AGRUPAMENTO VERTICAL DE ESCOLAS DE ARCOZELO Escola Básica com Secundário de Arcozelo CURSOS PROFISSIONAIS DE NÍVEL SECUNDÁRIO Leitura Informativa 12.º A Camões, Luís V. de (1524-1580) Poeta português, considerado por muitos o maior poeta português, é o autor do famoso poema épico, Os Lusíadas, e de uma considerável obra lírica e dramática. Os seus dados biográficos mais importantes podemos obtê-los na sua vastíssima obra poética. Através dela se conhecem os seus amores, a vida boémia e arruaceira, as alegrias e frustrações, a pobreza e as inquietações transcendentais. Viveu algum tempo em Coimbra onde terá frequentado aulas de Humanidades no Mosteiro de Santa Cruz. Regressou a Lisboa, levando aí uma vida de boémia. Em 1553, depois de ter sido preso devido a uma rixa, partiu para a Índia. Fixou-se na cidade de Goa e aí terá escrito grande parte da sua obra. Foi nessa mesma cidade que sofreu caluniosas acusações, dolorosas perseguições e duros trabalhos, vindo Diogo do Couto a encontrá-lo em Moçambique, em 1568, "tão pobre que comia de amigos", trabalhando n'os Lusíadas e no seu Parnaso, "livro de muita erudição, doutrina e filosofia", segundo o mesmo autor. Regressou a Portugal em 1569, pobre e doente, conseguindo publicar Os Lusíadas em 1572, graças à influência de alguns amigos junto do rei D. Sebastião, a quem era dedicado, o que lhe valeu uma tença anual de 15 000 réis pelo prazo de três anos. Os últimos anos de Camões foram amargurados pela doença e pela miséria. Reza a tradição que se não morreu de fome foi devido à solicitude de um escravo Jau, trazido da Índia, que ia de noite, sem o poeta saber, mendigar de porta em porta o pão do dia seguinte. Faleceu em Lisboa no dia 10 de Junho, que é hoje comemorado como o Dia de Portugal e das Comunidades Lusófonas. O seu enterro foi feito a expensas de uma instituição de beneficência, a Companhia dos Cortesãos. Um fidalgo letrado seu amigo mandou inscrever-lhe na campa rasa um epitáfio significativo: "Aqui jaz Luís de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente, e assim morreu." A sua obra situa-se entre o Classicismo e o Maneirismo, destacando-se, para além da já referida epopeia: Rimas, El-Rei Seleuco, Auto de Filodemo e Anfitriões. Luís de Camões. In Netprof [Em linha] [Consult. 2011-10-20]. Disponível na www: <URL: http://www.netprof.pt/netprof/servlet/getdocumento?temaid=np0213&id_versao=10385 1
Os Lusíadas Autoria: Luís de Camões Data de publicação: 1572 Introdução Célebre poema épico de Luís de Camões, publicado em 1572, que, narrando a descoberta do caminho marítimo para o Oriente por Vasco da Gama, encerra ainda uma síntese da História pátria. É uma epopeia clássica, inteiramente fiel às regras e convenções impostas pelo género, tendo como fontes a Eneida, de Virgílio, e a Poética, de Marco Girolamo Vida, que teoriza sobre a epopeia. O sonho de todo o bom poeta do século XVI era a criação de uma epopeia, à imitação de Homero e Virgílio. Assunto de interesse nacional e mesmo universal não faltava: os Descobrimentos. Era necessário imortalizá-los. Antes de Camões, o italiano Angelo Policiano ofereceu-se a D. João II para o fazer; Garcia de Resende, no prólogo do Cancioneiro Geral, insiste na necessidade da criação de uma epopeia; Diogo de Teive e João de Barros chegaram a projetar epopeias como forma de imortalizar os Descobrimentos; António Ferreira encorajou Pero de Andrade Caminha a escrever versos sobre os feitos portugueses. Estava criada a circunstância propícia, só faltava o poeta de génio. Esse foi Camões. O acontecimento central da obra é o descobrimento do caminho marítimo para a Índia. Para o seu tratamento literário, Camões inventou uma fábula mitológica onde os deuses, como se fossem humanos, entram em conflito por causa da viagem de Vasco da Gama. Gera-se uma verdadeira intriga, no fim da qual os homens são mitificados. Ao mesmo tempo, são evocadas as glórias da nacionalidade, com admirável engenho, na narrativa do próprio Gama, verdadeira síntese da História pátria. Durante muito tempo não se compreendeu a função mitificadora da presença da mitologia pagã e até houve censura ao poeta por este facto. Hoje, porém, compreende-se que é dela, em grande parte, que depende a coesão narrativa e, em simultâneo, a diversidade, a vida e a criatividade patente na obra. A obra A obra Os Lusíadas encontra-se dividida em dez Cantos, tendo cada um deles um número variável de estrofes: oitavas (estrofes de oitos versos com estrutura rimática abababcc) formadas por versos decassilábicos heroicos à semelhança do que acontece no Orlando Furioso de Ludovico Ariosto. Segue, globalmente, a Eneida de Virgílio na estrutura apresentada: uma Proposição, uma Invocação, uma Dedicatória (que a Eneida não tem) e a narração iniciada in medias res, ou seja, quando a ação principal está já em curso e voltando, posteriormente, ao início. Apresentando um 2
tom grandioso e eloquente, que contrasta com a "humildade do lirismo", o poeta introduz, de acordo com a tradição da Antiguidade Clássica, a mitologia (neste caso pagã e cristã), as profecias sobre o futuro, alternando o tom épico com o lírico, e imprimindo à obra uma intencionalidade pedagógica. Na verdade, esta obra, de estilo culto, erudito, com recursos a latinismos, perífrases mitológicas, alusões à História antiga, reflete um conhecimento profundo das culturas grega e romana por parte do autor, à qual não é alheia a sua educação. Esta obediência aos modelos formais e temáticos clássicos é, volta e meia, subvertida pela criatividade do poeta, nomeadamente nos momentos em que este faz rivalizar os heróis humanos com os deuses, destronando certas figuras mitológicas e elevando os homens à condição divina e recompensando-os com estímulos eróticos e afetivos (episódio da Ilha dos Amores) e intelectuais, permitindo-lhes a contemplação da "Máquina do Mundo" e o conhecimento do futuro. Para além destas subversões, o poema camoniano tem um herói coletivo - o povo português -, representado através de uma sinédoque - "O peito ilustre lusitano" - que visa o engrandecimento do Império e a expansão da Fé e da cultura europeia. Assim, superando os poetas estrangeiros que se limitavam a imitar modelos literários, Camões enforma a sua obra com vivências coletivas e dinamizadoras fundamentadas na História de Portugal, principalmente na história da expansão: "A verdade que eu conto, nua e crua, vence toda a grandíloqua escritura!" - Os Lusíadas, Canto V, 89. Mas, embora seguindo os modelos clássicos, Luís de Camões imprimiu à sua epopeia um cunho pessoal, nomeadamente no que se refere ao tema, com o objetivo de lhe conferir uma maior veracidade. Introduzindo um tema histórico, o poeta narra ações realmente acontecidas, tendo para tal recorrido a fontes diversas: Crónica de D. Afonso Henriques, de Duarte Galvão, crónicas de Rui de Pina e de Fernão Lopes, a História do Descobrimento e Conquista da Índia, de Fernão Lopes de Castanheda, e as Décadas da Ásia, de João de Barros, entre outras. Para além disso, a experiência e experimentação vividas "...vi claramente visto..." assumem uma importância fundamental na narrativa, afirmando Isabel Pascoal, in Poesia Lírica de Luís de Camões, edição Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, que: "As descrições da natureza, de fenómenos como a tromba-marinha, o fogo de santelmo, a tempestade, a informação geográfica e civilizacional, a referência a povos e costumes, à flora e à fauna exóticas... é o resultado de uma experiência nova e apaixonadamente vivida". E desta capacidade de observação resulta um peculiar e novo sentimento de confiança no homem que aparece agora como um ser capaz de contrariar o destino, de dominar as leis da natureza e de se afirmar como um "indivíduo criador". Procurando ser objetivo e verídico, o autor pretende fundamentalmente veicular a sua interpretação da História de Portugal, o que permite olhar a obra de dois prismas: por um lado, esta aparece como um texto apologético dos feitos heroicos dos portugueses, nomeadamente através da Proposição, indo de encontro à ideologia oficial; por outro, ela deixa transparecer uma 3
posição crítica face à política oficial da expansão que comporta demasiados perigos e riscos para os portugueses, através, entre outros, do episódio do "Velho do Restelo" que personifica a oposição do "homem da rua" a este empreendimento: "o fogo que Prometeu trouxe do céu e ajuntou ao peito humano, e logo o mundo em armas acendeu,/ em mortes, em desonras - grande engano." e que, segundo Hernâni Cidade, in Obra Completa de Luís de Camões, "dá expressão ao profundo receio unânime contra a inquietação". Perigos que vão ser precisados através das profecias do Adamastor, no Canto V, e que representam, também de acordo com Hernâni Cidade, "a face tenebrosa da história que realizámos". E são estes acontecimentos narrados com grandes preocupações de veracidade, associados a uma grande beleza literária, que fazem de Os Lusíadas uma obra universal. Planos Na epopeia Os Lusíadas, de Camões, há quatro planos, que se vão entrelaçando ao longo da obra: - Plano da Viagem (plano central, que se encontra sobretudo nos cantos I, II, IV, V, VI, VII e VIII) com a narração dos acontecimentos ocorridos durante a viagem entre Lisboa e Calecut (partida, peripécias da viagem, paragem em Melinde, chegada à Índia; regresso e chegada a Lisboa). - Plano da História de Portugal (plano encaixado que aparece, nomeadamente, nos cantos III, IV, VIII) com o relato dos factos marcantes da História de Portugal (em Melinde, Vasco da Gama narra ao rei os acontecimentos da nossa História, desde Viriato até ao reinado de D. Manuel I; em Calecut, Paulo da Gama apresenta ao Catual episódios e personagens representados nas bandeiras; em prolepse, através de profecias, é narrada a História posterior à Viagem do Gama) - Plano da Mitologia (plano paralelo que ocorre sobretudo nos cantos I, II, VI, IX, X) que permite e favorece a evolução da ação (os deuses assumem-se, uns como adjuvantes, outros como oponentes dos Portugueses). A mitologia constitui, por isso, a intriga da obra. São os deuses que apoiam ou criam dificuldades à ação dos portugueses: Consílio dos Deuses no Olimpo; Consílio dos Deuses Marinhos; A Ilha dos Amores... - Plano do Poeta (plano ocasional que surge, especialmente, no canto III e no fim dos cantos I, V, VI, VII, VIII, IX, X) com as considerações e as opiniões do autor expressas, nomeadamente, no início e no fim dos Cantos. 4
Elementos Os elementos de uma epopeia são quatro: AÇÃO (o assunto no seu desenvolvimento), PERSONAGEM/HERÓI (o agente principal/actante-sujeito), MARAVILHOSO (intervenção de seres superiores), FORMA (forma natural de literatura, estrutura versificatória). Na obra "Os Lusíadas", e em obediência às regras acima enunciadas, encontramos os seguintes elementos: Ação - viagem marítima de Vasco da Gama à Índia Herói - o Povo Português, representado simbolicamente na figura do comandante das naus, Vasco da Gama Maravilhoso Cristão - intervenção do Deus dos Cristãos Pagão - intervenção das divindades da mitologia Forma Narrativa Versos decassílabos (geralmente heroicos, com o acento rítmico na 6.ª e 10.ª sílaba) Rimas com esquema abababcc Estâncias - oitavas Poema dividido em dez cantos (num total de 1102 estâncias, sendo o canto mais longo o X com 156 e o mais pequeno o VII com 87 estrofes) Partes da Epopeia De acordo com as regras do género, a epopeia clássica estrutura-se em três partes obrigatórias: Proposição (apresentação do assunto), Invocação (súplica da inspiração) e Narração (desenvolvimento do assunto, por vezes iniciado em meio da ação - in medias res). Pode incluir uma parte facultativa, a Dedicatória (oferecimento da obra). Na Narração, é possível encontrar o Epílogo (fechamento da epopeia) com a consagração dos heróis. Os Lusíadas, na sua estrutura interna, possui: 5
A Proposição (Canto I, estâncias 1 a 3) onde o Poeta indica aquilo que se propõe cantar. As Invocações : - 1.ª (Canto I, estâncias 4 e 5) - súplica às Tágides (ninfas do Tejo) para que o ajudem na organização do poema e lhe deem inspiração para cantar os feitos heroicos lusitanos; - 2.ª (Canto III, ests. 1 e 2) - súplica a Calíope, porque estão em causa os mais importantes feitos lusíadas; - 3.ª (Canto VII, ests. 78 a 87) - súplica às ninfas do Tejo e do Mondego, queixando-se dos seus infortúnios; - 4.ª (Canto X, ests. 8 e 9) - novo pedido a Calíope para que o inspire para terminar a obra. A Dedicatória (Canto I, estâncias 6 a 18), com o oferecimento do poema a D. Sebastião. A Narração (a partir do Canto I, estâncias 19 e seguintes), iniciada in medias res (quando a frota se encontra no Canal de Moçambique), tem momentos retrospetivos (da história de Portugal e da viagem), momentos prospetivos (sonhos, presságios, profecias?) e Epílogo (regresso dos nautas incluindo o episódio da Ilha dos Amores). Os Lusíadas. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-10-20]. Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$os-lusiadas>. 6
A Ilha dos Amores O mito da Ilha dos Amores é contado por Luís de Camões, nos Cantos IX e X d'os Lusíadas. Nestes cantos, é relatada a vontade da deusa Vénus em premiar os heróis lusitanos, com um merecido descanso e com prazeres divinos, numa ilha paradisíaca, no meio do oceano, a Ilha dos Amores. Nessa ilha maravilhosa, os marinheiros portugueses podiam encontrar todas as delícias da Natureza e as sedutoras Nereidas, divindades das águas, irmãs de Tétis, com quem se podiam alegrar em jogos amorosos. Durante um banquete oferecido aos Portugueses, a ninfa Sirena canta as profecias sobre a gente lusa que incluem as suas glórias futuras no Oriente. Em seguida, Tétis, a principal das ninfas, conduz Vasco da Gama ao topo de um monte "alto e divino" e mostra-lhe, de acordo com a cosmografia geocêntrica de Ptolomeu, a "máquina do mundo", uma fábrica de cristal e ouro puro, à qual apenas os deuses tinham acesso, e que se tornou também num privilégio para os Portugueses. Tétis faz a descrição da máquina do mundo e prediz feitos valorosos, prémios e fama ao povo português. Depois do descanso merecido, os Portugueses partem da ilha e regressam a Lisboa. O mito da Ilha dos Amores, narrado por Camões, é fruto da sua imaginação, quer povoada dos lugares maravilhosos onde as suas viagens o levaram, quer influenciada pelas míticas ilhas da literatura grega ou de outras lendas árabes e indianas. A moral pagã opõese aqui à moral cristã, da mesma forma que os novos ventos da mudança do renascimento de inspiração grega se opõem às limitações e ao pensamento medíocre da Inquisição. Neste episódio simbólico da Ilha do Amores, Camões tenta imortalizar os heróis lusitanos que tão grandes façanhas fizeram em nome de Portugal. A Ilha dos Amores. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-10-20]. Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$a-ilha-dos-amores>. 7
Vasco da Gama Navegador português, nasceu em Sines, por volta de 1468, filho ilegítimo de Estêvão da Gama, que esteve ao serviço de D. João II como marinheiro. Vasco da Gama era também um experimentado navegador que já executara várias missões ao serviço de D. João II. D. Manuel I nomeia-o comandante da frota que vai descobrir o caminho marítimo para a Índia. Faziam parte desta expedição três naus e um navio de mantimentos. A frota parte de Lisboa a 8 de julho de 1497 e chega a Moçambique a 2 de março de 1498. Segue depois para Melinde, onde obtém a ajuda de um piloto mouro, acabando por aportar a Calecute, na Índia, em 17 de maio de 1498. Apesar do aparente bom acolhimento, aparecem as intrigas dos comerciantes árabes, que põem em perigo a estadia da frota portuguesa. Em outubro de 1498 tem início a viagem de regresso, dandose a chegada a Lisboa em agosto de 1499. Estava descoberto o caminho marítimo para a Índia há tanto tempo procurado, e era o culminar de tantos anos de esforços. Face aos problemas que entretanto surgem na Índia, Vasco da Gama volta lá em 1502 com uma armada de 20 navios, submetendo Quíloa e fazendo alianças com os reis de Cochim e Cananor, com o que deixa assegurado o domínio português no Oceano Índico. Regressa carregado de especiarias em 1504. Em 1524 D. João III nomeia-o vice-rei da Índia, onde chega em setembro, para lutar contra os abusos existentes que punham em causa a presença portuguesa na região. Vasco da Gama começa a atuar rigidamente e consegue impor a ordem, mas vem a morrer em dezembro desse mesmo ano, sendo os seus restos mortais trazidos para Portugal. Vasco da Gama. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-10- 20]. Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$vasco-da-gama>. 8