RELATÓRIO RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL ÉLIO SIQUEIRA (CONVOCADO) - 3ª TURMA VOTO
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- Domingos Aranha Escobar
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1 PROCESSO Nº: APELAÇÃO RELATÓRIO O Senhor DESEMBARGADOR FEDERAL ÉLIO SIQUEIRA (CONVOCADO): Trata-se de Apelação interposta pela parte autora, em face de sentença que julgou procedente o pleito autoral, objetivando indenização a título de danos morais e materiais decorrentes de saques indevidos em sua conta poupança, que mantinha na instituição financeira, ora apelada. Em suas razões de recurso, sustenta a Caixa Econômica Federal - CEF, preliminarmente que houve cerceamento do direito de defesa ao não ter sido realizada a audiência e, consequentemente, o depoimento pessoal da parte autora. No mérito aduz que não houve fraude na realização dos saques e que, portanto, não há que se falar em indenização a título de danos morais e materiais. Contrarrazões apresentadas. Éo relatório. PROCESSO Nº: APELAÇÃO VOTO O Senhor DESEMBARGADOR FEDERAL ÉLIO SIQUEIRA (CONVOCADO): Trata-se de Apelação interposta pela parte autora, em face de sentença que julgou procedente o pleito autoral, objetivando indenização a título de danos morais e materiais decorrentes de saques indevidos em sua conta poupança, que mantinha na instituição financeira, ora apelada. In casu, aplica-se do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), uma vez que restou caracterizada uma relação de consumo, nos termos do art. 3º, caput, e seu 2º, do citado diploma legal, in verbis: Art. 3 Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
2 Ora, na hipótese é perfeitamente cabível a inversão do ônus da prova, direito básico do consumidor, previsto no art. 6º, VIII, do CDC. Destaco ainda que a responsabilidade que se quer imputar à ré há de ser examinada a luz do que dispõe o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor. Logo, trata-se de responsabilidade civil objetiva que apresenta três requisitos para sua configuração: a)conduta humana antijurídica; b)nexo de causalidade e c) dano ou prejuízo moral indenizável. Com efeito, entendo que houve falha na prestação do serviço bancário, tendo em vista que ocorreram 29 retiradas no período de 2 dias - 11 e 12 de Novembro de fato que indica a ocorrência de fraude. Ademais, a CEF não apresentou filmagens dos caixas eletrônicos onde foram realizados os saques. A alegação de que somente com o cartão magnético do titular da conta-poupança e sua respectiva senha é que seria possível o saque de valores citada aplicação financeira não deve prosperar. Afinal, no Brasil, é pública e notória a utilização de cartões magnéticos clonados e de dispositivos eletrônicos diversos capazes de obter a senha pessoal, permitindo o acesso de terceiros não autorizados. Diante de tal realidade, resta a CEF suportar os riscos inerentes a sua própria atividade. Nesse sentido, colaciono os seguintes julgados: CONSTITUCIONAL. CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS E MATERIAIS. SAQUES INDEVIDOS NA CONTA DE POUPANÇA. FALHA NO SERVIÇO BANCÁRIO. I. Trata-se de apelação de sentença que julgou procedente o pedido, condenando a Caixa Econômica Federal ao ressarcimento de todos os valores indevidamente sacados da conta do autor, acrescidos de correção monetária e juros de mora desde o evento danoso (Súmulas 43 e 54 do STJ), bem como no pagamento de indenização por dano moral equivalente a R$ 3.000,00 (três mil reais). II. A reparação civil por danos materiais está prevista no art. 927 do Código Civil, o qual dispõe que todo aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, terá o dever de indenizar. III. Também, a reparação por danos morais se encontra respaldo no inciso V, do art. 5º, da Constituição Federal, bem como nos arts. 186 c/c 927 do Código Civil, entendendo-se como qualquer agressão à dignidade pessoal e aos direitos da personalidade, que cause humilhação ou constrangimento ao indivíduo. IV. A responsabilidade civil da CEF pelos danos alegadamente causados em razão da prestação defeituosa de serviços é de natureza objetiva, dependendo, para a sua configuração, da presença simultânea dos requisitos extraídos do art. 14 do CDC (defeito na prestação do serviço; dano patrimonial ou moral; nexo de causalidade), aplicável às instituições financeiras por força do art. 3º, parágrafo 2º. do Estatuto Consumerista. V. Há de se reconhecer a ocorrência de danos materiais e morais, no presente caso, uma vez que as provas dos autos demonstram que os saques efetuados na conta do autor ocorreram sem seu conhecimento ou participação. Houve falha na prestação do serviço, pois terceiro não autorizado pelo apelado teve acesso aos registros sigilosos do banco de dados da operadora ré, para informações relativas ao seu cartão e a sua senha, o que viabilizou os saques indevidos. VI. Quanto ao dano material, a reparação tem como finalidade repor as coisas lesionadas ao seu "status quo ante" ou possibilitar à vítima a aquisição de outro bem semelhante ao destruído ou extraviado. Para que se possa conceder o pedido por danos materiais, faz-se necessário a
3 comprovação real do prejuízo pecuniário, o que, na hipótese, corresponde aos valores indevidamente sacados. VII. É atribuído ao juiz fixar o valor dos danos morais, não devendo causar enriquecimento indevido. Assim, justa é a indenização a tal título em R$ 3.000,00 (três mil reais). VIII. Apelação improvida. (PJE: , AC/PE, RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL BRUNO TEIXEIRA (CONVOCADO), Quarta Turma, JULGAMENTO: 25/06/2013) CIVIL. CAIXA. SAQUES INDEVIDOS EFETUADOS POR TERCEIROS. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. RESPONSABILIDADE DA CAIXA. RESTITUIÇÃO DO VALOR. ADOÇÃO DA TÉCNICA DA MOTIVAÇÃO REFERENCIADA ("PER RELATIONEM"). AUSÊNCIA DE NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ENTENDIMENTO DO STF. 1. Trata-se de apelação interposta contra sentença que julgou parcialmente procedente o pedido para condenar a CAIXA no pagamento de indenização por danos morais no montante de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor sacado indevidamente, bem como a repor os valores históricos indevidamente sacados da conta do autor. 2. A mais alta Corte de Justiça do país já firmou entendimento no sentido de que a motivação referenciada ("per relationem") não constitui negativa de prestação jurisdicional, tendo-se por cumprida a exigência constitucional da fundamentação das decisões judiciais. Adota-se, portanto, os termos da sentença como razões de decidir. 3. "Tratando-se de responsabilidade civil, via de regra, é essencial que fiquem demonstrados os seguintes pontos: (i) a ocorrência do fato causador do dano, (ii) a existência do próprio dano, (iii) o nexo de causalidade entre o fato causador e o dano alegado, bem como, se for o caso, (iv) o dolo/culpa e a pessoa responsável pelo fato jurígeno". 4. (...) "constatados os fatos, qualificados estes como ilícitos e aptos a gerar dano moral e presente o nexo de causalidade entre a conduta e o dano, indubitável a obrigação da ré de reparar os danos sofridos pelo autor". 5. (...) "o gerente da ré, em seu depoimento de fls. 89/90, apesar de haver afirmado não lembrarse, especificamente, do caso dos autos, foi enfático ao afirmar que, na época dos fatos, estava havendo muitos casos de cartão clonado, tendo ele, inclusive, dito que tinha a função de ligar para clientes, alertando-os acerca de possíveis saques indevidos, o caso é de se considerar presente a prova indiciária dos fatos constitutivos do direito do autor, a partir desse depoimento, e, com base no artigo 6.º, VIII, do CDC, inverter o ônus da prova. Deve ser ressaltado ainda que o gerente da CEF, no aludido depoimento, afirmou que, na época dos fatos narrados na inicial, as reclamações dos clientes eram respondidas apenas de forma verbal pela CEF, o que demonstra a precariedade com que eram recebidos os clientes vítimas de má prestação dos serviços da ré". 6. (...) "como a própria CEF já se manifestou através de seu funcionário, bem como não teve qualquer interesse em produzir outra prova além daquelas já encartadas junto com a contestação, o caso é de acolhimento da pretensão inicial, porém apenas parcialmente". 7. "Quanto ao valor dos danos morais, tendo-se em vista o tempo em que a vítima ficou privada dos seus recursos, bem como a precariedade com que foi tratada pela ré, entendo suficiente, a fixação de danos morais no patamar de 50% sobre o valor indevidamente sacado da conta do autor".
4 Apelação improvida. (PROCESSO: , AC526829/PB, RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIA LUCENA, Primeira Turma, JULGAMENTO: 06/06/2013, PUBLICAÇÃO: DJE 14/06/ Página 75) Desse modo, tenho que a CEF devera reparar os danos materiais e morais sofridos pelo apelante, uma vez que não conseguiu demonstrar, em razão da inversão do ônus da prova (Art. 6º, VIII, do CDC), a culpa exclusiva ou concorrente nos saques realizados. A indenização a título de danos materiais deve ser fixada no montante correspondente ao valor indevidamente sacado da conta-poupança, ou seja R$ ,80, acrescidos de correção monetária e juros de mora desde o evento danoso (Sumulas 43 e 54 do STJ) Quanto à condenação pecuniária decorrente dos danos morais, esta deve ser arbitrada com moderação, uma vez que seu objetivo não é o enriquecimento sem causa da parte a que aproveita. Assim, observando o principio da razoabilidade, mantenho o valor arbitrado na sentença pelo magistrado a quo no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), acrescidos de compensação monetária, a partir da citação, calculados exclusivamente pela taxa SELIC. Diante do exposto, nego provimento à apelação. Écomo voto. PROCESSO Nº: APELAÇÃO EMENTA: CIVIL. CONSUMIDOR. CEF. RESPONSABILIDADE CIVIL. SAQUES INDEVIDOS EM CONTA-POUPANÇA. INVERSÃO DO ONUS DA PROVA. DANOS MORAIS E MATERIAIS. CONFIGURADOS. 1. Hipótese de Apelação interposta pela parte autora, em face de sentença que julgou procedente o pleito autoral, objetivando indenização a título de danos morais e materiais decorrentes de saques indevidos em sua conta-poupança. 2. A CEF deve reparar os danos materiais e morais sofridos pelo autor, uma vez que não conseguiu demonstrar, em razão da inversão do ônus da prova (Art. 6º, VIII, do CDC), a culpa exclusiva ou concorrente destes saques realizados. 3. A indenização pelos danos materiais corresponde ao valor indevidamente sacado, R$ , A indenização a título de danos morais deve ser fixada com observância ao princípio da razoabilidade, sob pena de ensejar enriquecimento sem causa na parte autora. Mantida, portanto, a indenização fixada pelo magistrado a quo, no valor de R$ 3.000, Apelação não provida.
5 PROCESSO Nº: APELAÇÃO RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL ÉLIO SIQUEIRA (CONVOCADO) - 3ª TURMA ACORDÃO Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do voto do relator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes nos autos, que fica fazendo parte integrante do presente julgado.
ACÓRDÃO. Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 1031148-08.2015.8.26.0577, da Comarca de São José dos Campos, em que é
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