CONSUMO ALIMENTAR DE MULHERES RESIDENTES EM UMA COMUNIDADE DA ZONA RURAL DE ANTÔNIO DIAS, MG FOOD CONSUMPTION OF WOMEN WHO LIVE IN A RURAL AREA COMMUNITY OF ANTONIO DIAS, MG CARINE LOURENÇO Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais Unileste-MG E-mail: lourenocarine@yahoo.com.br DANIELE CRISTINA AMORIM CRISTO Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais Unileste-MG E-mail: dany.crist@yahoo.com.br ELIANA MÁRCIA DE ALMEIDA GUIMARÃES Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais Unileste- MG E-mail: elianamarcianut@yahoo.com.br RESUMO O objetivo do trabalho foi verificar o consumo alimentar das donas de casas residentes em uma comunidade localizada na zona rural do município de Antônio Dias, MG. O estudo foi realizado com mulheres com idade entre 28 e 54 anos. Para a coleta de dados foi aplicado um inquérito alimentar recordatório de 24h além de um questionário socioeconômico. O inquérito alimentar revelou que a maioria das mulheres consumia valores de vitamina A e de ferro superiores a Estimated Average Requirement (EAR), enquanto a ingestão de folato se encontrava abaixo da média recomendada, assim como a ingestão de cálcio, considerando-se a Adequade Intake (AI). As proteínas, carboidratos, lipídeos e calorias totais foram classificados de acordo com a Acceptable Macronutrient Distribution Range (AMDR), sendo que 93,3% das entrevistadas consumiam dieta normoprotéica, 80% dieta normoglicídica e 66,6% dieta normolipídica. Percebe-se nitidamente a importância de se traçar estratégias de vigilância nutricional para a melhoria da alimentação tanto da população estudada como de seus familiares, uma vez que as mulheres são responsáveis pela compra, preparo e distribuição dos alimentos para toda a sua família. Palavras-chave: mulheres, nutrientes, consumo alimentar, zona rural, recomendações. ABSTRACT The aim of this work is to verify the alimentary consumption of housewives, which is located in the rural area of the Antônio Dias, Minas Gerais. The study was accomplished with women with age of 28 to 54 years. In order to collect the data, it was applied a socioeconomic questionnaire and a reminding alimentary inquiry of 24 hours. The alimentary inquiry revealed that the majority of the women ingested quantities of A vitamin and iron superior to 566
values Estimated Average Requirement (EAR), as the ingestion of the folate were below to that recommended, to all women. It was observed that the ingestion of calcium, in agreement with the Adequade Intake (AI), was below the average to all of the women. The proteins, carbohydrates, lipids and total calories were classified in agreement with Acceptable Macronutrient Distribution Range (AMDR), and 93,3% of the women presented diet normalproteic, 80% are normalglucose and 66,6% normallipidic. It clearly realizes the importance of mapping strategies for nutritional surveillance, to improve the nutrition of both the studied population and their families, since women are responsible for the purchase, preparation and distribution of food for the whole family. Key words: women, nutrients, food consumption, rural area, recommendations. INTRODUÇÃO A alimentação deve ser constituída por alimentos variados, em quantidades suficientes e equilibradas. Sem uma alimentação saudável, o organismo não se desenvolve, não dispõe de resistência para lutar eficazmente contra doenças, nem mantém um ritmo de atividade biológica que o impeça de envelhecer e morrer precocemente. A capacidade de trabalho físico e intelectual diminui drasticamente, além do bem-estar e prazer de viver (MEDINA et al., 2007). A população brasileira, nos últimos quarenta anos, tem incorporado hábitos alimentares típicos dos países desenvolvidos apresentando um maior consumo de alimentos industrializados, tais como refrigerantes e embutidos em detrimento do consumo de produtos regionais e com tradição cultural, como o arroz, feijão, farinhas de mandioca e de milho (RIVERA; SOUZA, 2006). Enquanto donas de casa, as mulheres exercem um papel extremamente importante no controle e distribuição da comida, bem como na sua aquisição e preparo, pois, em sua grande maioria, são elas que gerenciam a alimentação familiar, podendo, assim, exercer grande influência na alimentação dos demais residentes da casa (FERREIRA; MAGALHÃES, 2005). Para Rivera e Souza (2006), as comunidades rurais já começam a seguir o padrão de dieta similar ao das populações urbanas, no qual prevalece o aumento no aporte energético proveniente de alimentos de origem animal, industrializados, ricos em gorduras, açúcares e sal e pobres em fibras, com consequente aumento no consumo de colesterol e gorduras saturadas. As deficiências de macro e micronutrientes são consideradas um grande problema de saúde pública, pois ocasionam diversos agravos à saúde dos indivíduos, uma vez que esses 567
nutrientes possuem importante atuação na manutenção de funções orgânicas vitais, como crescimento, reprodução, função antioxidante e função imune (COZZOLINO, 2007). As vitaminas e sais minerais são necessários em pequenas quantidades diárias para manter o funcionamento celular e a normalidade do metabolismo (MARCHINI et al., 2003). Segundo Cozzolino (2007), de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), nos últimos vinte anos as principais deficiências no Brasil foram de ferro, zinco, cálcio e vitamina A. Parece ser crescente o consenso em torno da associação entre desequilíbrio alimentar e as principais doenças com relevância em saúde pública, o que reforça a importância dos estudos sobre consumo alimentar como parte de uma política de vigilância (DOMENE, 2003). Isto implica que todos os cidadãos consumam alimentos seguros e que satisfaçam suas necessidades nutricionais, seus hábitos e práticas alimentares culturalmente construídas, promovendo sua saúde (MALUF et al., 1996). O objetivo do presente estudo foi verificar o consumo alimentar de mulheres donas de casa residentes na comunidade Japão localizada na zona rural do município de Antônio Dias, MG. MATERIAIS E MÉTODOS Foi realizado um estudo transversal de caráter qualitativo, no período de 12 a 16 de Janeiro de 2009. Fizeram parte deste estudo todas as mulheres na idade adulta, residentes na comunidade Japão localizada na zona rural no município de Antônio Dias, em Minas Gerais, que totalizavam 30. As mulheres convidadas a participarem da entrevista foram esclarecidas sobre a natureza do estudo, seus objetivos e procedimentos. Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, iniciou-se a coleta de dados. As pesquisadoras foram aos domicílios de cada participante e todos os dados foram coletados através da aplicação de um formulário socioeconômico e inquérito alimentar recordatório de 24h. O formulário socioeconômico foi identificado e preenchido pelas pesquisadoras. Para a caracterização socioeconômica das participantes, o formulário constituiu-se de perguntas referentes a idade, renda familiar, grau de escolaridade, recebimento de auxílio do governo, moradia, número de residentes por habitação, estado civil e número de filhos, tendo como 568
objetivo essencial obter informações precisas a respeito da população em estudo, traçando seu perfil através do grau de instrução e condições financeiras em que vivem. O recordatório de 24h adaptado de Fisberg et al. (2008), foi aplicado pelas pesquisadoras registrando-se todos os alimentos, em medidas caseiras, consumidos no dia anterior à aplicação. A aplicação dos inquéritos alimentares ocorreu durante três (3) dias não consecutivos, sendo que um dos dias correspondeu ao consumo alimentar referente ao domingo. O inquérito alimentar recordatório de 24h baseia-se na memória recente dos indivíduos, com as respostas abertas, o que permite a obtenção de um quadro mais detalhado do consumo da população (SLATER et al., 2004). Este inquérito teve como objetivo avaliar o consumo habitual de carboidratos, proteínas, lipídeos, vitamina A, ferro, cálcio e ácido fólico das participantes da pesquisa. Para a análise dos macronutrientes proteínas (PROT), carboidratos (CHO), lipídeos (LIP) e apresentação dos gráficos dos mesmos, foi calculada a média de ingestão de cada participante, utilizando-se os recordatórios de 24h. Os resultados individuais obtidos foram comparados com as recomendações propostas pela acceptable macronutrient distribution range (AMDR) que preconizam valores como: PROT (10 a 35%), CHO (45 a 65%) e LIP (20 a 35%), sendo as dietas das participantes do estudo classificadas como hipocalórica, normocalórica e hipercalórica, para cada macronutriente. Segundo Taylor (2008), a AMDR é o alcance de ingestão de um nutriente para uma fonte de energia particular como carboidrato, proteína e gordura. Se um indivíduo consumir mais da AMDR, há um potencial de aumentar o risco de doenças crônicas e se consumir menos, ingestão insuficiente de nutrientes essenciais. A AMDR pode ser o valor máximo ou o mínimo necessário para o aproveitamento do nutriente. Para a análise e apresentação das tabelas referentes aos micronutrientes ferro, folato, vitamina A e cálcio, a população estudada foi divididas em três grupos etários, de acordo com as dietary reference intakes (DRIs) sendo: 19 a 30 anos, 31 a 50 anos e 51 a 70 anos. A partir dos recordatórios de 24h, foi calculada a média de ingestão de cada participante e os resultados foram comparados às necessidades nutricionais recomendada pelas DRIs (INSTITUTE OF MEDICINE, 2001). Para a análise de vitamina A, folato e ferro, foram utilizados os parâmetros da estimated average requirement (EAR) que é utilizada na determinação da recommended dietary allowance (RDA) e corresponde à mediana da distribuição de necessidades de um 569
dado nutriente para um dado grupo de mesmo gênero e estágio de vida. É um valor de ingestão diária de um nutriente que se estima que supra a necessidade de metade (50%) dos indivíduos saudáveis (COZZOLINO; COLLI, 2001). No caso da vitamina A, os valores de referência são iguais em todas as faixas etárias, sendo este de 500 mg. O mesmo ocorre no caso do folato, não ocorrendo variação dos valores de referência conforme a idade, sendo este de 320 mcg. Já no caso do ferro, os valores são diferentes entre as faixas etárias sendo que entre 19 e 30 anos os valores são de 8,1 mg; entre 31 e 50, e 51 a 70 anos são de 5 mg. Quanto os valores para a classificação do cálcio, foram utilizados os parâmetros referentes à Adequade Intake (AI) em função da insuficiência de dados para a determinação da recommended dietary allowance (RDA). A determinação da AI baseia-se em níveis de ingestão ajustados experimentalmente ou em aproximações da ingestão observada de nutrientes de um grupo de indivíduos aparentemente saudável. De acordo com as faixas etárias de 19 a 30 e de 31 a 50 anos os valores são de 1000 mg e entre 51 e 70 anos, o valor de referência é de 1200 mg (COZZOLINO; COLLI, 2001). Para a análise dos dados obtidos utilizou-se o programa software Avanutri, versão 3.0.0 e para o armazenamento e apresentação dos dados, o programa Microsoft Office Excel versão 2003. RESULTADOS E DISCUSSÃO Participaram todas as mulheres na idade adulta da comunidade Japão, no município de Antônio Dias, MG, totalizando 30 e a faixa etária desta população foi entre 28 e 54 anos. Considerando-se o estado civil, ficou evidenciado que 86,6% das mulheres eram casadas. Em relação ao número de filhos, 33,3% possuíam apenas um filho e 13,3% não possuíam nenhum filho (Tabela 1). De acordo com o número de residentes por habitação, 50% das casas possuíam 3 habitantes (Tabela 1). Neste contexto, o resultado foi semelhante ao de Hendrich et al. (2007), pois em seu estudo eles evidenciaram uma baixa densidade familiar (54,2%). O número de habitantes pode influenciar na quantidade e qualidade da alimentação, pois segundo os próprios autores, famílias numerosas e de baixa renda como as investigadas tendem a racionalizar suprimentos. Nesta pesquisa o número de habitantes não pareceu ser significativo, pois a maioria das casas possuía três moradores. 570
Quanto ao grau de escolaridade (Tabela 1), observou-se que 53,3% possuíam o ensino fundamental de 1ª a 4ª série e 20% ensino médio. De acordo com Rivera e Souza (2006) e Cozzolino (2007), a baixa escolaridade pode influenciar de forma negativa a alimentação, principalmente devido a falta de conhecimento sobre os nutrientes e suas funções. Neste estudo, o somatório entre o número de analfabetas e as que estudaram até a quarta série é 70%, o que faz com este parâmetro no presente estudo seja um fator de risco para uma prática não saudável de hábitos alimentares. TABELA 1 - Caracterização da população estudada segundo estado civil, número de filhos, número de residentes por habitação, grau de escolaridade, renda familiar e tipo de moradia das mulheres investigadas, residentes em uma comunidade da zona rural de Antônio Dias, MG (janeiro/2009). Variáveis n % Estado Civil Casada 26 86,6% Solteira 3 10,0% Outros 1 3,4% Número de filhos Não tem filhos 4 13,3% 1 filho 10 33,3% 2 filhos 5 16,7% 3 filhos 6 20,0% 4 filhos 3 10,0% 5 filhos 2 6,7% Número de residentes por habitação 1 pessoa 1 3,3% 2 pessoas 4 13,3% 3 pessoas 15 50,0% 4 pessoas 4 13,3% 5 pessoas 3 10,0% 6 pessoas 2 6,7% 7 pessoas 1 3,3% Escolaridade Analfabeto 5 16,7% Ensino Fundamental de 1 a 4 série 16 53,3% Ensino Fundamental de 5 a 8 série 3 10,0% 2 Grau completo 6 20,0% Renda Familiar (Salário mínimo: R$ 465,00) Até 1 salário mínimo 5 50,0% De 1 a 2 salários mínimos 9 30,0% De 2 a 3 salários mínimos 5 16,7% Mais que 3 salários mínimos 1 3,3% Tipo de moradia Própria 29 96,6% Aluguel 1 3,4% Total 30 100% 571
A renda familiar pode influenciar a ingestão de alimentos conforme descrito por Batista et al. (2006) e Hendrich et al. (2007), os quais descrevem que rendas familiares abaixo de 3 salários mínimos podem ser consideradas baixas. O estudo mostrou dados relevantes relacionados à renda familiar: 80% das famílias sobrevivem com renda inferior a 3 salários, sendo que 50% relataram renda familiar de um salário, 30% descreveram possuir renda entre 1 e 2 salários, 16,7% entre 1 e 3 salários, e para completar apenas 3,3%, declarou possuir mais de 3 salários mínimos como renda mensal familiar (Tabela 1). Segundo a renda familiar, Batista et al. (2006) e Hendrich et al. (2007) corroboram ideias que colocam a renda familiar como influência na prática de uma alimentação saudável. A ajuda dispensada pelo governo pode auxiliar na melhoria da qualidade de alimentação, pois de um modo geral aumenta a renda familiar. Nesta pesquisa, porém, 16,6% das pesquisadas tinham este benefício que variava entre R$ 39,09 e R$ 103,31. A situação da moradia também influencia na qualidade da alimentação, pois famílias que pagam aluguel têm uma diminuição em sua renda familiar, não sendo o caso das participantes, pois 96,6% delas possuíam casa própria e consequentemente não pagavam aluguel. De acordo com a avaliação alimentar, observou-se que 60% das pesquisadas realizavam em média quatro refeições diárias, 30% cinco refeições diárias e 10% realizavam três refeições diárias. Na Figura 1, pode-se observar que para o macronutriente proteína, 93,3% das mulheres utilizavam dieta normoprotéica. Porcentagem 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 93,3% 3,3% 3,3% Hipoproteíca Normoproteíca Hiperproteíca Classificação FIGURA 1 - Características da alimentação quanto à proteína das mulheres residentes em uma comunidade da zona rural de Antônio Dias, MG (janeiro/2009). 572
Segundo Maihara et al. (2006), uma deficiência de proteínas raramente ocorre isolada à deficiência de outros nutrientes. Deficiência prolongada de proteína resulta em debilitação do organismo e desnutrição. Dietas ricas em proteínas não são tóxicas, porém podem ser desbalanceadas. Através da Figura 2, pode-se notar que 80,0% das mulheres utilizaram dietas normoglicídicas. Porcentagem 100% 80% 60% 40% 20% 0% 80,0% 13,3% 6,6% Hipoglicídica Normoglicídica Hiperglicídica Classificação FIGURA 2 - Características da alimentação quanto ao carboidrato das mulheres residentes em uma comunidade da zona rural de Antônio Dias, MG (janeiro/2009). Dentre os macronutrientes, os glicídios talvez sejam, conforme descrito por Cozzolino (2007), os mais fáceis de serem adquiridos pela população, devido a grande variedade de alimentos que os possuem. Por isso, o autor descreve este macronutriente como um dos principais relacionados ao desequilíbrio em dietas, porém neste estudo ficou evidenciado que a maioria, ou seja, 80% possuíam uma dieta normal em relação a este nutriente. Esta situação discrepante pode ser relacionada à população estudada, uma vez que, conforme já mencionado, a população rural possui hábitos alimentares diferentes de populações urbanas. É importante salientar também a importância desta adequação relacionada aos glicídios, pois uma ingestão adequada deste garante o funcionamento normal do organismo sem acúmulos que são convertidos em tecido adiposo (COZZOLINO, 2007). Na Figura 3, observou-se que 66,7% das dietas analisadas foram classificadas como normolipídica. 573
Uma dieta normal em lipídeos garante uma proteção ao corpo contra efeitos deletérios provenientes de placa de ateroma (SIQUEIRA et al., 2006), já uma dieta rica, além de predispor a obesidade, também cria fatores de risco para doenças vasculares, diabetes, hipertensão. A maioria das mulheres ao apresentar dieta normolipídica (66,7%), demonstra que a população estudada apresenta baixo risco de desenvolver doenças relacionadas a este macronutriente. 70% 66,7% Porcentagem 60% 50% 40% 30% 20% 10% 20,0% 13,3% 0% Hipolipídica Normolipídica Hiperlipídica Classificação FIGURA 3 - Características da alimentação quanto aos lipídeos das mulheres residentes em uma comunidade da zona rural de Antônio Dias, MG (janeiro/2009). Quanto à adequação dos micronutrientes, pode-se observar que a média de ingestão de vitamina A pelas mulheres pesquisadas na faixa etária de 19 e 30 anos, foi de 402,68 mcg, encontrando-se abaixo dos valores de referência da EAR. Entretanto, para as mulheres com idades entre 31 e 50 anos e 51 a 70 anos, observou-se valores médios superiores ao proposto pela EAR, sendo encontrados 949,9 mcg e 608,1 mcg, respectivamente (Tabela 2). TABELA 2 - Média de ingestão e adequação de vitamina A das mulheres residentes em uma comunidade da zona rural de Antônio Dias, MG (janeiro/2009). IDADE (ANOS) MÉDIA DE INGESTÃO (MCG) % DE ADEQUAÇÃO 19 a 30 402,6 80,5 31 a 50 949,9 189,9 51 a 70 608,1 121,6 Esta pesquisa contradiz os estudos de Montilla et al. (2003), pois eles encontraram que apenas 18,2% de sua população consumiam adequadamente a vitamina A. É importante 574
considerar que essa deficiência pode acarretar cegueira noturna, xeroftalmia, alterações cutâneas, e aumentar a susceptibilidade à carcinogênese. Analisando o folato, nos três grupos etários (19 a 30 anos, 31 a 50 anos e 51 a 70 anos), observou-se valores médios como 29,8 mcg, 52,4 mcg e 58,5 mcg, respectivamente. Diante dos achados, pode-se perceber que os valores encontrados são inferiores ao valor de referência (Tabela 3). TABELA 3 - Média de ingestão e adequação de folato das mulheres residentes em uma comunidade da zona rural de Antônio Dias, MG (janeiro/2009). IDADE (ANOS) MÉDIA DE INGESTÃO (MCG) % DE ADEQUAÇÃO 19 a 30 29,8 9,3 31 a 50 52,4 16,3 51 a 70 58,5 18,3 O ácido fólico em sua parte é uma vitamina que intervém na reprodução celular, na formação, crescimento de diversos tecidos e células sanguíneas. Ocupa o segundo lugar como causa de anemias nutricionais e deve-se a dietas escassas em folatos (CUNNINGHAM et al., 2001). A Tabela 4 mostra os valores médios de ingestão de cálcio para as faixas etárias de 19 a 30 anos, 31 a 50 anos e 51 a 70 anos. De acordo com os valores propostos de adequate intake (AI), pode-se concluir que os resultados encontrados são inferiores aos valores recomendados para a AI. TABELA 4 - Média de ingestão e adequação de cálcio das mulheres residentes em uma comunidade da zona rural de Antônio Dias, MG (janeiro/2009). IDADE (ANOS) MÉDIA DE INGESTÃO (MG) % DE ADEQUAÇÃO 19 a 30 226,4 22,6 31 a 50 215,1 21,5 51 a 70 244,4 20,3 A deficiência de cálcio somada ao avanço da idade gera condições para o aparecimento de osteoporose, principalmente no grupo etário acima de 51 anos (HEDRICH et al., 2007). Esta situação requer uma adequação rápida deste mineral para evitar morbidades causadas por esta doença e também para preveni-la em todos os grupos etários. 575
Em um estudo publicado por Montilla et al. (2004), ficou constatado que a ingestão de proteínas poderia otimizar o ganho ósseo, desde que o consumo de cálcio fosse adequado, sendo necessária uma rápida adequação para este grupo. De acordo com as recomendações de ferro, o presente estudo mostrou que a média de ingestão obtida foi de 8,4 mg para mulheres de 19 a 30 anos (Tabela 5). Os resultados obtidos em relação ao micronutriente ferro foram superiores a proposta pela EAR. Mais uma vez entra-se na questão da adequação, pois o excesso na ingestão de ferro pode estar prejudicando a absorção de outros minerais como o cálcio e o magnésio (FERNANDEZ et al., 2007). A biodisponibilidade do ferro na dieta brasileira média gira em torno de 1% a 7%. Sabe-se que a melhor fonte é a de ferro hemínico, ou seja, as carnes (COZZOLINO, 2007). TABELA 5 - Média de ingestão e adequação de ferro das mulheres residentes em uma comunidade da zona rural de Antônio Dias, MG (janeiro/2009). IDADE (ANOS) MÉDIA DE INGESTÃO (MG) % DE ADEQUAÇÃO 19 a 30 8,4 103,7 31 a 50 8,92 176,4 51 a 70 7,69 153,8 Segundo um estudo realizado por Montilla et al. (2003) em relação ao ferro dietético, os resultados revelaram que a média está adequada, com 90,5% da recomendação para o grupo etário dos 35-50 anos e 112,8% para o grupo dos 51-70 anos. Com base nos dados apresentados, as participantes devem ser orientadas com relação ao maior fracionamento das refeições (5 a 6 refeições menos volumosas). Para que tais orientações sejam implementadas no dia-a-dia das mesmas, são necessários que, simultaneamente, sejam realizados trabalhos educativos com os familiares, com o objetivo de envolvê-los no tratamento, para que elas tenham apoio e incentivo para colocar em prática o seu plano alimentar (BATISTA et al., 2006). CONCLUSÃO Apesar de a metade das mulheres pesquisadas possuírem uma renda mensal de até um salário mínimo, verificou-se o consumo de vitamina A e ferro, com valores de ingestão diária acima dos recomendados e mais de 66% do grupo estudado apresentava como hábito alimentar a ingestão de uma dieta balanceada em relação aos macronutrientes. Na dieta, em 576
relação aos micronutrientes cálcio e folato, pode-se identificar um desequilíbrio no padrão alimentar do grupo, uma vez que se verificou o consumo inadequado destes. Diante do exposto, percebe-se a importância de se traçar estratégias de vigilância nutricional, para melhoria da alimentação tanto da população estudada como de seus familiares, uma vez que as mulheres são responsáveis pela compra, preparo e distribuição dos alimentos para toda a sua família. Nota-se que seria interessante um estudo mais aprofundado sobre o assunto, com um tempo e amostra maiores para que possa ser feita uma avaliação mais aprofundada e tomadas as devidas providências. REFERÊNCIAS BATISTA, M. C. R.; PRIORE, S. E.; ROSADO, L. E. F. P. L.; TINÔCO, A. L. A.; FRANCESCHINI, S. C. C. Avaliação dietética dos pacientes detectados com hiperglicemia na Campanha de Detecção de Casos Suspeitos de Diabetes no município de Viçosa, MG. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia e Metabolismo, São Paulo, v. 50, n. 6, p. 1041-49, dez. 2006. COZZOLINO, S. M. F.; COLLI, C. Novas recomendações de nutrientes: interpretação e utilização. In:. International Life Sciences Institute do Brasil. Usos e aplicações das Dietary Reference Intakes. São Paulo: ILSI, 2001. p. 4-15. COZZOLINO, S. M. F. Deficiência de minerais. Estudos Avançados, São Paulo, v. 21 n. 60, não paginado, maio/ago. 2007. CUNNINGHAM, L.; BLANCO, A.; RODRIGUEZ, S.; ASCENCIO, M. Prevalência de anemia, deficiência de ferro e folato em crianças menores de sete anos da Costa Rica, 1996. Archivos Latinoamericanos de Nutrición, [S.I.], v. 52, n. 1, não paginado, 2001. DOMENE, S. M. A. Indicadores nutricionais e políticas públicas. Estudos Avançados, São Paulo, v. 17, n. 48, p. 131-135, maio/ago. 2003. FERNANDEZ, L. L.; FORNARI, L. H. T.; BARBOSA, M. V.; SCHORODER, N. Ferro e neurodegeneração. Scientia Medica, Porto Alegre, v. 17, n. 4, p. 218-24, out./dez. 2007. 577
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