IA344 - Dinâmica Caótica em Sistemas de Engenharia

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Transcrição:

IA344 - Dinâmica Caótica em Sistemas de Engenharia (FEEC/Unicamp - Primeiro Semestre de 2007) Pretende-se aqui apresentar algumas definições e teoremas que podem ser encontrados na literatura especializada sobre identificação e controle de sistemas não-lineares, e que formam uma base conceitual necessária para auxiliar no entendimento de métodos e técnicas utilizadas para analisar ampla variedade de sistemas dinâmicos que podem apresentar comportamentos caóticos. 1 Fundamentos Matemáticos Definição 1. Função de classe C r Uma função g : u R,u R,u aberto, é dita de classe C r se é r vezes continuamente diferenciável com r [0, ]. Se r = 0, g é dita contínua e se r =, g é dita suave. Definição 2. Mapeamento de classe C r Seja x u R n,u aberto, y v R m,v aberto e g(x) = y. O mapeamento G : u v cujas componentes são y i = g i (x) é dito de classe C r se todas as componentes g i (x) são de classe C r. G = g 1 (x 1,x 2,...,x n ) g 2 (x 1,x 2,...,x n ). g m (x 1,x 2,...,x n ) Se r = 0 o mapeamento é contínuo não diferenciável; se r =, o mapeamento é suave; e se 0 < r, diz-se que o mapeamento é diferenciável. Definição 3. Homeomorfismo Uma função g : u R,u R,u aberto, é dita ser um homeomorfismo se é inversível, ou seja, se g é uma bijeção. Se g é um homeomorfismo e tanto g quanto g 1 são diferenciáveis, então g e g 1 são ditas difeomorfismos. Definição 4. Difeomorfismo de classe C k 1

Um mapeamento g é dito um difeomorfismo de classe C k se tanto g quanto g 1 são mapeamentos de classe C k. Se existir um difeomorfismo entre X e Y, então X e Y são ditos difeomórficos. Definição 5. Variedade de dimensão k (Mfold k ) É um conjunto de pontos que localmente assemelha-se ao espaço R k, ou seja, M é Mfold k se para cada ponto x M, existir uma vizinhança u de x, aberta, tal que u é difeomórfico de alguma vizinhança de R k. A figura 1 mostra exemplos e contra-exemplos. Possui pontos Mfold 2 não diferenciáveis: não é um Mfold. Possui ponto Mfold 3 não diferenciável: não é um Mfold. Figura 1: Exemplos e contra-exemplos de variedades. Se X é Mfold kx e Y é Mfold ky, e se X e Y são difeomórficos, então X.Y é Mfold kx+ky. Definição 6. Conjunto compacto Um conjunto u R é compacto se é fechado e limitado (ver figura 2). Figura 2: Exemplos de conjuntos compactos. Definição 7. Pré imagem Para uma transformação f : x y, a pré imagem de um conjunto Z Y, denotada por f 1 (Z), é o conjunto de todos os pontos em X os quais f mapeia para Z, ou seja: f 1 (Z) = {x X f(x) Z} Definição 8. Transformação própria Uma transformação f é própria se a pré imagem de todo conjunto compacto em Y é compacta. 2

Definição 9. Imersão Sejam X e Y dois Mfolds com dimensões kx < ky. Uma transformação f : X Y é uma imersão se as suas derivadas Df(x) têm posto total x X. Definição 10. Embutimento Seja X um Mfold kx e compacto. Se f : X Y é uma imersão, própria e um a um, então f é um embutimento. Não é embutimento (um a um) Não é embutimento X não é compacto Figura 3: Contra-exemplos de embutimentos. 2 Sistemas Dinâmicos Definição 11. Sistemas dinâmicos contínuos autônomos Um sistema dinâmico autônomo contínuo e de ordem n é definido pela equação de estado (1) ẋ = f(x), x(t o ) = x o (1) onde ẋ = dx dt, x(t) Rn é o estado no tempo t, e f : R n R n é chamado de campo vetorial. Uma vez que, no caso autônomo, o vetor campo não depende do tempo, o tempo inicial pode sempre ser considerado como sendo t o = 0. Para mostrar explicitamente a dependência com a condição inicial, a solução de (1) é freqüentemente escrita como φ t (x o ). O sistema dinâmico (1) será dito linear se o campo vetorial f(x) for linear. Definição 12. Sistemas dinâmicos contínuos não autônomos Um sistema dinâmico não autônomo contínuo e de ordem n é definido pela equação de estado 2 ẋ = f(x,t), x(t o ) = x o (2) Para sistemas não autônomos, o campo vetorial depende do tempo, e diferentemente do caso autônomo, o tempo inicial não pode ser sempre definido como zero. A solução de (2) passando por x o no tempo t o é denotada por φ t (x o,t o ). O sistema dinâmico (2) será dito linear se o campo vetorial f(x,t) for linear em relação a x. Se existe um T > 0 tal que f(x,t) = f(x,t + T) para todo x e t, então diz-se que o sistema não autônomo é periódico no tempo com período T. O menor valor para este T é chamado de período mínimo. 3

Definição 13. Pontos de equilíbrio Seja x φ t (x o ) tal que f(x ) = 0. Neste caso x é dito um ponto de equilíbrio. Se lim t φ t (x o ) = x, então diz-se que o ponto de equilíbrio é assintoticamente estável. Definição 14. Solução periódica φ t (x,t o ) é solução periódica de um sistema não autônomo contínuo se φ t (x,t o ) = φ t+t (x,t o ), t e algum período mínimo T > 0. (3) No caso de um sistema autônomo, a condição 3 é substituída por φ t (x ) = φ t+t (x ) Em um sistema não autônomo periodicamente perturbado, T é tipicamente um múltiplo inteiro do período da perturbação, e a solução é chamada de solução de período k ou subharmônica de k-ésima ordem. No caso autônomo, uma solução periódica isolada φ t (x ) (aquela que possui uma vizinhança que não contenha nenhuma outra solução periódica) é chamada de ciclo limite. Definição 15. Soluções quasi-periódicas Uma solução quasi-periódica é aquela que pode ser escrita como a soma de um número finito de funções periódicas h i (t), ou seja: x(t) = i h i (t) (4) onde h i tem período mínimo T i e freqüência f i = 1/T i, tal que existe um conjunto finito de freqüências-base { ˆf 1,..., ˆf p } que satisfaz as duas condições seguintes: (i) O conjunto é linearmente independente no campo dos inteiros, isto é, não existe um conjunto de números inteiros diferentes de zero {k 1,...,k p } tais que k 1 ˆf1 +... + k p ˆfp = 0. (ii) Forma uma base integral finita para as f i, ou seja, para cada i, f i = k 1 ˆf1 +...+k p ˆfp para alguns inteiros {k 1,...,k p }. (iii) A relação existente entre as freqüências existentes é irracional. A base não é única, mas p está definido. Uma solução quasi-periódica com p freqüências-base é chamada p-periódica. Definição 16. Soluções caóticas Uma definição formal que seja amplamente aceita para soluções caóticas não existe. Do ponto de vista prático, uma solução caótica pode ser definida como um comportamento em um conjunto limite, base de um atrator que não é um ponto de equilíbrio, não é periódico e não é quasi-periódico. Definição 17. Trajetória Seja φ t (x o,t o ) a solução do sistema ẋ = f(x). Para qualquer t I R, o mapeamento φ(x o, ) : I R n, φ(x o, ) = φ (x o ) é denominado trajetória deste sistema passando por x(0) = x o. 4

R n φ(x o, ) u I φ (x o ) x o Figura 4: Ilustração de uma trajetória. Definição 18. Fluxo O mapeamento φ t : u R n, x u é denominado fluxo do sistema ẋ = f(x). Em outras palavras, fluxo é o conjunto de todas as soluções possíveis para o sistema, a partir de diferentes condições iniciais. R n φ t (u) u Figura 5: Ilustração de um fluxo. Definição 19. Ponto ω-limite Um ponto p é um ponto w-limite de x se existe uma vizinhança de p do tipo u = {φ t (x)} na trajetória de x tal que lim t φ t = p. Definição 20. Ponto α-limite Um ponto q é um ponto α-limite de x se existe uma vizinhança de q, u = {φ t (x)}, na trajetória de x, tal que lim t φ t = q. Definição 21. Conjuntos ω-limite e α-limite São os conjuntos que contêm todos os pontos ω-limite e α-limite, respectivamente, da trajetória. O conjunto ω-limite também é conhecido simplesmente por conjunto limite. 5

p p p Figura 6: Exemplos de pontos w-limite. q φ t α Figura 7: Exemplo de ponto α-limite. Definição 22. Conjunto atrativo Seja A(x) R n um conjunto fechado e invariante. Se existe uma vizinhança u de A tal que φ t (x) u, t 0 e lim t φ t (x) = A(x), x u, então A é dito um conjunto atrativo. Definição 23. Base ou bacia de atração O conjunto t 0 φ t(u) é a base de atração de A. Definição 24. Atrator Uma região compacta A é um atrator de um fluxo φ(t,x) se as quatro hipóteses a seguir valem: (a) A é invariante segundo φ; (b) A tem uma vizinhança contraente; (c) o fluxo é recorrente, isto é, trajetórias começando em qualquer subconjunto aberto de A voltam a este subconjunto para valores de t suficientemente longos; (d) o fluxo não pode ser decomposto, isto é, A não pode ser dividida em duas partes invariantes não triviais. Se o atrator contém uma órbita homoclínica transversa (definição 39) ele é dito atrator estranho. Definição 25. Estabilidade Um ponto x = x é dito estável se uma solução φ t (x o ) mantém-se próxima de x t 0, ou seja, se para toda vizinhança V de x u existir uma vizinhança V 1 V tal que toda solução φ t (x o ) com x o V 1 é definida e está contida em V, t > 0. Se lim t φ t (x o ) = x, então o ponto é dito assintoticamente estável. 6

V V V 1 x x V 1 x o x o (a) Estabilidade (b) Estabilidade assintótica Figura 8: Representação da estabilidade. Teorema 1. Teorema da estabilidade e estabilidade assintótica de Hirsh e Smale Seja x u um ponto de equilíbrio de ẋ = f(x), V : W R uma função diferenciável definida numa vizinhança W u de x tal que: (i) V (x ) = 0 e V (x) > 0 se x x ; e (ii) V (x) 0 no conjunto W {x }. Então x é estável. Além disto, se: (iii) V (x) < 0 no conjunto W {x }, então x é assintoticamente estável. Definição 26. Subespaços invariantes (a) Sistemas lineares Sejam dados a função f(x) = Ax, o fluxo fundamental φ t (x) = e At, e os autovetores de A, x j. (i) Subespaço estável de φ t (E s ) E s é o gerador de todos os n s autovetores x j cujos correspondentes autovalores possuam a parte real negativa. Trata-se de um subespaço de contração. (ii) Subespaço central de φ t (E c ) E c é o gerador de todos os n c autovetores x j cujos correspondentes autovalores possuam a parte real igual a zero. 7

E c E s E u Figura 9: Ilustração dos subespaços invariantes. (iii) Subespaço instável de φ t (E u ) E u é o gerador de todos os n u autovetores x j cujos correspondentes autovalores possuam a parte real positiva. Trata-se de um subespaço de expansão. (b) Sistemas não lineares Seja ẋ = f(x), x R n, x(0) = x o, sendo f : u R n um mapeamento suave definido numa vizinhança t ( c,c) de t = 0. Seja ainda φ l,t ( ) : R n R n um fluxo local obtido da equação dinâmica ξ = Df(x )ξ, onde: ξ M R n /M Mfold de R n ξ = x x Df(x ) : Jacobiano de f em x = x = [ fi x i] x=x Teorema 2. Teorema de Hartman - Grobman Se Df(x ) não tem autovalores nulos ou puramente imaginários, então existe um homeomorfismo h definido em alguma vizinhança u de x R n fazendo coincidir as trajetórias do fluxo não linear φ t com as do fluxo linear e Df(x )t. Este homeomorfismo preserva a orientação das trajetórias. Seja u a vizinhança do ponto de equilíbrio x. De forma análoga à definição de E s e E u, definem-se Wloc s (x ) e Wloc u (x ) do sistema não linear ẋ = f(x) Definição 27. Variedade localmente estável Define-se variedade localmente estável de x, W s loc (x ) como W s loc(x ) = {x u/φ t (x) x para t, e φ t (x) u t 0} 8

W s W u E s E u x h Figura 10: Ilustração do teorema de Hartman - Grobman. Definição 28. Variedade localmente instável Define-se variedade localmente instável de x, W u loc (x ) como W u loc(x ) = {x u/φ t (x) x para t, e φ t (x) u t 0} Definição 29. Variedade globalmente estável Define-se a variedade globalmente estável de W s como a superfície obtida a partir da evolução dos pontos de W s loc (x ) em tempo reverso, ou seja: W s (x ) = t 0 φ t [W s loc(x )] Definição 30. Variedade globalmente instável A variedade globalmente instável W u é definida como a superfície obtida a partir da evolução dos pontos de Wloc u em tempo direto, ou seja: W u (x ) = t 0 φ t [W u loc(x )] Teorema 3. Teorema da variedade estável para um ponto de equilíbrio Suponha que ẋ = f(x) tem um ponto de equilíbrio hiperbólico x (definição 36). Então existem variedades localmente estável e instável, Wloc s (x ) e Wloc u (x ), com as mesmas dimensões n s e n u dos subespaços E s e E u do sistema ξ = Df(x )ξ e são tangentes a E s e E u no ponto x. E s W u E u W s x Figura 11: Ilustração do teorema da superfície estável. 9

Definição 31. Perturbação de campo vetorial Sejam f(x) e g(x) dois campos vetoriais. O campo g(x) é uma perturbação de f(x) de tamanho ε real e positivo se: f(x) g(x) < ε x R n Definição 32. Equivalência topológica Dois campos vetoriais f e g (ou dois mapeamentos, f k e g k ) são topologicamente equivalentes se existir um homeomorfismo h tal que (a) Caso contínuo: h transforma o fluxo de f no fluxo de g. h(φ f t 1 (x)) = φ g t 2 (h(x)) (b) Caso discreto: h transforma o conjunto de órbitas de f em órbitas de g. hf k = g k h Definição 33. Estabilidade estrutural Um sistema é estruturalmente estável se campos vetoriais suficientemente próximos têm retratos de fase equivalentes. Assim, a estabilidade estrutural significa robustez de um ponto no espaço dos campos vetoriais, entendendo-se robustez como a propriedade que o sistema apresenta de reter as características qualitativas de sua dinâmica, relativamente a pequenas perturbações ou mudanças nas funções envolvidas na sua definição. 3 Transformações Pontuais Definição 34. Transformação pontual (caso linear) Seja φ t (x) o fluxo linear de ẋ = Ax, x R n e seja a matriz quadrada e At : R n R n, que é a matriz que mapeia o fluxo. Fixando um intervalo τ = t k, a matriz quadrada A D = e Aτ R n, com elementos constantes, gera um sistema dinâmico discreto a partir do fluxo, pela equação a diferenças x(k + 1) = A D x(k) x A D x Esta discretização pode ser no tempo, se τ é constante, e no espaço se h(x) é constante, onde h(x) R n 1 é um hiperplano de dimensão n 1. Definição 35. Transformação pontual (caso não linear) Seja φ t (x) o fluxo não linear de ẋ = f(x). Para um intervalo τ, a família de órbitas φ τ (x) mapeia o fluxo φ t em órbitas discretas pela equação a diferenças x(k + 1) = φ τ (x(k)) x φ τ (x) 10

e Aτ trajetória fluxo φ t 0 (x o ) A D {x(k)} k=0, fluxo discreto x(k) = x(kτ) órbita Figura 12: Ilustração da transformação pontual. Definição 36. Pontos de equilíbrio hiperbólicos Se Df(x ) tem autovalores todos com Re(λ j ) 0, então x é dito hiperbólico. Caso contrário, o ponto de equilíbrio é dito degenerado. Definição 37. Pontos homoclínicos e trajetórias homoclínicas Sejam W u (x ) e W s (x ) as variedades de f(x) e sejam p i pontos do fluxo φ t (x) que satisfazem p i x e p i W u (x ) W s (x ) p i são denominados pontos homoclínicos e o conjunto dos pontos homoclínicos forma uma trajetória homoclínica. Observações: (a) Sejam v u t (p i ) versores tangentes a W u (x ) em p i e v s t(p i ) versores tangentes a W s (x ) em p i. Então: (i) se < v u t (p i ),v s t(p i ) > = 1, p i é um ponto homoclínico não transverso. W u (x ) trajetória homoclínica x p i ponto homoclínico não transverso W s (x ) v u t (p i) v s t (p i) Figura 13: Ilustração de um ponto homoclínico não transverso. (ii) se < v u t (p i ),v s t(p i ) > 1, p i é um ponto homoclínico transverso. (b) Sistemas que contêm pontos homoclínicos transversos possuem dinâmica complexa, e podem apresentar comportamento caótico. 11

W u (x ) trajetória homoclínica x W s (x ) v s t (p i) p i ponto homoclínico transverso v u t (p i) Figura 14: Ilustração de um ponto homoclínico transverso. (c) Sistemas contínuos de dimensão n 2 não contêm pontos homoclínicos transversos. Portanto, nunca são caóticos. Definição 38. Trajetórias heteroclínicas Sejam x i e x 2 dois pontos de equilíbrio de f(x). O conjunto de todos os pontos p i tal que: p i W u (x 1) W s (x 1) ou p i W u (x 2) W s (x 2) forma uma trajetória denominada heteroclínica. x 2 x 1 trajetória heteroclínica Figura 15: Ilustração de uma trajetória heteroclínica. Definição 39. Órbitas homoclínicas Seja x um ponto fixo hiperbólico não estável do difeomorfismo φ k τ(x). Então, se W u (x ) W s (x ) = p x, a órbita {x(k)} k=k 1 que passa por p é dita homoclínica (figura 16). p x W u (x ) W s (x ) Figura 16: Ilustração de uma órbita homoclínica. Se a órbita homoclínica possui pontos homoclínicos transversos, ela é dita órbita homoclínica transversa (figura 17). 12

W u (x ) x W s (x ) Figura 17: Ilustração de uma órbita homoclínica transversa. 4 Estabilidade dos Conjuntos Limites Definição 40. Multiplicadores característicos Seja a equação a diferenças δx k+1 = DP(x )δx k a linearização de um mapa P no ponto de equilíbrio x. Seja p a dimensão do mapa de Poincaré, onde p = n para sistemas não autônomos e p = n 1 para sistemas autônomos. Sejam m i C os autovalores de DP(x ), cujos autovetores são η i C n, i = 1,...,p. Os autovalores {m i } são chamados de multiplicadores característicos de uma solução periódica. Definição 41. Equação variacional Seja o sistema de n-ésima ordem com solução φ t (x o,t o ), ou seja, Derivando-se (6) em relação a x o, tem-se ẋ = f(x,t), x(t o ) = x o (5) φ t (x o,t o ) = f(φ t (x o,t o ),t), φ to (x o,t o ) = x o (6) D xo φt (x o,t o ) = D xo f(φ t (x o,t o ),t)d xo φ t (x o,t o ), D xo φ to (x o,t o ) = I. (7) Definindo-se Φ t (x o,t o ) = D xo φ t (x o,t o ) e substituindo-se em 7, tem-se Φ t (x o,t o ) = D x f(φ t (x o,t o ),t)φ t (x o,t o ), Φ to (x o,t o ) = I (8) A equação (8) é a equação variacional. É importante observar que uma das aplicações da equação variacional é no cálculo dos expoentes de Lyapunov. É bom destacar aqui que a utilização da equação variacional pressupõe que o sistema seja continuamente diferenciável, o que inviabiliza sua aplicação para casos em que existam descontinuidades no sistema. 13

Definição 42. Expoentes de Lyapunov (a) Sistemas contínuos: Seja qualquer condição inicial x o R n. Sejam m 1 (t),m 2 (t),...,m n (t) os autovalores da matriz de transição de estado Φ t (x o ). Os expoentes de Lyapunov de x o são 1 λ i = lim t t ln m i(t), i = 1,...,n sempre que o limite existir. (b) Sistemas discretos: Para uma dada condição inicial x o, seja {x k } k=0 a órbita de um sistema discreto P de ordem p. Assim sendo, x(k + 1) = P(x(k)). Sejam ainda m 1 (k),...,m p (k) os autovalores de DP k (x o ). Os números de Lyapunov são dados por ˆm i = lim k m i (k) 1 k, i = 1,...,p sempre que o limite existir. Definição 43. Números de rotação Os números de rotação de uma dada trajetória são uma medida do deslocamento angular médio associada a esta trajetória. O número de rotação de uma determinada trajetória é dado por 1 W = lim N 2πN N (θ j+1 θ j ) O cálculo de W para uma trajetória pode levar a três resultados distintos: (i) Se a série convergir para um número racional, a trajetória é periódica; (ii) Se a série convergir para um número irracional, a trajetória é quasi-periódica; j=0 (iii) Se a série não convergir, a trajetória é caótica. Definição 44. Dimensões dos atratores O conceito de dimensão é normalmente associado com dimensão euclidiana, onde um conjunto finito de pontos tem dimensão zero, uma linha tem dimensão um, um plano tem dimensão dois e assim por diante. Entretanto, a partir do conceito de atrator estranho existe a possibilidade da construção de estruturas geométricas complexas, cujas dimensões são não inteiras. A seguir definem-se alguns tipos de dimensões utilizados na caracterização de sistemas. 14

(a) Dimensão de capacidade: Usa como medida uma distância, um plano ou um volume. Seja A um subconjunto limitado do R n (atrator), com volume V A e volume elementar V i de diâmetro ε muito pequeno. Seja N(ε) o número destes volumes elementares contidos em V A, ou seja, N(ε) V i = V A N(ε)V i = V A i=0 Chamando D de dimensão do atrator, normalizando o volume (V A = 1), e ainda fazendo V i = constante = ε D, tem-se: Aplicando-se o limite para ε 0, tem-se: A dimensão de capacidade é definida como N(ε) = 1 ln N(ε) = ln εd εd lim ln N(ε) = lim ln 1 ε 0 ε 0 ε D D cap = ln N(ε) ln 1 ε (9) (b) Dimensão de informação: Leva em conta não somente o determinismo empregado como no caso anterior, mas também a probabilidade de um elemento de volume ser visitado pela trajetória φ t. A V i φ t onde D I = lim ε 0 S(ε) ln 1 ε N(ε) S(ε) = P i ln 1 P i i=1 e P i é a freqüência de retorno de φ t a V i. (10) (c) Dimensão de correlação: Leva em conta a probabilidade de dois pontos quaisquer x i e x j em V A pertencerem ao mesmo elemento de volume. x i x j P(x i,x j ) = P(x i )P(x j ) P(x i ) = P(x j ) P(x i,x j ) = P 2 i Sendo C(ε) a probabilidade de dois pontos quaisquer x i e x j estarem em um mesmo volume elementar qualquer de V A, B ε (x i ) 15

A V i φ t d C(ε) = P[x i,x j B ε (x 1 )] + P[x i,x j B ε (x 2 )]+ + + P[x i,x j B ε (x N(ε) )] N(ε) C(ε) = o que é equivalente a dizer que C(ε) é a probabilidade de que dois pontos x i e x j estejam a uma distância menor que ε x i x j < ε. A dimensão de correlação é dada por: i=1 P 2 i D c = lim ε 0 ln C(ε) ln ε (11) (d) Dimensão de Lyapunov: Sejam ˆλ 1 ˆλ 2 ˆλ n os expoentes de Lyapunov de um atrator f(x) = ẋ. Seja j o maior inteiro tal que ˆλ 1 + ˆλ 2 + + ˆλ j 0. A dimensão de Lyapunov é definida por D L = j + ˆλ 1 + ˆλ 2 + + ˆλ j ˆλ j+1 A partir desta equação, pode-se fazer a seguinte análise: Para um ponto de equilíbrio assintoticamente estável, ˆλ i < 0 D L = 0 (12) Em um ciclo limite, ˆλ 1 = 0, ˆλ j < 0, j 2 D L = 1 Para sistemas caóticos, que têm ordem da equação diferencial no mínimo igual a três, ˆλ 1 > 0, ˆλ 2 = 0, ˆλ j < 0 D L = 2 + λ 1 λ 3 Como o atrator é limitado, tem-se que ˆλi < 0. Logo, λ 3 > λ 1 λ 1 λ 3 < 1 2 < D L < 3 Definição 45. Bifurcação Seja a equação (13) a representação de um sistema dinâmico contínuo de ordem n. ẋ = f(x) (13) 16

Qualquer sistema dinâmico do tipo mostrado pela equação (13) que descreva um sistema real depende de um ou mais parâmetros, cujas variações influenciam no seu comportamento. Assim sendo, pode-se estudar o comportamento deste sistema como função dos valores assumidos por determinado parâmetro, ou seja, ẋ = f(x,µ) (14) onde µ R é o parâmetro do sistema cuja influência deseja-se verificar. Normalmente, uma pequena perturbação em µ tem como conseqüência uma pequena mudança quantitativa no conjunto limite da solução de (14). Como exemplo, pode-se citar uma pequena mudança da posição deste conjunto limite ou, em não se tratando de um ponto de equilíbrio, uma mudança em sua forma ou tamanho. Nestes casos, diz-se que o sistema é estruturalmente estável, ou seja, para qualquer perturbação suficientemente pequena das equações que o definem, tem-se como resultado um fluxo que é topologicamente equivalente ao associado ao sistema sem a perturbação. Entretanto, existe também a possibilidade de que esta pequena perturbação em µ possa provocar uma mudança qualitativa no conjunto limite do sistema. Esta mudança qualitativa chama-se bifurcação, e o valor de µ para o qual a bifurcação ocorreu é chamado de valor de bifurcação. Esta mudança qualitativa ocorre quando o sistema é estruturalmente instável. Desta forma, o conjunto de valores de bifurcação é o conjunto de valores de parâmetros para os quais o sistema é estruturalmente instável. Como exemplos de bifurcação podem ser citadas a criação ou desaparecimento de um conjunto limite, a mudança no tipo de estabilidade ou mesmo a permanência na mesma situação de estabilidade com mudança no período do sistema. A visualização do comportamento do sistema em função da variação do parâmetro µ pode ser feita através dos chamados mapas de bifurcação ou diagramas de bifurcação, cuja construção será tratada neste apêndice. Mostram-se, a seguir, os tipos de bifurcação mais simples, considerando-se exemplos de equações dinâmicas também bastante simples. (i) Bifurcação Sela-Nó: Seja a equação ẋ = f(x,µ) = µ x 2 (15) Uma análise direta da equação 15 mostra que somente existe solução para µ 0. O estudo da estabilidade, então, reduz-se à verificação do sinal da derivada de f(x,µ) em relação a x calculada nos pontos de equilíbrio. Os pontos de equilíbrio são calculados por: ẋ = f(x,µ) = µ x 2 = 0 x = 17 [ + µ µ ]

Fazendo-se a análise da estabilidade df(x,µ) dx = 2x x=+ µ = 2 µ < 0 equilíbrio estável x=+ µ e df(x,µ) dx = 2x x= µ = 2 µ > 0 equilíbrio instável x= µ O resultado desta análise de estabilidade pode ser visto na figura 18. O equilíbrio estável é um nó e o equilíbrio instável é um ponto de sela hiperbólico. A bifurcação associada é denominada bifurcação sela-nó. x nó (estável) 0 sela (instável) 0 µ Figura 18: Bifurcação do tipo sela-nó. (ii) Bifurcação Transcrítica: Considere a equação 16 a seguir. ẋ = f(x,µ) = µx + x 2 (16) Os pontos de equilíbrio desta equação são calculados por: [ ] 0 f(x,µ) = µx + x 2 = 0 x = µ Fazendo-se a análise de estabilidade, tem-se: df(x,µ) dx = 2x + µ x=0 = µ x=0 18 { µ 0 equilíbrio instável µ < 0 equilíbrio estável

df(x,µ) dx = 2x + µ x= µ = µ x= µ { µ > 0 equilíbrio estável µ 0 equilíbrio instável O resultado desta análise pode ser visto na figura 19. Pode-se perceber que há uma troca de estabilidade quando o parâmetro de controle passa por µ = 0. Esta bifurcação é chamada de bifurcação transcrítica. instável x instável estável µ estável Figura 19: Bifurcação do tipo transcrítica. (iii) Bifurcação tipo forquilha: Este tipo de bifurcação pode ser subdividido em dois tipos: supercrítica e subcrítica. Supercrítica: Seja a equação Os pontos de equilíbrio são dados por: ẋ = f(x,µ) = µx x 3 (17) f(x,µ) = µx x 3 = 0 x = 0 + µ µ Note que os dois últimos pontos de equilíbrio (± µ) somente existem para valores de µ > 0. A análise de estabilidade é feita da seguinte forma: df(x,µ) dx = µ 3x 2 x=0 = µ x=0 { µ > 0 equilíbrio instável µ 0 equilíbrio estável df(x,µ) dx = µ 3x 2 x=+ µ = 2µ x=+ µ { µ 0 equilíbrio estável µ < 0 não existe 19

df(x,µ) dx = µ 3x 2 x= µ = 2µ x= µ { µ 0 equilíbrio estável µ < 0 não existe O resultado desta análise pode ser visto na figura 20. Pode-se perceber que existe uma bifurcação na forma de uma forquilha, daí o nome bifurcação supercrítica tipo forquilha. x estável estável instável µ estável Subcrítica: Seja a equação Figura 20: Bifurcação tipo forquilha supercrítica. Os pontos de equilíbrio são dados por: ẋ = f(x,µ) = µx + x 3 (18) f(x,µ) = µx + x 3 = 0 x = 0 + µ µ Note que os dois últimos pontos de equilíbrio (± µ) somente existem para valores de µ < 0. A análise de estabilidade é feita da seguinte forma: df(x,µ) dx = µ + 3x 2 x=0 = µ x=0 { µ > 0 equilíbrio instável µ 0 equilíbrio estável df(x,µ) dx df(x,µ) dx = µ + 3x 2 x=+ µ = 2µ x=+ µ = µ + 3x 2 x= µ = 2µ x= µ { µ > 0 não existe µ 0 equilíbrio instável { µ > 0 não existe µ 0 equilíbrio instável 20

instável x estável instável µ instável Figura 21: Bifurcação tipo forquilha subcrítica. O resultado desta análise pode ser visto na figura 21. Pode-se perceber que também existe uma bifurcação na forma de uma forquilha, cujo nome é bifurcação subcrítica tipo forquilha. (iv) Bifurcação de Hopf ou Poincaré-Andronov: Seja o seguinte sistema de equações diferenciais f(x,µ) = [ ẋ1 ẋ 2 ] = [ x2 x 1 (x 2 1 + x 2 2 µ) x 1 x 2 (x 2 1 + x 2 2 µ) ] (19) Os pontos de equilíbrio são dados por: (x 2 1 + x 2 2)(x 2 1 + x 2 2 µ) = 0 x 2 1 + x 2 2 = 0 P 1 = x 2 1 + x 2 2 µ = 0 x 2 1 + x 2 2 = µ {P 2 } [ 0 0 ] Para simplicidade de cálculo, uma transformação de coordenadas cartesianas para coordenadas polares resulta em um sistema cuja equação é: obtida fazendo-se x 1 = rcos(θ) e x 2 = rsen(θ). Os pontos de equilíbrio da equação (20) são dados por: f(r) = ṙ = rµ r 3 (20) rµ r 3 = 0 r(µ r 2 ) = 0 r = 0 + µ µ onde os últimos dois valores (± µ) somente existem para µ 0. 21

A análise de estabilidade é feita através da análise do sinal da derivada nos pontos de equilíbrio, ou seja, { df(r) µ > 0 equilíbrio instável dr = µ 3r 2 r=0 = µ r=0 µ 0 equilíbrio estável df(r) dr df(r) dr = µ 3r 2 r=+ µ = 2µ r=+ µ = µ 3r 2 r= µ = 2µ r= µ { µ < 0 não existe µ 0 equilíbrio estável { µ < 0 não existe µ 0 equilíbrio estável O resultado desta análise pode ser visto na figura 22. Pode-se perceber que em µ = 0 há troca de estabilidade, passando-se de um equilíbrio estável para um ciclo limite estável, o qual envolve o equilíbrio instável para µ > 0. Esta bifurcação de equilíbrio estável para oscilação periódica é chamada bifurcação de Hopf. x 2 x 1 estável estável instável µ Figura 22: Bifurcação de Hopf. (v) Bifurcação Homoclínica: Considere o seguinte sistema de equações: [ f(x 1,x 2,µ) = x 2 x 1 + µx 2 x 2 1 ] (21) Para o sistema representado pela equação(21), tem-se os seguintes pontos de equilíbrio: x 2 = 0 x 1 + µx 2 x 1 2 = 0 x 1(1 x 1) = 0 x 1 = 0 ou x 1 = 1 ou seja: P 1 = [ 0 0 ] 22 e P 2 = [ 1 0 ]

A matriz jacobiana de f(x 1,x 2,µ) é dada por: f 1 f 1 x 1 x 2 J = Df(x 1,x 2,µ) = f 2 f 2 x 1 x 2 [ = 0 1 1 2x 1 µ ] Para os pontos de equilíbrio P 1 e P 2, tem-se: [ ] 0 1 Df(P 1 ) = e Df(P 1 µ 2 ) = cujos autovalores são dados por: (a) Para P 1 : [ 0 1 1 µ λ(λ µ) 1 = 0 λ 2 µλ 1 = 0 λ = µ 2 ± µ2 + 4 2 Note que estes autovalores serão sempre reais, independentemente do valor de µ. (b) Para P 2 : λ(λ µ) + 1 = 0 λ 2 µλ + 1 = 0 λ = µ 2 ± µ2 4 2 Neste caso, os autovalores poderão ser números complexos, dependentes do valor de µ. Portanto, fazendo-se uma análise de estabilidade levando-se em consideração a variação do parâmetro µ, chega-se aos seguintes resultados: (a) Para µ = 0 P 1 λ 1 = +1 ; λ 2 = 1 sela P 2 λ 1 = +j ; λ 2 = j ciclo limite em torno de P 2 A figura 23 mostra o resultado desta análise. (b) Para µ < 0 P 1 λ 1 > 0 ; λ 2 < 0 sela µ 2 < 4 λ 1,2 = µ 4 µ 2 ± j 2 Assintoticamente estável 2 P 2 espiral sub-amortecida. µ 2 > 4 λ 1,2 < 0 Assintoticamente estável amortecido. A figura 24 mostra o resultado desta análise. 23 ]

x 2 1 x 1 Figura 23: Bifurcação homoclínica para µ = 0. x 2 1 x 1 Figura 24: Bifurcação homoclínica para µ < 0. (c) Para µ > 0 P 1 λ 1 > 0 ; λ 2 < 0 sela P 2 µ 2 < 4 λ 1,2 = µ 4 µ 2 ± j 2 Instável na forma espiral. 2 µ 2 > 4 λ 1,2 > 0 Instável. A figura 25 mostra o resultado desta análise. 24

x 2 1 x 1 Figura 25: Bifurcação homoclínica para µ > 0. 25