ACÓRDÃO N. /2015 RECURSO ELEITORAL N. 92-86.2013.6.04.0006 CLASSE 30 6 a ZONA ELEITORAL - MANACAPURU Autos: Recurso Eleitoral Doação acima do Limite Legal Pessoa Física. Recorrente: Ministério Público Eleitoral Recorrido: Jair Souza dos Santos Advogado: Eduardo Alexandre Guedes Relator: Juiz Ricardo Augusto De Sales EMENTA: ELEIÇÕES 2012. REPRESENTAÇÃO POR DOAÇÃO ACIMA DO LIMITE LEGAL DE PESSOA FÍSICA. ART. 23 DA LEI N 9.504/97. AUSÊNCIA DE PROVAS DO ALEGADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL. PERMISSÃO DE DOAÇÃO DE ATÉ 10% DO VALOR DO LIMITE DE ISENÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. Decide o Egrégio Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas, à unanimidade e em consonância com o parecer ministerial, pelo improvimento do recurso, nos termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante deste julgado. Sala das Sessões do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas, em Manaus, ' de janeiro de 2015. Desembargador JOÃ MAU O BESSIk. Presidente em exercício Juiz RICARDO AUGUSTO DE S S Relator Doutor VICTe -RICCELY LINS SANTOS Procurador Regional Eleitoral Substituto
Eis. RELATÓRIO Trata-se de Recurso Eleitoral contra a r. sentença do MM. Juiz da 6a Zona Eleitoral que julgou improcedente pedido formulado pelo Ministério Público Eleitoral por ausência de provas do alegado pelo parquet. Em seu recurso, aduz o Recorrente que " além da indicação precisa dos fatos na inicial, bem como da juntada de informações da Receita Federal do Brasil de que o representado realizou doação acima dos limites legais, consta dos autos a informação de que o requerido fez doação de R$580,00 ( quinhentos e oitenta reais), em valor estimado, para o candidato Orlando Gualberto Cidade Filho, conforme pode ser comprovado por consulta ao SPCE WEB, acessível a qualquer interessado." Ressalta que o documento necessário para a propositura da Representação por excesso de doação é a informação fornecida pela Receita Federal, sendo esta prova suficiente para se julgar se houve a observância ou não do limite de doação estabelecido em lei. Por fim, requer seja o recurso recebido e provido para fins de reforma da sentença prolatada pelo Juízo a quo, julgando procedente a representação por excesso de doação de campanha. Instado a se manifestar, o Parquet atuante nesta Egrégia Corte opinou pelo conhecimento e improvimento do recurso interposto. (fls.84/88) É o relatório. 2
VOTO Estabelece o art. 23, 1, I da Lei n. 9.504/97 que as pessoas físicas poderão doar até o limite de 10% (dez por cento) do faturamento bruto do ano anterior à eleição. Pois bem, no caso em tela, a quebra de sigilo fiscal revelou que o Recorrido não apresentou declarações à Receita Federal do Brasil no ano de 2011, não informando ter auferido rendimentos no período no período ou ter realizado quaisquer doações a partidos políticos (fls. 18-23). Em primeira instância o Ministério Público Eleitoral não carreou aos autos qualquer documento que comprovasse os valores supostamente doados irregularmente pelo recorrido, razão pela qual entendeu o Juízo a quo julgar improcedente a demanda. Da detida análise dos autos, verifica-se não merecer reforma a sentença guerreada, uma vez que proferida de acordo com o ordenamento jurídico. O ônus da prova incube a quem o alega, não tendo o ministério público cumprido este mister (art. 333 do CPC). Apesar de alegar em sede recursal que teria havido doação no valor de R$580,00 (quinhentos e oitenta) reais em valor estimado ao candidato 3
Orlando Gualberto Cidade Filho, não há nenhum documento nos autos que faça menção a tal fato ou que comprove ter sido referida doação feita acima do limite legal, razão pela qual agiu com acerto o juiz sentenciante ao aduzir a ausência de provas do alegado pelo parquet. Nesse sentido é a jurisprudencia dos Tribunais Eleitorais: REPRESENTAÇÃO. EXCESSO DE DOAÇÃO DE CAMPANHA ELEITORAL. PESSOA FÍSICA. DOAÇÃO EM DINHEITO. REVELIA RELATIVA. AUSÊNCIA DE DECLARAÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA NO ANO ANTERIOR AO PLEITO. POSSIBILIDADE DE SE AFERIR O LIMITE DE DOAÇÃO COM BASE NO VALOR MÁXIMO PARA ISENÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA. RAZOABILIDADE DO PARÂMETRO. PRECEDENTES DO TSE E DO TRE/AL. PRESUNÇÃO RELATIVA DE REGULARIDADE DA DOAÇÃO. ÔNUS DA PROVA. REPRESENTANTE. INAPLICABILIDADE DO ART. 335 DO CPC. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 22, I DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO ART. 23, 1, INCISO I, DA LEI N 9.504/97. IMPROCEDÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO. 1. Se não há elementos no caderno processual que permitam precisar qual a renda do réu, a despeito da informação de que ele é isento, deve-se considerar como limite máximo para a doação aquele estipulado para a isenção do imposto de renda. Inaplicabilidade do art. 135 do CPC. 2. O ônus de provar a irregularidade da doação de campanha eleitoral compete ao Representante. 3. Deve-se acatar a presunção relativa em favor do Representado, mormente quando o Representante não se desimcube do dever de provar o excesso de doação.
4. (...) omissis ( TRE/AL REP 85970 AL, Relator: Frederico Wildson da Silva Dantas, Data de julgamento: 08/08/2012, Data de Publicação: DJEAL Diário Eletrônico da Justiça Eleitoral de Alagoas, Tomo 155, Data 10.08.2012, Página 05) Ademais, mesmo que assim não fosse, cumpre ressaltar que ausentes nos autos qualquer documento que permita precisar o real rendimento auferido pela pessoa física no ano anterior ao pleito, deve ser considerado como parâmetro para verificação do limite de doação o teto para isenção do Imposto em vigor à data da doação. Nesse sentido o seguinte julgado: " RECURSO ELEITORAL REPRESENTAÇÃO DOAÇÃO FEITA POR PESSOA FÍSICA PARA CAMPANHA ELEITORAL- LIMITE LEGAL NÃO OBSERVÂNCIA RENDA PRESUMIDA PELO MÁXIMO DO VALOR ISENTO PARA FINS DE DECLARAÇÃO ANUAL DE AJUSTE DE RENDA MULTA MANTIDA RECURSO IMPROVIDO. Diante da ausência de declaração anual de Imposto de Renda da pessoa física, referente ao ano anterior ao pleito eleitoral, é válida a presunção de que o doador tenha auferido rendimentos no limite legal máximo para isenção da obrigação de declarar rendas ao Fisco Nacional. A doação feita por pessoa física para campanha eleitoral de quantia acima do limite de 10% dos rendimentos brutos auferidos no ano anterior ao da eleição sujeita o infrator à multa no valor de cinco a dez vezes a quantia doada em excesso." ( RECURSO DE DECISÃO DOS JUIZES ELEITORAIS n 1701, Acórdão, 17142 PEIXORTO DE AZEVEDO MT 19/08/2008.
"f RE/AM Relator(a) REANTO CESAR VIANNA GOMES, Publicação DEJE Diário Eletrônico da Justiça Eleitoral, Tomo 248, Data 25/08/2008) Nesse passo, para o ano calendário de 2011 as pessoas físicas cujo rendimento anual bruto não haja superado a R$ 23.499,15 ( vinte e três mil, quatrocentos e noventa e nove reais e quinze centavos) foram consideradas isentas do pagamento do Imposto de Renda. Dessa forma, razoável entender que era permitido ao recorrido doar até 10% desse valor, ou seja, R$2.349,91 ( dois mil, trezentos e quarenta e nove reais e noventa e um centavos). Portanto, confrontando-se o valor supostamente doado o qual sequer ficou comprovado de R$580,00 (quinhentos e oitenta reais), com o limite de isenção do Imposto de Renda pessoa física no ano de 2011, concluise que não foi ultrapassado o limite do art. 23, 1, I da Lei 9.504/97. Pelo exposto, voto, em harmonia com o parecer ministerial, pelo conhecimento e improvimento do recurso interposto pelo Ministério Público Eleitoral É como voto. cautelas de praxe. Transitado em julgado, arquivem-se os autos, com anotações e Manaus,' de janeiro de 2015. Juiz RICARDO A. DE SA CA Relator 6