RECLAMAÇÃO 24.185 SÃO PAULO RELATOR : MIN. LUIZ FUX RECLTE.(S) :MUNICÍPIO DE SÃO JOAQUIM DA BARRA PROC.(A/S)(ES) :MARCO AURELIO SILVA FERREIRA RECLDO.(A/S) :TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO PROC.(A/S)(ES) :SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS INTDO.(A/S) :ROSANA SILVA DE ALMEIDA ADV.(A/S) :ROBERTO INÁCIO BARBOSA FILHO RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE AFRONTA ÀS SÚMULAS VINCULANTES 37 E 43. INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE IDENTIDADE DE TEMAS ENTRE O ATO RECLAMADO E OS PARADIGMAS INVOCADOS. SUCEDÂNEO DE RECURSO. IMPOSSIBILIDADE. NEGATIVA DE SEGUIMENTO. DECISÃO: Trata-se de reclamação, com pedido de medida liminar ajuizada pelo Município de São Joaquim da Barra, em face de decisão proferida pelo Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, por suposta afronta ao enunciado das Súmulas Vinculantes 37 e 43 desta Corte. O reclamante sustenta que a decisão reclamada, ao conceder a servidora as diferenças salariais decorrentes da inclusão do emprego público de babá no Plano de Cargos e Salário do Magistério do Município, equiparando-o ao emprego de professora, não observou o disposto no enunciado da Súmula Vinculante 37. Sustenta, ainda, que o acórdão reclamado concedeu a transposição do emprego público de babá/educadora para o emprego de professora e permitiu a alteração da investidura originária, violando, assim o Verbete Vinculante 43, que veda toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual
anteriormente investido. Requer, ao final, a concessão de medida liminar para determinar a suspensão do curso do processo na origem até decisão final desta reclamação e, no mérito, a procedência do pleito reclamatório para que seja cassada a decisão reclamada por violação das Súmulas Vinculantes n 37 e 43, e seja julgada totalmente improcedente a ação trabalhista ou determinando o julgamento com a aplicação das referidas Súmulas Vinculantes. É o relatório. Decido. Ab initio, antes de examinar se, de fato, há desobediência às Súmulas Vinculantes 37 e 43, impõe-se esclarecer o que elas estabelecem para, em seguida, verificar, se for o caso, a estrita aderência do ato reclamado aos paradigmas. O enunciado da Súmula Vinculante 37, cuja aplicação ao caso alegase inobservada, tem o seguinte teor: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia. Deveras, a aprovação do referido verbete derivou de proposta formulada pelo Ministro Gilmar Mendes de conversão do Enunciado 339 da Súmula deste Tribunal em verbete vinculante. Essa proposta foi reforçada pelo julgamento de mérito, em 28/8/2014, sob a sistemática da repercussão geral, do RE 592.317/RJ, ocasião em que o Plenário reafirmou o entendimento de que o aumento de vencimento de servidores depende de lei, não podendo ser efetuado com suporte, apenas, no princípio da isonomia, tampouco por iniciativa do Poder Judiciário. O referido julgado foi assim ementado: Recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida. Administrativo. Servidor Público. Extensão de gratificação com fundamento no princípio da Isonomia. Vedação. Enunciado 339 da Súmula desta Corte. Recurso extraordinário provido. A Súmula Vinculante 43, por sua vez, possui a seguinte redação: 2
É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido. Nesse contexto, verifico que não assiste razão ao reclamante quando alega que a decisão hostilizada violou as Súmula Vinculantes 37 e 43. A ilustrar essa assertiva, transcrevo trecho do ato reclamado: ( ) Inequívoca a admissão da reclamante em maio de 2003 mediante aprovação em regular concurso público realizado pelo Município recorrente, visando ocupar o cargo de babá. Outrossim, com a edição da Lei Municipal no. 56/2008 referida nomenclatura (babá) foi alterada para educadora. Mencionado concurso exigia como requisito a formação em magistério nível médio ou superior em pedagogia (ID 33778995), situação esta sequer refutada pela recorrente. ( ) A magistrada sentenciante deferiu a pretensão da autora, isto é, diferenças salariais advindas a inobservância do piso salarial previsto na Lei 11.738/08 no período contratual imprescrito havido até dezembro/2009 e no Plano de Carreira do Magistério Público Municipal (Lei Municipal no. 144/2009) no período contratual posterior, este observado o salário contratual equivalente ao primeiro e menor nível da escalada de vencimento. Observe-se que a autora realmente exercia as funções de professora infantil, nos moldes estabelecidos na Lei de Diretrizes e Bases para Educação Nacional, análise à prova emprestada carreada, cuja utilização foi de concordância da Municipalidade recorrente. As atividades desempenhadas pela demandante junto as creches municipais estavam jungidas ao conceito do trabalho então desenvolvido pelos profissionais de ensino em educação infantil, conforme constatado por ocasião da oitiva da testemunha Sra. Adriana Regina de Souza (IDaf3af4f- prova emprestada). 3
Como se vê, o ato reclamado não elevou remuneração da servidora com fundamento no princípio da isonomia, mas, tão somente, garantiu o direito ao pagamento das diferenças salariais advindas da inobservância do piso salarial previsto na Lei 11.738/08 no período contratual imprescrito havido até dezembro/09 e no Plano de Carreira do Magistério (Lei Municipal no. 144/2009) no período contratual posterior. Ademais, não se verifica, na espécie, provimento derivado de cargo público. Não há, pois, a necessária identidade entre a decisão reclamada e os fundamentos jurídicos que ensejaram a edição das Súmulas Vinculantes 37 e 43. Resta clara, portanto, a ausência de estrita aderência entre o ato ora impugnado e as decisões supostamente desrespeitadas. Esta Corte, em reiterados julgados, vem decidindo no sentido de que constitui pressuposto de cabimento da reclamação a identidade material entre a decisão reclamada e o julgado tido como paradigma. Nesse sentido, vale conferir os precedentes abaixo colacionados, verbis: Os atos questionados em qualquer reclamação - nos casos em que se sustenta desrespeito à autoridade de decisão do Supremo Tribunal Federal - hão de se ajustar, com exatidão e pertinência, aos julgamentos desta Suprema Corte invocados como paradigmas de confronto, em ordem a permitir, pela análise comparativa, a verificação da conformidade, ou não, da deliberação estatal impugnada em relação ao parâmetro de controle emanado deste Tribunal (Rcl 6.534-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, DJe 17.10.2008). AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. APLICAÇÃO DE MULTA. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AO QUE DECIDIDO NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 551/RJ. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. Ato reclamado que examina legislação estadual diferente da analisada no julgado apontado como descumprido. Inexistência de identidade material entre a decisão reclamada e os julgados tidos como paradigmas. Precedentes (Rcl 8.780-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, 4
Plenário, DJe 11.12.2009). O que pretende a reclamante, em última análise, é fazer uso do instrumento processual da reclamação como sucedâneo de recurso. Restou assentado neste Tribunal que a reclamação, constitucionalmente vocacionada a cumprir a dupla função a que alude o art. 102, I, l, da Carta Política (RTJ 134/1033), não se qualifica como sucedâneo recursal nem configura instrumento viabilizador do reexame do conteúdo do ato reclamado, eis que tal finalidade revela-se estranha à destinação constitucional subjacente à instituição dessa medida processual. (Rcl 4.381-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, DJe de 5/8/2011). Ex positis, com espeque no art. 932, VIII, do Código de Processo Civil, combinado com o art. 161, parágrafo único, do RISTF, NEGO SEGUIMENTO a esta reclamação, ficando prejudicado o pedido de liminar. Publique-se. Brasília, 31 de maio de 2016. Ministro LUIZ FUX Relator Documento assinado digitalmente 5