FORMAÇÃO INICIAL DO PEDAGOGO PESQUISADOR: UM OLHAR SOBRE A GESTÃO DEMOCRÁTICA



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Transcrição:

FORMAÇÃO INICIAL DO PEDAGOGO PESQUISADOR: UM OLHAR SOBRE A GESTÃO DEMOCRÁTICA Resumo Rosane Andrade Torquato 1 Grupo de Trabalho Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento A formação inicial do professor (séries iniciais) e do profissional pedagogo ocorre nos cursos de Pedagogia. A identidade do professor-pedagogo segundo Pimenta (2005) é construída a partir de diferentes contextos, significados sociais e relações. Desta última destaca-se uma que é relação teoria-prática que deve constantemente ser confrontada a fim de evidenciar novas possibilidades de reflexão-ação deste profissional. A formação inicial do pedagogo compreende-se por um conjunto de ações que lhe permitirão coordenar, orientar, mediar ações entre alunos, docentes e o restante da comunidade escolar. Uma outra ação possível ao pedagogo é a gestão escolar. Entendemos aqui a gestão escolar democrática como aquela que melhor traduz todas as dimensões e finalidades da escola pública (PARO, 2001; LIBÂNEO, 2011). Dimensionar estas e outras interfaces que cabem ao pedagogo é algo complexo em que apenas o estudo de textos acadêmicos não dá conta. Por isso a formação do profissional reflexivo e pesquisador, que compreende a práxis como atributo não fragmentado presente em seus saberes, deve ser uma atitude presente na formação inicial do pedagogo. Este artigo apresenta o resultado de uma experiência de pesquisa de campo promovida pela disciplina de Organização do Trabalho Pedagógico, do curso de pedagogia de instituição de ensino superior localizada na cidade de Curitiba/PR. Esta ação formativa teve como objetivo principal colaborar no desenvolvimento do olhar investigativo dos acadêmicos na relação da práxis do pedagogo e do gestor em suas diferentes dimensões da comunidade escolar, com foco na ação da gestão democrática. A metodologia empregada utilizou uma entrevista semiestruturada, construída coletivamente pela turma a partir dos referenciais teóricos discutidos em sala. A análise dos resultados foi confrontada com os referenciais teóricos estudados previamente pelos acadêmicos. Posteriormente os alunos socializaram suas impressões sobre o ato investigativo e a importância deste na articulação com a formação teórica. Palavras-chave: Pedagogo. Formação inicial. Pedagogo-Pesquisador. Gestão democrática. 1 Professora na FACEL - Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras; pedagoga na Rede Estadual de Ensino do Paraná; Mestranda do PPGIDC Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário da UNICENTRO/PR. ISSN 2176-1396

26914 Introdução A participação da comunidade na gestão democrática da escola pública é aquela em que a comunidade participa efetivamente de todos os processos envolvidos na gestão escolar, pois somente assim pode ser chamada de democrática, e para isso é preciso que a comunidade tenha acesso a uma boa educação escolar, para fazer sua participação na gestão escolar com efetiva responsabilidade e conhecimentos conscientes e consistentes dos verdadeiros problemas enfrentados pela escola em seu contexto social, nesse sentido a gestão democrática é um sistema de relacionamento e de tomada de decisão em que todos participam e contribuem conforme seu potencial criando uma responsabilidade pessoal a todos os envolvidos no conjunto e na instituição. No processo acadêmico de formação inicial do pedagogo é importante que este compreenda as características de uma gestão escolar pautada na dimensão democrática. Entende-se aqui que o processo de apropriação deste conhecimento deverá passar não apenas pelo estudo profundo de referenciais teóricos, mas pela articulação destes com a prática. Desta forma, indica-se aqui também o resultado de uma pesquisa de campo realizado por acadêmicos do curso de Pedagogia efetivada em algumas escolas da rede pública na cidade de Curitiba e região metropolitana que teve como principal objetivo o desenvolvimento do olhar investigativo sobre a organização do trabalho pedagógico do Pedagogo em suas diferentes dimensões na comunidade escolar, a fim de elaborar uma relação da práxis (teoria-prática) numa perspectiva científica. Neste trabalho restringiremos a apresentação apenas dos resultados referentes à gestão democrática. Formação inicial do pedagogo pesquisador É necessário que o professor reflita a todo instante sua prática (FREIRE, 1996), rompendo desta maneira com aspectos estáticos que porventura estejam imobilizando ou gerando uma visão turva de toda a sua constituição enquanto profissional da educação. É neste processo reflexivo de caráter dinâmico que vai se (re)construindo a identidade do professor que é pesquisador de sua própria prática e do cotidiano de suas relações. Concordase com Pimenta (2005, p.12) quando a mesma declara que

26915 Entendemos que uma identidade profissional se constrói a partir da significação social da profissão, da revisão constante dos significados sociais da profissão, da revisão das tradições. Mas também da reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas; práticas que resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos às necessidades da realidade. Ainda, do confronto entre as teorias e as práticas, da análise sistemática das práticas à luz das teorias existentes, da construção de novas teorias. Se constrói, também, pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor, confere à atividade docente no seu cotidiano, a partir de seus valores, de seu modo de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida o ser professor. A constituição do pedagogo que se quer pedagogo-pesquisador perpassa pela compreensão de que é a partir da prática pedagógica cotidiana que será possível reler, identificar, confrontar e refazer as próprias teorias que embasam o seu saber-fazer. A prática da ação reflexiva-investigativa e mediadora podem ser elementos pertinentes e transformadores em todo este processo. Gestão democrática como possibilidade Libâneo (2011) afirma que a escola já não pode ser uma instituição isolada em si mesma. Deverá portanto estar articulada com os atores sociais dentro e fora de seu ambiente. Para o professor e pesquisador Victor Paro (2001, p.19) Uma sociedade autoritária, com tradição autoritária, com organização autoritária e, não por acaso, articulada com interesses autoritários de uma minoria, orienta-se na direção oposta à da democracia. Percebe-se aqui já de inicio os grandes desafios a serem enfrentados na implantação de uma gestão escolar democrática. Democracia se faz na prática. Não adianta os educadores guiarem suas falas em concepções teóricas que valorizam a importância de uma prática social delineada pelo não autoritarismo, mas em sua prática não agirem de acordo com a democracia correspondente. O autoritarismo é a via oposta da democracia. Por mais que os fatores culturais, sociais, econômicos e políticos exerçam força contrária, esperar que a sociedade se transforme primeiro pra depois a escola se transformar é contraditório e irônico. Não há como transformar uma sociedade sem mudar os determinantes condicionados a essa sociedade como os condicionantes materiais, institucionais e ideológicos dessa sociedade autoritária. Não haverá democracia plena sem pessoas democráticas para exercê-la. E aqui o papel facilitador de pedagogos e gestores será de grande relevância. De acordo com Dourado (2000,p.79), a gestão democrática é um

26916 processo de aprendizado e de luta política que não se circunscreve aos limites da prática educativa mas vislumbra, nas especificidades dessa prática social e de sua relativa autonomia, a criação de canais de efetiva participação e aprendizado do jogo democrático e, conseqüentemente, do repensar das estruturas de poder que permeiam as relações sociais e, no seio dessas, as práticas educativas. A gestão democrática abrange o relacionamento interpessoal em todas as instâncias da atividade educativa escolar, em que o elemento mais importante nessa realidade será o diálogo. As conversações exigirão maturidade, respeito mútuo e deverão ocorrer em clima de construção das relações humanas. Deverá ter como uma de suas funções fundamentais a resolução de conflitos. Quando se pretender auxiliar os alunos a alcançar autonomia, devemse propiciar oportunidades de participação, interação e solução de situações conflitantes, ocasionando momentos de reflexão e oferecendo chances de utilização do raciocínio, da imaginação e da livre iniciativa. (OLIVEIRA e PAINI, 2008) A participação da comunidade na vida escolar enquadra-se na noção de escola democrática, que será aquela que consegue organizar-se de modo que estimule a participação de todos os implicados. Essa participação deve ser exercida de forma adaptada em diferentes áreas de acção das escolas. Os professores, alunos e suas famílias são os agentes privilegiados que, segundo uma lógica mais comunitária, cooperam no sentido de adaptar e contextualizar a escola e seus programas educativos conforme a realidade. Destacam-se as diferenças entre as organizações escolares inovadoras, onde se assiste a práticas de integração da comunidade educativa na gestão escolar, as organizações escolares tradicionais, em que a comunidade vê restringida sua participação, e as organizações escolares difusas, em que a integração da comunidade escolar na gestão escolar decorre num contexto organizacional mais diversificado. (VELOSO, CRAVEIRO E RUFINO, 2012). Antunes (1995) ainda aponta que vinculação da escola à comunidade acontece com, [...] o diálogo entre a escola e comunidade que, sendo conflitual, é essencial o processo de negociação [...]; a concepção da comunidade como fonte e espaço de exercício alargado da cidadania, o que implica, da parte da escola, favorecer o seu investimento pelos projectos e aspirações e como horizonte da vida dos estudantes. (p. 202) A participação da comunidade permite criar uma escola dinâmica e criativa, pois possibilita o dialogo, a toca de informações e ações conjuntas que visam o bem estar de todos os envolvidos e principalmente um ensino de qualidade que formem cidadãos responsáveis e atuantes na escola, bem como na sociedade.

26917 Gestão democrática: a construção do olhar investigativo sobre a prática Em 2013 na disciplina de Organização do Trabalho Pedagógico os alunos desenvolveram uma pesquisa de campo que teve como objetivo principal colaborar no desenvolvimento do olhar investigativo dos acadêmicos na relação da práxis do pedagogo e do gestor em suas diferentes dimensões da comunidade escolar. A metodologia empregada utilizou uma entrevista semi-estruturada, construída coletivamente pela turma a partir dos referenciais teóricos discutidos em sala. Os principais temas da pesquisa indicaram uma busca sobre: a gestão democrática, a identidade do pedagogo, o papel do pedagogo na relação ensino-aprendizagem. Por motivos de espaço, serão abordados neste trabalho apenas os resultados da categoria gestão democrática. O recorte aqui delimitado teve como campo de investigação escolas públicas de Curitiba e Região Metropolitana de Curitiba (RMC), sendo duas de âmbito municipal e uma estadual. Ao todo foram entrevistadas três pedagogas e uma gestora que serão aqui identificadas respectivamente como Pe01, Pe02, Pe03 e Ge01. Ao serem questionadas sobre quais os caminhos que um gestor tem de percorrer para conseguir efetivar uma gestão democrática, a Pe01 responde que após uma reflexão em seu caminhar de pedagoga e por vezes gestora, os caminhos básicos facilitadores da Gestão Democrática podem se apresentar de várias maneiras. Na esfera escolar, as principais são: na constituição e atuação do Conselho escolar de forma realmente atuante e quando se atentar para esse colegiado observar-se a necessidade de mudar-se a presidência do Conselho Escolar, retirando-se o diretor dessa função; na elaboração do PPP (Projeto Político Pedagógico), de modo coletivo e participativo; na definição e fiscalização da verba da escola pela comunidade escolar; na divulgação e transparência na prestação de contas; na avaliação institucional da escola, professores, gestores, estudantes, equipe técnica e como um grande trunfo para o estado do Paraná a eleição para diretores das escolas públicas. Para Pe02 falar sobre gestão democrática é definido por trabalhar em aliança com os professores pais e alunos, buscando interagir com todos. Para Ge01 é fundamental que esse gestor tenha conhecimento sabendo exatamente o que é e como funciona a gestão democrática, além disso, precisa conhecer o perfil da comunidade e das pessoas envolvidas nesse processo estabelecendo uma relação baseada no respeito. Observa-se aqui que a compreensão de gestão democrática enquanto uma prática dinâmica e relacional é clara para as entrevistadas. Entretanto a Pe01 indica conhecer um

26918 pouco mais profundamente a temática ao identificar a importância de uma das instâncias colegiadas 2 que é o conselho escolar, assim como o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola. Ambos estão previstos na política educacional conforme o respaldo da Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional (LDB) 9394/96 como destacado abaixo: Art. 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. A efetivação da gestão democrática passa, necessariamente, pela participação dos colegiados, associações e agremiações, constituídos por docentes, discentes, funcionários, pais, alunos e comunidade. Para Abranches (2003, p.54) Os órgãos colegiados têm possibilitado a implementação de novas formas de gestão por meio de um modelo de administração coletiva, em que todos participam dos processos decisórios e do acompanhamento, execução e avaliação das ações nas unidades escolares, envolvendo as questões administrativas, financeiras e pedagógicas. Heloisa Luck(2009) quando fala sobre a democratização da escola, ressalta que esta proposta aponta para o estabelecimento de um sistema de relacionamento de tomada de decisão em que todos tenham possibilidade de participar e contribuir a partir de seu potencial. Sendo a assim torna-se indispensável à relação de respeito colocada pela gestora acompanhada do conhecimento. Coloca ainda que a liderança do gestor, a participação da comunidade e a competência pedagógica são considerados pilares sobre os quais se assenta a eficácia da gestão escolar. Esta autora ainda afirma que Em caráter abrangente, a gestão escolar engloba, de forma associada, o trabalho da direção escolar, da supervisão ou coordenação pedagógica, da orientação educacional e da secretaria da escola, considerados participantes da equipe gestora da escola. Segundo o princípio da gestão democrática, a realização do processo de gestão inclui também a participação ativa de todos os professores e da comunidade escolar como um todo, de modo a contribuírem para a efetivação da gestão democrática que garante qualidade para todos os alunos. ( LÜCK, 2009) 2 São chamados instâncias colegiadas ou órgãos colegiados o Conselho escolar, Conselho de classe, Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF) e o Grêmio Estudantil. São mecanismos de participação que legitimam o processo democrático na escola.

26919 Quando questionadas sobre a possibilidade de participação da comunidade escolar Ge01acredita que a participação da comunidade é possível desde que o gestor demonstre confiança deixando claro que a participação deles é fundamental e levando-os a reconhecer essa importância para que sintam-se interessados em fazer parte da mesma. Para Pe03 a participação de todos nas ações da escola quer dizer trabalho coletivo, onde não há separação nem fragmentação do administrativo e pedagógico. Libâneo (2011, p. 328) aponta que A participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática, possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da escola no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. Victor Paro vai mais adiante ao afirmar que A democracia, enquanto valor universal e prática de colaboração recíproca entre grupos e pessoas, é um processo globalizante que, tendencialmente, deve envolver cada indivíduo, na plenitude de sua personalidade. (PARO, 2001, p.25). Quanto a participação dos alunos na gestão escolar Pe01 respondeu que essa participação se inicia no simples ouvir das suas falas, posteriormente na sua participação nas reuniões e num sonho ainda utópico quando os mesmos puderem participar de forma ativa e real nos Conselhos de Classe, onde possam opinar e sugerir mudanças que venham a promover a melhoria da aprendizagem, bem como com a possibilidade de criação dos Grêmios Estudantis. Nesta fala a pedagoga mais uma vez reforça a importância das instâncias colegiadas na realização de uma gestão democrática. Para Pe02 O aluno está presente no processo democrático, participando nas decisões, e isto requer aprendizagem, o que representa um dos desafios enfrentados pela escola, que percebendo a sua mudança de papel, não pode mais considerar a aprendizagem de conteúdos o único objetivo a ser alcançado. O espaço da sala de aula sofre mudanças para que o aluno adquira habilidades de participação. Nas afirmações da Pe02 identificou-se que a compreensão de participação dos alunos acontece por meio de atividades que fazem parte do currículo escolar. Sabe-se que na proposta de gestão democrática o aluno tem voz e vez nas decisões tomadas na escola. Ainda não se tem claro o papel do aluno nesta proposta, visto que precisa-se romper com os esteriótipo de que o aluno está na escola para aprender. Certamente sim, mas também para participar e ser sujeito de seu aprendizado também, juntamente com toda a comunidade escolar. Ainda sobre a participação do aluno no processo de gestão democrática Ge01 afirma que na escola tudo é pensado a partir da criança (o espaço, o pedagógico, o cuidar e o

26920 educar), todas as ações desenvolvidas na instituição tem como ponto de partida a garantida do bem estar e o acompanhamento dessa criança. Abrangendo assim a família e a comunidade. Segundo ela, existe um projeto chamado Pequeno Conselho onde as crianças participam de reuniões tomando algumas pequenas decisões como festas, melhorias, compras de brinquedos. Assim o projeto visa a participação das crianças no processo de gestão, fazendo com que tenham dede cedo consciência de sua importância nesse processo. Luck (2009) diz que é preciso considerar que eles são as pessoas para quem a escola existe e para quem deve voltar as suas ações, de modo que todos tenham o máximo sucesso nos estudos que realizam para sua formação pessoal e social. Por isso, devem ser envolvidos em ambiente e experiências educacionais estimulantes, motivadoras e de elevada qualidade. Alunos tendo sucesso na escola, pelo desenvolvimento de seu potencial e o gosto e hábito de aprender, são o foco principal da escola. Considerações Finais A constituição do professor-pedagogo que se quer pedagogo-pesquisador perpassa pela compreensão de que é a partir da prática pedagógica cotidiana que será possível reler, identificar, confrontar e refazer as próprias teorias que embasam o seu saber-fazer. A prática da ação reflexiva-investigativa e mediadora podem ser elementos pertinentes e transformadores em todo este processo. Todas as alunas e alunos que participaram do processo de investigação comentaram da importância que foi o trabalho de relacionar a teoria estudada com as falas dos entrevistados. Uma das acadêmicas comentou que embora esteja envolvida no trabalho em sala de aula a visão que se tem da gestão e da equipe pedagógica é um tanto distorcida. A partir de então foi possível conhecer um pouco mais sobre as funções e os posicionamentos tomados por ambas. A apropriação do conhecimento científico na perspectiva aqui apresentada possibilita um novo olhar sobre os posicionamentos de gestores e pedagogos que enfrentam contradições diárias na implementação de uma gestão democrática. Entende-se aqui que novas pesquisas devem ser desenvolvidas em torno da formação inicial do pedagogo pesquisador, possibilitando-se a este diferentes oportunidades de relacionar teoria-prática.

26921 REFERÊNCIAS ABRANCHES, Mônica. Colegiado Escolar: espaço de participação da comunidade. São Paulo: Cortez, 2003. DOURADO, Luiz Fernandes. A escolha de dirigentes escolares: políticas e gestão da educação no Brasil. In: FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000. p. 77-95 LIBÂNEO, José Carlos (el.all). Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 10ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. LÜCK, Heloísa. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: Editora Positivo, 2009. OLIVEIRA. R.C. e PAINI. L.D. A Gestão Ética das Relações Interpessoais, Administrativas e Pedagógicas na Escola. In: GONÇALVES.E.J (org). Gestão escolar: Maringá: UFM, 2008. PARO,Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. 8. ed. São Paulo: Ática, 2001. PIMENTA, Selma Garrido. Professor-Pessquisador: mitos e possibilidades. Contrapontos - volume 5, n. 1, p. 09-22, Itajaí, jan./abr. 2005. Disponível em <http://www6.univali.br/seer/index.php/rc/article/viewfile/802/654>. Acesso em: 02 fev.2015 VELOSO, Luísa; CRAVEIRO, Daniela and RUFINO, Isabel. Participação da comunidade educativa na gestão escolar. Educ. Pesqui. [online]. 2012, vol.38, n.4, pp. 815-832. Epub Mar 08, 2012. ISSN 1517-9702. Disponível http://dx.doi.org/10.1590/s1517-97022012005000009.