O presente estudo teve como objetivo a implantação de uma colônia de pulgas (Ctenocephalides felis felis), para determinação do período de



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Transcrição:

Implantação de colônia de Ctenocephalides felis felis (Bouché, 1835) e determinação do período de desenvolvimento dos estágios imaturos sob condições controladas Implantation of a Ctenocephalides felis felis (Bouché, 1835) colony and determination of the development period of the immature stages under controlled conditions Resumo Heloisa Cristina da Silva 1 Viviane Aparecida Veronez 2 Karina Carrão Castagnolli 3 Nancy Prette 4 Fernando de Almeida Borges 5 Daniela da Silveira Miyasaka 6 Gilson Pereira Oliveira 7 Alvimar José da Costa 8 O presente estudo teve como objetivo a implantação de uma colônia de pulgas (Ctenocephalides felis felis), para determinação do período de 1 Drª.; Médica Veterinária; Professora do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal; E-mail: helocsilva@hotmail.com 2 Drª.; Médica Veterinária; Professora do Departamento de Patologia Veterinária da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal; E-mail: viviveronez@hotmail.com 3 PhD.; Médica Veterinária; Uzinas Chímicas Brasileiras S.A.. 4 Drª.; Bióloga; Professora de ensino médio da Secretaria Municipal de Ribeirão Preto. E-mail: nprette@hotmail.com 5 Dr.; Médico Veterinário; Professor do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; E-mail: faborges@nin.ufms.br 6 Dra.; Médica Veterinária; Gerente de Registro e Estudos Clínicos (PD&I) da Ouro Fino Saúde Animal Ltda; E-mail: daniela.miysaka@ourofino.com 7 Dr.; Médico Veterinário; Pesquisador do Centro Pesquisa Sanidade Animal-UNESP. 8 PhD.; Medico Veterinário; Professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias Campus de Jaboticabal Univers; Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq; E-mail: alvimar.costa@ pq.cnpq.br Recebido para publicação em 20/08/2007 e aceito em 10/06/2008 Ambiência Guarapuava, PR v.4 n.3 p.473-481 Set./Dez. 2008 ISSN 1808-0251

Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 4 N. 3 Set./Dez. 2008 Abstract desenvolvimento dos estágios imaturos desse inseto, quando mantido em condições controladas. Para isto, gatos foram infestados artificialmente com estágios adultos de C. felis felis e mantidos em gaiolas metálicas suspensas. Diariamente, durante trinta dias, os ovos de pulgas provenientes dos gatos eram recolhidos e mantidos em estufa do tipo B.O.D., com T o de 28±1 o C e umidade relativa de 75%. O tempo de eclosão larval foi em média de dois a quatro dias, as pré-pupas surgiram no período de seis a nove dias, a pupação iniciou-se com nove a onze dias e a emergência dos adultos variou de quatorze a vinte dias. Nessas condições climáticas associadas à dieta adotada, foi possível uma recuperação de adultos de aproximadamente 90%, resultados favoráveis à manutenção de uma colônia. Palavras-chave: Ctenocephalides; ciclo biológico; colônia de pulgas. The purpose of this study was the implantation of a flea colony (Ctenocephalides felis felis) for determination of the development time of the immature stages of the insect in laboratory controlled conditions. Cats were artificially infested with adult C. felis felis and maintained in suspended metallic cages. The flea eggs were collected daily for 30 days, and placed in an incubator set at 28 ±1 oc, at 75% relative-humidity. The time for larval eclosion ranged from 2 to 4 days. The pre-pupa stage appeared 6 to 9 days later. The pupa stage initiated after 9 to 11 days and the emergence of the adults ranged from 14 to 20 days. Provided the climatic and diet control conditions, a flea adult recovery of approximately 90% was observed, showing favorable conditions for the maintenance of a flea colony. Key words: Ctenocephalides; life cycle; flea colony. Introdução Ctenocephalides felis felis é um dos ectoparasitos mais importantes de cães e gatos. Seus prejuízos vão desde danos provocados diretamente pela sua picada e transmissão de vários patógenos, até o desencadeamento de uma importante enfermidade, denominada dermatite alérgica a picada de pulgas - DAPP, determinada por componentes contidos na saliva dos sifonápteros. Atualmente, estima-se que 50% dos casos de alterações dermatológicas nos animais sejam ocasionados pelos insetos supramencionados (BRANDÃO, 2004; LINARDI, 2004). De acordo com Dryden (1993), C. felis felis pode ser hospedeiro intermediário do cestódeo Dipylidium caninum, parasito de cães, gatos e ocasionalmente de crianças, do filarídeo Dipetalonema 474

SILVA, H.C. et al. reconditum e vetor do agente da doença da arranhadura do gato, Bartonella henselae, além de também atuar como agente transmissor de algumas Riquetsias (FOIL et al, 1998; HEUKELBACH et al., 2003). O controle químico desses insetos ainda é o método mais utilizado e o desenvolvimento de novas formulações visando melhores resultados terapêuticos tem sido um fator preponderante nas indústrias farmacêuticas (KRAMER e MENCKE, 2001). O conhecimento da biologia desses insetos é de fundamental importância para a elaboração de uma estratégia de controle (PEREIRA e SANTOS, 1998). A implantação de colônias de pulgas auxilia em testes elaborados para comprovação de eficácia dos vários princípios ativos existentes. Por meio de infestações artificiais de pulgas, em cães ou gatos, é possível estabelecer padrões confiáveis sobre a ação química dos fármacos e garantir resultados mais precisos em testes in vivo e in vitro. Além disso, pode-se detectar precocemente cepas resistentes aos princípios ativos existentes. Também permite o estudo sobre o desenvolvimento de vacinas e facilitar a caracterização molecular de cepas diferentes de uma mesma espécie de pulga. Outro fato a ser considerado é a sua participação nos estudos com controle biológico (RUST, 2005). As pulgas, independente de sua espécie, são insetos com metamorfose completa, sendo seu ciclo biológico dividido em quatro fases diferenciadas: ovo, larva, casulo pupal e adulto (DRYDEN, 1993). O ciclo biológico dos pulicídeos tem início quando os ovos são depositados entre os pêlos dos hospedeiros. Após a oviposição, estes caem ao solo, tendendo a acumular-se em grandes quantidades nos locais habitualmente mais freqüentados pelos hospedeiros. As larvas eclodem no intervalo entre um e dez dias, de acordo com as condições ambientais de temperatura e umidade relativa, sendo o tempo médio de desenvolvimento larval de cinco a onze dias, passando por três instares, separados entre si por duas mudas de cutícula. No final do seu desenvolvimento, o terceiro instar larval deixa de se alimentar e esvazia seu trato digestivo, iniciando a produção de tênues fi o s de seda viscosos, para a formação do casulo pupal, que irá aderir-se a qualquer sujidade ambiental como grãos de areia ou outro tipo de resíduo. A emergência das pulgas adultas ocorre em cerca de 5 a 9 dias após o início da pupação, podendo chegar a um tempo tão longo como 140 dias. As pulgas emergentes apresentam fototropismo positivo e geotropismo negativo, além de serem atraídas por vibrações, correntes de ar, CO 2, ruídos, odores e outros estímulos químicos. Logo após a emergência, as pulgas iniciam o repasto sangüíneo e a oviposição ocorre num tempo máximo de 36 a 48 horas do primeiro repasto (DRYDEN, 1993; DRYDEN e RUST, 1994, LINARDI; e GUIMARÃES, 2000; LINARDI, 2004). De acordo com Genchi (1992), os pulicídeos adultos constituem apenas 5% da população em parasitismo, ficando os 95% restantes distribuídos entre as outras fases de vida, demonstrando, portanto, 475

Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 4 N. 3 Set./Dez. 2008 que a maior parte do ciclo biológico de C. felis felis se passa fora do hospedeiro. A longevidade das pulgas é variável de acordo com as condições climáticas, espécie e com a condição alimentar, sendo assim, a Ctenocephalides felis felis pode ter uma sobrevida de 30 dias alimentando-se e de 19 dias em jejum. No repasto sanguíneo, uma fêmea de Ctenocephalides spp ingere cerca de 13,6 µl de sangue por dia, o que representa aproximadamente quinze vezes o seu peso (DRYDEN, 1993; LINARDI, 2004). A grande quantidade de sangue ingerido pelas fêmeas adultas de pulgas auxilia na sobrevivência das larvas no ambiente, uma vez que uma parcela desse sangue ingerido é eliminado com as fezes destas fêmeas e caem no solo para servirem de alimento junto com matéria orgânica, para as larvas recém eclodidas (DRYDEN, 1993). Em laboratório, para a alimentação das larvas, é feita a substituição das fezes de pulgas por sangue desidratado de animais. O sangue de bovinos é o mais utilizado para dieta das larvas em laboratório, porém podese utilizar sangue de outros animais (LINARDI et al., 1997). Normalmente formulam-se dietas para as larvas adicionando outros componentes ao sangue de bovinos, como por exemplo, o levedo de cerveja. A finalidade de tal procedimento consiste em melhorar a qualidade do alimento e ainda fornecer substrato para a construção do casulo pupal (BRUCE, 1948; MOSER et al., 1991; BAKER e ELHARAM, 1992; RICHMAN et al., 1999). Este estudo foi realizado para a determinação do período de desenvolvimento dos estágios de C. felis felis, bem como para verificação da percentagem de emergência dos adultos, utilizando-se uma dieta à base de farelo de trigo e farinha de sangue bovino. Material e Métodos Para obtenção de C. felis felis utilizadas nos ensaios com cães e gatos, foi inicialmente estabelecida e mantida uma colônia de pulgas, seguindo metodologia de Santos (2000) modificada. A colônia foi instalada no Laboratório do Centro de Pesquisa em Sanidade Animal (CPPAR) - FCAV/UNESP Campus de Jaboticabal. Para tanto, dez gatos, sem raça definida, foram recolhidos do canil municipal de Araraquara, SP, levados ao laboratório e penteados com um pente fino, para retirada das pulgas existentes. Posteriormente, os gatos foram infestados com adultos de C. felis felis previamente identificados segundo Bicho e Ribeiro (1998), capturados de outros gatos e/ou cães. Os gatos foram alojados em gaiolas de metal, com dimensões de 62cm x 120 cm x 55 cm, mantidas suspensas sobre bancadas a 72 cm do chão, mantendo-se dois animais por gaiola. Dentro de cada gaiola foi colocado um recipiente contendo areia higiênica. Água e alimento foram fornecidos ad libitum. Diariamente, as gaiolas eram retiradas e o balcão varrido com um pincel para colheita dos ovos de pulgas juntamente com resíduos de poeira e areia. O material obtido foi colocado em placas de Petri com uma mistura de farelo de trigo e farinha de sangue na proporção de 1:1, que serviu de dieta para as larvas e substrato para a 476

SILVA, H.C. et al. Figura 1. Estante de B.O.D. com placas de Petri contendo larvas e pupas, tubos de ensaio contendo pupas Fonte: Os autores formação do casulo pupal (Figura 1). As placas de Petri foram acondicionadas em câmara do tipo B.O.D. na temperatura de 28 ±1 o C e umidade relativa de aproximadamente 75%. Após a formação do casulo pupal, estes foram contados, separados e colocados em número de 100 ou 150 em tubos de ensaio (15 cm x 1,6cm), devidamente cobertos com tecido de nylon, preso por um elástico, permitindo a aeração dentro do tubo e impedindo a fuga das larvas e adultos. Em seguida, esses tubos foram mantidos em estufa tipo B.O.D. nas mesmas condições anteriores. Cada tubo de ensaio contendo as pulgas já emergidas, foi utilizado para infestar artificialmente os cães e gatos dos experimentos e, também, para reinfestar os gatos da colônia, aumentando assim a população de pulgas adultas destes e, conseqüentemente, a quantidade de ovos coletados para a realização dos ensaios. Resultados e Discussão A eclosão larval foi observada de dois a quatro dias; as pré-pupas surgiram no período de seis a nove dias; a pupação iniciou-se com nove a onze dias e a emergência dos adultos variou de quatorze a vinte dias (Tabela 1). A dieta à base de farinha de sangue e farelo de trigo, utilizada para nutrição das larvas e substrato para formação do casulo pupal, foi muito eficiente nesta fase de desenvolvimento, contribuindo para a recuperação de aproximadamente 90% dos adultos. Estes valores foram mantidos 477

Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 4 N. 3 Set./Dez. 2008 Tabela 1. Período em dias da duração dos diferentes estágios de Ctenocephalides felis felis Estágios Tempo mínimo (dias) Tempo máximo (dias) Eclosão larval 2 4 Pré-pupa 6 9 Pupação 9 11 Emergência de adultos 14 20 Fonte: Os autores constantes durante todo ano como conseqüência de temperatura e umidade controladas em estufa do tipo B.O.D. Um moderno conceito no controle de pulgas enfatiza a necessidade de se proteger os animais das reinfestações, eliminando do ambiente as reservas de ovos, larvas e pupas (JACOBS et al., 1997). Assim, a manutenção de colônias de pulgas em laboratório é de extrema importância para a obtenção de dados experimentais referentes ao ciclo biológico da Ctenocephalides felis felis, auxiliando no controle desses insetos. Além disso, as colônias também oferecem suporte para a avaliação de novos produtos inseticidas (SANTOS, 2000). Nesse sentido, implantou-se uma colônia de pulgas (C. felis felis), sendo os resultados obtidos referentes à biologia das mesmas e manutenção da colônia comparados com os de outros autores. O tempo de eclosão das larvas de sifonápteros observado neste ensaio foi de dois a quatro dias, em temperatura de 28 o C e umidade relativa (UR) de 75%. Esses valores, quando comparados aos obtidos por Santos (2000) nas mesmas condições climáticas e por Silverman et al. (1981) em temperatura de 27 o C e 75% UR, foram ligeiramente mais prolongados já que estes autores observaram a eclosão larval após um período de incubação de dois dias. No entanto, o período para início da formação do casulo pupal observado neste estudo (seis dias), ocorreu antes do período observado pelos referidos autores (aproximadamente sete dias). Mesmo assim, é possível afirmar que estes resultados são similares aos citados em literatura (SILVERMAN et al., 1981; SANTOS, 2000). A temperatura recomendada para manutenção dos estágios imaturos de C. felis felis é de 27 ± 2 o C (SILVERMAN et al., 1981; KOEHLER et al., 1989; KERN et al., 1999). No presente estudo, adotando-se 28 o C como temperatura padrão, a emergência dos adultos iniciouse com quatorze dias, assemelhando-se aos dados obtidos por Santos (2000). Metzger e Rust (1997) obtiveram emergência dos adultos com doze a vinte e sete dias em temperatura de 26,7 o C, utilizando uma dieta à base de ração canina, sangue desidratado de bovino, areia e suplemento nutricional. Essa diferença observada entre os experimentos deve estar relacionada ao método utilizado na criação dos pulicídeos em laboratório. A mistura de farinha de sangue e farelo de trigo (proporção de 1:1), base da dieta adotada como meio de criação neste experimento, foi altamente eficiente para 478

SILVA, H.C. et al. a nutrição larval e formação dos casulos pupais de C. felis felis, visto que recuperouse cerca de 90% dos adultos nos tubos de ensaio. Essa percentagem foi superior a obtida por Santos (2000) que, utilizando dieta semelhante, recuperou cerca de 80% dos adultos. Correia et al. (2003) utilizaram dieta parecida e observaram emergência de adultos em torno de 73%. Os mesmos autores também avaliaram a adição de sangue de outras espécies à dieta, tais como o de eqüino, ovino e fezes de pulgas, obtendo valores inferiores de emergência das pulgas adultas, com exceção da dieta que continha fezes de pulgas; nesta o percentual foi de cerca de 82%. Conclusões A metodologia adotada para a implantação da colônia de pulgas garantiu um rápido período de desenvolvimento desses insetos, fato este capaz de contribuir com vários experimentos futuros em que seja necessário o uso de exemplares, de qualquer estágio, para ensaios in vivo e in vitro. Quanto à dieta adotada, a adição de farelo de trigo na dieta das larvas serviu para aumentar a qualidade nutritiva e garantir o desenvolvimento dos estágios imaturos, contribuindo para um excelente percentual de emergência. Referências BAKER, K.P.; ELHARAM, S. The biology of Ctenocephalides canis in Ireland. Veterinary Parasitology, v.45, p.141-146, 1992. BICHO, C. L.; E RIBEIRO, P. B. Chave pictórica para as principais espécies de Siphonaptera de importância medica veterinária, no Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v.7, p. 47-51, 1998. BRANDÃO,L.P. Pulicidas empregados na medicina de pequenos animais. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v.13, suplemento, p. 107, 2004. BRUCE, W.N. Studies on the biological requiriments of the cat flea. Annais Entomolgy Society American, v.61, p. 346-352, 1948. CORREIA, T.R.; SOUZA,C.P.; FERNANDES, J.I.; MARTINS, I.V.F.; SANTOS, H.D.; SCOTT, F.B. Ciclo biológico de Ctenocephalides felis felis (Bouché, 1835) (Siphonaptera: Pulicidae) a partir de diferentes dietas artificiais. Revista Brasileira, Zoociências: Juiz de Fora, v.5, n. 2, p. 153-160, 2003. DRYDEN, M.W. Biology of fleas of dogs and cats. Compendium of Continuing Education Practice Veterinary, v.15, p. 569-579, 1993. DRYDEN, M.W.; RUST, M.K. The cat flea: biology, ecology and control. Veterinary Parasitology, v. 52, p. 1-19, 1994. 479

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