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Transcrição:

ACÓRDÃO Registro: 2012.0000290109 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos Infringentes nº 0192625-86.2008.8.26.0000/50000, da Comarca de São Paulo, em que é embargante WLADIMIR FELIX sendo embargado FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Acolheram os Embargos contra o voto do 3º Juíz que os desprovia", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores AMORIM CANTUÁRIA (Presidente), CAMARGO PEREIRA, MARREY UINT E ANTONIO CARLOS MALHEIROS. São Paulo, 19 de junho de 2012. Ronaldo Andrade RELATOR Assinatura Eletrônica

Voto nº 816 Embargos Infringentes nº: 0192625-86.2008.8.26.0000/50000 Embargante : WLADIMIR FÉLIX Embargada : FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO Comarca : SÃO PAULO Policial civil Investigador de polícia Demissão a bem do serviço público Sentença penal de absolvição fundada na legítima defesa. Inexistência de resíduo administrativo, uma vez que o único fato que constitui infração funcional é o que tipifica o crime do qual o Pedido de reintegração Recurso provido Trata-se de Embargos Infringentes (fls. 351/362) opostos por Wladimir Félix, em face do V. Acórdão de fls. 336/346, cuja turma julgadora foi composta pelos Ilustres Desembargadores ANTONIO CARLOS MALHEIROS, AMORIM CANTUÁRIA e MARREY UINT, que reformou, por maioria de votos, a R. Sentença de Primeira Instância, dando provimento ao recurso interposto pela embargada e condenando o embargante ao ônus sucumbencial. Sustenta o embargante, em síntese, que deve prevalecer o voto vencido da lavra do E. Des. ANTONIO CARLOS MALHEIROS, que negou provimento ao recurso da embargada, mantendo a procedência da ação (fls. 347/348). Anoto que os Embargos foram opostos tempestivamente. A embargada ofereceu impugnação no prazo legal (fl. 370/388). É o relatório. O embargante, policial civil, propôs em face da Fazenda do Estado de São Paulo, ação ordinária de anulação de ato administrativo e reintegração ao cargo. Relatou que, após procedimento administrativo, em 30.03.2004, foi publicada, no diário oficial, a sua demissão a bem do serviço público, por infração aos artigos 62 incisos II, III, IX e XV, 63 incisos I, XVI, XIX, XXVII, XXX e XLIX, 74, inciso II e 75, inciso Embargos Infringentes nº 0192625-86.2008.8.26.0000/50000 2

IV, nos termos da Lei Complementar nº 207/79, alterada pela Lei Complementar nº 922/02. Sustentou a nulidade do processo administrativo, vez que a portaria de instauração não apresentava os requisitos da motivação e da fundamentação, o processo administrativo teria sido instaurado fora do prazo determinado na lei e o ato de demissão teria partido de autoridade incompetente. Por fim, sustentou ter sido absolvido por legítima defesa no processo criminal. Requereu, em sede de antecipação de tutela, a sua reintegração. Requereu ainda a anulação do ato administrativo que o demitiu e a sua reintegração definitiva ao cargo de investigador de polícia, com o ressarcimento de todas as remunerações, promoções e vantagens pecuniárias que ocorreram desde a sua demissão até a efetiva reintegração. A R. Sentença deve ser mantida, em conformidade com o voto vencido. Primeiramente, como bem exposto na R. Sentença, não houve nulidade do processo administrativo. A determinação de instauração do procedimento administrativo foi fundamentada e motivada, conforme se verifica do documento de fls. 204. Em relação ao cumprimento do prazo previsto no artigo 97 da Lei Complementar 207/79, que prevê a instauração de procedimento administrativo no prazo de oito dias a contar do recebimento da determinação, não se poder afirmar que tenha sido descumprido tal prazo, pois embora conste que o processo administrativo foi instaurado em 12 de maio de 2003, não há documento nos autos que demonstre quando a determinação de instauração foi recebida pela delegada de polícia. Ademais, conforme previsto no inciso II do artigo 70 da Lei Complementar 207/79, a competência para aplicação da pena de demissão a bem do serviço público é também do Secretário de Segurança Pública. O embargado foi demitido a bem do serviço público, por ato do Secretário de Segurança Pública e, posteriormente, processado criminalmente pelos mesmos fatos, foi absolvido no tribunal do júri, reconhecida a legítima defesa (fls. 118). A sentença criminal absolutória transitou em julgado (fls. 19). O artigo 65 do Código de Processo Penal é extreme de dúvida ao rezar que: Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de Embargos Infringentes nº 0192625-86.2008.8.26.0000/50000 3

dever legal ou no exercício regular de direito. Ademais, o inciso IV do artigo 75 da Lei Complementar 207/79 também é nítido ao excluir o ilícito quando praticado em legitima defesa, nestes termos: art. 75 - será aplicada a pensa de demissão a bem do serviço público, nos casos de: (...) IV praticar ofensas físicas contra funcionários, servidores ou particulares, salvo em legítima defesa. Ora, se o embargado foi demitido a bem do serviço público por ter cometido o ilícito previsto no inciso IV do artigo 75 da LC 207/79 e, posteriormente, ficou comprovada a legítima defesa, prevista naquela norma como excludente da ilicitude, então desapareceu o fundamento pelo qual foi demitido. E a embargada não nega que o processo penal tenha sido gerado a partir dos mesmos fatos que geraram o processo administrativo, bem como não nega a aplicação do artigo 65 do Código de Processo Penal, ou da parte final do inciso IV, do artigo 75 da Lei Complementar 207/79, mas insiste em afirmar que embora tenha havido absolvição na esfera penal persistiriam as infrações disciplinares. No entanto, não é crível que o embargado, ao se defender de uma ameaça, tenha deixado de ser leal às instituições (art. 62, II), tenha deixado de cumprir as normas legais e regulamentares (art. 62, III), tenha procedido de modo a deixar de dignificar a vida policial (art. 62, IX) ou tenha deixado de estar em dia com as normas de interesse policial (art. 62, XV), até porquê, as referidas infrações administrativas são todas oriundas da tentativa de homicídio, de cuja imputação penal mereceu absolvição ante o reconhecimento pelo Tribunal do Júri de ter agido em legítima defesa, o que afasta a ilegalidade da suscitada tentativa de homicídio. Também não é possível extrair dos fatos que o embargado estivesse mantendo amizade ou exibindo-se em público com pessoas de notórios e desabonadores antecedentes criminais (art. 63, I), que tenha utilizado, para fins particulares material pertencente ao Estado (art. 63, XVI), que tenha exibido desnecessariamente arma, distintivo ou algema (art. 63, XIX), que tenha se valido do cargo para obter algum tipo proveito (art. 63, XXVII), que tenha feito uso indevido de documento ou bens da repartição (art. 63, XXX) ou que tenha praticado abuso de poder (art. 63, XLIX). Ademais, ainda que as referidas infrações disciplinares tivessem sido cometidas pelo embargante, não gerariam, de acordo com o que dispõe a LC 207/79, a Embargos Infringentes nº 0192625-86.2008.8.26.0000/50000 4

sua demissão. Também o previsto no inciso II, do artigo 74 (demissão por procedimento irregular de natureza grave), não pode ser fundamento à demissão neste caso pois, diante da absolvição por legítima defesa, não houve procedimento irregular. O único fato que gerou a demissão a bem do serviço público foi aquele previsto no inciso IV, do artigo 75 da Lei Complementar 207/79, que possui ressalva de legítima defesa conforme já transcrito acima. Se o embargado foi absolvido por legítima defesa, desapareceu o ilícito que originou a demissão a bem do serviço público. Ante os fundamentos aqui expostos, dou provimento ao presente recurso para manter a sentença proferida em primeira instância, no tocante a sucumbência inclusive. RONALDO ANDRADE Relator Embargos Infringentes nº 0192625-86.2008.8.26.0000/50000 5