Filosofia e Ética Prof. Dr. João Augusto de Mattar Neto. Filosofia da Linguagem



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Transcrição:

Filosofia e Ética Prof. Dr. João Augusto de Mattar Neto Filosofia da Linguagem

Filosofia da Linguagem Objetivos da Unidade Apresentar conceitos de filosofia da linguagem e mostrar como eles podem ser aplicados em administração, para resolver conflitos e aperfeiçoar a comunicação. 1. Para Refletir Tem sido contado muitas vezes, até pela própria protagonista, como a famosa surdamuda e cega norte-americana Helen Keller estabeleceu contato, aos sete anos, pela primeira vez, com uma língua, uma língua de sinais que soletrava na palma da mão. Helen Keller considerava esse dia como o de autêntico renascimento. Lembrava a vida anterior a esse momento apenas de uma maneira muito vaga e incompleta. Tinha sido um simples organismo vegetativo. Graças à língua, adquiriu rapidamente o acesso a um mundo rico e matizado e dispôs da capacidade de recordar, sonhar, fantasiar. E adquiriu também, pela primeira vez, a capacidade de pensar e de formar idéias. MALMBERG, 1976, p. 82. Helen Keller Como o desenvolvimento da linguagem afeta o desenvolvimento do pensamento? Como a linguagem determina nossa relação com os outros? Que influências a linguagem tem sobre a administração? 2

O Milagre de Anna Sullivan (The Miracle Worker ) (1962), dirigido por Arthur Penn Atores: Anne Bancroft (Annie Sullivan), Patty Duke (Helen Keller), Victor Jory (Capitão Keller), Inga Swenson (Kate Keller), Andrew Prine (James Keller), Kathleen Comegys (Tia Ev), Beah Richards (Viney, empregada), Jack Hollander (Anagnos), Michele Farr (Annie com 10 anos), Alan Howard (Jimmie com 8) O filme conta apenas uma pequena parte da maravilhosa história da surdo-cega (e inicialmente também muda) Helen Keller. Quando ela está com 7 anos, a professora Annie Sullivan é chamada de Boston para tentar ajudá-la. Annie, na época com 20 anos, também tinha enfrentado a cegueira, recuperando parte da visão após duas operações. O filme mostra principalmente o esforço de Annie para ensinar Helen a se comportar, como por exemplo comer com colher e não com as mãos. O confronto não ocorre apenas com Helen, mas também com os pais, que sempre a mimaram excessivamente. A clássica cena das duas brigando na sala de refeição é impressionante. As duas, aliás, ganharam não só o Oscar de melhor atriz e atriz coadjuvante, mas também outros prêmios: Anne Bancroft ganhou o San Sebastian (1962) e BAFTA 1963, e Patty Duke ganhou o Globo de Ouro (1963) como atriz iniciante mais promissora. Annie consegue ensinar letras e palavras a Helen através do tato e das mãos, pela língua de sinais. Quando Helen começa a aprender as palavras, há uma cena interessante em que ela aparece soletrando palavras enquanto sonhava. Sullivan leva Helen para uma casa ao lado da casa principal da família, para educá-la sozinha e separada dos pais por algumas semanas. Na verdade, o filme só vai até uma fase inicial do ensinamento, em que Helen começa a associar as palavras aos objetos, mas na vida real Annie continuará a tutoria praticamente até a sua morte, em 1936. Keller, por sua vez, se tornará uma célebre escritora, filósofa e conferencista, mas isso o filme não mostra. Confira por exemplo online o Helen Keller Kids Museum, que conta a história de sua vida com várias fotos e documentos. The Miracle Worker foi refilmado duas vezes para a televisão, em 1979 (em que Patty Duke, que interpretou Helen Keller na versão branco e preta, interpreta Anne Sullivan) e 2000. No documentário Helen Keller in Her Story, produzido por Nancy Hamilton e narrado por Katherine Cornell, a própria Helen Keller interpreta seu papel. A história de Helen Keller é um testemunho belíssimo em vários sentidos, um deles para a reflexão da filosofia da linguagem. O filme, entretanto, apesar de ser uma obra-prima imperdível, não serve muito para esse propósito, pois não sai de uma fase muito inicial do aprendizado linguístico de Keller. http://www.afb.org/braillebug/hkmuseum.asp 3

2. Linguagem e Realidade A linguagem não só determina os limites do nosso mundo, como determina também decisivamente o sentido do próprio mundo que enxergamos. A linguagem é o nosso ponto de vista sobre o mundo. Mas o objeto (mundo) não está dado automaticamente, e é justamente o ponto de vista que cria e constrói esse objeto poderíamos dizer que existe um mundo para cada ponto de vista. Mundo é um conceito plural e cada mundo possui suas regras linguísticas específicas. Os limites de minha linguagem significam os limites de meu mundo. WITTGENSTEIN, 1994, p. 245, 5.6. Assim como nosso pensamento se forma determinado pela linguagem, nossa concepção de mundo é também diretamente determinada por ela. É por meio da linguagem que podemos construir conceitos claros e distintos e dar sentido aos objetos. Saussure ilustra bem essa posição com a seguinte observação: Psicologicamente, abstração feita de sua expressão por meio das palavras, nosso pensamento não passa de uma massa amorfa e indistinta. Filósofos e lingüistas sempre concordaram em reconhecer que, sem o recurso dos signos, seríamos incapazes de distinguir duas ideias de modo claro e constante. Tomado em si, o pensamento é como uma nebulosa onde nada está necessariamente delimitado. Não existem ideias preestabelecidas, e nada é distinto antes do aparecimento da língua. SAUSSURE, 1993, p. 130. O pensamento parece compartilhar algumas características com a linguagem. 4

Fodor, por exemplo, defende a hipótese da linguagem do pensamento, segundo a qual o sistema de símbolos mentais, que constituiria a base neural do pensamento, está estruturado como uma linguagem. Possuiríamos uma linguagem de máquina, que seria ativada por algo semelhante a um compilador e que traduziria as línguas de forma a ativar nossos neurônios. Um código interno, um sistema de representação inconsciente estaria gravado em nosso sistema nervoso[1]. 2.1. O Signo Um signo é tudo aquilo que significa algo para alguém. As palavras, que são os signos da língua, representam objetos (ou suas imagens) e/ ou ideias. Podemos dividir os signos linguísticos em duas partes: de um lado, o conceito, o sentido, a imagem, a ideia que eles procuram transmitir; de outro lado, a forma utilizada para transmitir essa ideia. O princípio da arbitrariedade do signo linguístico é talvez um dos mais importantes da linguística. Para Saussure, o laço que une o significante ao significado é arbitrário. Assim, não há relação natural nem implicação entre a palavra cavalo (seja do ponto de vista tipográfico, seja do ponto de vista sonoro) e a ideia ou o objeto que ela representa. [1] FODOR, 1975, p. 66-79. Aliás, o significante associado ao conceito cavalo varia, de língua para língua: se em português é cavalo, em inglês o significante utilizado é horse, em francês cheval etc. 5

E não há nenhuma relação, mais ou menos perfeita, mais ou menos correta, mais ou menos adequada, entre o objeto cavalo e as palavras que podem representá-lo em diferentes línguas. Numa cartilha de alfabetização para crianças, por exemplo, numa oração em que apareceria o significante português cavalo para representar o significado cavalo, pode-se muitas vezes encontrá-lo substituído por outro significante, um desenho: Nessa oração, a ideia de cavalo foi representada por um desenho, um significante que apresenta uma relação natural com o objeto que substitui. O desenho tem a forma do objeto que representa, lembra naturalmente seu objeto, não há necessidade de aprendizagem de seu significado, ele aponta automaticamente para o objeto que procura representar: é um ícone. Mas as palavras da língua, por sua vez, não apresentam nenhum parentesco natural com as ideias ou imagens que procuram transmitir. 6

Do ponto de vista do ser humano, membro de determinada cultura, as relações entre significado e significante aparecem já determinadas pela língua que ele aprende, sendo-lhe como que impostas. Portanto, o que o princípio da arbitrariedade do signo nos diz é que a maioria dos signos não apresenta, em sua estrutura, relação de implicação natural entre o significante e o significado. O valor do signo linguístico não se define, entretanto, apenas por meio da relação entre significado e significante. Em uma língua, os signos definem-se também pela oposição que exercem em relação a outros signos. Daí a importância, principalmente nas ciências humanas, do exercício da definição dos conceitos com os quais trabalhamos. Muitos signos não apresentam uma relação clara e unívoca entre significante e significado, e essa relação só se realça e adquire vida quando nos utilizamos de outros signos, quando nos referimos a outras relações significante/significado para limitálas. Ou seja, o significado de uma palavra, o significado associado a determinado significante, só se esclarece quando cotejado e comparado com o significado de outros significantes na mesma língua. E isso se dá por meio de um aprendizado contínuo. [1] HAGÈGE, 1990, p. 92. São as limitações de significados que os outros signos da língua impõem que nos permitem definir com maior clareza e precisão o significado de determinado signo. A definição dos significados, numa língua, se dá, portanto, muito mais pela negação, por tudo aquilo que o signo não quer dizer (pois já há outro signo na língua com esse outro significado). O significado de todo e qualquer sinal define-se, antes de mais nada, pelo fato de não ser o de um outro. [1] Definir alguma coisa quer dizer, muitas vezes, dizer o que essa coisa não é. 7

Exemplo Saussure dá uma série de exemplos: Alguns exemplos mostrarão que é de fato assim. O português carneiro ou o francês mouton podem ter a mesma significação que o inglês sheep, mas não o mesmo valor, isso por várias razões, em particular porque, ao falar de uma porção de carne preparada e servida à mesa, o inglês diz mutton e não sheep. A diferença de valor entre sheep e mouton ou carneiro se deve a que o primeiro tem a seu lado um segundo termo, o que não ocorre com a palavra francesa ou portuguesa. No interior de uma mesma língua, todas as palavras que exprimem idéias vizinhas se limitam reciprocamente: sinônimos como recear, temer, ter medo só têm valor próprio pela oposição; se recear não existisse, todo seu conteúdo iria para os seus concorrentes. Inversamente, existem termos que se enriquecem pelo contato com outros; [...] Assim, o valor de qualquer termo que seja está determinado por aquilo que o rodeia; nem sequer da palavra que significa sol se pode fixar imediatamente o valor sem levar em conta o que lhe existe em redor; línguas há em que é impossível dizer sentar-se ao sol. O que se disse das palavras aplica-se a qualquer termo da língua, por exemplo, às entidades gramaticais. Assim o valor de um plural português ou francês não corresponde ao de um plural sânscrito, mesmo que a significação seja as mais das vezes idêntica: é que o sânscrito possui três números em lugar de dois (meus olhos, minhas orelhas, meus braços, minhas pernas etc. estariam no dual); seria inexato atribuir o mesmo valor ao plural em sânscrito e em português ou francês, pois o sânscrito não pode empregar o plural em todos os casos em que seria de regra em português ou francês; seu valor, pois, depende do que está fora e em redor dele. Se as palavras estivessem encarregadas de representar os conceitos dados de antemão, cada uma delas teria, de uma língua para outra, correspondentes exatos para o sentido; mas não ocorre assim. O francês diz indiferentemente louer (une maison) e o português 8

alugar, para significar dar ou tomar em aluguel, enquanto o alemão emprega dois termos mieten e vermieten; não há, pois, correspondência exata de valores. Os verbos schätzen e urteilen apresentam um conjunto de significações que correspondem, grosso modo, às palavras francesas estimer e juger ( avaliar e julgar ); portanto, sob vários aspectos, essa correspondência falha. A flexão oferece exemplos particularmente notáveis. A distinção dos tempos, que nos é tão familiar, é estranha a certas línguas; o hebraico não conhece sequer a distinção, tão fundamental, entre o passado, o presente e o futuro. O protogermânico não tem forma própria para o futuro; quando se diz que o exprime pelo presente, fala-se impropriamente, pois o valor de um presente não é o mesmo em germânico e nas línguas que têm um futuro a par do presente. As línguas eslavas distinguem regularmente dois aspectos do verbo: o perfectivo representa a ação na sua totalidade, como um ponto, fora de todo devir; o imperfectivo mostra a ação no seu desenvolvimento e na linha do tempo. Essas categorias apresentam dificuldade para um francês ou para um brasileiro, pois suas línguas as ignoram; se elas estivessem predeterminadas, não seria assim. Em todos esses casos, pois, surpreendemos, em lugar de idéias dadas de antemão, valores que emanam do sistema. Quando se diz que os valores correspondem a conceitos, subentende-se que são puramente diferenciais, definidos não positivamente por seu conteúdo, mas negativamente por suas relações com os outros termos do sistema. Sua característica mais exata é ser o que os outros não são. SAUSSURE, 1993, p. 134-136. 9

Assim, compreender ou dar significado a um significante é um ato de relacionar diversos significados, de compará-lo a sentidos próximos e distantes, conforme afirma Lévy a seguir, mas também ao que o significante não pode representar, pois já existem outros significantes que representam outros significados: O que é a significação? Ou, antes, para abordar o problema de um ponto de vista mais operacional, em que consiste o ato de atribuir sentido? A operação elementar da atividade interpretativa é a associação; dar sentido a um texto é o mesmo que ligá-lo, conectá-lo a outros textos, e portanto é o mesmo que construir um hipertexto. É sabido que pessoas diferentes irão atribuir sentidos por vezes opostos a uma mensagem idêntica. Isto porque, se por um lado o texto é o mesmo para cada um, por outro o hipertexto pode diferir completamente. O que conta é a rede de relações pela qual a mensagem será capturada, a rede semiótica que o interpretante usará para captá-la. Você talvez conecte cada palavra de uma certa página a dez referências, a cem comentários. Eu, quando muito, a conecto a umas poucas proposições. Para mim, esse texto permanecerá obscuro, enquanto que para você estará formigando de sentidos. LÉVY, 1993, p. 72. Cabe lembrar que os signos não são apenas linguísticos; não encontramos signos apenas na língua. Um sinal vermelho é um signo, que tem um significado (Pare!) e um significante (a cor vermelha, o próprio design do farol, sua localização etc.). 10

3. Semântica A semântica interessa-se pelo significado dos signos. Sabemos que as línguas utilizam-se de significantes diferentes para se referirem aos mesmos significados. Assim, cachorro em português é o significante do conceito cachorro, como dog é o significante em inglês para o mesmo significado, chien em francês etc. Palavras diferentes (ou significantes diferentes), em diferentes línguas, muitas vezes remetem ao mesmo significado. Isso nos permitiria tirar uma primeira conclusão: os objetos, os significados, os conceitos, são dados universalmente, e as línguas não fazem mais do que criar seus próprios significantes para se referirem a esses significados. Arbitrariamente, é claro, pois não existe relação natural entre a ideia ou a imagem cachorro e seus significantes em diversas línguas: cachorro, dog, chien etc. Se é o Homo sapiens, é também, e antes de mais nada, o Homo loquens, homem de palavras. HAGÈGE, 1990, p. 10. Entretanto, isso não ocorre sempre, e é justamente por isso que a semântica se constitui como um dos ramos mais importantes da linguística ou da semiótica, e que nos interessa em filosofia da linguagem. [1] WHORF, 1956, p. 259-260. Na língua indígena norte-americana Hopi, do Arizona, por exemplo, a palavra utilizada para representar o significado de cachorro, pohko, inclui também o sentido de animal doméstico de qualquer tipo.[1] Ou seja, não existe uma palavra específica para representar o sentido de cachorro, mas sim uma palavra para representar o sentido de animal de estimação, que inclui, dentre outros, os cachorros. 11

Em primeiro lugar, um determinado conceito ou significado pode ter, em uma língua, apenas um significante a representá-lo, e, em outra língua, mais de um significante. Isso não quer dizer apenas que uma língua tem mais elementos formais para referirse ao mesmo significado quer dizer, sim, que cada língua divide o mundo à sua maneira, que determinado significado numa língua, que o representa por apenas um significante, pode não ter sentido em outra, que na verdade se utiliza de mais de um significado (e por consequência, mais de um significante). Poderíamos ilustrar esse problema da seguinte forma : Ou seja, para a língua B o significado S não existe: existem sim dois significados, correspondentes aos significantes B1 e B2. Para a língua A, a divisão de S em S1 e S2 é incompreensível, assim como o é para a língua B a existência de apenas um significante para representar S1 e S2. Do ponto de vista da língua A, S tem dois significantes na língua B: B1 e B2. Mas se tomamos a perspectiva da própria língua B, S não existe, a unidade semântica que ele representa em A não existe; existem, sim, dois significados, S1 e S2, correspondentes a dois significantes. Dizer que S está dividido em dois significados, em S1 e S2, é analisar a língua B por meio da língua A, é enxergar uma língua com as categorias de outra: a ideia de divisão (de S em S1 e S2) só existe para a língua A, enquanto observadora da língua B. 12

Na língua B, não existe divisão: existem dois signos, que se limitam e que limitam outros signos. A ideia de unidade da língua A é que lhe parece estranha. Quando uma criança conhece cachorro por au-au e gato por miau, e vê pela primeira vez um esquilo, sua tendência inicial é tentar classificar o esquilo como au-au ou miau. Quando ela aprende, aos poucos, que existe um significante esquilo, não só aprende uma nova palavra, mas no seu sistema semântico constrói-se uma nova categoria (um novo signo), independente de cachorro e gato, ou seja, conjuntamente ela aprende um novo significante e um novo significado (o conceito de esquilo ). É claro que o esquilo enquanto animal, objeto, continua a ter a mesma existência. Mas para a criança só então ele passa a existir como signo, podendo agora ser representado de forma diferente do que os cachorros e os gatos. Para os esquimós, existem várias palavras para designar neve, a que o mundo praticamente se resume. O conceito de neve, assim como o entendemos, não existe para os esquimós; existem, sim, diversos outros conceitos que em sua totalidade corresponderiam mais ou menos a nosso conceito de neve. A neve é o elemento essencial no mundo dos esquimós, é seu próprio mundo, e, portanto, precisa ser recortado e dividido para que possa ser representado com mais riqueza. 13

É interessante notar, por exemplo, a tentativa de representação desse fenômeno por Izidoro Blikstein. Para ele, assim como para grande parte dos linguistas, existiria uma realidade triádica que caberia à semântica observar: Assim, o signo, composto de significado e significante, representaria um objeto extralinguístico, que se encontraria inscrito no campo da realidade. Mas o referente não seria a própria realidade esta seria, primeiro, filtrada pela nossa experiência, pelos atos de percepção e cognição. Dessa forma, Blikstein constrói um esquema para representar a correspondência entre a neve para os não-esquimós e as várias neves para os esquimós: 14

Este esquema e toda a construção teórica de Blikstein são bastante ilustrativos, mas contêm um deslize de ingenuidade que contrasta com o espírito crítico apresentado pelo autor por todo seu texto[1]: a Realidade Neve não existe senão como uma construção também linguística. A Realidade Neve existe apenas para a cultura que criou uma palavra para designar essa porção do mundo. Para a cultura dos esquimós, existe apenas a Realidade Neves (ou, melhor ainda, várias realidades, representadas uma por cada palavra). É ingênuo (e unilateral) dizer que existe A Neve e que os esquimós criam várias palavras para representá-la. Na verdade, existem aqui duas realidades, aquela observada pelos esquimós e outra observada pela nossa cultura. Dizer que a Realidade dos esquimós é a Neve é denominá-la por meio de nossa linguagem, é trazê-la para o campo de visão da nossa cultura, é, em última instância, destruí-la. Ou seja, não há uma Realidade Dada, de antemão, a qual a percepção, a interpretação ou o ponto de vista transformam em referente: a linguagem e a própria percepção (que são entendidas aqui como simultâneas, e que são a única forma de contato com o mundo) constroem sua própria realidade e o próprio referente. [1] BLIKSTEIN, 1995. [2] HAGÈGE, 1990, p. 57. Da mesma forma, para os Comox, pescadores da ilha de Vancouver, onde os peixes exibem uma variedade e riqueza imensas, o que denominamos em português salmão possui uma dezena de nomes diferentes. Assim como rena tem uma dezena de denominações para os lapões da Finlândia[2]. Podemos dizer que as línguas dividem o mundo cotidiano conforme as necessidades de seu povo, conforme a riqueza desse cotidiano, conforme a intensidade do contato do povo com os elementos que o circundam. 15

Em português falamos boa noite e em inglês temos duas expressões para designar o mesmo sentido: good evening e good night. O brasileiro que se propõe a estudar inglês precisa aprender que a noite pode ser dividida em até a hora de deitar-se e quando é costume dormir, e esse aprendizado é bem mais difícil e complexo do que simplesmente decorar os dois significantes, evening e night. Saber como usá-los, entender sua função, a relação de delimitação que cada significante tem em relação ao outro, o que cada expressão quer dizer em função do que a outra significa, a que exatamente esses significantes se referem, esse é o verdadeiro problema, pois somos forçados a dividir um conceito imediato e natural como o de noite, que em nossa língua é contínuo e parece-nos dar conta da realidade noite muito bem. Por que outra língua precisaria de duas palavras para representar aquilo que conseguimos representar apenas com uma? Ou melhor, como alguém pode pensar em dividir a noite, e por quê? Em russo, existem vários verbos de movimento, que correspondem mais ou menos à ideia representada pelo verbo ir, em português. Ir a pé tem um significante em russo; ir à cavalo ou bicicleta tem outro significante. Diferentes prefixos são acrescentados ao verbo ir quando ele se refere a começo de ação no passado, ação que foi iniciada mas não está claro se terminou, ou ação completa; se ir está associado a voltar, se implicou ir de condução, se implicou entrar e assim por diante, tem em russo um signo diferente. Uma possível explicação para o fenômeno seria que o russo foi um povo nômade e, nesse sentido, teve de dividir com mais riqueza a realidade de seus movimentos do que outras línguas. [1] HAGÈGE, 1990, p. 46. Assim podemos entender a afirmação de Claude Hagège: As línguas diferem, não pelo que podem ou não exprimir, mas pelo que obrigam ou não a dizer. [1] 16

Poderíamos então dizer que o mesmo significado pode ter diferente número de significantes, nas diversas línguas, para representá-lo. Ou seja, o significado existiria, por si só, os objetos existiriam na natureza, os conceitos teriam certa realidade universal, mas poderiam ser recortados de diferentes formas. Observemos a ilustração abaixo: Formas de representá-lo: E assim por diante. Já vimos que a ideia de divisão não representa exatamente o que ocorre nesses casos. Mas temos ainda um segundo problema, muito importante em semântica, que torna bem mais complexo o estudo dos conceitos e a própria noção de significado. Poderíamos antecipar a conclusão de nossa discussão e enunciá-la assim: o significado em si não tem existência independente do sistema linguístico. Ou seja, em muitos casos não ocorre uma simples representação diferente, em termos da quantidade dos significantes, de língua para língua. O próprio significado é criado pelos significantes utilizados para recortar a realidade: assim, um significado determinado, que possua apenas um significante em uma língua, não corresponde exatamente ao campo semântico abrangido pelos dois ou mais significantes, utilizados em outra língua para representá-lo. Não existiria o primeiro quadrado da ilustração anterior, e os limites dos quadrados, em cada língua. 17

O quadro abaixo representa bem tal problema, do ponto de vista das cores, que a princípio parecem ter um grau de objetividade que seria irredutível às categorias linguísticas: O que temos acima? Poderíamos dizer que a cor cujo significante é glas em celta (ou gaulês) tem três significantes para representá-la, em espanhol: verde, azul e gris. Acontece que os limites semânticos desses três significantes não correspondem exatamente aos limites semânticos de glas, em celta. Glas toma todo o campo semântico representado por azul, mas invade, apenas parcialmente, os campos semânticos de gris e verde. Assim, não existe o significado glas em espanhol, nem mesmo por um processo de aglutinação de mais de um significante. Ou seja, não existem nem as próprias cores, em seu aspecto objetivo, que possam ser divididas pelas línguas cada língua na verdade cria suas próprias cores, seus próprios limites. Os limites entre as duas figuras (superior e inferior) são apenas didáticos. Alguns destes exemplos são adaptados de MALMBERG, 1976, p. 65-69. Vimos até agora, em nossa discussão, a ideia de representação, de que as línguas utilizam, cada uma, um significante para um mesmo significado, e a ideia de divisão, de que as línguas dividem diferentemente os objetos em significados diferentes, utilizando cada uma um número diverso de significantes. 18

Mas acrescentamos agora uma nova ideia, a de criação ou construção. Se quando dizemos que a língua representa ou divide o mundo pressupomos em ambos os casos que exista um mundo exterior à língua, física ou objetivamente, com a ideia de criação não existe mais um mundo dado, prévio ao ato linguístico. Uma língua representar significa que existe um significado comum a todas, a ser representado por diferentes signos materiais; uma língua dividir significa que não existe um significado uno e prévio, mas um objeto, sobre o qual cada língua se projeta e cria diferentes significados (e por consequência diferentes significantes); uma língua criar significa que não existe nem significado uno nem objeto uno. Se a ideia de divisão destrói a unidade do significado, a ideia de criação destrói a unidade do objeto. Diz-se que a palavra saudades existe apenas em português. I miss you não exprime exatamente o sentido de estou com saudades, por exemplo. Um falante de outra língua tem dificuldade para traduzir a palavra para a sua língua, precisa em geral de uma frase para chegar perto do sentido de saudades em português. A questão não é, portanto, apenas a dificuldade em se encontrar um ou mais significantes, em outra língua, para exprimir o significado de saudades na verdade, o significado de saudades não existe exatamente em outra língua, é um significado criado pela língua portuguesa. A dificuldade do falante de outra língua é exatamente esta de compreender um significado novo, para o qual não existe correspondência exata em sua língua nativa. 19

Em português, saudade carrega provavelmente consigo a lembrança do apogeu de Portugal, na época dos descobrimentos, posição que o país nunca mais voltou a ocupar; carrega também a lembrança de Don Sebastião, o líder da pátria morto em uma batalha, cujo corpo, entretanto, nunca foi encontrado, gerando a crença de que ele não teria morrido e poderia retornar a qualquer momento; e carrega ainda os significados da figura de Cristo, que nos deixou também com a promessa de retornar. Esta dialética das lembranças que, mesmo que inconscientemente, espera-se recuperar, impregnam o sentido da palavra saudades de uma forma peculiar, construindo um conceito único em português. O ponto de vista cria o objeto, a língua cria o mundo. A estrutura da linguagem influencia a forma como concebemos a realidade. A figura do universo muda de língua para língua[1]. Como afirma Whorf, uma mudança na linguagem pode transformar a nossa apreciação do cosmos. [2] Poderíamos imaginar que o mundo se apresenta dividido e que a língua é um instrumento ingênuo, inconsciente, que não faz mais do que representar tal divisão. A língua seria uma linguagem de observação pura, para utilizar uma expressão de Thomas Kuhn[3]. Entretanto, o mundo é na verdade um contínuo que a língua recorta. Claude Hagége afirma que ao falar do mundo, as línguas reinventam-no. [4] [1] CHASE, 1956, vi. [2] WHORF, 1956, p. 263. [3] KUHN, 1996, p. 164-165. [4] HAGÈGE, 1990, p. 116. Com a língua, o mundo sofre duas agressões: em primeiro lugar, é brutalmente segmentado pelos interesses de cada cultura, sem uma regra universal e geral que sirva para reger tal divisão chamamos de raiz uma parte, de caule a outra, de folha a outra, de galho a outra, todas partes de um mesmo ser, de um mesmo objeto; em segundo lugar, objetos bastante diferentes acabam sendo novamente violentados, ao serem classificados sob a égide de um mesmo significante as árvores apresentam diferenças imensas, em seus vários tipos. 20

Assim, a linguagem divide a realidade e ao mesmo tempo agrupa seus objetos, não dando conta, portanto, nem da totalidade e continuidade da primeira nem da individualidade e riqueza dos últimos. Mas os conceitos de realidade e objeto já são, eles mesmos, resultados de divisões e agrupamentos. Como então fugir da tendenciosidade da linguagem para apreender as coisas em si mesmas, a realidade, sem a deturpação da língua? Parece que a língua e a linguagem, então, apenas nos afastam dos objetos, das coisas em si mesmas, servem apenas para nos enganar e nos ludibriar. A realidade. Estaríamos então fadados a enxergar o mundo por uma luneta sempre fora de foco? O cientista procura corrigir, constantemente, as falhas e os desvios de seus instrumentos de observação e pesquisa não precisaríamos, também, realizar o mesmo processo, frequentemente, com nossa linguagem, nosso foco de observação do mundo? Bachelard afirma que o instrumento de medida acaba sempre sendo uma teoria, e é preciso compreender que o microscópio é um prolongamento mais do espírito que do olho [1]. [1] BACHELARD, 1996, p. 297. E não estamos falando aqui apenas de palavras diferentes, que em línguas diferentes representam, dividem e constroem a realidade; a estrutura e o padrão das sentenças, como vimos em Saussure, determinam formas de pensar e construções de realidades distintas. Benjamin Lee Whorf fornece exemplos interessantes. Sentenças em japonês podem ter dois níveis distintos de sujeito. 21