A CULTURA E O ENSINO DE INGLÊS: RESULTADOS PRELIMINARES DO QUE PENSAM OS PROFESSORES DE INGLÊS DAS ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DE BLUMENAU.



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Transcrição:

A CULTURA E O ENSINO DE INGLÊS: RESULTADOS PRELIMINARES DO QUE PENSAM OS PROFESSORES DE INGLÊS DAS ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DE BLUMENAU. Karina Gebien (Mestranda - UFSC) karinagebien@hotmail.com Professora Dra. Gloria Gil (Orientadora - UFSC) glorigil@gmail.com Introdução Neste trabalho, cujo tema é cultura e o ensino de Língua Inglesa, temos como objetivo apresentar os resultados preliminares do que pensam os professores de Língua Inglesa das escolas públicas e municipais de Blumenau acerca do tema com relação à sua prática pedagógica em sala de aula. Para isso, realizamos uma coleta de dados com questionários e posteriormente entrevistas com aqueles professores selecionados através da primeira amostragem, para consequentemente analisarmos, com base nas ideias de Crozet, Liddicoat e Lo Bianco (1999), suas respostas, tentando entender os conceitos de cultura que os professores. Entendemos que estas pesquisas tem uma perspectiva qualitativa, visto que a subjetividade interpretativa da pesquisadora e do cruzamento de dados obtidos foi fundamental para a obtenção dessas primeiras conclusões. Num primeiro momento, todos os professores de Língua Inglesa das escolas públicas municipais receberam um questionário (em anexo) onde perguntas relativas ao ensino de inglês foram respondidas. Dentre essas, em especial, pediu-se que os professores definissem com as suas palavras qual o conceito de cultura usariam para ensinar inglês. Diante das vinte e quatro respostas obtidas, analisamos, interpretamos e as classificamos de acordo com a teoria de Crozet, Liddicoat e Lo Bianco (1999) que será discutida mais profundamente adiante, mas que resumidamente classificam o ensino de inglês de acordo com abordagens de cultura em quatro níveis: tradicionalista, estudos de cultura, cultura como práticas e por fim intercultural. Após o processo de classificação, dez respostas de professores foram selecionadas, dentre elas as quatro classificadas como intercultural e as outras seis de acordo com algumas particularidades presentes em cada uma delas. Nesta etapa, as entrevistas foram gravadas e

transcritas para uma futura comparação entre essas e as respostas obtidas através dos questionários. Discussão teórica Para que esta pesquisa fosse fundamentada, foram revisados diferentes autores. Diante disso lanço a seguinte pergunta: como se ensina cultura nas aulas de Língua Inglesa? O que é ensinar interculturalmente? Dentre alguns teóricos que podem nos fornecer algumas respostas para essas perguntas podemos ter primeiramente duas pesquisadoras brasileiras que de um lado fornecem reflexões acerca do tema e por outro pesquisaram esta teoria de acordo com o que pensavam os professores de Língua Inglesa Telma Gimenez e Simone Sarmento. Gimenez (2002) baseou-se nas ideias de Kramsch (1993) ao sintetizar as três formas do ensino de cultura e língua - abordagem tradicional, cultura como prática social e abordagem intercultural. Na primeira abordagem a cultura é vista como produtos, e a língua não se relaciona em momento algum com a cultura, por isso o ensino resume-se somente na aprendizagem de fatos da língua. Já na segunda abordagem percebemos uma mudança de conceitos onde a cultura torna-se um modo coletivo de agir através da linguagem, ou seja, a língua está ligada a esta cultura, mas o ensino ainda se foca na aprendizagem do modo de agir e pensar do outro. É na terceira abordagem que encontramos o modo intercultural de ensino. Nesta, a cultura torna-se o modo de ver o mundo onde a língua é cultura. Para isso, a exploração de um espaço intermediário entre a cultura e língua materna e a cultura e língua alvo, resulta em um terceiro espaço o espaço intercultural. Para se chegar a este ensino, a autora referencia quatro etapas propostas por Kramsch que ajudariam os professores de línguas a reconstruir, construir, examinar e preparar o terreno para uma mudança de conceitos, mas que não serão aprofundados aqui. Assim como Gimenez esteve preocupada com a relação intercultural em sala, Sarmento (2004) esteve com os professores de Língua Inglesa. A pesquisadora ateve-se em descobrir como os aspectos culturais eram ensinados durante as aulas de Inglês. Para isso, Sarmento gravou em vídeo sete professores durante duas aulas (90 minutos). Estas aulas foram transcritas e as categorias de cultura que apareceram espontaneamente durante as aulas não foram baseadas em nenhuma teoria: todas foram interpretadas e classificadas de acordo com a pesquisadora. Desta forma, Sarmento obteve classificações de cultura como comportamento/costumes, cultura como informação e cultura como língua, chegando a

conclusão que ainda necessitamos explorar, como professores, um ensino de Inglês mais contextualizado de acordo com as necessidades reais de nossos alunos, ou ainda, um ensino intercultural, eu diria. Diferentemente, Byram, Gribkova e Starkey (2002) propõem savoirs saberes ao ensino intercultural de inglês. Savoir être é a curiosidade e abertura, o preparo para suspender qualquer preconceito sobre a outra cultura e também sobre si mesmos. Savoirs no geral ou seja o conhecimento de grupos sociais e seus produtos e práticas de si mesmos e dos países dos interlocutores e dos processos gerais da interação da sociedade e individuais, são importantes elementos que o professor deve ajudar seus alunos a desenvolverem. Há ainda habilidades de interpretar e relacionar documentos e eventos de outra cultura, relacionando-os com os da sua própria savoir apprendre/faire habilidade de adquirir novo conhecimento de uma cultura ou práticas culturais e a habilidade de operacionalizar o conhecimento, atitudes e habilidades de descoberta de si e do outro, atitudes e habilidades diante da interação e comunicação real. Por fim a competência crítico cultural - savoir s engager - que é a habilidade de avaliar criticamente dentro dos critérios explícitos as perspectivas, práticas e produtos da sua, do seu país, e do outro país e sua cultura, essa seria a função do professor de língua para esses autores. Seguindo de forma similar as ideias interculturais dos autores anteriormente citados, para Corbett (2003) a função intercultural assumiria mais uma função social, onde os alunos agem como diplomatas e etnográficos ao conhecer os comportamentos do outro para assim estarem aptos a explicarem para os membros da sua comunidade e vice-versa. Ao fazer essa comparação, os alunos estarão agindo através de um trabalho étnico-cultural, pois para isso é preciso conhecimento e pesquisa sobre as culturas. Algo muito interessante proposto ainda por Corbett é que os professores não precisam deixar de ensinar de acordo com seus métodos ou planejamentos adotados, pois ensinar de forma intercultural acresce-se uma forma a mais de atingir um ensino mais realista e próximo dos objetivos a serem alcançados através do ensino de língua inglesa ou qualquer outra língua. Por fim, Crozet, Liddicoat e Lo Bianco (1999) definem cultura na aprendizagem de Língua Inglesa de quatro formas: tradicional, estudos culturais, cultura como práticas e por fim o modo intercultural. Na primeira a escrita é a forma de mediação cultural, então a cultura pode ser vista na literatura e na linguagem desses textos, é por isso que o valor deste ensino está no texto escrito e na educação formal. Já o segundo paradigma toma o lugar do primeiro, pois neste o ensino de cultura significa aprender sobre os países e mais especificamente Aprender sobre a história, geografia e instituições do país de origem da língua. Torna-se

mais uma questão de localização do que o texto, de políticas do que de pessoas 1 (p. 8, minha tradução). A terceira forma de ensino de cultura proposta pelos autores são as práticas culturais. Aqui, as práticas e valores que tipificam as culturas são levados em consideração, sendo essa cultura um modo coletivo de atuar através da língua deixando o aluno com o seu próprio paradigma cultural, somente observando o interlocutor de outro paradigma. O problema é que muitas vezes a cultura acaba se tornando estática ou homogênea. Por fim, os autores também propõem a prática intercultural de ensinar inglês. Essa proposta possui três aspectos fundamentais que são: o ensino da língua-cultura, a comparação entre a língua/cultura materna do estudante e a língua/cultura a ser aprendida e a exploração intercultural. Para eles, a exploração desses aspectos acontece quando há a mudança de uma visão monocultural para uma multicultural de qualquer que seja o assunto (p. 117, minha tradução) 2 e isto só acontecerá quando não somente culturas são aprendidas e contrastadas, mas quando a habilidade de criar um terceiro espaço que seja confortável para o aluno acontece, ideia muito parecida com a proposta por Kramsch (1993). Análise de dados dos questionários De acordo com as definições de Crozet, Liddicoat e Lo Bianco (1999), dos vinte e quatro questionários recebidos, nenhuma das respostas relacionadas ao ensino de cultura nas aulas de Inglês podem ser classificadas como ensino tradicional e estudos culturais. Na grande maioria das respostas (treze) a visão de cultura das professoras foi classificadas como cultura como práticas. Não obstante, dentre essas treze, somente uma delas esteve estritamente relacionada à cultura dentro da aula de inglês, as outras respostas mostravam visões mais genéricas do que é cultura. Diante do grande montante de respostas no grupo cultura como prática optamos por dividi-las em subgrupos de acordo com suas proximidades semânticas No primeiro grupo encontram-se as respostas onde os professores demonstraram explicar a cultura como pertencente a um conjunto maior de pessoas, de um povo, nação, como os seguintes excertos mostram: 1 Knowledge about the history, geography and institutions of the target language country. It becomes an issue of setting rather than text, of policies rather than people. 2 The shift from a monocultural to a more multicultural view of any subject matter.

Tudo que caracteriza modo de viver, tradições de um povo, etc; Cultura são os costumes, hábitos, conceitos e preconceitos de um povo; É a maneira de ser de um povo: suas crenças, os costumes, sua arte, a lei, a moral; Modo de vida, costumes de uma determinada nação; Cultura é transmitir ao aluno o estilo de vida, os costumes, a dança, o modo de viver e comer de um povo. Seus estudos e regras de convivência. Ao ensinar uma língua inglesa automaticamente transmitimos todo este estilo de viver; São as manifestações de um povo, que engloba tudo, desde sociais, artísticas, linguísticas, comportamentais, fazem parte da cultura, música, etc; Cultura: conjunto de hábitos, crenças, costumes que permeiam uma sociedade; No segundo grupo encontram-se as respostas onde os professores optaram por aproximar a definição de cultura de uma forma em que estas práticas estão mais próximas deles. Palavras como grupo e comunidade aproximam mais a cultura definida, como as respostas a seguir mostram: Cultura é o modo, a forma de um povo ou uma comunidade vive; É a soma de conhecimentos de um povo, raça, nacionalidade, é o modo de viver de uma região, país, comunidade; Cultura como manifestação humana e construção de relações na sociedade e da história de um grupo; O terceiro subgrupo estreita ainda mais a relação cultural da comunidade em que se vive, pois nesta, mais especificamente, a/os pessoas/alunos estão diretamente envolvidos na comunidade em que estão inserida/os: Creio que a cultura é algo em constante desenvolvimento. As pessoas [grifo nosso] que conhecemos, os lugares que visitamos, os livros que lemos tudo isso contribui para nossa evolução cultural; Cultura é tudo aquilo que os alunos [grifo nosso] trazem dos ambientes que frequentam, das atividades que participam.

Como dito anteriormente, dentro do conceito de cultura como práticas, somente um professor respondeu de acordo com o ensino em sala de aula, por isso sua resposta não está inserida em nenhuma das subseções anteriores: Uso da linguagem prática músicas. Textos, outdoors, costumes e formas de comunicação entre diferentes nações. Consideramos que três respostas se aproximam do que de Crozet, Liddicoat e Lo Bianco (1999) definem como ensino intercultural de inglês: Não sei se entendi muito bem essa pergunta, mas respondendo ao que eu entendi eu uso a cultura de acordo com o que estou ensinando dando exemplos dos aspectos semelhantes e dos que diferem. Faço um comparativo entre as culturas brasileira e estrangeiras em sala. Vejo a cultura como uma identidade. Dos costumes à alimentes, tudo é cultural. Desta forma, ensinar Inglês é desvendar e aproximar os alunos de uma outra cultura, ao mesmo tempo que relacionamos/comparamos com a nossa. As outras oito respostas não se encaixaram em nenhuma das definições, pois alguns professores responderam de acordo com questões identitárias, nacionalistas, imperialistas entre outras definições que não puderam ser analisadas de acordo com o proposto pelos autores supracitados. Não obstante, duas dessas respostas foram escolhidas para a entrevista, pois suscitaram curiosidade da pesquisadora em entender realmente o que essas duas professoras quiseram expressar com suas respostas. Somos cidadãos em um mundo globalizado onde inglês é a língua internacional para comunicação e futuramente ou melhor atualmente contribui para nossa (minha) prática pedagógica e profissional. Daí vem cada vez mais o uso da tecnologia, especialmente do computador e todos seus atributos. São eles os alunos a geração tecnológica, cultura mundial Visto a cultura ser o padrão de comportamento e atitudes que caracterizam determinada sociedade, é importante ressaltar para os alunos os aspectos positivos e

também negativos dos países nativos da língua inglesa, valorizando o uso desta língua a nível mundial. Após esta etapa, foram feitas as respectivas entrevistas sobre as quais comentamos na seção seguinte. O objetivo da entrevista com alguns desses professores foi verificar se respostas poderiam ser confirmadas ou não de acordo com o modo de ensino de cultura analisado, porém neste primeiro momento da análise, tivemos que nos ater as palavras escritas desses professores para um possível (e subjetivo) encaixe dentro das linhas teóricas propostas. Análise das entrevistas Depois de realizadas as entrevistas com as professoras selecionadas através das respostas descritas na análise, pode-se concluir que entre as dez entrevistadas, as três selecionadas como intercultural continuaram com esta classificação além de acrescentarem exemplos de suas aulas ao se ensinar interculturalmente. Logo ao iniciar a entrevista repeti o conceito de cultura por elas definido pedindo um exemplo dessa prática em sala de aula e, ao responderem, essas professoras exemplificaram com atividades já realizadas por elas em suas aulas de Inglês ressaltando os aspectos interculturais durante a realização destas. Dentre as outras sete professoras entrevistadas, uma em especial também demonstrou ensinar interculturalmente quando ao explicar seu conceito de cultura para ensinar inglês, propôs que este deve ser feito de maneira comparativa entre a cultura nativa e as culturas a serem ensinadas. Além desta, outras quatro professoras chegaram bem próximas a esta visão de comparação entre as culturas, porém detiveram-se em exemplificar a cultura da Língua Inglesa como as pertencentes ao círculo interno Estados Unidos e Inglaterra ou somente relacionada a fatos visíveis desta como comidas, músicas e produtos culturais envolvidos aos aspectos culturais como literatura e esportes Harry Potter e Olimpíadas de Londres. Ainda pudemos perceber pelas respostas uma professora mais preocupada com a situação sócio cultural do aluno ao responder que o ensino de cultura deve sempre partir de um ponto conhecido pelos alunos e que a interculturalidade pode acontecer dentro do próprio país. Além desta, outra professora também focou sua definição de cultura mais como uma forma patriota de ensinar inglês onde a valorização de nossa cultura deve se sobressair com relação a cultura do outro. Depois do cruzamento de dados, algumas conclusões preliminares puderam ser delineadas com relação ao conceito de cultura dessas dez professoras de Língua Inglesa de

escolas públicas e municipais de Blumenau: metade dessas conseguiu espontaneamente responder de acordo com a proposta intercultural através de suas definições e exemplos práticos em sala de aula. A outra metade das professoras conseguiu chegar muito próximo a definição este ensino, porém, os resultados da pesquisa mostram que ainda se faz necessário que professores de Língua Inglesa compreendam a importância do ensino intercultural de inglês. Palavras finais Diante dos resultados preliminares obtidos até o momento, pode-se perceber que os professores de Língua Inglesa das escolas públicas municipais de Blumenau envolvidos nesta pesquisa demonstraram conhecimentos interculturais em sua prática pedagógica. É claro que alguns de maneira mais aprofundada e próxima às definições propostas como referência pelos autores citados, mas todos de uma maneira ou de outra mencionaram a importância de aproximar a cultura do outro com a nossa, sendo esse um passo fundamental para que os alunos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem da língua/cultura inglesa possam crescer mais críticos e abertos para uma educação ativa e consciente. Futuras pesquisas são extremamente necessárias nesta área, visto que existem poucas realizadas no Brasil. Referências Byram, M., Gribkova, B. & Starkey, H. Developing the intercultural dimension in language teaching. A practical introduction for teachers. Strasbourg: Council of Europe, 2002. Corbett, J. An Intercultural Approach to English Language Teaching. Clevedonn. Multilingual Matters LTD, 2003. Crozet, C. & Liddicoat, A. J. The challenge of Intercultural Language Teaching: Engaging with Culture in the Classroom. In Crozet, C. Liddicoat, A. J. & Lo Bianco, J.(Eds.), Striving for the Third Space. Intercultural competence through Language Education (pp. 113-125). Melbourne: Language Australia, 1999. Gimenez, T. Eles comem cornflakes, nós comemos pão com manteiga : Espaços para reflexão sobre cultura na aula de Língua Estrangeira. Anais do IX EPLE Encontro de Professores de Línguas Estrangeiras. Londrina: APLIEPAR, 2002.

Kramsch, C. Context and Culture in Language Teaching.UK: Oxford University Press, 1993. Sarmento, S. Aspectos culturais presentes no ensino da língua inglesa. In S. Sarmento & Muller, V. (Eds.) O Ensino do inglês como língua estrangeira: estudos e reflexões. Porto Alegre: Apirs, 2004.

Anexos Questionário para professores de Língua Inglesa das escolas públicas de Blumenau. Nome Nível de Formação: ( ) Superior incompleto semestre ( ) Superior completo ( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado Número de horas semanais que leciona Número de anos lecionando anos 1. Você tem conhecimento dos PCN s de Língua Estrangeira? ( )Sim ( )Não 2. Você acha importante a leitura e o conhecimento desse documento? ( ) Sim ( )Não Por quê? 3. Você tem conhecimento das diretrizes do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) de Língua Estrangeira, mais especificamente de Língua Inglesa? ( ) Sim ( ) Não 4. Qual livro é adotado em sua(s) escola(s)? ( ) Keep in Mind ( ) English for Teens Links 5. Esta coleção foi de sua escolha? ( ) Sim ( ) Não No caso de você trabalhar com mais de uma delas, qual delas foi de sua escolha? ( ) Keep in Mind ( )English for Teens Links 6. Você já havia trabalhado na rede pública antes do uso do livro didático? ( )Sim ( )Não Nas perguntas 7, 8 e 9, se você adota as duas coleções em suas escolas, assinale com K se referente à coleção Keep in Mind e com um L se relativo à coleção English for Teens Links para diferenciar. Se as respostas foram as mesmas, assinale somente a resposta correspondente. 7. Sendo este o primeiro ano em que o uso do Livro Didático de Língua Inglesa foi usado, como você se sente em relação ao uso do material em sala de aula? 1 2 3 4 5 Muito importante Não é importante

8. Com que frequência você usa este material? 1 2 3 4 5 Sempre Nunca 9. Você acredita que o uso do livro didático facilitou a aprendizagem dos alunos? ( ) Sim ( ) Não Por quê? 10. Defina o conceito de cultura que você usaria para ensinar inglês na sala de aula. 11. Você acha que existe relação entre língua e cultura? Como explicaria esta relação? Em relação ao conteúdo do livro e das suas aulas: 12. Você acha importante para os professores de Inglês incluírem aspectos da cultura da língua ensinada (inglês) como parte do ensino em sala de aula? 1 2 3 4 5 Muito importante Não é importante 13. Você acha que o livro didático usado em sua escola inclui informações culturais sobre sua cultura nativa e sobre a cultura da Língua Inglesa? 1 2 3 4 5 Sempre Nunca 14. Você como professor, inclui informações culturais sobre: ( ) A cultura nativa (brasileira) ( ) A cultura da ensinada (Língua Inglesa) ( ) As duas ( ) Outras ( ) Nenhuma

15. Essas informações são ensinadas de formas planejadas ou são introduzidas espontaneamente? ( ) Planejadas ( ) Espontaneamente 16. Você inclui fatos evidentes dos aspectos culturais, sejam eles nativos ou da Língua Inglesa, como por exemplo: comidas, música, pessoas, etc. 1 2 3 4 5 Sempre Nunca 17. Você inclui aspectos culturais mais profundos como: valores, crenças, atitudes etc? 1 2 3 4 5 Sempre Nunca Muito obrigada pela sua colaboração. Karina Gebien Professora da rede Municipal de Blumenau e Mestranda em Língua Inglesa - UFSC