ATENDIMENTO NO PRÉ-NATAL DA UNIFESO: AVALIAÇÃO LABORATORIAL E VISÃO DO HOSPITAL DE ENSINO VASCONCELLOS, Marcus José do Amaral. Docente do Curso de Medicina Unifeso. SOUSA,Amanda Barreto de Sousa.Discente do Curso de Graduação em Medicina Palavras-Chave: Pré-Natal; exames laboratoriais; ambulatório de ensino INTRODUÇÃO: A experiência de quem lida com Obstetrícia, ensina claramente que um pré-natal bem feito é responsável por um desfecho favorável no parto e puerpério, e portanto temos que incentivar, explicar, promover, quem sabe até obrigar a mulher a fazer o acompanhamento com profissional capaz.resende et al ( 2 ) afirmam claramente, que entre 2003 e 2010, na cidade de Belo Horizonte, a família de 11 mulheres que haviam falecido durante a gestação relataram que elas não haviam feito o pré-natal corretamente. Infelizmente quando examinamos a distribuição de complicações na gravidez, qualquer que seja a causalidade, não podemos deixar de reconhecer, que os grandes problemas estão nos países com Índice de Desenvolvimento Humano baixo/muito baixo. E neste grupo está nosso país. Reis et al. ( 3 ), examinando fatores demográficos em saúde em São Tomé e Príncipe, em amostra de cerca de 1300 recém-natos, encontraram somente 26% de acolhimento pré-natal adequado. As principais dificuldades encontradas foram a alta paridade, a escolaridade materna, e o índice socioeconômico da família. Este é um dos inúmeros exemplos que temos nestes países. Finalmente precisamos ouvir as pacientes. Holanda et al. ( 4 ) publicou o seu Inventário de Avaliação da assistência ao Pré-natal, Parto e Puerpério que levou em consideração a opinião das usuárias do sistema público de saúde em nosso país. Levando em consideração as informações socioeconômicas, a história obstétrica, a descrição da experiência no parto e o puerpério, o inventário mostrou-se válido para concluir os desejos, necessidades, críticas e elogios que as pacientes expressam após o nascimento de seu filho. Trata-se de instrumento que deveria ser aplicado em todos os serviços de obstetrícia do país. Um dos indicadores de saúde mais importante para que um país seja qualificado como de boas condições de saúde pública, é o nascimento de uma criança saudável, que possa ter um desenvolvimento psicomotor normal, e adequar-se a vida. Além disso, a mulher deve sair do processo, de preferência melhor que quando entrou para iniciar seu pré-natal.
Este trabalho procurou detalhar o atendimento pré-natal sob o ponto de vista da análise laboratorial no pré-natal que acontece no ambulatório de nosso hospital Escola, por princípio um ambiente de médicos em treinamento ( residentes ) e futuros profissionais ( estudantes do Curso de Medicina ).Além disso, precisamos sempre ficar atentos ao grau de interferência que a presença de médicos em formação e estudantes possa ter na consulta da gestante. Sob a ótica do ensino sempre achamos indispensável e produtivo, mas como é interpretado pela paciente? Esta é a segunda justificativa para este trabalho. Estamos invadindo demais o ambiente da relação médico-paciente? Estamos ajudando esta relação? OBJETIVOS: Objetivo Geral -Avaliar se as pacientes atendidas no ambulatório de pré-natal do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Clínicas de Teresópolis da UNIFESO, tinham os parâmetros laboratoriais mínimos da consulta aferidos. Objetivo Específico- Quantificar o percentual de pacientes que consideraram a consulta adequada, mesmo com a presença de estudantes no ambiente de exame. METODOLOGIA: Foi realizado estudo prospectivo, tipo estudo de casos, no ambulatório de pré-natal do Hospital de Clínicas de Teresópolis, entre 23 de março de 2015 e 28 de janeiro de 2016. O questionário estruturado foi aplicado, após termo de consentimento livre e esclarecido assinado, na saída das consultas em diversos dias da semana, para abranger o maior número possível de profissionais em seus atendimentos. Cabe ressaltar que neste ambulatório, somente participam médicos e estudantes de medicina.o questionári, foi dividido em duas partes permitindo a execução de dois trabalhos de conclusão do curso. A primeira abordava os itens clínicos necessários em uma consulta, como valorização das queixas, peso medida do fundo de útero, pressão arterial toque, ausculta do feto ( quando possível ). Além disso, se orientações sobre parto e amamentação foram dadas.neste trabalho em tela, procuramos os parâmetros laboratoriais que podem ser solicitados, e seguindo o protocolo do Hospital de Clínicas e o Ministério da Saúde, entendemos como necessários e suficientes os seguintes exames:hemograma completo;tipagem sanguinea;sorologia para toxoplasmose, rubéola,hiv,hepatite B;VDRL para sífilis;eas/urinocultura;coleta de secreção vaginal para o Papanicolau;Ultrassonografia transvaginal ( 1º trimestre ) e Ultrassonografia morfológica ( 22-24 semanas ). Outro enfoque do questionário estava relacionado com a presença dos estudantes, e se este fato trazia benefícios à consulta. Duas perguntas forma formuladas: há interferência dos alunos no atendimento; caso positivo de que forma aparece esta interferência.os resultados serão apresentados sobre a forma descritiva, para que no futuro possamos procurar outras modalidades de atendimento em nossa cidade, e assim realizar uma
comparação, não só sobre o ponto de vista do local, como também a categoria de profissional que participa deste atendimento. Protocolo de pesquisa Paridade Primeira Segunda Terceira ou mais Idade < 18 18 25 26 40 > 40 Trimestre da gestação 1º/< 12 sem 2º trim 18 24 3º trim > 24 Grau de satisfação na consulta Muito bem atendida Bem atendida com pequenas dificuldades Atendida sem muita atenção Atendida de forma inadequada Itens abordados Peso Medidas do abdome Pressão arterial Toque Ausculta do feto Valorização das queixas Conversas sobre o parto Conversas sobre amamentação Exames de Laboratório Hemograma Tipagem sanguinea Sorologia para sífilis Sorologia rubéola Sorologia toxoplasmose Sorologia citomegalovírus Sorologia hepatite B Sorologia HIV Glicemia / tolerância glicose EAS / cultura Parasitológico de fezes Papanicolau USG trnsvaginal USG morfológica Há interferência no atendimento por ser um ambulatório Escola ( acadêmicos e residentes ) SIM NÃO Como a presença dos acadêmicos interfere na consulta Melhora a consulta / mais atenção Dificulta a consulta/invasão da privacidade Indiferente
DISCUSSÃO: Quando discutimos os exames solicitados no pré-natal, e constatamos que cerca de 80% de nossas pacientes realizaram os exames, admitimos que a cobertura não foi integral. Qual a razão? Será que nossos médicos não os solicitaram? Temos clareza que o fizeram. Esta resposta negativa de cerca de 20% das pacientes, pode ter uma explicação: nem todos os exames devem ser solicitados em toda consulta de pré-natal. Guanais ( 6 ) em esclarecedor artigo, ao investigar mais de 52 000 gestantes atendidas nos Programas de Saúde da Família no Brasil, concluiu que o seguimento das propostas do pré-natal estavam diretamente relacionadas com o recebimento do Programa Bolsa Família. Chegam a concluir que um impacto na mortalidade perinatal está dependente da expansão do Programa.Domingues et al ( 7 ) em estudo realizado com cerca de 24 000 gestantes, através de consulta ao cartão de pré-natal no puerpério entre 2011 e 2012, além de concluir um percentual de somente 54% com inicio antes de 12 semanas, e um número de consultas maior que 6 em 72%, constataram que somente 62% das pacientes havia realizado o número mínimo de exames de laboratório que era preconizado pelos protocolos vigentes. Nosso trabalho mostrou que a presença dos acadêmicos de medicina acompanhando a consulta não é bem aceita pelas gestantes. Entretanto a medicina deve ser ensinada com suas duas vertentes principais: o conteúdo teórico e o aprendizado prático. O segredo está em fazer desta prática um momento delicado, atencioso, chegando até a passar desapercebido pela mulher.fleming et al ( 8 ) em amplo estudo canadense, procurou determinar quais seriam as principais recomendações para que o pré-natal das adolescentes fosse bem sucedido. Entre várias conclusões, os autores admitem que equipes participem do atendimento, junto com familiares desta jovem paciente. Esta pode ser uma proposta para nosso ambulatório: encarar a questão como vários a pensar junto.outro artigo interessante, que dá importância do companheiro, foi publicado por Alves et al ( 11 ) quando acompanharam mulheres que levaram a gestação sem a presença física e emocional do pai da criança. Este grupo custou mais a procurar atendimento, e foi mais resistente às orientações feitas. Neste dois trabalhos, quem sabe o envolvimento de estudantes bem treinados não poderia ser importante para fazer esta substituição? Terminamos este trabalho entendendo que precisamos melhorar muito nosso padrão de pré-natal. E que estamos muito longe da proposta de Berrien et al. ( 12 ) que propõe que todo o pré-natal seja feito na casa da paciente.
CONCLUSÕES: Em relação aos exames, a rotina mínima indicada foi solicitada em cerca de 80% das pacientes. Os 20% restantes, nos parece que algum percentual estava relacionado com a relação da paciente com seu pré-natal.as sorologias para rubéola e citomegalovirose estão fora do calendário do pré-natal há mais de 3 anos, mas continuam a ser solicitadas, encarecendo o atendimento.o percentual de ultrassonografias transvaginais ( 33% ) está em concordância com a entrada tardia da paciente no pré-natal. O percentual de ultrassonografias morfológicas ( 55% ) merece um comentário positivo, já que o Sistema Único de Saúde não cobre toda a população de gestantes na cidade. Este número significativo deve estar relacionado com insistência do pré-natalista com a paciente. Ficou claro que a maioria das pacientes não gosta da presença do estudante na consulta, mesmo que um pequeno percentual ache que melhore o atendimento. Os preceptores devem fazer um trabalho de conscientização maior com as gestantes, mostrando como é importante a formação de profissionais para a saúde. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1 Resende LV, Rodrigues RN, Fonseca MC. Mortes maternal em Belo Horizonte, Brasil: percepções sobre a qualidade da assistência e evitabilidade. Ver Panam Salud Publica.2015;37(4-5):218-24. 2 Reis PA, Pereira CC, Leite CI et al. Fatores associados à adequação do cuidado prénatal e à assistência ao parto em São Tomé e Príncipe, 2008-2009. CAD Saúde Publ.2015;31(9):1929-40. 3 Holanda CS, Alcheri JC, Morais FR et al. Estratégias de desenvolvimento, acompanhamento e avaliação do atendimento da gestante no ciclo gravídico-puerperal. Ver Panam Salud Publica.2015;37(6):388-94. 4 Guanais FC. The combined effects of the expansion of primary helath care and conditional cash transfers on infant mortality in Brazil,1998-2010. Am J Public Helath.2015;105 Suppl 4:S593-9. 5 Fleming N, O Driscoll T, Becker G et al. J Obstet Gynecol Can.2015;37(8):740-59. 6 Alves E, Silva S, Martins et al. Family structure and use of prenatal care. Cad Saude Publica.2015;31(6):1298-304. 7 Berrien K, Ollendorf A, Menard MK. Pregnancy medical home care pathways improve quality of perinatal care and birth outcomes. N C Med.2015;76(4):263-6.