1 PERCEPÇÃO DOS ENFERMEIROS SOBRE A UTILIZAÇÃO DE CATETERES TOTALMENTE IMPLANTÁVEIS Ivany Machado de Carvalho Baptista I ; Liane Mazzer II ; Clarice Alves Ferraz (Ir) III ; Eliane Cabral de Alcântara III ; Fátima Cristina da Silva III ; Marcos de Brito Moraes Fontes III ; Rogério Francisco de Oliveira III I Professora da Universidade Paulista, especialista em Cardiologia, Mestre em Bioengenharia pela UNIVAP II Professora da Universidade Paulista III Alunos do curso de Graduação da Universidade Paulista RESUMO Os cateteres totalmente implantáveis, tornam viável o uso constante da rede venosa para administração de quimioterapia e demais tratamentos por períodos prolongados, trazendo conforto, segurança além de minimizar complicações, principalmente na inadequação do sistema venoso periférico. Embora o ato da implantação seja de competência médica, o enfermeiro tem importante participação, desde a indicação até a sua manutenção. Este estudo teve o objetivo de destacar a percepção do enfermeiro quanto a necessidade de implantação do cateter totalmente implantável, identificar sua participação além das vantagens e desvantagens na sua visão. Estudo de caráter qualiquantitativo utilizou-se um questionário aplicado a 30 enfermeiros que atuam em Instituições onde o cateter totalmente implantável é utilizado, na região do Vale do Paraíba. Identificou-se que 50% da amostra participam junto à equipe multiprofissional na decisão de implantação do cateter totalmente implantável. Conclui-se que para 100% a segurança da equipe que utiliza o cateter totalmente implantável e qualidade de vida dos pacientes são as principais vantagens e não foram citadas desvantagens. Palavras-chave: Enfermagem. Cateter totalmente implantável. Acesso venoso de longa permanência. ABSTRACT The totally implanted catheters, become viable the constant use of the venous net for administration of chemotherapy and too much treatments for drawn out periods, bringing comfort, security besides minimizing complications, mainly in the inadequacy of the peripheral venous system. Although the act of the implantation is of medical ability, the nurse has important participation, since the indication until its maintenance. This study the necessity of implantation of the totally implanted catheters had the
2 objective to detach the perception of the nurse how much, to identify its participation beyond the advantages and disadvantages in its vision. Study of quali-quantitative character, an applied questionnaire was used the 30 nurses who act in Institutions where the totally implanted catheters is used, in the region of the Vale do Paraíba. It was identified that 50% of the sample, participate together the multiprofissional team in the decision of implantation of the totally implanted catheters. One concludes that for 100% the security of the team that uses the totally implanted catheters and quality of life of the patients is the main advantages and disadvantages had not been cited. Key words: Nursing. Totally implanted catheter. Venous access of long permanence. INTRODUÇÃO Os avanços na biomedicina e tecnologia permitem novas possibilidades terapêuticas para os pacientes e facilitam a atuação dos profissionais na área da saúde. Em 1972 foi descrita a implantação de um cateter para administrar nutrição parenteral total e na década de 80 o sistema foi introduzido para acesso venoso. Estes sistemas eram chamados ports em versões com simples e múltiplos lumens, que foram se aperfeiçoando e hoje são muito utilizados [6]. O cateter totalmente implantável (CTI) promove acesso vascular e fácil manutenção. Proporciona conforto e segurança para o paciente, diminuindo o número de intercorrências e reduz índice de infecções, por ficar alojado sob o tecido subcutâneo [1,5,7]. Esse cateter é dividido em duas partes: uma câmara de silicone puncionável, de diâmetro variável, com reservatório que pode ser de titânio, plástico ou ácido inoxidável, com orifícios em sua borda para a fixação no músculo e outra parte que constitui o cateter, cujo material é de silicone radiopaco ou poliuretano, medindo aproximadamente 50cm [6,10]. As principais indicações são: quimioterapia vesicante; necessidade freqüente de transfusão de hemoderivados; coletas freqüentes de amostras sangüíneas; nutrição parenteral; pacientes pediátricos; inadequação do sistema venoso periférico; hemodiálise e fobia de venopunção [6].
3 Atualmente são indicados, também, em pacientes portadores de Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, que com freqüência necessitam de infusões de drogas periódicas e constituem uma solução segura em casos de pacientes hemofílicos que necessitam de tratamento para sangramento espontâneo ou profilaxia de eventos hemorrágicos [7,10]. Ainda que o implante seja realizado pelo médico, o enfermeiro exerce relevante participação no ato, escolhendo o material necessário, posicionando os pacientes e promovendo a manutenção do cateter [9]. Com base nesse contexto a finalidade desse estudo foi destacar a percepção do enfermeiro quanto à necessidade de implantação do CTI. Para tanto os objetivos específicos traçados foram: a) Identificar a participação do enfermeiro na tomada da decisão, quanto ao implante do CTI. b) Verificar as vantagens e desvantagens na visão dos enfermeiros em relação ao implante do CTI. Método Trata-se de um estudo descritivo, exploratório de abordagem quali-quantitativa, realizado em instituições de saúde do município de São José dos Campos-SP, que utilizam cateteres totalmente implantáveis. Após aprovação do trabalho pelo Comitê de Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Paulista, foram entrevistados 30 enfermeiros que atuam na assistência a pacientes com terapias endovenosas por tempo prolongado. Para tanto foi utilizado um questionário contendo a identificação do perfil da população estudada, 2 questões abertas e 5 fechadas direcionadas ao tema. Os resultados foram apresentados em forma de gráficos com números absolutos e percentuais. Resultados e discussão
4 Nessa pesquisa observou-se que 96,7% (29) dos enfermeiros prestam assistência direta aos pacientes, embora nem todos possuam especialização ou curso de extensão na manipulação do CTI, supõe-se que haja dificuldade do profissional para o aperfeiçoamento, que demanda custo financeiro e tempo. Além do fato de 1 deles desempenhar um cargo gerencial, justamente por já possuir especialização e curso de extensão. Se para muitos é difícil buscar capacitação, para outros o fato de conseguir significa assumir responsabilidades que podem distanciá-los da assistência. Neste cenário, a preocupação dos enfermeiros, é o risco de infecção que pode estar relacionado à manipulação inadequada do CTI por profissionais pouco preparados. As vantagens relatadas em depoimentos pelos enfermeiros indicam a segurança como fator principal tanto para o profissional como para o paciente: ficar mais tranqüilo na hora da infusão, agilidade no tratamento, poder diminuir o estresse do paciente durante as punções, minimizar risco de extravasamento, conforto e qualidade de vida, tratamento digno e confortável. A segurança e o conforto para os pacientes podem diminuir intercorrências e favorecer a qualidade de vida [1,5,7]. Percebeu-se também a preocupação dos enfermeiros com a qualidade de vida dos pacientes e relacionam a indicação do cateter ao conforto e segurança que proporciona, porém, citaram também a dificuldade técnica para o próprio profissional em realizar inúmeras punções, muitas vezes em pacientes debilitados, atentando para questões de biossegurança e do bem estar do paciente. VANTAGENS PARA O ENFERMEIRO NA VISÃO DOS ENTREVISTADOS n=30 - São José dos Campos, SP, 2007 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% 43,4% 23,3% 20,0% 13,3% Segurança Praticidade Facilidade Outros Gráfico 1 Vantagens para o enfermeiro na visão dos entrevistados Fonte: Autor 2007
5 O custo do CTI é um fator que não impossibilita sua indicação conforme se verificou na amostra pesquisada, pois 80% (24) afirmaram que não compromete a decisão. Em concordância com dados da literatura, pois o CTI requer cuidados mínimos em sua manutenção, além de se manter protegido no tecido subcutâneo, minimizando risco de infecção e custos [8,9,11,12]. Em relação a participação dos enfermeiros na tomada da decisão, observou-se nesse estudo, expressiva participação dos entrevistados 50% (15), demonstrando a atuação dos enfermeiros de forma importante e crescente na equipe multiprofissional, apesar de apenas 3,3% (1) ter autonomia para sua indicação. Para 46,7% (14) que responderam não participar da indicação, notou-se uma atuação indireta, já que avaliam a rede venosa e as dificuldades para o acesso venoso, apesar do implante ser realizado pelo médico, o enfermeiro exerce relevante participação [4,9]. Acredita-se que a competência e iniciativa dos enfermeiros permitirão cada vez mais conquistas, favorecendo a atuação da equipe multiprofissional e a assistência prestada ao paciente. Com relação à opinião dos enfermeiros sobre a indicação para implante do CTI, 56,7% (17) referiram a terapia venosa prolongada, 20,0% (6) a dificuldade de punção e 23,3% (7) o conforto e a segurança do paciente. O cateter viabiliza infusões em geral, enquanto que o uso contínuo da rede venosa para punções gera problemas cada vez mais sérios de visualização e punção do vaso [4]. INDICAÇÃO PARA O IMPLANTE NA VISÃO DOS ENFERMEIROS n=30 São José dos Campos, SP, 2007 Terapia Venosa Prolongada 60,0% 50,0% 56,7% Dificuldade de Punção 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% 20,0% 23,3% 0,0% 0,0% Conforto e Segurança ao Paciente Baixo Índice Acidente Menor Risco Infecção Gráfico 2 Indicação para o implante na visão dos enfermeiros Fonte: Autor 2007
6 Conclusão A percepção dos enfermeiros na utilização do CTI está relacionada com a melhoria que o implante desse cateter pode trazer para o paciente, pois 100% dos entrevistados relataram que o uso desse cateter é uma vantagem não só para os pacientes, como também para eles mesmos, visto que além de estar relacionado com aspectos de qualidade de vida e segurança do paciente, a manutenção e o manuseio é um procedimento seguro e prático para os enfermeiros. Verificou-se que o enfermeiro tem relevante participação na decisão sobre implantar um CTI, pois 50% (15) deles já participam com a equipe multiprofissional nesse processo. 46,7% (14) responderam não participar na decisão, contudo avaliam as dificuldades na terapia e punção venosa, o que de uma forma indireta, destaca seu conhecimento na necessidade de implantação do CTI. Em relação às vantagens do uso do CTI para os enfermeiros, 100% (30) citaram questões tangentes à parte técnica como segurança na administração de fluidos e praticidade na manutenção, além de abordar aspectos relacionados à segurança, conforto e qualidade de vida do paciente. Não foi referida nesse estudo nenhuma desvantagem para o paciente ou para o enfermeiro relacionado com a utilização do CTI. Referências 1. Acher E Procedimentos e protocolos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. 2. Bonassa EMA Enfermagem em terapêutica oncológica. 2 ed. São Paulo: Atheneu; 2000. 3. Brandão MA, Rodrigues Z, Sampaio S, Acioli J, Sampaio C. Cateter venoso totalmente implantável em 278 pacientes oncológicos. Revista Brasileira de Cancerologia 2000 jan-mar; 46 (1): 49-56. 4. Carnevale FC Radiologia intervencionista e cirurgia endovascular. Rio de Janeiro: Revinter; 2006. 5. Couto RC, Pedrosa TMG, Nogueira JM. Infecção hospitalar e outras complicações não-infecciosas da doença. Epidemia controle e tratamento. 2 ed. Rio de Janeiro: Medsi; 2003. 6. Fonseca SM, Machado RCL, Paiva DRS, Almeida EPM, Massunaga VM, Rotea Júnior W, et alli. Manual de quimioterapia antineoplásica. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso; 2000.
7. Mangini C Infecção relacionada a cateteres vasculares de longa permanência. Prática Hospitalar 2005 mai-jun; (39). 8. Pinto CF, Altoé LM. Cateter venoso central semi-implantável de baixo custo no tratamento quimioterápico. Prática Hospitalar. 2003 nov-dez; (30). 9. Pohl FF, Petrovanu A. Tubos, sondas e drenos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. 10. Silva EGS, Moreira RWC, Arcenio Neto E, Silva CC, Zurstrassen CE, Ribeiro FRCM, et alli. Tratamento endovascular de pseudo-aneurisma da artéria subclávia em criança hemofílica. J. Vasc. Bras. 2006 mai; 5 (2):151-6. 11. Smeltzer SC, Bare BG. Brunner & Sudarth: tratado de enfermagem médicocirúrgica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. 12. Unamuno MRL, Carneiro JJ, Chueire FB, Marchini JS, Suen VMM. Uso de cateteres venosos totalmente implantados para nutrição parenteral: cuidados, tempo de permanência e ocorrência de complicações infecciosas. Rev de Nutr. 2005 mar-abr; 18 (2): 261-69. 7