RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL CID MARCONI (RELATOR): Apelação desafiada pelo Particular, em face da sentença que julgou improcedente o pedido de indenização por danos morais, decorrentes da inscrição do seu nome em cadastros restritivos de crédito (Serasa). Nas razões recursais, o Apelante pugnou pela reforma da sentença, sustentando que o seu patrimônio não poderia responder pelas dividas sociais da sua empresa. Aduziu, também, que, embora tenha sido o avalista do contrato de empréstimo bancário, não consta do titulo executivo a ciência e outorga de seu respectivo cônjuge. Contrarrazões apresentadas. É o relatório. VOTO O DESEMBARGADOR FEDERAL CID MARCONI: Compulsando os autos, verifico que não merece reparo a v. sentença, pelos mesmos argumentos expendidos pelo douto Magistrado 'a quo', os quais adoto, como razões de decidir, in verbis: "O pedido de antecipação dos efeitos da tutela foi analisado em decisão proferida nestes autos (doc. 176675), cujas razões adoto como fundamento desta sentença: "Sustenta o autor, em síntese, que está com seu nome negativado em cadastro restritivo de crédito, por força de uma dívida no valor de R$ 253.983,00, a qual não reconhece, porquanto não teria firmado com a demandada negócio jurídico motivador do impugnado débito. Junta documentos. Postergada o exame da tutela de urgência para depois da contestação da Caixa, esta apresentou resposta, instruída por documentação, alegando, em suma, que a empresa do autor é cliente da instituição bancária, com histórico de três contratos de empréstimos liquidados, encontrando-se hoje vigente o contrato n.º 15.0049.650.0000007-78, através do qual lhe foi concedido crédito através da operação BCD - Bens de Consumo Duráveis. A dívida que ensejou a negativação, assim, é decorrente desse pacto, no qual o demandante figura na qualidade de sócio e representante da empresa, além de avalista e devedor fiduciante, respondendo solidariamente por todas as obrigações ali firmadas. Motivação É de fazer a natureza da obrigação que o autor colima antecipar os efeitos da tutela do próprio mérito, pois objetiva a baixa da restrição de seu nome perante os órgãos de proteção ao crédito. Cumpre, portanto, examinar a pretensão antecipatória à luz dos requisitos exigidos pelo 3º do art. 461 do CPC, quais sejam, relevância do fundamento da demanda e receio [1] de ineficácia do provimento final.
A Caixa acostou ao feito contrato de cédula de crédito bancário n.º 15.0049.650.7-78, firmando com a empresa KITMÉDICA COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA. - EPP, figurando o autor no pacto como sócio administrador e dirigente da pessoa jurídica (doc. n.º 174144, p. 44-64), e ali assumindo a posição de avalista (p. 45). Foi pactuado um prazo de 48 meses para a amortização do débito, iniciando em 10/06/2011 e findando em 10/05/2015 o pagamento das correlatas parcelas (f. 44). A demandada noticia, porém, que a última prestação efetivamente paga foi em 31/10/11, firmando-se a inadimplência desde então (doc.n.º 174158, p. 71), o que deu ensejo à impugnada negativação cadastral (doc. n.º 174177, p. 88). O fato de o autor ter assumido a condição de avalista no contrato já é circunstância que, por si só, contradiz seu argumento de não ter pactuado qualquer negócio jurídico com a Caixa, além de consistir em causa suficiente para a restrição cadastral de seu nome, à luz do inadimplemento das obrigações assumidas na cédula e pelas quais responde solidariamente: "O Aval é ato dotado de autonomia substancial em que se garante o pagamento do título de crédito em favor do devedor principal ou de um co-obrigado, isto é, é uma garantia autônoma e solidária." (STJ, EAG 1179654, rel. Min. Sidnei Beneti, DJe, 13/04/2012). (...) No caso dos autos - que versa sobre pedido indenizatório decorrente de inscrição do CPF do autor em cadastro de restrição de crédito - a Caixa Econômica Federal trouxe aos autos prova inequívoca da existência de contrato de empréstimo no qual o autor se apresenta como avalista, demonstrando ainda a inadimplência que originou a negativação do cadastro do autor, provas estas que foram suficientes a afastar o pedido de antecipação de tutela, conforme acima exposto. Note-se, no ponto, que intimada a parte autora a se manifestar sobre a contestação da ré, quedou-se inerte, pelo que precluiu seu direito de impugnar os documentos apresentados pela demandada. Sendo certo que a inscrição do CPF de devedores em cadastros de restrição de crédito é medida autorizada em nosso ordenamento e, mais que isso, essencial a garantir o mínimo de segurança às instituições financeiras quando da análise do cadastro de seus clientes, não observo qualquer irregularidade praticada pela Caixa Econômica Federal, a qual comprovou nos autos a existência tanto do contrato de empréstimo como da respectiva inadimplência, restando legitimada a inscrição do autor em cadastros de restrição, a exemplo da Serasa. Para além, a condição autoral de sócio administrador da pessoa jurídica tomadora do empréstimo e, também, de avalista do contrato pactuado, acaba por afastar qualquer alegação de ilegalidade no ato praticado pela Caixa e, consequentemente, afasta a pretensão de indenização moral no presente caso. Nesse sentido: DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTRATO FIRMADO EM NOME DE PESSOA JURÍDICA, ASSINADO POR UM DOS SÓCIOS. VALIDADE. ATENDIMENTO AO DISPOSTO NO CONTRATO SOCIAL. RESPONSABILIDADE DE SÓCIA ADMINISTRADORA MAJORITÁRIA. LEGITIMIDADE DAS INSCRIÇÕES EM CADASTROS RESTRITIVOS DE CRÉDITO. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. REFORMA DA SENTENÇA. 1. Apelações cíveis interpostas em face de sentença que julgou improcedentes os pedidos formulados em nome da empresa BORGES ANDRADE COMÉRCIO DE MÓVEIS LTDA - ME e julgou parcialmente procedente o pedido da 2ª autora, para declarar a inexistência de sua responsabilidade pessoal pelos contratos
celebrados com a CEF, condenando a empresa pública ao pagamento de indenização por danos morais, arbitrados em R$ 3.000,00 (três mil reais). 2. No caso em apreço, a parte autora pretende obter a declaração de inexistência dos contratos de mútuo firmados com a CEF, bem como uma indenização por danos morais sofridos em decorrência das restrições lançadas sobre seus nomes. 3. Para tanto, alega a ausência do elemento volitivo na celebração das avenças, uma vez que os contratos em questão foram firmados somente por um dos sócios (2º réu) em nome da pessoa jurídica (1ª autora), quando o contrato social determinava a administração conjunta da sociedade. Por essa razão, também, entende não haver responsabilidade da sócia majoritária (2ª autora), eis que não teria assumido nenhuma obrigação em nome próprio como avalista ou fiadora. 4. "Não obstante os sócios possuírem participações societárias diversas no que se refere ao capital social (Cláusula Segunda - f. 16/17), verifica-se que os poderes de administração da sociedade foram conferidos a ambos igualmente. Nesta perspectiva, com base no contrato social e nos dispositivos do Código Civil supracitados, constata-se que o sócio CLEITON DANTAS DE ANDRADE possuía poderes para firmar contratos de empréstimo perante a CEF em nome da pessoa jurídica Borges Andrade Comércio de Móveis Ltda." (trecho extraído da sentença). 5. Quanto ao pleito da 2ª autora, merece reforma a sentença prolatada. Com efeito, não havendo quaisquer vícios nos contratos firmados com a CEF, posto que em consonância com os termos da Cláusula Sexta do estatuto social, e tendo sido todas as obrigações assumidas em favor da sociedade empresária, e não em benefício de um dos sócios, não há como isentá-la das responsabilidades advindas do inadimplemento contratual. 6. Isso porque, sendo sócia administradora majoritária, titular de 70% das quotas da pessoa jurídica, era a principal responsável pelas atividades desenvolvidas pela empresa e tinha o dever de zelar pelos atos praticados em nome daquela, sendo pessoalmente responsável pelos atos praticados durante sua administração, segundo o art. 1.016 do Código Civil. 7. Deste modo, tanto a pessoa jurídica Borges Andrade Comércio de Móveis Ltda. ME, quanto os sócios assumiram responsabilidade pelos contratos, razão pela qual é legítima a inscrição de seus nomes em órgãos de restrição ao crédito, dado o inadimplemento contratual. 8. Apelação da parte autora desprovida. 9. Apelação da CEF provida, para julgar improcedentes os pedidos iniciais. (grifei) (AC 00061002020114058500, Desembargador Federal Francisco Cavalcanti, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data: 15/03/2013 - Página: 122.)" Por fim, registre-se que a nulidade do aval dado pelo sócio administrador e dirigente da pessoa jurídica apenas pode ser suscitada pelo cônjuge prejudicado, não podendo o avalista se valer de tal alegação para se beneficiar. Sob o influxo de tais considerações, nego provimento à Apelação. É como voto. APELANTE: PEDRO HORACIO DE FIGUEIREDO DUTRA ADVOGADO: WELLINGTON ARRUDA GOUVEIA JUNIOR APELADO: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL CID MARCONI - 3ª TURMA ORIGEM : JUÍZO DA 9ª VARA FEDERAL/PE - JUIZ UBIRATAN DE COUTO MAURÍCIO
EMENTA CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CEF. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO/FINANCIAMENTO. PESSOA JURÍDICA. INADIMPLEMENTO. INSCRIÇÃO EM CADASTROS RESTRITIVOS DE CRÉDITO. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. AVAL. INEXISTÊNCIA DE OUTORGA UXÓRIA. DESNECESSIDADE. 1. Apelação interposta pelo Particular, em face da sentença que julgou improcedente o pedido de indenização por danos morais, decorrentes da inscrição do seu nome em cadastros restritivos de crédito (Serasa). 2. Hipótese em que a Caixa juntou aos autos o contrato de cédula de crédito bancário firmado com a empresa devedora, figurando o autor no pacto como sócio administrador e dirigente da pessoa jurídica, e ali assumindo a posição de avalista. 3. O fato de o autor ter assumido a condição de avalista no contrato já é circunstância que, por si só, contradiz seu argumento de não ter pactuado qualquer negócio jurídico com a Caixa, além de consistir em causa suficiente para a restrição cadastral de seu nome, à luz do inadimplemento das obrigações assumidas na cédula e pelas quais responde solidariamente. 4. Demonstrado o inadimplemento do contrato, bem como a condição do autor de sócio administrador da pessoa jurídica tomadora do empréstimo e, também, de avalista do contrato pactuado, exsurge legítima a inscrição do autor em cadastros restritivos de crédito, com o consequente indeferimento da indenização postulada. 5. A nulidade do aval dado pelo sócio administrador e dirigente da pessoa jurídica apenas pode ser suscitada pelo cônjuge prejudicado, não podendo o avalista se valer de tal alegação para se beneficiar. Apelação improvida. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas. Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à Apelação, nos termos do relatório, voto do Desembargador Relator e notas taquigráficas constantes nos autos, que passam a integrar o presente julgado. Recife (PE), 10 de dezembro de 2015. Desembargador Federal CID MARCONI Relator