OS LUSÍADAS
Luís de Camões (1524?-1525? 1580) Foi durante o século XVI que viveu Luís de Camões. Concretamente, com base documental, sabe-se muito pouco da sua história. Pensa-se que terá nascido por volta de 1524-1525. A sua formação académica foi realizada em Coimbra. A sua vida foi especialmente marcada por duas atividades: as armas, serviu como soldado em Ceuta, por volta de 1549-1551, aí perdendo um olho, e as letras. Terá sido na Índia que o poeta iniciou a escrita do primeiro canto d Os Lusíadas. Mais tarde, em Macau, terá composto mais seis cantos. Conta-se que durante uma viagem para Goa, o barco em que Camões seguia, naufragou e o poeta salvou o seu poema épico, nadando apenas com um braço e erguendo o outro fora da água. Pensa-se que foi em Moçambique que terminou a epopeia, que veio a ser publicada em 1572 com o apoio do rei D. Sebastião. Esta obra é, hoje, mundialmente conhecida e Camões tornou-se o escritor português mais célebre. file:///c:/users/utilizador/downloads/24764651-1-introducao-ao-estudo-d-os- Lusiadas.pdf
Luís de Camões (1524? 1580) Apesar da sua grandiosidade, Camões viveu sempre com muitas dificuldades e desilusões. A sociedade corrompida e decadente em que se inseria nunca o reconheceu. As pessoas do seu tempo não souberam valorizar nem a obra nem o poeta. Após vários anos amargurados pela doença e pela miséria, o poeta morreu em 1580, no dia 10 de Junho. Luís Vaz de Camões é considerado o maior poeta de língua portuguesa e dos maiores da Humanidade. O seu génio é comparável ao de Virgílio, Dante, Cervantes ou Shakespeare. Das suas obras, a epopeia Os Lusíadas é a mais significativa. file:///c:/users/utilizador/downloads/24764651-1-introducao-ao-estudo-d-os- Lusiadas.pdf
Contextualização da época Os Lusíadas são uma obra do séc. XVI. Este século, caracterizado por uma grande viragem no pensamento humano, é marcado por três grandes movimentos culturais: o Renascimento, o Humanismo e o Classicismo. file:///c:/users/utilizador/downloads/24764651-1-introducao-ao-estudo-d-os- Lusiadas.pdf
Renascimento O Renascimento desenvolveu-se nos países da Europa Central e Ocidental, como a Itália (passando sucessivamente de Florença a Siena e depois a Roma, e alastrando posteriormente a toda a Península italiana), nos séculos XIV a XVI e veio a irradiar e a ter fundas repercussões na cultura de praticamente todos os países do continente europeu. As figuras de proa do movimento gostavam de se apresentar como críticos do obscurantismo medieval, numa atitude de contestação à tradicional influência da religião na cultura, no pensamento e na vida quotidiana ocidental. file:///c:/users/utilizador/downloads/24764651-1-introducao-ao-estudo-d-os- Lusiadas.pdf
Renascimento O movimento renascentista começa por ser uma contestação da ideologia dominante durante o milénio medieval: à civilização cristã contrapõe-se uma ideologia antropocêntrica, revelando um desejo de fazer renascer a Antiguidade greco-latina, que, na interpretação então prevalecente, se caracterizara precisamente por colocar o Homem no centro do Universo e representava um ideal de civilização natural.
Humanismo No Humanismo, o homem encontra-se no centro das atenções, dando lugar ao antropocentrismo (antropos significa Homem) que se opõe ao teocentrismo (Deus no centro). Trata-se de um movimento intelectual europeu que procurou vigorosamente descobrir e reabilitar a literatura e o pensamento da Antiguidade Clássica e que tem como interesse central o Homem, no pleno desenvolvimento das suas virtualidades e empenhado na ação, havendo aqui a nítida oposição à conceção hierárquica e feudalista do Homem medieval. file:///c:/users/utilizador/downloads/24764651-1-introducao-ao-estudo-d-os- Lusiadas.pdf
Classicismo O Classicismo consiste num sentimento de admiração pela antiguidade clássica e no desejo de imitação da cultura greco-romana e de retoma dos seus valores, refletindo-se em todas as artes como a pintura, a escultura e a literatura. Com base nos modelos clássicos greco-romanos, este movimento tem como principais valores a harmonia, a simplicidade, o equilíbrio, a precisão e o sentido das proporções. Refira-se, como exemplo, na pintura Leonardo da Vinci e Rafael. Os estudos das poéticas de Horácio e de Aristóteles disciplinam a desordem artística medieval. O enriquecimento filosófico e estético que oferece o estudo de Platão, Homero, Sófocles, Ésquilo, Ovídio, Virgílio e Fídias dá aos valores ocidentais maior dignidade artística e intelectual. A Itália, detentora dos valores clássicos, latinos e gregos, é considerada o berço deste movimento, com Dante, Petrarca e Boccaccio. file:///c:/users/utilizador/downloads/24764651-1-introducao-ao-estudo-d-os- Lusiadas.pdf
O que é uma epopeia? Camões escreveu Os Lusíadas sob a forma de narrativa épica ou epopeia, forma muito utilizada na Antiguidade Clássica e que Camões conhecia bem. Uma epopeia, forma literária da Antiguidade Clássica, define-se como uma narrativa, estruturada em verso, que narra, através de uma linguagem cuidada, os feitos grandiosos, de um herói, com interesse para toda a humanidade. file:///c:/users/utilizador/downloads/24764651-1-introducao-ao-estudo-d-os- Lusiadas.pdf
EPOPEIAS PRIMITIVAS As epopeias primitivas eram longas narrativas orais de feitos considerados heroicos realizados por homens dotados de força superior demonstrada no campo das batalhas. Quadro portefolio EXEMPLOS: CIVILIZAÇAO GREGA ILÍADA DE HOMERO (séc. VIII a.c.): Narração das aventuras de Aquiles,o mais famoso dos heróis gregos, durante o último ano de guerra de Tróia. ODISSEIA DE HOMERO (séc. VII a.c.) Narração das aventuras de Ulisses no regresso da guerra de Tróia até chegar a Ítaca, sua Pátria, onde o esperava Penélope, a esposa modelo de fidelidade. CIVILIZAÇÃO ROMANA ENEIDA DE VÍRGILIO (séc.i a.c.) Narração das aventuras de Eneias e de seus companheiros, desde a queda de Tróia até à fundação de Roma. Virgílio imita a Odisseia nos seis primeiros cantos e a Ilíada nos seis últimos. ESTES EXEMPLOS PODEM POR-SE NOS SLIDES ASSIM COMO A HISTORIA QUADRO STORA PAGINA 4 DO PORTEFOLIO PODES TIRAR IMAGENS PARA OS EXEMPLOS DAS EPOPEIAS CLASSICAS COMO ESTÃO NESTE SITE NOS SLIDES 6,7,8 http://pt.slideshare.net/margaridaclaro/os-lusadas-narrativa-epica
EPOPEIA DE IMITAÇÃO (LUSIADAS) Os Lusíadas revelam, quer a nível da estrutura externa, quer a nível de estrutura interna, uma grande semelhança com os modelos clássicos seguidos. A epopeia de Luís de Camões Ao analisarmos Os Lusíadas, e depois de conhecermos os elementos constituintes de uma epopeia, concluímos que Camões segue, em muitos aspetos, o modelo clássico apresentado. Protagonista O herói d Os Lusíadas é um herói coletivo e não individual, como nas antigas epopeias. O povo português é o protagonista desta epopeia, o peito ilustre lusitano, simbolicamente representado por Vasco da Gama, que, ao narrar a historia da pátria ao rei de Melinde, revela a heroicidade do seu povo. file:///c:/users/utilizador/downloads/247646 51-1-Introducao-ao-estudo-d-Os-Lusiadas.pdf
EPOPEIA DE IMITAÇÃO (LUSIADAS) Ação A ação d Os Lusíadas é plena de heroísmo, pois narra a descoberta do caminho marítimo para a Índia, um acontecimento com interesse universal. A ação d Os Lusíadas apresenta quatro qualidades: - unidade: é um todo harmonioso, todos os factos estão intrinsecamente ligados; - variedade: apresenta grande variedade de episódios: mitológicos, bélicos, líricos, naturalistas e simbólicos; - verdade: o assunto é quase na totalidade real, com alguns momentos de verosimilhança; - integridade: a narrativa pode ser dividida em três momentos determinantes introdução ( Canto I, estrofes 1 a 18), desenvolvimento ( Canto I, estrofe 19, a Canto X, estrofe 144) e conclusão (Canto X, estrofes 145 a 156). file:///c:/users/utilizador/downloads/247646 51-1-Introducao-ao-estudo-d-Os-Lusiadas.pdf
file:///c:/users/utilizador/downloads/24764651-1-introducao-ao-estudo-d-os- Lusiadas.pdf Narração In medias res (a meio da acção) No inicio da narração (estrofe 19, Canto I), a acção apresenta-se numa fase adiantada, in medias res Já no largo Oceano navegavam ; mais adiante, através de uma analepse, narram-se os preparativos da viagem, as despedidas em Belém, o discurso do Velho do Restelo e a partida para a Índia (Canto IV). Maravilhoso n Os Lusíadas há intervenção de entidades sobrenaturais pagãs, os deuses venerados na civilização grecolatina, que favorecem os portugueses adjuvantes, como Júpiter e Vénus ou os que prejudicam oponentes, como Baco, que se revela o principal opositor dos marinheiros. Trata-se do maravilhoso pagão. Há também súplicas feitas a Deus, à Divina Providência. Trata-se do maravilhoso cristão. Característica de todas as epopeias é a utilização de um estilo elevado, correspondente à grandiosidade do assunto, e que se traduz na seleção vocabular, na construção frásica extremamente elaborada e na abundante utilização de recursos estilísticos.
Temática PASSAR PORTEFOLIO PAGINA 5 O tema central da obra é o descobrimento do caminho marítimo para a Índia. Para o seu tratamento literário, Camões criou uma história mitológica onde seres sobrenaturais - os deuses - contribuem para a evolução da ação, alguns opondo-se à viagem de Vasco da Gama, outros favorecendo-a. Ao mesmo tempo, são evocadas por Vasco da Gama ao rei de Melinde as glórias da nacionalidade, numa síntese da História de Portugal. Geralmente, no início e no fim dos cantos, o poeta faz diversas considerações revelando as suas opiniões, reflexões e críticas. http://cvc.instituto-camoes.pt/historiasdivertidas/manuscritomist/lusiadas.html
ESTRUTURA INTERNA À semelhança dos poemas clássicos, a estrutura interna de Os Lusíadas está dividida nas seguintes partes: Proposição; Invocação; Dedicatória (não faz parte da estrutura primitiva) Narração:
Proposição - O poeta começa por declarar aquilo que se propõe fazer, indicando de forma sucinta o assunto da sua narrativa; propõe-se, afinal, tornar conhecidos os navegadores que tornaram possível o império português no oriente, os reis que promoveram a expansão da fé e do império, bem como todos aqueles que se tornam dignos de admiração pelos seus feitos. Invocação - O poeta dirige-se às Tágides (ninfas do Tejo), para lhes pedir o estilo e eloquência necessários à execução da sua obra; um assunto tão grandioso exigia um estilo elevado, uma eloquência superior; daí a necessidade de solicitar o auxílio das entidades protectoras dos artistas. Dedicatória - É a parte em que o poeta oferece a sua obra ao rei D. Sebastião. A dedicatória não fazia parte da estrutura das epopeias primitivas; trata-se de uma inovação posterior, que reflecte o estatuto do artista, intelectualmente superior, mas social e economicamente dependente de um mecenas, um protector. Narração - Constitui o núcleo fundamental da epopeia. Aqui, o poeta procura concretizar aquilo que se propôs fazer na "proposição". Podemos por grafico da margarida claro slide 13 e 20 http://www.oocities.org/fernandoflores.geo/lusiadas.htm
PLANO VIAGEM A narração d' Os Lusíadas tem uma estrutura muito complexa, o que decorre dos objetivos que o poeta se propôs. Desenvolve-se em quatro planos diferentes, mas estreitamente articulados entre si. Plano da viagem - A ação central do poema é a viagem de Vasco da Gama. Escrevendo mais de meio século depois, Luís de Camões tinha já o distanciamento suficiente para perceber a importância histórica desse acontecimento, devido às alterações que provocou, tanto em Portugal, como na Europa. Por essa razão considerou a primeira viagem marítima à Índia como o episódio mais significativo da história de Portugal. No entanto, tratava-se de um acontecimento relativamente recente e historicamente documentado. Para manter a verosimilhança, o poeta estava obrigado a fazer um relato relativamente objetivo e potencialmente monótono, o que constituía um perigo fatal para o seu projeto épico. Daí que Camões tenha sentido a necessidade de introduzir um segundo nível narrativo.(é o plano mitologico!) No plano da historia de Portugal, são vários os episódios e vários os protagonistas que ilustram o processo de mitificação do herói: As cousas do mar: (o poeta valoriza o conhecimento e o saber experimentais e a superação do medo destes fenómenos desconhecidos) O episódio do Adamastor: marco mais importante da mitificação do herói, uma vez que o esconderijo do gigante, que até então nunca fora descoberto, vai ser desvendado pelos portugueses) Os limites da condição humana, o escorbuto: (Gama conta de forma emotiva e pungente, o sofrimento dos marinheiros que morreram devido ao escorbuto, a dor dos que morreram pela pátria é mais um degrau da mitificação) Ilha dos amores: constitui o ponto máximo de mitificação dos heróis sendo que o amor aparece como prémio e forma de alcançar a imortalidade. http://www.oocities.org/fernandoflores.geo/lu siadas.htm
PLANO MITOLÓGICO Plano mitológico (conflito entre os deuses pagãos) - Camões imaginou um conflito entre os deuses pagãos: Baco opõe-se à chegada dos portugueses à Índia, pois receia que o seu prestígio seja colocado em segundo plano pela glória dos portugueses, enquanto Vénus, apoiada por Marte, os protege. Pode parecer estranho que Camões incluísse num poema destinado a exaltar um povo cristão os deuses pagãos, mas algumas razões permitem compreender essa atitude: 1) Como vimos, a simples narrativa da viagem seria algo monótona, tanto mais que Vasco da Gama e os seus marinheiros têm um carácter rígido, quase inumano: são determinados e inflexíveis, imunes às hesitações, à dúvida, às angústias. Não há ao nível da viagem qualquer conflito. Para introduzir o necessário dramatismo na narrativa, Camões teve que imaginar um conflito externo, o conflito entre Vénus e Baco. 2) Os poemas épicos renascentistas são epopeias de imitação e como tal sujeitas a regras estritas. Uma dessas regras impunha ao poeta a introdução de episódios maravilhosos, envolvendo quase sempre deuses da mitologia greco-latina, à semelhança do que acontecia nos poemas homéricos ou na Eneida. 3) Finalmente, o recurso aos deuses pagãos é mais uma forma de o poeta engrandecer os feitos dos portugueses. Nas suas intervenções, os deuses frequentemente referem-se-lhe de forma elogiosa. Além disso, o simples facto de a disputa entre os deuses ter como objeto os portugueses é já uma forma indireta de os exaltar. http://www.oocities.org/fernandoflores.geo/lu siadas.htm
PLANO HISTÓRIA DE PORTUGAL Plano da História de Portugal - O objetivo de Camões era enaltecer o povo português e não apenas um ou alguns dos seus representantes mais ilustres. Não podia por isso limitar a matéria épica à viagem de Vasco da Gama. Tinha que introduzir na narrativa todas aquelas figuras e acontecimentos que, no seu conjunto, afirmavam o valor dos portugueses ao longo dos tempos. E fê-lo, recorrendo a duas narrativas secundárias, inseridas na narrativa da viagem, cujo narrador é o poeta. 1) Narrativa de Vasco da Gama ao rei de Melinde - Ao chegar a este porto indiano, o rei recebe-o e procura saber quem é ele e donde vem. Para lhe responder, Vasco da Gama localiza o reino de Portugal na Europa e conta-lhe a História de Portugal até ao reinado de D. Manuel. Ao chegar a este ponto, conta inclusivamente a sua própria viagem desde a saída de Lisboa até chegarem ao Oceano Índico, visto que a narrativa principal iniciara-se in media res, isto é quando a armada já se encontrava em frente às costas de Moçambique. http://www.oocities.org/fernandoflores.geo/lu siadas.htm
2) Narrativa de Paulo da Gama ao Catual - Mais tarde surge outra narrativa secundária. Em Calecut, uma personalidade hindu (Catual) visita o navio de Paulo da Gama, que se encontra enfeitado com bandeiras alusivas a figuras históricas portuguesas. O visitante pergunta-lhe o significado daquelas bandeiras, o que dá a Paulo da Gama o pretexto para narrar vários episódios da História de Portugal. 3) Profecias - Os acontecimentos posteriores à viagem de Vasco da Gama não podiam ser introduzidos na narrativa como factos históricos. Para isso, Camões recorreu a profecias colocadas na boca de Júpiter, Adamastor e Thétis, principalmente.
No plano da história de Portugal, são vários os episódios e vários os protagonistas que ilustram o processo de mitificação do herói: Viriato (figura histórica e simultaneamente mítica) Egas Moniz (Camões através das palavras de Vasco da Gama, evoca a figura de Egas Moniz). Batalha de Ourique (o poeta narra este episodio bélico da nossa história, assinalando a supremacia do exército mouro sobre os portugueses. Batalha de Aljubarrota (novo episódio bélico notável da história de Portugal, desta vez opondo-se os exércitos português e castelhano evocando a figura de Nuno Álvares Pereira)
PLANO DO POETA Plano das considerações do poeta - Por vezes, normalmente em final de canto, a narração é interrompida para o poeta apresentar reflexões de carácter pessoal sobre assuntos diversos, a propósito dos factos narrados. http://www.oocities.org/fernandoflores.geo/lu siadas.htm
Estrutura externa A obra divide-se em dez partes, às quais se chama cantos. Cada canto tem um número variável de estrofes (em média de 110). O canto mais longo é o X, com 156 estrofes. As estrofes são oitavas, portanto constituídas por oito versos. Cada verso é constituído por dez sílabas métricas; nas sua maioria, os versos são heroicos (acentuados nas sextas e décimas sílabas). O esquema rimático é o mesmo em todas as estrofes da obra, sendo portanto, rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos (AB-AB-AB-CC). http://oslusiadas.no.sapo.pt/est_externa.html
REFLEXÕES DO POETA O poeta, ainda que perseguido pela sorte e desprezado pelos seus contemporâneos, assume o papel humanista de intervir, de forma pedagógica, na vida contemporânea. Portanto, é não só feita uma crítica como também é evidenciada a grandeza do passado de Portugal: um pequeno povo que cumpriu, ao longo da sua História, a missão de dilatar a Cristandade, que abriu novos rumos ao conhecimento, que mostrou a capacidade do Homem de realizar o seu sonho. Ao cantar o heroísmo do passado, o poeta pretende mostrar aos seus contemporâneos a falta de grandeza do Portugal presente, e incentivar o rei a conduzir os Portugueses para um futuro novo glorioso, para uma nova era de orgulho nacional.
Canto I- REFLEXÃO SOBRE A FRAGILIDADE DA CONDIÇÃO HUMANA As traições e perigos a que os navegadores estão sujeitos justificam o desabafo do poeta sobre a fragilidade da condição humana e que submete o Homem a inúmeros e permanentes perigos Canto V CRÍTICA À FALTA DE CULTURA E DE APREÇO PELOS POETAS QUE OS PORTUGUESES REVELAM O poeta começa por mostrar como o canto, o louvor, incita à realização dos feitos heroicos; dá em seguida exemplos do apreço que os antigos heróis gregos e romanos tinham pelos seus poetas e da importância que davam ao conhecimento e à cultura, compatibilizando as armas com o saber. Não é, infelizmente, o que se passa com os portugueses, que não dão valor aos seus poetas, porque não têm cultura para os conhecer. Ora, não se pode amar o que não se conhece, e a falta de cultura dos heróis nacionais é responsável pela indiferença que manifestam, pela divulgação dos seus feitos, e, se não tiverem poetas que os cantem, serão esquecidos. Apesar disso, o poeta, movido pelo amor da pátria, reitera o seu propósito de continuar a engrandecer, com os seus versos, as grandes obras realizadas. file:///c:/users/utilizador/downloads/os%20lus%c3%adadas%20- %20Reflex%C3%B5es%20do%20poeta%20em%20cada%20canto%20(Blog12%2 012-13).pdf
Canto VI - reflexão sobre o verdadeiro e árduo caminho da fama e da glória Continuando a exercer a sua função pedagógica, o poeta defende um novo conceito de nobreza, espelho do modelo de virtude renascentista. Segundo este modelo, a fama e a imortalidade, o prestígio e o poder adquirem-se pelo esforço na batalha, ou enfrentando os elementos, sacrificando o corpo e sofrendo pela perda dos companheiros. Não se é nobre por herança, vivendo no luxo e na ociosidade, nem com favores se deve alcançar relevo. Canto VII elogio ao espírito de cruzada dos portugueses / crítica aos outros povos europeus Percorrido tão longo e difícil caminho, é o momento de, na chegada a Calecute (est. 3-7), o poeta fazer novo louvor aos portugueses. Exalta o seu espírito de cruzada, a incansável divulgação da Fé, por África, Ásia, América. E, se mais mundos houvera, lá chegara, inserindo a viagem à Índia na missão transcendente que é marca da sua identidade nacional. Por oposição, crítica os alemães, soberbo gado, o duro inglês, o galo indigno, os italianos que, em delícias,/ Que o vil ócio no mundo traz consigo,/ gastam as vidas, que não seguem o exemplo, no combate aos infiéis.
Canto VII crítica aos contemporâneos ambiciosos que exploram e oprimem o povo Numa reflexão de tom marcadamente autobiográfico, o poeta exprime um estado de espírito bem diferente do que concretizava, no Canto I, a invocação às tágides. Agora, percorre um caminho árduo, longo e vário, e precisa de auxílio, porque teme não chegar a bom porto. De uma vida cheia de adversidades, enumera a pobreza, a desilusão, os perigos do mar e da guerra, Nua mão sempre a espada e noutra a pena. De novo, lança a crítica aos contemporâneos, e o alerta para a inevitável inibição do surgimento de outros poetas, em consequência dos exemplos de ingratidão. E a crítica aumenta de tom na parte final, quando enumera aqueles que nunca cantará e que, implicitamente, denuncia abundarem do seu tempo: os ambiciosos, que sobrepõem os seus interesses aos do bem comum e do seu rei, os dissimulados, os exploradores do povo, que não pagam o suor da servil gente. No final, retoma a definição do seu herói o que arrisca a vida por seu Deus, por seu Rei.
Canto VIII crítica ao poder do dinheiro O poeta enumera os efeitos perniciosos do ouro que provoca derrotas, faz dos amigos traidores, mancha o que há de mais puro, deturpa o conhecimento e a consciência, condiciona as leis, dá origem a difamações e à tirania de reis, corrompendo até os sacerdotes, sob a aparência da virtude. Retomando a função pedagógica do seu canto, o poeta aponta o dedo à sociedade sua contemporânea, orientada por valores materialistas. Canto IX reflexões sobre o caminho para merecer a fama Na sequência da cerimónia simbólica de entrega das coroas de louros aos marinheiros e a Vasco da Gama, o poeta dirige-se àqueles que desejam ser famosos, aconselhando-os sobre o caminho a seguir. Na verdade, é também aos seus contemporâneos que Camões se dirige, exortando-os a despertar do adormecimento e do ócio, a pôr de lado a cobiça e a tirania, a serem justos e a lutarem pela pátria e pelo rei. Só assim serão eternizados como os marinheiros, serão também nesta Ilha de Vénus recebidos.
Canto X crítica aos portugueses seus contemporâneos/ apelo ao rei Os últimos versos de Os Lusíadas revelam sentimentos contraditórios: desalento, orgulho, esperança. O poeta recusa continuar o seu canto, não por cansaço, mas por desânimo. O seu desalento advém de constatar que canta para gente surda e endurecida, mergulhada no gosto da cobiça e na rudeza/ duma austera, apagada e vil tristeza. É a imagem do Portugal do seu tempo. Por contraste, o poeta tem orgulho nos que estão dispostos a reavivar a grandeza do passado, evidenciado ainda esperança de que o rei os estimule para dar continuidade à glorificação do peito ilustre lusitano e dar matéria a novo canto. O poema encerra, pois, com uma mensagem que abarca o passado, o presente e o futuro. A glória do passado deverá ser encarada como exemplo presente para construir um futuro grandioso.
Como é mitificado o herói épico? Como referimos anteriormente, o protagonista da epopeia são os Portugueses que realizaram grandes feitos. É um herói coletivo que é composto por um friso de heróis individuais. O bicho da Terra tão pequeno, referenciado no final do canto I, é o Homem na sua condição de fragilidade face aos perigos que permanentemente o ameaçam. Ora, os Portugueses, comandados por Vasco da Gama, levam a cabo uma luta sem tréguas contra os perigos que se colocam na frente do seu sonho e, com coragem e audácia, conseguem vencê-los. Ousam navegar por mares nunca dantes navegados e, face ao mais temível de todos os perigos, o desconhecido, personificado pelo Gigante Adamastor, vencem o próprio medo, pela voz de Vasco da Gama que se ergue, apesar das terríveis ameaças. A viagem que empreendem é a do caminho marítimo para a Índia, mas representa muito mais do que uma viagem geográfica. É a viagem do confronto com os limites, do desvendamento dos segredos escondidos, a viagem do conhecimento.
Ultrapassando todos os obstáculos, os nautas ultrapassaram-se a si mesmo, ultrapassaram a sua condição de bichos da Terra tão pequenos, concretizando o lema renascentista da crença nas capacidades do Homem. Afinal, a sua inquietação e ambição, tão condenados pelo pessimismo do Velho do Restelo, levaram-nos a bom porto, ao porto sonhado. Por isso merecem o prémio devido aos heróis, aportam à ilha dos Amores, o espaço do sonho concretizado, onde o Homem, colocado ao nível dos Deuses, alcança o Amor, a Beleza, a Felicidade e a Harmonia absolutas. A recompensa que recebem é de uma a natureza que nenhum bem material pode igualar, é o prémio da imortalidade, venceram a lei da morte, unindo-se às ninfas e recebendo simbolicamente as coroas de louros dos heróis divinizados. Os Portugueses realizam-se, assim, como um povo predestinado.
Semelhanças: * poemas sobre Portugal; * conceção da História de Portugal enquanto demanda mística; * D. Sebastião, ser eleito, enviado por Deus ao mundo, para difundir a Fé de Cristo; * os Heróis concretizam a vontade divina; * conceito abstrato de Pátria; * apresentação dos Heróis da História de forma fragmentária; * exaltação épica da ação humana no domínio dos mares; * superação dos limites humanos pelos Heróis Portugueses; * superioridade dos navegadores lusos sobre os nautas da antiguidade; * glória marcada pelo sofrimento e lágrimas; * sacrifício voluntário em nome de uma causa patriótica; * estrutura rigorosamente arquitetada; * evocação do passado (memórias) para projetar, idealizar o futuro (apelo, incentivo).
Diferenças Os Lusíadas: - dinamismo: a viagem, a aventura, o perigo; - a ação, a inteligência, o concreto, o conhecimento do Império no apogeu e na decadência, a possibilidade de ter esperança; - o poeta dirige-se a D. Sebastião, quer era uma realidade viva, e invetiva o rei a realizar novos feitos que deem em matéria a uma nova epopeia. Mensagem: - estatismo: o sonho, o indefinido; - o abstrato, a sensibilidade, a utopia, a falta de razões para ter esperança, o sebastianismo; - D. Sebastião é uma entidade que vive na memória saudosa do poeta, uma sombra, um mito. http://portefoliodigitalfabinha.blogspot.pt/2012/04/mensagem-relacaointertextual-com-os.html