Susceptibilidade aos antibióticos de bactérias responsáveis por cistites não complicadas: estudo comparativo dos isolados de 2008 e 2010

Documentos relacionados
Bactérias uropatogénicas identificadas de cistites não complicadas de mulheres na comunidade

SUSCEPTIBILIDADE DOS AGENTES DE INFECÇÃO URINÁRIA AOS ANTIMICROBIANOS

Infeções do trato urinário na rede médicos sentinela dados preliminares de 2016

Infecções urinárias na comunidade: estudo multicêntrico. Urinary infections in community: multicenter study ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE

RELATÓRIO CUMULATIVO DA SUSCETIBILIDADE DOS AGENTES DE INFEÇÃO URINÁRIA AOS ANTIMICROBIANOS

RELATÓRIO CUMULATIVO DA SUSCETIBILIDADE DOS AGENTES DE INFEÇÃO URINÁRIA AOS ANTIMICROBIANOS

O problema das resistências aos antimicrobianos em Portugal: causas e soluções

Monitorização Epidemiológica numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais

Infecções por microrganismos multirresistentes Hospital / Comunidade José Artur Paiva

RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMOSTRAS DE CÃES E GATOS ATENDIDOS EM HOSPITAL VETERINÁRIO

A Microbiologia no controlo das IACS. Valquíria Alves Coimbra 2014

INFECÇÃO URINÁRIA EM ADULTO

Avaliação do Perfil de Sensibilidade aos Antibióticos na Infeção Urinária da Comunidade

Prevalence and bacterial susceptibility of urinary tract infections in renal transplant patients attended in a school laboratory from 2011 to 2016.

Infecção do Trato Urinário (ITU) - uma das doenças infecciosas + frequentes no ser humano Afecta:

COMPARAÇÃO DE AGENTES INFECCIOSOS DO TRATO URINÁRIO DE PACIENTES AMBULATORIAIS VERSUS PACIENTES HOSPITALIZADOS

CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: BIOMEDICINA INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VÁRZEA GRANDE

Antibiograma em controlo de infecção e resistências antimicrobianas. Valquíria Alves 2015

Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar Hospital Universitário Clementino Fraga Filho Universidade Federal do Rio de Janeiro

INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO

Prevenção e controlo de infeção e de resistências a antimicrobianos

Evolução de Resistências e Carta microbiológica 2018

TÍTULO: INCIDÊNCIA DE INFECÇÃO URINÁRIA ENTRE HOMENS E MULHERES NO MUNICÍPIO DE AGUAÍ EM PACIENTES QUE UTILIZAM O SUS

Módulo 1 INFEÇÕES URINÁRIAS: RECOMENDAÇÕES E NOC DGS ABORDAGEM DE PATOLOGIAS UROLÓGICAS FREQUENTES NA URGÊNCIA DE MGF: INFEÇÕES URINÁRIAS

INFECÇÕES URINÁRIAS REGISTRADAS EM UM LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS DO SERTÃO PARAIBANO.

Infecções do trato urinário em pacientes não hospitalizados: etiologia e padrão de resistência aos antimicrobianos

Caracterização molecular de Enterococcus spp. resistentes à vancomicina em amostras clínicas, ambientes aquáticos e alimentos

Escherichia coli. Escherichia coli ARTIGO ORIGINAL

PALAVRAS-CHAVE Cistite. Extensão comunitária. Infecções urinárias. Pielonefrite.

Vigilância Epidemiológica da Infecção Resultados de Inquéritos de Prevalência num Hospital Pediátrico

Matheus Henrique Bragança Duarte 1 Isabella Gois Fontenele 2 Cássio Antonio Lanfredi dos Santos 3 INTRODUÇÃO METODOLOGIA

PROGRAMA NACIONAL DE PREVENÇÃO DE RESISTÊNCIAS AOS ANTIMICROBIANOS

10 ANOS DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA INFEÇÃO NOSOCOMIAL DA CORRENTE SANGUÍNEA ADRIANA RIBEIRO LUIS MIRANDA MARTA SILVA

O Controlo de Infeção em Cuidados Continuados Integrados. Constança Carneiro

PREVALÊNCIA BACTERIANA NAS INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO

Consumo de carbapenemes no hospital, , em DDD / 1000 hab. / dia

Mortalidade e Morbilidade das I.A.C.S. em Portugal

OCORRÊNCIA DE INFECÇÃO URINÁRIA EM PACIENTES DE UTI (UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA)

Prevalência de uropatógenos e sensibilidade antimicrobiana em uroculturas de gestantes do Sul do Brasil

PERFIL DE SENSIBILIDADE DE AGENTES CAUSADORES DE MASTITE BOVINA NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Infecção multirresistente em Urologia

O Programa Nacional de Prevenção e Controlo de Infeção e de Resistência aos Antimicrobianos Equipa do Programa:

PADRÃO DA MICROBIOTA EM UROCULTURAS DAS GESTANTES DO HOSPITAL SANTO ANTÔNIO DE BLUMENAU E OS PADRÕES DE SENSIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS

Prevalence and bacterial susceptibility of community acquired urinary tract infection in University Hospital of Brasília, 2001 to 2005 ARTIGO-ARTICLE

PRESCRIÇÃO DE QUINOLONAS

Diagnóstico bacteriológico de diversas patologias de cães e gatos e verificação da suscetibilidade a antimicrobianos

TÍTULO: PERFIL DE SENSIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS DE BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES ENCONTRADAS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ONCOLÓGICA

Doripenem, o novo agente na pneumonia nosocomial PERFIL DE SUSCEPTIBILIDADE AOS BACILOS GRAM NEGATIVO MAIS PREVALENTES

Relatório da VE-INCS PROGRAMA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA INFEÇÕES NOSOCOMIAIS DA CORRENTE SANGUÍNEA RELATÓRIO DADOS DE 2013

Escherichia coli Uropatogénica: Resistência aos Antibióticos Versus Factores de Virulência

30 de Abril 5ª feira. Manuel Ferreira Gomes 1 Tiago Marques 2. Serviço de Medicina 1, Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte EPE

31º episódio Podcast Urologia. Infecção Urinária e Tratamentos

TÍTULO: PREVALÊNCIA DE MICRORGANISMOS E PERFIL DE SUSCEPTIBILIDADE ANTIMICROBIANA EM UROCULTURAS POSITIVAS DO LABORATÓRIO EVANGÉLICO DE ANÁPOLIS

3/23/17. n_antibiotics_don_t_work_any_more?language=en

Moniz S. 1, Silva A.R. 1, Correia C. 1, Torrinha A. 1, Pereira A.M. 1, Amorim J. 1 ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR

MÚLTIPLA RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS ISOLADAS DE MÃO PELADA (Procyon cancrivorus, CUVIER, 1798)

Importância da Utilização de Metodologias para a Detecção de ESBL em Espécies de Enterobactérias

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO: PREVALÊNCIA E PERFIL DE SENSIBILIDADE BACTERIANA EM PACIENTES AMBULATORIAIS

PADRÃO DE SENSIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS DE ENTEROBACTERIACEAE ISOLADAS NO HOSPITAL CENTRAL DE MAPUTO, MOÇAMBIQUE

Infecção do Trato Urinário

Infecções por Gram Positivos multirresistentes em Pediatria

PAPA EM REDE: PROGRAMA DE APOIO À PRESCRIÇÃO NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

Cadernos da Escola de Saúde

GCPPCIRA SESARAM, EPE

O papel do Laboratório de Microbiologia na Prevenção e Controlo das Infeções associadas aos Cuidados de Saúde

Portugal Controlo da Infeção e Resistências aos Antimicrobianos em números 2013

Nitrofurantoína Prof. Luiz Antônio Ranzeiro Bragança Denis Rangel Monitor de Farmacologia Niterói, RJ 2º semestre de 2016

PERFIL DE RESISTÊNCIA A ANTIMICROBIANOS EM PACIENTES ATENDIDOS EM UM LABORATÓRIO PRIVADO NO MUNICÍPIO DE SANTA INÊS-MA

EMERGÊNCIA DE Salmonella RESISTENTE A QUINOLONAS NO ESTADO DE SÃO PAULO

PALAVRAS-CHAVE: Klebsilella. Enzima KPC. Superbactéria KCP.

RESISTÊNCIA nas BACTÉRIAS GRAM NEGATIVO M. HELENA RAMOS CHP

Infecções comunitárias do trato urinário: prevalência e susceptibilidade aos antimicrobianos na cidade de Florianópolis

ANTIBIOTERAPIA ORAL CRÓNICA: UMA PRÁTICA COMUM?

ANTIMICROBIAL SUSCEPTIBILTY OF URINE CULTURE BACTERIAL ISOLATES FROM A TEACHING HOSPITAL IN BRAZIL

[RELATÓRIO REGIONAL DA NOTIFICAÇÃO DE MICRORGANISMOS EPIDEMIOLOGICAMENTE SIGNIFICATIVOS]

ESTUDO DA PATOLOGIA INFECIOSA BACTERIANA NUMA UNIDADE HOSPITALAR DE CONVALESCENÇA, CUIDADOS GERIÁTRICOS E PALIATIVOS

Tratamento da ITU na Infância

Marcelo Hisano. Análise comparativa dos achados clínicos e laboratoriais das infecções não complicadas do trato urinário em mulheres

Osistema urinário normalmente contém poucos micróbios,

1 Centro Universitário do Maranhão- UNICEUMA, São Luis, MA, Brasil 2 Estudante de enfermagem do UNICEUMA 3 Universidade Federal do Maranhão

Avaliação das metodologias M.I.C.E., Etest e microdiluição em caldo para determinação da CIM em isolados clínicos

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS INFEÇÕES NOSOCOMIAIS DA CORRENTE SANGUÍNEA

LEVANTAMENTO EPIDEMIOLÓGICO DE INFECÇÃO POR ACINETOBACTER SPP EM AMOSTRAS DE HEMOCULTURAS DE UM LABORATÓRIO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

INFECÇÃO DE VIAS URINARIAS NA COM UNIDADE DE RIBEIRÃO PRETO - SP: ETIOLOGIA, SENSIBILIDADE BACTERIANA A ANTIMICROBIANOS E IMPLICAÇÕES TERAPÊUTICAS

Infecções do Local Cirúrgico em Portugal Ana Cristina Costa

EVOLUÇÃO DO CONSUMO DE ANTIBIÓTICOS EM AMBULATÓRIO NO ALGARVE

PERFIL DE SENSIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS DAS BACTÉRIAS ISOLADAS DE INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO EM NATAL RN

PREVALÊNCIA DE INFECÇÃO URINÁRIA EM GESTANTES ATENDIDAS NO LABORATÓRIO MUNICIPAL DE ANÁLISES CLÍNICAS DO MUNÍCIPIO BAGÉ-RS

Antibióticos. O impacto causado pelo mau uso no desenvolvimento de resistência bacteriana. Caio Roberto Salvino

Prevalência e sensibilidade de microrganismos isolados em uroculturas no Espirito Santo, Brasil

XI Jornadas Nacionais de Infecciologia Pediátrica Aveiro, 7 9 de Maio de 2009

GENOMAS PROCARIOTOS PARTE 2

Avaliação do impacto clínico da infecção do líquido ascítico por bactéricas multiresistentes

Terapia Antimicrobiana para Infecções por K. pneumoniae produtora de carbapenemase Proposta da Disciplina de Infectologia UNIFESP

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO

Revista Paulista de Pediatria ISSN: Sociedade de Pediatria de São Paulo Brasil

IDENTIFICAÇÃO E SUSCEPTIBILIDADE BACTERIANA DE UMA UNIDADE HOSPITALAR PÚBLICA

Orientações Programáticas

Identificação e prevalência de bactérias causadoras de infecções urinárias em nível ambulatorial

Transcrição:

Susceptibilidade aos antibióticos de bactérias responsáveis por cistites não complicadas: estudo comparativo dos isolados de 2008 e 2010 Antibiotic susceptibility of bacteria responsible for uncomplicated cystitis: comparative study of isolates from 2008 and 2010 Autores: Ana Narciso 1, Filipa Fonseca 1, Sofia Arriaga Cerqueira 1, Aida Duarte 1 Instituições: 1 Laboratório de Microbiologia, Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa Correspondência: Aida Duarte Av. Prof. Gama Pinto; 1649-003 Lisboa Portugal E-mail: aduarte@ff.ul.pt Data de Submissão: 8 de Fevereiro de 2010 Data de Aceitação: 28 de Março de 2011 Resumo Objectivos: O objectivo deste estudo consistiu em avaliar a evolução da resistência aos antibióticos usados no tratamento de infecções urinárias, em bactérias isoladas de urinas de mulheres com cistites não complicadas na comunidade. Material e Métodos: Foram estudadas 577 estirpes isoladas de urinas de mulheres com infecções urinárias não complicadas e provenientes de 10 Laboratórios de Análises Clínicas situados em diferentes regiões de Portugal. O estudo da susceptibilidade aos antibióticos foi efectuado para amoxicilina, amoxicilina/ácido clavulânico, ciprofloxacina, cefuroxima, fosfomicina, nitrofurantoína e trimetropim/sulfametoxazol. Resultados: Entre as bactérias Gram negativas a Escherichia coli (E. coli) foi identificada em maior número de amostras (75,9%, n=438), seguida da Klebsiella spp. (8,7%, n=50) e do Proteus spp. (4,2%, n=24). Nas bactérias Gram positivas o Staphylococcus saprophyticus foi identificado em 2,6% (n=15) enquanto o Enterococcus faecalis foi encontrado em 2,7% (n=16) das urinas. O grupo etário com maior número de infecções foi entre os 71 e os 80 anos, diferente de 2008, em que o pico de infecções se situou entre os 21 e os 30 anos. Quando se comparou o perfil de susceptibilidade aos antibióticos dos isolados de E. coli de 2010 com os de 2008 verificou-se, com excepção da cefuroxima, um aumento da resistência à amoxicilina (44,8%), trimetropim/sulfametoxazol (26,1%) e ciprofloxacina (16,1%). Para os restantes antibióticos nitrofurantoína, amoxicilina/ácido clavulânico, cefuroxima e fosfomicina os valores variaram entre 3,3% e 0,9%, respectivamente. Conclusões: Dado que a resistência dos isolados na comunidade apresenta uma tendência para aumentar, é necessário a monitorização constante e a vigilância epidemiológica dos isolados de cistites não complicadas, de modo a evitar não só a selecção de estirpes resistentes, mas também a disseminação dessas estirpes na comunidade. Palavras-Chave: Cistite não complicada, resistência aos antibióticos, evolução. Abstract Objectives: The purpose of this study was to evaluate the evolution of the susceptibility to the antibiotics more frequently used in the treatment of urinary infections, in bacteria isolated from urine samples from women with uncomplicated cystitis in the community. Material and Methods: From the urine samples of women with uncomplicated urinary infections, 577 strains were studied, which came from 10 Clinical Analysis Laboratories situated in different Portugal regions. The study of antibiotic susceptibility was done for amoxicilin, amoxicilin/clavulanic acid, ciprofloxacin, cefuroxime, fosfomycin, nitrofurantoine and trimetropim/sulfametoxazol. Results: Between Gram negative bacteria Escherichia coli (E. coli) was identified on a larger number of samples (75,9%, n=438), followed by Klebsiella spp. (8,7%, n=50) and Proteus spp. (4,2%, n=24). Gram positive bacteria, Staphylococcus saprophyticus was identified in 2,6% (n=15) while Enterococcus faecalis was found in 2,7% (n=16) of the urine samples. The age group with the highest 16

number of infections was between 71 and 80 years, different from 2008, in which the peak of infections was between 21 and 30 years. When comparing the antibiotic susceptibility profile of isolates of E. coli from 2010 with the 2008 we found, with the exception of cefuroxime, an increase of the resistance of strains to amoxicillin (44,8%), trimetropim/sulfametoxazol (26,1%) and ciprofloxacin (16,1%). For all other antibiotics nitrofurantoine, amoxicillin/ clavulanic, cefuroxime and fosfomycine values varied between 3,3% and 0,9%, respectively. Conclusions: Since the resistance of isolates in the community shows a tendency to increase, it is necessary a constant monitoring and epidemiological surveillance of isolates from uncomplicated cystitis, so as to avoid not only the selection of resistant strains, but also the dissemination of these strains in the community. Keywords: Uncomplicated cystitis, antibiotic resistance, evolution. Introdução As infecções do tracto urinário (ITUs) são as infecções bacterianas mais prevalentes, tanto no meio hospitalar como na comunidade. As ITUs são consideradas infecções não complicadas quando ocorrem em indivíduos com o tracto urinário no seu estado normal tanto do ponto de vista estrutural como funcional. Estas infecções estão associadas a morbilidades significativas, que podem atingir uma média de 6,1 dias de sintomas, 2,4 dias de actividade restrita e 0,4 dias de dias acamados 1. No entanto, podem também ocorrer ITUs não complicadas em grávidas, idosos (em que este tipo de infecções representam 25% do total de infecções em populações não institucionalizadas), doentes com diabetes e indivíduos com síndromes imunológicos ou com problemas urológicos prévios 2,3. O agente etiológico mais frequentemente associado a ITUs é Escherichia coli (E. coli), sendo responsável por cerca de 70 a 90% do total de casos. A tendência mundial aponta como o segundo agente mais frequente o Staphylococcus saprophyticus. Ocasionalmente, outras bactérias da família das Enterobacteriaceae são também isoladas, como Klebsiella pneumoniae ou Proteus mirabilis 4-7. A resistência aos antibióticos nestas bactérias tem aumentado significativamente nos últimos anos. Portugal tinha em 2008, de acordo com o European Antibiotic Resistance Surveillance System (EARSS), uma das taxas de E. coli resistentes às quinolonas mais elevadas da Europa (29%). O aumento da resistência às quinolonas está também associado a uma resistência cruzada a outras classes de antibióticos, nomeadamente β-lactâmicos e à associação trimetropim/sulfametoxazol. A selecção de estirpes resistentes com elevada prevalência na comunidade pode estar relacionada com o uso frequente e indiscriminado destes antibióticos usualmente utilizados na terapêutica quer de infecções urinárias quer respiratórias 8,9. Tendo em conta estes dados, o objectivo deste estudo consistiu na análise da evolução da resistência aos antibióticos, em Portugal, usados frequentemente no tratamento de infecções urinárias, em bactérias isoladas de urinas de mulheres com cistites não complicadas na comunidade. Material e Métodos Amostras Foram estudadas 577 estirpes isoladas de urinas de mulheres com infecções urinárias não complicadas, provenientes de 10 Laboratórios de Análises Clínicas de prestação de serviços à comunidade situados em diferentes regiões de Portugal. As estirpes foram identificadas nos laboratórios de origem e posteriormente enviadas para o Laboratório de Microbiologia da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, entre Fevereiro e Março de 2010. Estudo da susceptibilidade aos antibióticos A susceptibilidade aos antibióticos foi verificada usando o método de difusão em disco no meio de Mueller-Hinton e interpretada de acordo com as normas do CLSI (Clinical Laboratory Standards Institute) 10. Os antibióticos ensaiados foram amoxicilina, amoxicilina/ácido clavulânico, ciprofloxacina, cefuroxima, fosfomicina, nitrofurantoína e trimetropim/sulfametoxazol, frequentemente utilizados no tratamento de infecções do tracto urinário. Resultados Estirpes bacterianas No conjunto de 577 bactérias identificadas, tabela I, 91,85% (n=530) pertenciam ao grupo das bactérias Gram negativas, com apenas 8,15% (n=47) de bactérias Gram positivas. Neste grupo, a espécie Staphylococcus saprophyticus (2,6%, n=15) foi predominante dentro do género Staphylococcus encontrado em 21 amostras, enquanto Enterococcus spp. foi identificado em 2,7% (n=16) das urinas. Entre as bactérias Gram negativas a espécie Escherichia coli foi identificada num maior número de amostras (75,9%, n=438), seguida dos isolados de Klebsiella spp. (8,7%, n=50) e Proteus spp. (4,2%, n=24). A etiologia da infecção urinária não complicada não se alterou significativamente de 2008 11 para 2010 (tabela II) relativamente aos isolados de E. coli, com valores de 73,3% vs 75,9%, respectivamente. 17 Ana Narciso, Filipa Fonseca, Sofia Arriaga Cerqueira, et al. Susceptibilidade aos antibióticos em 2008 e 2010 Acta Urológica Março de 2011 1: 16 21

Bactérias Número de amostras Escherichia coli 438 (75,9%) Klebsiella spp. 50 (8,7%) Proteus spp. 24 (4,2%) Staphylococcus saprophyticus 15 (2,6%) Enterococcus spp. 16 (2,7%) Streptococcus agalactiae 10 (1,7%) Enterobacter spp. 8 (1,3%) Staphylococcus aureus 5 (0,8%) Pseudomonas aeruginosa 3 (0,5%) Citrobacter koseri 3 (0,5%) Citrobacter freundii 2 (0,3%) Morganella morganii 1 (0,17%) Pantoea agglomerans 1 (0,17%) Staphylococcus simulans 1 (0,17%) Tabela I) Bactérias uropatogénicas isoladas de 577 urinas provenientes mulheres com cistites não complicadas 2008 (n=446) n (%) 2010 (n=577) n (%) Escherichia coli 327 (73,3 ) 438 (75,9) Klebsiella spp. 23 (5,2) 50 (8,7) Proteus spp. 37 (8,3) 24 (4,2) Staphylococcus saprophyticus 12 (2,7) 15 (2,6) Streptococcus agalactiae 9 (2,0) 10 (1,7) Enterococcus faecalis 6 (1,4) 8 (1,3) Tabela II) Distribuição das espécies bacterianas predominantes em 2008 e 2010 No entanto, é de realçar o aumento de isolados de Klebsiella spp., acompanhado de uma diminuição das espécies de Proteus que em 2008 foi o género encontrado em segundo lugar 8,3% (n=37). A maior incidência de infecções ocorreu em mulheres com idades superiores a 30 anos, com um pico entre os 71 e os 80 anos (figura 1), contrariamente a 2008 em que o maior número de isolados foi encontrado em mulheres com idades inferiores a 50 anos, com um pico entre os 21 e os 30 anos. Os microrganismos Gram negativos como a E. coli e a Klebsiella spp. acompanharam esta tendência. O Proteus spp, por outro lado, apresentou um pico entre os 51 e os 60 anos. Contrariamente, para o Staphylococcus saprophyticus verificou-se o inverso, isto é, um ligeiro pico dos 11 aos 20 anos que diminuiu nas faixas etárias seguintes. Também em 2010, quanto à distribuição de microrganismos dentro de cada grupo etário, existem algumas diferenças, nomeadamente nas mulheres com idades inferiores a 50 anos, houve um aumento da proporção de infecções por E. coli e S. saprophyticus e nas mulheres com mais de 50 anos verificou-se um aumento de isolados de Klebsiella spp. em relação a 2008 (tabela III). Figura 1) Distribuição das espécies bacterianas identificadas em 2008 e 2010, de acordo com o grupo etário, provenientes de urinas de mulheres com cistites não complicadas 50 anos > 50 anos 2008 2010 2008 2010 Escherichia coli 195 173 126 262 Proteus spp. 19 11 17 12 Klebsiella spp. 17 12 6 38 Staphylococcus saprophyticus 10 12 1 1 Enterococcus spp. 6 5 3 11 Streptococcus agalactiae 8 3 1 7 Tabela III) Distribuição de acordo com o grupo etário e das espécies bacterianas isoladas com maior frequência em 2008 e 2010 Susceptibilidade aos antibióticos O perfil de susceptibilidade aos antibióticos para os 577 isolados, provenientes de cistites não complicadas, está representado na Figura 2. Dos sete antibióticos em estudo, verificou-se que as resistências das diferentes bactérias isoladas à amoxicilina, à associação trimetropim/sulfametoxazol e à ciprofloxacina foram as mais elevadas com percentagens de 49,1%, 25,6% e 15,2%, respectivamente. Para os restantes quatro antibióticos, nitrofurantoína, amoxicilina/ácido clavulânico, cefuroxima e fosfomicina, os valores variaram entre 8,6% e 1,9%, respectivamente. Quando se comparam os resultados da susceptibilidade das estirpes de E. coli isoladas em 2008 com os de 2010, representados na figura 4, verificou-se um aumento da resistência a todos os antibióticos estudados, com excepção da cefuroxima (4,5% vs. 2,3%). A maior variação foi para a ciprofloxacina (8,2% vs. 16,1%) enquanto para os restantes antibióticos as diferenças não foram tão acentuadas, nomeadamente para a amoxicilina (37,9% vs. 44,8%); trimetropim/sulfametoxazol (23,5% vs. 26,1%); amoxicilina/ácido clavulânico (1,2% vs. 2,8%); nitrofurantoína (2,1% vs. 3,3%), apresentando a fosfomicina a menor variação absoluta (0,5% vs. 0,9%) o que mantém a taxa de susceptibilidade da E. coli a este antibiótico inferior 1%. 18

Figura 2) Susceptibilidade aos antibióticos das 577 estirpes uropatogénicas isoladas em 2010. AMX amoxicilina; SXT trimetroprim sulfametazaxol; CIP ciprofloxacina; FT furanos; AMC amoxicilina/ácido clavulânico; CXM cefuroxima; FOS fosfomicina; R resistente; I intermédio; S sensível Figura 3) Susceptibilidade aos antibióticos das 438 estirpes Escherichia coli provenientes de cistites não complicadas. AMX amoxicilina; SXT trimetroprim sulfametazaxol; CIP ciprofloxacina; FT furanos; AMC amoxicilina/ácido clavulânico; CXM cefuroxima; FOS fosfomicina; R resistente; I intermédio; S sensível Figura 4) Percentagens de estirpes de Escherichia coli resistentes aos antibióticos, isoladas em 2008 e 2010, provenientes de cistites não complicadas. AMX amoxicilina; SXT trimetroprim sulfametazaxol; CIP ciprofloxacina; FT furanos; AMC amoxicilina/ácido clavulânico; CXM cefuroxima; FOS fosfomicina Discussão A Escherichia coli é a principal bactéria identificada em infecções urinárias, o que se pode justificar pelo facto deste microrganismo, além de colonizar o tracto gastrointestinal, possuir características estruturais e capacidade de invasão do epitélio vesical que lhe permitem ascender e permanecer no tracto urinário, diferenciando-se de outras bactérias da família das Enterobacteriaceae, como K. pneumoniae e P. mirabilis encontradas em percentagens muito inferiores, na ordem dos 4 a 8%. No grupo das bactérias Gram positivas é maioritariamente a espécie Staphylococcus saprophyticus que se encontra associada a infecções urinárias e neste estudo foi identificado em mulheres com idades inferiores a 50 anos, o que está de acordo com a associação deste microrganismo a mulheres jovens sexualmente activas 12. No entanto, também no estudo de 2008, verificou-se uma baixa percentagem de isolados, cerca de 2,6%, o que contraria os dados mundiais, em que S. saprophyticus é reconhecido como o segundo agente mais frequente, causando cerca de 5 a 20% do total de infecções urinárias e entre 10 a 15% de infecções não complicadas adquiridas na comunidade 3,6. Esta bactéria é um habitante da região rectal, vaginal e uretral e embora não possua factores de virulência encontrados no Staphylococcus aureus, como a coagulase e outras exoenzimas, a sua sobrevivência no tracto urinário está relacionada com uma hemaglutinina, ligada à parede celular, com funções de aderência, e a um sistema de transporte de iões que se adapta ao sistema iónico da urina (ph, osmolaridade), além de possuir também uma urease 13. Relativamente à etiologia, entre 2008 e 2010 não houve alterações significativas, apenas uma maior percentagem de isolados de Klebsiella spp, relativamente ao Proteus spp., evidenciada essencialmente nas mulheres com mais de 50 anos. Efectivamente, no grupo etário dos 71 aos 80 anos verificou-se o maior número de infecções. Estes dados representam uma tendência contrária à verificada no estudo de 2008, em que o pico de infecções ocorreu no grupo etário dos 21 aos 30 anos e mais de 60% das mulheres com cistites tinham idades inferiores a 50 anos (figura 2). A população idosa é mais susceptível a este tipo de infecções, devido a alterações associadas à idade, nomeadamente a menopausa, mas também modificações funcionais do aparelho genito-urinário e do sistema imunitário. A deslocação de cistites não complicadas para idades avançadas, em apenas dois anos, pode ser explicada tendo em conta alguns pressupostos: as mulheres mais jovens poderão não recorrer aos laboratórios de prestação de serviços à comunidade, tendo como primeira opção o serviço hospitalar; o envelhecimento da população portuguesa e o aumento de instituições de cuidado terciário. Quanto ao perfil de susceptibilidade, os resultados obtidos mostram um aumento da resistência aos antibióticos nos isolados de E. coli, com excepção da cefuroxima, quando comparados com a susceptibilidade dos isolados de E. coli do estudo de 2008. No entanto, a taxa de isolados de E. coli resistentes à ciprofloxacina neste estudo foi mais baixa (16,1%) do que a apontada para a resistência às fluoroquinolonas (22,3%) nos dados do EARSS referentes ao estudo de vigilância de 2009. Isto pode ser explicado pelo facto de os dados do EARSS não 19 Ana Narciso, Filipa Fonseca, Sofia Arriaga Cerqueira, et al. Susceptibilidade aos antibióticos em 2008 e 2010 Acta Urológica Março de 2011 1: 16 21

descriminarem entre tipos de infecções, enquanto o presente trabalho visa apenas cistites não complicadas em mulheres. Por outro lado, e dada a recomendação de várias organizações no sentido de ponderar a prescrição desta classe de antimicrobianos, este aumento das taxas de resistência a praticamente todos os antibióticos ensaiados podem estar relacionados com um aumento do consumo de outros antibióticos em alternativa às fluoroquinolonas para o tratamento de infecções urinárias e outro tipo de infecções. A tendência para se estabelecer, progressivamente, uma maior resistência aos antibióticos usados no tratamento das infecções urinárias, alerta para que a prescrição empírica efectuada, neste grupo de infecções, seja feita com o conhecimento de dados actualizados, de modo a garantir a não selecção de estirpes resistentes pelo uso indevido dos mesmos. Também garantir o cumprimento do tratamento é importantíssimo, não só pela comodidade para o doente como o não permitir a utilização do antibiótico excedente, em situações que poderão não ser as mais adequadas. A variação observada da susceptibilidade à fosfomicina dos isolados de E. coli neste estudo, em relação a 2008, e a baixa resistência a este antibiótico, mundialmente, torna-o uma opção a ter em conta no tratamento empírico de infecções não complicadas 14. A fosfomicina actua na síntese de peptidoglicanos, componentes essenciais da parede bacteriana e na forma de sal de trometamol (amina orgânica) não é inactivada pela acidez estomacal, tem uma maior biodisponibilidade e quatro horas após a toma única a concentração é 350 vezes maior que a concentração mínima necessária para a inibição de E. coli e permanece elevada até às 48 a 74 horas, o que facilita a eliminação do agente etiológico, impedindo a selecção de estirpes multirresistentes 15,16. Dado que a resistência dos isolados na comunidade apresenta uma tendência para aumentar, é necessário a monitorização constante e a vigilância epidemiológica principalmente dos isolados de cistites não complicadas, de modo a evitar não só a selecção de estirpes resistentes, mas também a disseminação dessas estirpes na comunidade. Conclusões A E. coli continua a ser o agente mais prevalente em cistites não complicadas em mulheres, com 75,9% do total de isolamentos, sendo agora a Klebsiella spp. o 2º agente mais prevalente, com uma vantagem em relação a Proteus spp. por produzir factores de virulência específicos. Verificou-se ainda um aumento gradual na maioria dos antibióticos, principalmente à ciprofloxacina e à associação amoxicilina/ácido clavulânico. Para além disso, a fosfomicina é uma opção terapêutica, não só pelas suas propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas, mas também pela baixa prevalência de estirpes resistentes a este antibiótico. Agradecimentos O autores agradecem a colaboração prestada pelos Directores Técnicos e/ou colaboradores dos laboratórios participantes neste estudo: Dr. Jorge Queiroz e Drº. Filipa Alegria, Aqualab (Albufeira); Dr. Carlos Marques e Drª. Mª Inês Stilwell, LaboMarques Laboratório de Análises Clínicas Lda. (Sintra); Drª Ana Jacinta Piedade, Drª Marta Felix e Drª Maria Beatriz Tomaz Santos, Laboratório de Análises Beatriz Godinho (Leiria); Dr. Fernando Martins Calisto e Drª. Maria Gabriel Barroca, Laboratório de Análises Clínicas Dr. Flaviano Gusmão (Évora); Prof. Drª. Margarida Fanha e Drª. Teresa Dulce, Laboratório de Análises Clínicas Drª. Margarida Fanha (Lisboa), Drª. Manuela Monteiro, Laboratório de Análises Clínicas Santos Monteiro Unipessoal, Lda. (Lamego); Dr. José Manuel Morais e Drª. Maria Rosário Barros, Laboratório de Patologia Clínica Prof. Ernesto Morais, Lda. (Porto); Dr. Délio Morgado e Drª. Vitória Rodrigues, Laboratório Délio Morgado, Lda. (Setúbal); Dr. Branco Lisboa e Drª. Carla Barreiros, Laboratório Dr. Branco Lisboa (Caldas da Raínha); Dr. Armindo Gonçalves e Drª. Manuela Cascalheira, Laclibe Análises Clínicas de Beja (Beja). Os autores agradecem também à Zambon Produtos Farmacêuticos Lda pelo financiamento dado aos estudos de 2008 e 2010 Bibliografia 1. Moura A, Nicolau A, Hooton T, Azeredo J. Antibiotherapy and pathogenesis of uncomplicated UTI: difficult relationships. J Appl Microbiol 2009;106:1779-991. 2. Foxman B. Epidemiology of urinary tract infections: incidence, morbidity and economic costs. Dis Mon 2002;49(2):53-70. 3. Ronald A. The etiology of urinary tract infections: traditional and emerging pathogens. Am J Med 2002;113(1A):14S-19S. 4. Wagenlehner FM & Naber KG. Treatment of bacterial urinary tract infections: presence and future. Eur Urol 2006;49:235-44. 5. Hooton TM. Pathogenesis of urinary tract infections: an update. J Antimicrob Chemother 2000;46(Suppl S1):1-7. 6. Naber KG. Treatment options for acute uncomplicated cystitis in adults. J Antimicrob Chemother 2000;46(Suppl S1):23-7. 7. Johansen TE, Çek M, Naber KG, Stratchounski 20

L, Svensden MV, Tenke P. Hospital acquired urinary tract infections in urology departments: pathogens, susceptibility and use of antibiotics. Data from the PEP and PEAP-studies. Int J Antimicrob Agents 2006;28S: S91-S107. 8. Sande-Bruinsma N, Grundmann H, Verloo D, Tiemersma E, Monen J, Goossens H, Ferech M and the European Antimicrobial Resistance Surveillance System and European Surveillance of antimicrobial Consumption Project Groups. Antimicrobial drug use and resistance in Europe. Emerg Infect Dis 2008;14(11):1722-30. 9. European Antimicrobial Resistance Surveillance System. EARSS Annual Report 2008: on-going surveillance of S. pneumoniae, S. aureus, E. coli, E. faecium, E. faecalis, K. pneumoniae, P. aeruginosa. Disponível em http://www.rivm.nl/ earss/, consultado a 20/05/2010. 10. Wickler M, Bush K, Cockerill F et al. Performance standards for antimicrobial testing, eighteenth informatinal supplement; Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI) 2008; 28: 0273-3099. 11. Silva A, Machado P, Rodrigues V, Duarte A. Bactérias uropatogénicas identificadas de cistites não complicadas de mulheres na comunidade. Acta Urol 2008,3:9-14. 12. Latham RH, Running K, Stamm WE. Urinary tract infections in young adult women caused by Staphylococcus saprophyticus. JAMA 1983;250(22):3063-6. 13. Makoto K, Atsushi Y, Hideki H, et al. Whole genome sequence of Staphylococcus saprophyticus reveals the pathogenesis of uncomplicated urinary tract infection. PNAS 2005;102(37):13272 7. 14. Schito GC. Why fosfomycin trometamol as first line therapy for uncomplicated UTI?. Int J Antimicrob Agents 2003;22:S79-S83. 15. Popovic M; Steinort D; Pillai S; Joukhadar C. Fosfomycin: an old, new friend? Eur J Clin Microbiol Infect Dis 2010;29(2):127-42. 16. Estebanez A, Pascual R, Gil V, Ortiz F, Santibáñez M, Pérez Barba C. Fosfomycin in a single dose versus a 7-day course of amoxicillin clavulanate for the treatment of asymptomatic bacteriuria during pregnancy. Eur J Clin Microbiol Infect Dis 2009;28:1457 64. 21 Ana Narciso, Filipa Fonseca, Sofia Arriaga Cerqueira, et al. Susceptibilidade aos antibióticos em 2008 e 2010 Acta Urológica Março de 2011 1: 16 21