ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS VÍTIMAS DE QUEIMADURAS NO BRASIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA

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Transcrição:

1335 ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS VÍTIMAS DE QUEIMADURAS NO BRASIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA EPIDEMIOLOGIC STUDY OF BURN VICTIMS IN BRAZIL: A SYSTEMATIC REVIEW OF THE LITERATURE Adriana Ferreira Santos da Silva Enfermeira. Graduada pela Faculdade Dom Pedro II. dryca04@hotmail.com Edvana dos Santos Ferreira Mestre em Patologia Humana. Área de Concentração - Imunorregulação e Microbiologia (FIOCRUZ/UFBA). Docente da Faculdade Dom Pedro II - disciplina TCC III. Coordenadora geral da Pós Graduação da Faculdade Mauricio de Nassau. edvanaferreira.8@gmail.com RESUMO A queimadura é uma das mais devastadoras agressões infligidas aos seres humanos, sendo considerada uma das principais causas externas de morte, constituindo a terceira causa de óbitos no Brasil. Desse modo, este artigo tem por objetivo realizar, por meio de uma revisão sistemática da literatura, um estudo epidemiológico das vítimas de queimaduras no Brasil, com o intuito de proporcionar um melhor entendimento sobre o perfil da saúde no país. A pesquisa foi realizada por meio das bases de dados eletrônicas LILACS, BDENF, SciELO e banco de dados online da Revista Brasileira de Queimaduras. A seleção dos artigos baseou-se nos critérios de inclusão: texto (na íntegra), idioma (português), tipo de documento (artigo), tipo de estudo (exceto revisão de literatura) e ano de publicação (2008-2013). Todas as publicações selecionadas identificaram a maioria das vítimas de queimaduras sendo do sexo masculino e maiores de 14 anos. A maior parte das lesões foi classificada como de pequeno e médio porte, resultantes da exposição ou contato com chama e líquidos quentes, abrangendo uma SCQ menor que 21%. Predominou os casos de natureza acidental, ocorridos em ambiente domiciliar, e uma permanência hospitalar inferior a 15 dias. As taxas de mortalidade não ultrapassaram 16,3%. Por meio dos resultados obtidos, foi possível analisar o perfil dos casos de queimaduras no país e verificar a importância da produção de novos estudos sobre o tema, a fim de contribuir para o conhecimento dos impactos causados por este tipo de trauma e colaborar com o aprimoramento da assistência prestada às vítimas. PALAVRAS-CHAVE: Queimaduras. Epidemiologia. Perfil de saúde. ABSTRACT Burns are one of the most devastating assaults inflicted on humans, considered one of the main external causes of death and being the third cause of death in Brazil. Thus, this article aims to carry through a systematic literature review, an epidemiological study of burn victims in Brazil, aiming to provide a better understanding of the profile of health in the country. The survey was conducted through electronic databases LILACS, BDENF, SciELO and database online of the Journal of Burn. The selection of items was based on the following inclusion criteria: text (in full), language (Portuguese), document type (article), study type (except literature review) and year of publication (2008-2013). All selected publications identified most burn victims being male and older than 14 years. Most of the injuries were classified as small and medium- sized, resulting from exposure or contact with flame and hot liquids, covering less than 2 % BSAB. Predominated the accidental nature cases, occurring at home, and a hospital stay less than 15 days. Mortality rates did not exceed 16.3%. From

1336 the results obtained, it was possible to analyze the profile of burn cases in the country and to verify the importance of the production of new studies on the subject in order to contribute to the knowledge of the impacts of this type of trauma and supporting the improvement of assistance to victims. KEY WORDS: Burns. Epidemiology. Health profile. INTRODUÇÃO Queimaduras, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (2008, p. 3), são lesões dos tecidos orgânicos decorrentes de trauma de origem térmica resultante da exposição ou contato com chamas, líquidos quentes, superfícies quentes, eletricidade, frio, substâncias químicas, radiação, atrito ou fricção. Segundo Bolgiani e Serra (2010), a pele humana suporta sem prejuízos temperaturas de até 44 C, observando-se logo acima desse valor o desenvolvimento de lesões térmicas com diferentes características. Tendo em vista o dano e considerando que o grau da lesão está diretamente relacionado ao agente etiológico, ao local atingido e ao tempo de exposição, as queimaduras poderão ser classificadas como de primeiro, segundo ou terceiro grau. Na queimadura de primeiro grau o comprometimento está restrito à epiderme, há presença de descamação e a evolução das lesões acontece de forma rápida, ocorrendo uma repercussão sistêmica mínima. A queimadura de segundo grau causa danos em toda camada da epiderme e em parte da derme, o que leva a um processo de cicatrização mais lento, podendo ocorrer sequelas como a discromia e a cicatriz. Uma queimadura classificada como de terceiro grau causa destruição total das camadas da epiderme e derme, podendo atingir o tecido subcutâneo, músculos, tendões, ligamentos e ossos (MONTES; BARBOSA; SOUSA NETO, 2010). Para se determinar a gravidade do estado do paciente é necessário avaliar, além da extensão da queimadura e grau de destruição tecidual, outros fatores como a eventual lesão inalatória e o politrauma (BRASIL, 2012). Dessa forma, passam a ser considerados como grande queimado os que apresentam queimaduras de segundo grau em mais de 20% da superfície corporal queimada (SCQ), queimadura de terceiro grau com mais de 10% de SCQ, queimaduras na região do períneo, as decorrentes de corrente elétrica, assim como as lesões térmicas de terceiro grau em mãos, pés, face, pescoço ou axila (CANELA et al., 2011). A lesão por queimadura é considerada uma das mais devastadoras agressões que podem atingir os seres humanos. Quando não levam à morte, podem ocasionar sequelas graves e significativas limitações funcionais, psicológicas e de ordem social (FERNANDES et al., 2012). O padrão epidemiológico em queimaduras varia de forma significativa em diferentes partes do mundo, representando um problema de saúde pública em vários países. A alta densidade populacional, o analfabetismo, as moradias precárias, a pobreza e a carência de campanhas públicas de educação em saúde, são os principais fatores associados a um elevado índice de lesões térmicas de natureza acidental em países em desenvolvimento (NASCIMENTO et al., 2013). Porém, nos

1337 países desenvolvidos é observado um cenário oposto, onde a taxa de queimaduras se mantém em declínio devido aos programas de prevenção e as rigorosas normas de segurança (IURK et al., 2010). Os acidentes por queimaduras estão entre as principais causas externas de morte, perdendo apenas para os acidentes automobilísticos e homicídios, constituindo a terceira maior causa de óbitos no Brasil. Os gastos com a hospitalização das vítimas no país são exorbitantes, sendo considerado incalculável por alguns autores (TAVARES; HORA, 2011). Somado aos custos extremamente altos, o atendimento às vítimas de queimaduras apresenta um grau de complexidade que exige pessoal com treinamento especializado, constante aperfeiçoamento, bem como o acesso a equipamentos e materiais adequados. Além disso, a aplicação de protocolos específicos para o tratamento é fundamental, tornando a assistência ao paciente queimado um desafio para todos os profissionais da área da saúde (IURK et al., 2010). Segundo Szwarcwald et al. (2014) o Brasil atravessa um período de transição epidemiológica, com uma profunda modificação dos padrões de saúde e doença, que interagem com fatores demográficos, econômicos, sociais, culturais e ambientais, dessa forma conhecer o panorama da saúde é essencial para avaliar os riscos de um indivíduo, ou de uma comunidade, de sofrer algum dano. Portanto, este trabalho se propõe a realizar um estudo epidemiológico das vítimas de queimaduras no Brasil, através de uma revisão sistemática da literatura, com o intuito de colaborar para um melhor entendimento sobre o perfil da saúde no país. METODOLOGIA Este trabalho de pesquisa trata-se de um estudo de natureza descritiva, com abordagem qualitativa, que busca, por meio de uma revisão sistemática da literatura, analisar artigos científicos cujo objetivo seja identificar o perfil epidemiológico das vítimas de queimaduras no Brasil. A pesquisa foi realizada através das bases de dados eletrônicas, nacionais e internacionais: Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e do banco de dados online da Revista Brasileira de Queimaduras, através da consulta das combinações dos seguintes descritores: queimaduras, epidemiologia e perfil de saúde, considerando o período de publicação de 2008 a 2013. Os artigos selecionados pela estratégia de busca foram avaliados obedecendo aos critérios de inclusão: texto (na íntegra), idioma (português), tipo de documento (artigo), tipo de estudo (exceto revisão de literatura) e ano de publicação (2008 a 2013), consequentemente foram excluídos os estudos que não obedeceram aos critérios supracitados. Durante a revisão dos artigos outros critérios como o sexo das vítimas, a faixa etária, o grau das lesões, o agente etiológico, a intencionalidade, o local do acidente,

1338 o tempo de internação hospitalar e a taxa de mortalidade emergiram, informações que foram imprescindíveis para alcançar o objetivo proposto nesse estudo. Utilizando a combinação dos descritores queimaduras e epidemiologia, foram encontradas 16 publicações na base LILACS, seis na BDENF e 11 na SciELO. Com a combinação dos descritores queimaduras e perfil de saúde foram encontradas cinco publicações na base LILACS, nenhuma na BDENF e uma na SciELO. No banco de dados online da Revista Brasileira de Queimaduras, utilizando o descritor epidemiologia, foram localizados 47 artigos, e com o descritor perfil de saúde nenhuma publicação foi encontrada. Após avaliação criteriosa, supressão das duplicatas e eliminação das publicações cuja temática não contemplava a abordagem desse estudo, permaneceram sete artigos, sendo cinco do banco de dados eletrônico da Revista Brasileira de Queimaduras, um da base LILACS e um da SciELO. RESULTADOS E DISCUSSÃO A TAB. 1. demonstra a caracterização dos artigos analisados, segundo autor e ano e local de publicação, amostra e principais resultados. TABELA 1 Perfil epidemiológico das vítimas de queimaduras no Brasil (CONTINUA) Autor e ano de publicação Localidade Amostra Resultados Gimenes et al., 2009. Sorocaba (SP) 172 Observou-se a predominância das internações de adultos do sexo masculino (65,5%) e indivíduos com uma idade média de 27,9 anos. A maioria das lesões foi causada por fogo (48,2%), sendo o álcool o principal agente etiológico (43,3%). 86% dos casos foram de natureza acidental, ocorrendo em ambiente domiciliar (55,2%), com a maior parte das vítimas (57%) apresentando queimaduras de pequena extensão. Coutinho et al., 2010. Campo Grande (MS) 977 Houve maior predominância de vítimas do sexo masculino (61,41%) e maior concentração de queimados em indivíduos acima dos 16 anos de idade (54,86%). No que diz respeito ao agente etiológico, foram mais comuns queimaduras causadas por álcool (18,93%). Foram identificados períodos de internação inferiores a quinze dias (64,18%) como mais frequentes, e obtida uma taxa de óbitos de 6,04%. Lacerda et al., 2010. São (SP) Paulo 101 Dos 101 admitidos na unidade, a maioria (69,3%) foi do sexo masculino, com uma média de internação mensal de 8,3 dias. A idade média dos encontrada foi de 33,7 anos e as lesões decorrentes da manipulação de líquido inflamável (40,6%) foram as mais frequentes, tendo o álcool como o principal agente (31,3%). A maioria dos casos foi diagnosticado como pequeno queimado (61,4%), apresentando uma SCQ média de 11,3%. A taxa de mortalidade atingida foi de 5,94%.

1339 TABELA 1 Perfil epidemiológico das vítimas de queimaduras no Brasil (CONTINUAÇÃO) Autor e ano Localidade Amostra Resultados de publicação Montes, Barbosa e Sousa Neto, 2010. Uberaba (MG) 138 A maior parte dos 138 internados correspondia ao gênero masculino (71%), apresentando uma idade média de 26,1 anos. O tempo médio de internação foi de 16,2 dias e 67,4% dos casos foram de natureza acidental. A principal causa das lesões foi o contato com chama aberta (49,3%), e a SCQ média encontrada foi de 20,8%. Leão et al., 2011. Belo Horizonte (MG) 687 Os homens (62,5%) foram as maiores vítimas de queimaduras e a maioria dos tinha uma idade média de 29 anos. O álcool foi o agente etiológico mais frequente (34,4%). A média de SCQ encontrada foi de 20,8%. Quanto à intencionalidade, a maioria dos casos aconteceu de forma acidental (79%). A média do tempo de internação foi de 23,5 dias, com uma taxa de mortalidade alcançando 16,3%. Tavares e Hora, 2011. Aracaju (SE) 100 As vítimas eram em sua maioria do sexo masculino (65%), jovens com idade entre 15 a 20 anos (73%), com queimaduras causadas por lesão térmica (81%), predominantes de contato com líquido superaquecido (59%), ocorridas de forma acidental (94%) e em ambiente domiciliar (64%). Reis et al., 2011. Aracaju (SE) FONTE: Dados da pesquisa 526 Predominou os casos de queimaduras em do sexo masculino (65,9%), com uma incidência maior na faixa etária entre 0 6 anos (45,30%). Baseado no agente etiológico, a prevalência maior foi de lesões causadas por escaldadura (53,3%), sendo as mais recorrentes as de porte médio (68,2%). Quanto à permanência hospitalar, foi evidenciado que 80,5% dos permaneceram na unidade por um período inferior a 15 dias. Do total 3,1% foram a óbito. Na análise da variável sexo, todos os autores apresentaram a predominância de indivíduos do sexo masculino como a maioria das vítimas de queimaduras, sendo a maior incidência (71%) encontrada no estudo realizado por Montes, Barbosa e Sousa Neto (2010). Com relação à faixa etária, os autores concordam que a maior parte dos casos de queimadura acontece entre a população adulta jovem. Em seis publicações foi observado que a maioria dos possui idade superior a 14 anos. Para Gimenes et al. (2009), a idade média das vítimas foi de 27,9 anos, contudo Lacerda et al. (2010), encontraram uma média de idade de 33,7 anos. Montes, Barbosa e Sousa Neto (2010), em seu estudo obteve uma média de 26,1 anos, Leão et al. (2011) uma média de 29 anos e Tavares e Hora (2011) identificaram jovens com

1340 idade entre 15 a 20 anos como as maiores vítimas. Em contrapartida, Reis et al. (2011), em sua pesquisa encontraram uma incidência maior de queimaduras na faixa etária de 0 a 6 anos. Todos os estudos apresentaram a lesão térmica, resultante da exposição ou contato com chama e líquidos quentes, a principal causa das ocorrências. Quatro estudos trazem como principal agente etiológico o álcool, um o fogo, um escaldadura e um não especificou o agente causador da queimadura. Segundo a intencionalidade, dos sete artigos, três não analisaram esta variável. Tavares e Hora (2011), Leão et al. (2011), Montes, Barbosa e Sousa Neto (2010) e Gimenes et al. (2009), identificaram a maioria dos casos como de natureza acidental. Foi observado ainda por Tavares e Hora (2011) e Gimenes et al. (2009), que a maior parte destes acidentes ocorreu em ambiente domiciliar. Os demais autores não informaram o local de origem da ocorrência. Quanto ao porte da queimadura, Reis et al. (2011), apresentam a predominância do porte médio. Lacerda et al. (2010) e Gimenes et al. (2009), constataram a maior incidência de queimaduras como de pequeno porte. Os demais artigos não apresentaram este índice. Baseado na determinação do total de SCQ, dos sete autores, três não realizaram esta avaliação. Leão et al. (2011) e Montes, Barbosa e Sousa Neto (2010), identificaram a média de SCQ predominante como de 20,8%, e Lacerda et al. (2010) uma SCQ média de 11,3%. Gimenes et al. (2009), constataram que a maioria dos apresentou menos que 10% de SCQ. Com relação ao tempo de permanência hospitalar, quatro artigos evidenciaram que a maior parte dos permaneceu internada por um período inferior a 15 dias, no entanto Montes, Barbosa e Sousa Neto (2010), detectaram o tempo médio de internação sendo de 16,2 dias. Dois artigos não realizaram esta análise. Em relação às taxas de mortalidade, o maior registro foi encontrado no estudo realizado por Leão et al. (2011) que identificou uma taxa de óbitos no valor de 16,3%. Em contrapartida, Reis et al. (2011) apresentou um das menores taxas de mortalidade (3,1%), seguido, respectivamente, por Lacerda et al. (2010) e Coutinho et al. (2010).Três artigos não apresentaram esta informação. Portanto, observou-se com esta pesquisa que a maior parte dos casos de queimaduras ocorreu em indivíduos do sexo masculino e jovens maiores de 14 anos. A maioria das lesões térmicas apresentadas pelos foi resultante de exposição ou contato com chama e líquidos quentes, sendo essas classificadas como de pequeno e médio porte, não atingindo mais que 21% de SCQ. Predominaram as ocorrências de natureza acidental, em ambiente domiciliar, com um tempo de permanência hospitalar inferior a 15 dias, e uma taxa de mortalidade que não ultrapassou 16,3%. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Brasil, apesar do seu desenvolvimento progressivo no cenário social e econômico, ainda ostenta elevados índices de acidentes envolvendo queimaduras, tornando imprescindível a adoção de políticas públicas de saúde com o intuito de

1341 promover ações educativas voltadas à promoção e prevenção deste tipo de agravo no país. Baseado nos artigos analisados foi possível identificar que a maioria dos casos de queimaduras pode ser evitado, pois ocorre de forma acidental, em ambiente domiciliar, principalmente devido a manipulação de produtos inflamáveis. Além disso, os impactos socioeconômicos são preocupantes, posto que os jovens são as maiores vítimas, o que ocasiona uma diminuição da produtividade e consequentemente uma desestruturação da unidade familiar. Constatou-se ainda, a importância da produção de novos estudos sobre o tema, principalmente por parte dos profissionais de saúde, a fim de contribuir para um melhor entendimento sobre as repercussões causadas pelas queimaduras e colaborar com o aprimoramento da assistência prestada nesse tipo de trauma. REFERÊNCIAS BOLGIANI, Alberto N.; SERRA, Maria Cristina do Valle Freitas. Atualização no tratamento local das queimaduras. Rev. Bras. de Queimaduras. p.38-44, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde: Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Cartilha para tratamento de emergência das queimaduras. Brasília: Ministério da Saúde, 20p, 2012. CANELA, Adriana de Fátima et al. Monitorização do paciente grande queimado e as implicações na assistência de enfermagem: relato de experiência. Rev. Bras. de Queimaduras. p.133-7, 2011. COUTINHO, Bruno Barros de Azevedo et al. Perfil epidemiológico de internados na enfermaria de queimados da Associação Beneficente de Campo Grande Santa Casa/MS. Rev. Bras. de Queimaduras, v.9, n.2, p.50-3, 2010. FERNANDES, Fernanda Maria Félix de Alencar et al. Queimaduras em crianças e adolescentes: caracterização clínica e epidemiológica. Rev. Gaúcha de Enfermagem. p.133-141, 2012. GIMENES, Gustavo A. et al. Estudo epidemiológico de internados no Centro de Tratamento de Queimados do Conjunto Hospitalar de Sorocaba. Rev. Bras. de Queimaduras, v.8, n.1, p.14-7, 2009. IURK, Lauren K. et al. Evidências no tratamento de queimaduras. Rev. Bras. de Queimaduras. p.95-99, 2010. LACERDA, Liliane do Amaral et al. Estudo epidemiológico da Unidade de Tratamento de Queimaduras da Universidade Federal de São Paulo. Rev. Bras. de Queimaduras, v.9, n.3, p.82-8, 2010.

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