêneros e no total de sujeitos, pois, embora não sejam estatisticamente significantes, houve um aumento das medidas. No gênero feminino, na função análise de voz, a medida do parâmetro a grave apresentou-se diminuída e mesmo estatisticamente não significativa, evidenciou-se que as mulheres foram capazes de atingir tons mais graves após a aplicação dos exercícios vocais; já no sexo masculino o valor da segunda coleta foi aumentado em relação à primeira. Segundo a literatura, os valores médios encontrados da frequência fundamental das vozes masculinas variam de 80 a 50 Hz, e vozes femininas de 50 a 50 Hz, logo os valores encontrados no presente estudo estão dentro da média esperada, porém esperava-se também, um maior alcance de frequências graves pelo gênero masculino (5). Camargo et al. caracterizou a extensão vocal de coralistas profissionais por meio do fonetograma, tal pesquisa apresentou valores superiores do parâmetro na emissão da vogal a aguda se confrontados com os resultados do presente trabalho. Entretanto os resultados obtidos neste, no período pós-intervenção fonoaudiológica, exibem o aumento da medida da variável, revelando que os exercícios moduladores de frequência empregados foram efetivos (8). O valor da variável mínima intensidade foi reduzido na segunda coleta, exceto no gênero feminino, o que revela um resultado positivo, porém não estatisticamente significante. Correlacionado com a entrevista, em que muitos afirmaram ter dificuldade no alcance do pianíssimo, expõe uma leve evolução; principalmente porque conforme a literatura, no momento em que há a redução da intensidade, a reserva de ar começa a se esgotar e, portanto, se faz necessário manter a pressão com a finalidade de compensar essa falta de ar e, portanto explica a dificuldade encontrada pelos coralistas (3). O aumento das medidas observado no parâmetro máxima intensidade, nos gêneros masculino, feminino e na população total, concorda com o estudo de Loiola et al., em que também foi realizada a intervenção fonoaudiológica com coralistas e pode-se verificar um avanço na projeção vocal, resultando na amplificação da voz. Tal fator representa um recurso importante, pois os coralistas executam suas canções sem a utilização de microfone e, sendo assim, necessitam projetar suas vozes para atingir o público (). Exercícios e técnicas de flexibilidade vocal aplicados por meio de escalas musicais ascendentes e descendentes, conforme Pedroso, favorecem a entonação, expressividade vocal e induz o alongamento e encurtamento das pregas vocais, visando à sua melhor coaptação. Isto foi proporcionado através dos exercícios executados, elucidando a evolução apresentada nos parâmetros, máxima intensidade e mínima intensidade (). Constataram na análise acústica da voz com professores uma evolução nas medidas dos parâmetros variabilidade e semitons após o emprego de exercícios funcionais vocais, e estes abrangem técnicas moduladoras de notas musicais em escalas específicas, similares às utilizadas no presente estudo. Entretanto, no atual trabalho, estes parâmetros não se apresentaram aumentados com a realização dos exercícios pelos coralistas, sendo que este fato pode ser explicado por se tratar de vozes treinadas (7). Conclusão Concluiu-se que a proposta de intervenção fono audiológica com o grupo C&A Vocal Enrico Nery gerou efeitos positivos e proporcionou um discreto avanço na performance vocal dos coralistas. De maneira geral, houve diminuição de ruídos e irregularidades na voz, e resultados favoráveis quanto à média de e intensidade, apesar de estatisticamente não significantes. Porém, nos parâmetros variabilidade e semitons não foi observada evolução. No geral, a grande maioria dos indivíduos relatou os efeitos benéficos à voz após a intervenção fonoaudiológica, porém, estes dados poderiam ser coletados mediante entrevista, a fim de quantificar o resultado para posterior comparação com a primeira entrevista realizada. Deve-se levar em conta que as variáveis, como alterações climáticas (umidade relativa do ar baixa), no período da coleta puderam interferir no estado de saúde geral dos participantes, assim como o fator psicoemocional, visto que a voz expressa sentimentos e pensamentos, sendo capaz de caracterizar a personalidade do indivíduo. Ressalta-se, ainda, que um período maior de intervenção e um número maior de sujeitos provavelmente implicaria em melhores resultados. A realização da análise perceptivo-auditiva teria sido de grande contribuição para a pesquisa, por ser um método fidedigno e frequentemente empregado, porém, não foi possível contemplá-la pela indisponibilidade de fonoaudiólogos experientes na área de voz, visto que a coleta de dados foi orientada apenas por um fonoaudiólogo. Portanto, mais estudos devem ser realizados a fim de se verificar de forma detalhada a efetividade do trabalho fonoaudiológico com coralistas.

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