1 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Tribunal de Justiça 2ª Câmara Cível Data de distribuição :11/12/2008 Data de julgamento :11/03/2009 100.001.2008.004816-0 Apelação Origem : 00120080048160 Porto Velho/RO (4ª Vara Cível) Apelante : Banco Santander Banespa S/A Advogados : Marcos Antônio Metchko (OAB/RO 1.482) e outro Apelado : União de Bancos Brasileiros S/A - Unibanco Advogados : Diego Brito Campos (OAB/RO 3.943), Carlos Maximiano Mafra de Laet (OAB/SP 104.061 - A) e outros Apelado : Célio Javoski Gomes Advogados : Raimundo Gonçalves de Araújo (OAB/RO 3.300) e outras Relator : Desembargador Marcos Alaor Diniz Grangeia Revisor : Desembargador Miguel Monico Neto RELATÓRIO Trata-se de apelação cível interposta pelo Banco Santander Banespa S/A nos autos da ação de indenização por dano moral movida por Célio Javoski Gomes contra si e contra União de Bancos Brasileiros S/A - Unibanco. O autor, ora apelado, alegou que é cliente da administradora de cartões de crédito Santander Platinum Style Visa n. 4016389110871317, e que realizou, no dia 17 de janeiro de 2008, dois pagamentos relativos à fatura do mês de janeiro, por meio do serviço pague contas através da Internet 30 horas do Unibanco S/A, do qual o autor é cliente do cartão de crédito Unicard Unibanco Visa Platinum n. 432944002187. Disse que os dois pagamentos foram efetuados com sucesso, sendo validados pelo sistema, indicando imediatamente (eletronicamente) o cedente, Banco Santander S/A, bem como a data de vencimento da fatura. Aduziu que nos dois pagamentos foi utilizada a linha digitável constante no boleto para pagamento dos valores de R$4.300,00 e R$700,00, salientando, entretanto, que os pagamentos não foram creditados pelo Unibanco ao Banco Santander (cedente). Argumenta que não pode fazer uso de seu cartão de crédito Santander, já que os pagamentos não foram creditados pelo Unibanco, bem como
2 este último tem o dever e obrigação de proceder ao imediato envio do crédito de R$5.000,00 ao Banco Santander, para que seja creditado o cartão de crédito, possibilitando a baixa do saldo devedor, que vem gerando juros e demais encargos visto que o crédito não foi contabilizado. Afirma que foi submetido a várias situações vexatórias, constrangedoras e humilhantes, pois, ao tentar utilizar o cartão de crédito, não conseguiu lograr êxito nas transações, requerendo a procedência do pedido com a condenação dos réus ao pagamento de indenização por dano moral, custas processuais e honorários de advogados. A sentença de fls. 71/75 julgou procedente o pedido inicial, condenando as requeridas, solidariamente, ao pagamento de indenização por dano moral no valor de R$3.500,00, além das custas processuais e honorários de advogados de 10% sobre o valor da condenação. O Banco Santander apela, às fls. 98/105, aduzindo que o evento danoso decorreu unicamente de falha do apelado Unibanco, que não repassou os valores pagos pelo autor, de sorte que não há demonstração de que há nexo causal entre ato seu e o dano experimentado. Alude que sequer restou provado o dano moral, pois não houve negativação do nome do autor nem maior repercussão em razão do ocorrido. Insurge-se ainda contra o valor da condenação, tendo-o por elevado. Pede a reforma da sentença. O Unibanco apresenta contrarrazões às fls. 111/114. O autor não apresentou contrarrazões. É o relatório. VOTO DESEMBARGADOR MARCOS ALAOR DINIZ GRANGEIA Analisando os autos, verifica-se incontroverso que o autor pagou a fatura de seu cartão de crédito do Banco Santander por meio de serviço do cartão de crédito do Unibanco, o qual não providenciou o repasse de valores ao primeiro cartão, que acabou efetuando cobranças ao autor, por constar em aberto o valor da fatura. É certo que a responsabilidade do fornecedor de serviços é objetiva, somente dela se exonerando quando demonstrar que o defeito inexiste ou a culpa exclusiva de terceiro ou do consumidor (art. 14 do CDC). O art. 14, 1º, do CDC estabelece que o serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido.
3 As instituições financeiras, ao emitirem faturas para seus clientes, têm a opção de permitir que seu pagamento se opere somente em seus estabelecimentos ou que o título de crédito gerado possa ser pago pela rede bancária de compensação. A partir do momento que permitem o pagamento em qualquer estabelecimento bancário, assumem o risco de que eventual falha na forma de compensação cause danos ao consumidor, situação esta que determina a pronta reparação, consoante se infere das disposições do art. 5º, V e X, da Constituição Federal, bem como do art. 6º, VI, do Código de Defesa do Consumidor. Percebe-se, portanto, que para a configuração do dever de indenizar é necessária a conjugação de uma ação ilícita, um dano e o nexo causal entre ambos. No caso dos autos, não obstante à conclusão da sentença, entendo que não há dano moral a ser indenizado. de Venosa: Discorrendo sobre o que vem a ser dano moral, oportuna é a lição Dano moral é o prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima. [...] Não é também qualquer dissabor comezinho da vida que pode acarretar a indenização. Aqui, também é importante o critério objetivo do homem médio, o bonus pater famílias: não se levará em conta o psiquismo do homem excessivamente sensível, que se aborrece com fatos diuturnos da vida, nem o homem de pouca ou nenhuma sensibilidade, capaz de resistir sempre às rudezas do destino. (in, Direito Civil responsabilidade civil, 4ª edição. Editora Atlas, p. 39) No caso concreto, inexistem provas de que a situação tenha imposto o autor à situação vexatória perante terceiros ou que o fato tenha lhe alterado o estado de espírito em tal grau a interferir em sua vida familiar, profissional ou social. Igualmente não ficou demonstrado que houve restrição de crédito ou que a cobrança não tenha se dado de forma reservada, mas na presença de terceiros ou algo parecido. A discussão permaneceu no âmbito interno da relação entre as partes. Registro ainda que, em suas contrarrazões, o Unibanco informa que já promoveu há muito tempo o repasse de valores ao Banco Santander, logo o fato não teve a repercussão que o autor tentou demonstrar com a presente ação. Assim, entendo que a pretensão inicial deva ser julgada improcedente para que se afaste a condenação em dano moral, decisão esta que atinge o Unibanco, uma vez que foi condenado solidariamente com o Banco Santander (art. 509 do CPC). Diante do exposto, dou provimento ao recurso para julgar improcedente o pedido inicial, invertendo a sucumbência para condenar o autor ao
4 pagamento das custas processuais e honorários de advogados de R$500,00 para o patrono de cada um dos requeridos.
5 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Tribunal de Justiça 2ª Câmara Cível Data de distribuição :11/12/2008 Data de julgamento :11/03/2009 100.001.2008.004816-0 Apelação Origem : 00120080048160 Porto Velho/RO (4ª Vara Cível) Apelante : Banco Santander Banespa S/A Advogados : Marcos Antônio Metchko (OAB/RO 1.482) e outro Apelado : União de Bancos Brasileiros S/A - Unibanco Advogados : Diego Brito Campos (OAB/RO 3.943), Carlos Maximiano Mafra de Laet (OAB/SP 104.061 - A) e outros Apelado : Célio Javoski Gomes Advogados : Raimundo Gonçalves de Araújo (OAB/RO 3.300) e outras Relator : Desembargador Marcos Alaor Diniz Grangeia Revisor : Desembargador Miguel Monico Neto EMENTA Cartão de crédito. Pagamento. Compensação. Equívoco. Situação fática. Dano moral. Improcedência. O equívoco na compensação do pagamento de cartão de crédito, problema que não chega ao conhecimento de terceiros nem tem maiores desdobramentos, configura mero dissabor insuficiente a causar dano moral. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Desembargadores da 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, em, POR UNANIMIDADE, DAR PROVIMENTO AO RECURSO NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR. O desembargador Miguel Monico Neto e o juiz Glodner Luiz Pauletto acompanharam o voto do relator. Porto Velho, 11 de março de 2009.
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