Acórdão 6a Turma RELAÇÃO DE EMPREGO. VENDEDOR AUTÔNOMO. A diferenciação central entre o vendedorempregado e o vendedor autônomo situa-se na subordinação. Não demonstrada a subordinação, não pode ser reconhecido o vínculo de emprego entre as partes. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário nº TRT-RO-0000336-67.2011.5.01.0033, em que são partes: FRANCISCO SARAIVA DA SILVA JÚNIOR, como Recorrente, e NEXTEL TELECOMUNICAÇÕES LTDA. e SELL WAY REPRESENTAÇÕES MARKETING E CONSULTORIA LTDA., como Recorridos. VOTO: I - R E L A T Ó R I O Trata-se de Recurso Ordinário interposto pelo trabalhador às folhas 186/200, em face da r. decisão proferida às folhas 183/184, pelo Juiz do Trabalho Delano de Barros Guaicurus, da 33ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou o pedido improcedente. Contestações de Sell Way Representações Marketing e Consultoria Ltda. às folhas 111/124 e de Nextel Telecomunicações Ltda. às folhas 146/161. Atas de audiência às folhas 103/104 e 182. O recorrente alega, em síntese, que ficou comprovada a existência de vínculo de emprego com a empresa Sell Way Representações Marketing e Consultoria Ltda. Requer, em consequência, o pagamento das verbas decorrentes da relação de emprego, além da condenação subsidiária da Nextel 4082 1
Telecomunicações Ltda. e indenização por dano moral. Sem preparo, ante o deferimento da gratuidade de justiça à folha 184. Contrarrazões da Sell Way Representações Marketing e Consultoria Ltda. às folhas 213/220 e da Nextel Telecomunicações Ltda. às folhas 221/222. Os autos não foram remetidos à Douta Procuradoria do Trabalho por não ser hipótese de intervenção legal (Lei Complementar no. 75/1993) e/ou das situações arroladas no Ofício PRT/1ª Reg. nº 27/08-GAB., de 15.01.2008. É o relatório. II - F U N D A M E N T A Ç Ã O 1.CONHECIMENTO 2. A sentença foi proferida em audiência no dia 17/11/2011 (folha 182). Ocorre que, tendo em vista o Ato Conjunto 9/11, o Ato Conjunto 12/11, o Ato 73/11 e o recesso forense, os prazos estiveram suspensos de 21/11/2011 a 13/01/2012. Portanto, o recurso interposto em 10/01/2012 está tempestivo. Conheço, assim, do recurso por preenchidos os pressupostos de admissibilidade. 2. MÉRITO 2.1. DO VÍNCULO DE EMPREGO Alega o recorrente que ficou demonstrada a existência de vínculo de emprego com a Sell Way Representações Marketing. Sustenta que a prova oral demonstrou a presença dos requisitos previstos no artigo 3º da CLT. A empresa admite a prestação de serviços, argumentando que esta se dava, no entanto, de forma eventual. Ao admitir a prestação de serviços a empresa atraiu o ônus de 4082 2
comprovar que esta não ocorreu nos moldes do artigo 3º da CLT, do qual se desincumbiu satisfatoriamente. Nos casos de vendedor autônomo e vendedorempregado, o requisito da subordinação ou a falta deste é que distinguirá um do outro. A subordinação consiste na sujeição do trabalhador às ordens do empregador que orienta, controla e determina como o serviço deve ser prestado, tal subordinação possui caráter jurídico, do qual decorre o poder diretivo do empregador. Segundo Alice Monteiro de Barros, restam como critérios favoráveis à subordinação a obrigatoriedade de comparecimento à empresa em determinado lapso de tempo, a obediência a métodos de venda, rota de viagem, cota mínima de produção, ausência de apreciável margem de escolha de clientes e de organização própria, como também risco a cargo do dador de trabalho (in, Curso de Direito do Trabalho, Ltr, 6ª edição, página 319). Como estabelecido na sentença à folha 183-verso, não ficou demonstrada a subordinação direta e a habitualidade na prestação de serviços sem a assunção dos riscos da atividade. Ao contrário, a prova oral deixou claro que o recorrente era quem dirigia o seu negócio e não estava subordinado à empresa. Em depoimento, ele admitiu que era o responsável pela captação dos clientes, além de custear as próprias despesas. Disse, ainda, que, após concretizar uma grande venda, ausentou-se do trabalho por 1 (um) mês (folha 177). Não fora o bastante, a testemunha ouvida à folha 180, embora tenha admitido a existência de vendedoresempregados, informou que o recorrente, ao contrário dos empregados, não precisava comparecer diariamente à empresa, não tinha metas a cumprir e não era monitorado. Pelo exposto, não demonstrada a subordinação, não 4082 3
se há de reconhecer a relação de emprego entre as partes e, em consequência, não se há de condenar a empresa Nextel Telecomunicações Ltda. a responder subsidiariamente por obrigações trabalhistas. Nego provimento. 2.2. DO DANO MORAL Mantida a sentença quanto ao não reconhecimento do vínculo de emprego entre as partes, cumpre prestar esclarecimento sobre a competência da Justiça do Trabalho para apreciar questões decorrentes do contrato de representação comercial. Tendo em vista a entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 45/04, que deu nova redação ao artigo 114 da Constituição Federal, a competência da Justiça do Trabalho passou a abranger não somente as demandas decorrentes da relação de emprego, mas também as oriundas da relação de trabalho, conforme o disposto no inciso I do mencionado dispositivo constitucional. Portanto, incluindo-se nessa competência as demandas decorrentes do contrato de representação comercial entre pessoa natural e pessoa jurídica. A exceção ocorre somente quando se tratar de demanda envolvendo duas pessoas jurídicas, quando, então, a competência será da Justiça comum, na forma disposta no artigo 39 da Lei nº 4.886/65. Nesse sentido é o posicionamento do C. TST, conforme decisão abaixo: -AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. COMPETÊNCIA DA. REPRESENTANTE COMERCIAL AUTÔNOMO. LEI N.º 4.886/65. Em razão da nova redação do art. 114 da CF/88, dada pela EC n.º 45/05, a regra constante do art. 39 da Lei n.º 4.886/65 aplica-se somente às demandas travadas entre pessoas jurídicas, na medida em que compete a esta Especializada processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho, como vem a ser a relação entre o representante comercial autônomo e a empresa representada. Agravo de Instrumento não provido. - (Processo nº AIRR - 1740-30.2009.5.03.0111, Relatora Ministra: Maria de Assis Calsing, Data de Julgamento: 15/12/2010, 4ª Turma, Data 4082 4
de Publicação: 04/02/2011). Quanto ao dano moral, sustenta o recorrente que após 6 (seis) meses de negociação, conseguiu fazer uma grande venda para a empresa Maria Bonita, acrescentando que foi excluído do negócio na hora do fechamento. Afirma que o ato da empresa causou-lhe constrangimento e humilhação. Consta da sentença que Quanto ao fato de ter sido retirado das vendas para o cliente Maria Bonita, não verificou o Juízo prejuízos a dano da personalidade do autor, havendo a possibilidade apenas de dano material o que não foi objeto do pedido... (folha 184). Merece ser mantida a sentença. Conforme entendimento do Juízo a quo, o fato de o recorrente ter negociado um grande contrato para a empresa e na hora da formalização do negócio ter sido afastado não causou dano extrapatrimonial, mas, tão somente, dano patrimonial, em decorrência da comissão que não foi auferida. Saliente-se que o trabalhador, sequer, postulou o dano material Nego provimento. III - D I S P O S I T I V O ACORDAM os Desembargadores que compõem a 6ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário e, no mérito, por unanimidade, negar-lhe provimento, nos termos do voto do Exmo. Sr. Desembargador Relator. Rio de Janeiro, 04 de julho de 2012. 4082 5
MC/md Marcos Cavalcante Desembargador Relator 4082 6