PROCESSO Nº: 0802297-88.2014.4.05.8500 - APELAÇÃO RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL CESAR ARTHUR CAVALCANTI DE RELATÓRIO O Exmº. Sr. Desembargador Federal CESAR ARTHUR CAVALCANTI DE CARVALHO (Relator): Trata-se de apelação interposta por FRANCISCO ELIAS RIBEIRO em face de sentença que julgou improcedente o seu pleito de concessão de aposentadoria por tempo de contribuição, condenando-o ao pagamento de custas e honorários advocatícios, estes suspensos pelo prazo de 05 (cinco) anos. Alega a apelante que efetivamente trabalhou na Fundação Cultural do Piauí, no período de 15/08/1978 a 30/07/1987, conforme restou comprovado com as anotações na CTPS, por força da v. sentença proferida nos autos da Reclamação Trabalhista nº 0000824-81.2011.5.20.004, e através do Extrato Previdenciário - CNIS. Insurge-se, ainda, contra a condenação em custas e honorários advocatícios. Requer, seja reconhecido como tempo de serviço, todo o período trabalhado junto à Fundação Cultural do Piauí, qual seja, de 15/08/1978 a 30/07/1987, para fins de contagem de tempo de serviço para a obtenção da aposentadoria por tempo de contribuição requerida. Contrarrazões apresentadas (identificador 4058500.348696). É o relatório. PROCESSO Nº: 0802297-88.2014.4.05.8500 - APELAÇÃO RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL CÉSAR ARTHUR CAVALCANTI DE VOTO O Exmº. Sr. Desembargador Federal CESAR ARTHUR CAVALCANTI DE CARVALHO (Relator): Objetiva o demandante o cômputo de tempo de serviço reconhecido na Justiça do Trabalho, no período entre 15/08/1978 e 30/07/1987, para fins de concessão de aposentadoria
por tempo de contribuição, ou aposentadoria proporcional. A aposentadoria por tempo de contribuição, consoante os termos da nova determinação contida no artigo 9º da Emenda Constitucional nº 20/98, é devida ao segurado que se tenha filiado ao regime até 16/12/1998, desde que atenda, cumulativamente, aos seguintes requisitos ( verbis): Art. 9º Observado o disposto no art. 4º desta Emenda e ressalvado o direito de opção a aposentadoria pelas normas por ela estabelecidas para o regime geral de previdência social, é assegurado o direito à aposentadoria ao segurado que se tenha filiado ao regime geral de previdência social, até a data de publicação desta Emenda, quando, cumulativamente, atender aos seguintes requisitos: I. Contar com 53 (cinqüenta e três) anos de idade, se homem, e 48 (quarenta e oito) anos, se mulher; II. Contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: a) Trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos, se mulher, e b) Um período adicional de contribuição equivalente a vinte por cento do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior. Registro que, no presente caso, foram feitas anotações na CTPS por força de sentença trabalhista proferida à revelia do réu, sem que tivesse havido produção de prova material, o que, por si só, não seria suficiente para comprovar o efetivo exercício da atividade, no período entre 15/08/1978 e 30/07/1987. Nada obstante, o tempo de serviço reconhecido na Justiça do Trabalho pode ser admitido como início de prova material para fins previdenciários, desde que corroborado por outras provas. Confira-se precedente desta Corte: PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUTOS QUE RETORNARAM DO STJ PARA A ANÁLISE DA QUESTÃO RELATIVA À UTILIZAÇÃO DE SENTENÇA TRABALHISTA COMO INÍCIO DE PROVA MATERIAL PARA A CONCESSÃO DE BENEFÍCIO. OMISSÃO SUPRIDA. 1. Autos que retornaram do Egrégio Superior Tribunal de Justiça-STJ, em face do provimento dado ao Recurso Especial manejado pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS, ordenando que o julgador "a quo" manifeste-se a respeito da utilização de acordo em reclamação trabalhista homologado como início de prova para a concessão de benefício, se inexistentes outras provas, a qual não teria sido examinada no Acórdão. 2. Sustenta o INSS/ Embargante que a sentença trabalhista reconhecida como prova material não teria se baseado em documento comprobatório de efetivo tempo de serviço alegado, eis que teria apenas se baseado na revelia do reclamado. Destaca, outrossim, ante a exigência de prova material do art. 55, parágrafo 3º, da Lei 8.213/91, que o arresto embargado teria se eximido de analisar tal dispositivo legal com a chancela do Poder Judiciário Trabalhista, sendo salutar que este E. Tribunal se manifeste sobre a questão omissa. 3. Hipótese em que a Sentença Trabalhista não está dissociada de outra prova material para fins de cumprimento das contribuições necessárias à fruição do benefício pretendido. A Autora contribuiu para a Previdência Social por mais de 30 (trinta) anos, sendo no período de 01/10/1975 a 30/08/1997, como
funcionária da empresa Irmãos Silva Ltda, e, no período de julho/1996 a outubro/2005, como contribuinte individual, restringindo-se a sentença obreira tão somente ao vínculo com a empresa Irmão Silva Ltda. 4. O fato de o reclamado ser revel não lhe retirou o direito de participar da instrução probatória através do interrogatório e, mesmo assim, se reconheceu como tendo vigorado o contrato de trabalho entre os postulantes no período de 01/10/1975 a 30/08/1997, entendimento este que goza de fé pública e faz presumir-se verdadeiro o fato. 5. O tempo de serviço reconhecido por decisão do juízo trabalhista deve ser admitido para fins previdenciários, não como efeito de coisa julgada, que se limita aos litigantes da reclamação trabalhista, mas como início de prova material, corroborado com os outros documentos trazidos aos autos (fls. 29/152). Embargos de Declaração providos, sem a atribuição de efeitos infringentes. (TRF5, Terceira Turma, APELREEX9587/01/SE, REL.: DES. FEDERAL ÉLIO WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO (CONVOCADO), JULG.: 11/06/2015, PUB.: DJE 25/06/2015 - Pág. 140) No presente caso, observa-se a existência de documento que corrobora parte do tempo reconhecido na Justiça Obreira. Com efeito, o extrato previdenciário - CNIS (identificador 4058500.193922) atesta que o postulante, de fato, trabalhou na Fundação Estadual de Cultura e do Desporto do Piauí, no interstício de 15/08/1978 a 09/1982. Assim, referido lapso deve ser computado como efetivo tempo de serviço. Registre-se que o fato de no extrato do CNIS constar recolhimento apenas no período de 01/1982 a 09/1982, não obsta o reconhecimento do tempo de serviço, haja vista o recolhimento da contribuição previdenciária ser obrigação do empregador. Considerando o somatório dos períodos trabalhados pelo demandante, de 15/08/1978 a 09/1982 e de 03/08/1987 a 12/2013, tem-se que o apelante não possui os 35 anos de contribuição, que seriam necessários para a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. Da mesma forma, não reúne as condições necessárias para a concessão de aposentadoria proporcional[1], pois esta pressupõe 30 anos de contribuição, mais um período adicional equivalente a 40% do tempo que, na data da publicação da EC nº 20/98 (16/12/1998), faltaria para atingir o limite destes 30 anos. Reconhece-se, porém, os tempos de serviço de 15/08/1978 a 09/1982 e de 03/08/1987 a 12/2013, que devem ser averbados para fins de aposentadoria futura. Sem honorários, tendo em vista a sucumbência recíproca, posto que apenas parte do período trabalhado na Fundação Cultural do Piauí foi reconhecido. Diante destas razões, dou parcial provimento à apelação, para reconhecer como tempo de serviço os períodos de 15/08/1978 a 09/1982 e de 03/08/1987 a 12/2013, para fins de aposentadoria futura. É como voto.
[1] Art. 9º, 1º, I, a e b, da Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/1998 PROCESSO Nº: 0802297-88.2014.4.05.8500 - APELAÇÃO RELATOR(A): DESEMBARGADOR FEDERAL CESAR ARTHUR CAVALCANTI DE EMENTA PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. TEMPO DE SERVIÇO RECONHECIDO EM SENTENÇA TRABALHISTA À REVELIA DO EMPREGADOR. COMPROVAÇÃO PARCIAL. CNIS. TEMPO DE SERVIÇO INSUFICIENTE PARA CONCESSÃO DE APOSENTADORIA. PROCEDÊNCIA EM PARTE DA APELAÇÃO. 1. Pretende o apelante o cômputo de tempo de serviço reconhecido na Justiça do Trabalho, no período entre 15/08/1978 e 30/07/1987, para fins de concessão de aposentadoria por tempo de contribuição, ou aposentadoria proporcional. 2. O tempo de serviço reconhecido na Justiça do Trabalho, mesmo à revelia do réu, pode ser admitido como início de prova material para fins previdenciários, desde que corroborado por outras provas. Precedente desta Corte. 3. No presente caso, observa-se a existência de documento que corrobora parte do tempo reconhecido na Justiça Obreira, qual seja, extrato previdenciário - CNIS, atestando que o postulante, de fato, trabalhou na Fundação Estadual de Cultura e do Desporto do Piauí, no interstício de 15/08/1978 a 09/1982, devendo referido lapso ser computado como efetivo tempo de serviço. 4. Considerando o somatório dos períodos trabalhados pelo demandante, de 15/08/1978 a 09/1982 e de 03/08/1987 a 12/2013, tem-se que o apelante não possui os 35 anos de contribuição, que seriam necessários para a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. 5. Da mesma forma, não reúne as condições necessárias para a concessão de aposentadoria proporcional, pois esta pressupõe 30 anos de contribuição, mais um período adicional equivalente a 40% do tempo que, na data da publicação da EC nº 20/98 (16/12/1998), faltaria para atingir o limite destes 30 anos. 6. Reconhece-se, porém, os tempos de serviço de 15/08/1978 a 09/1982, de 01/07/1987 a 01/08/1987 e de 03/08/1987 a 12/2013, que devem ser averbados para fins de aposentadoria futura. 7. Apelação parcialmente provida.
ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos do processo tombado sob o número em epígrafe, em que são partes as acima identificadas, acordam os Desembargadores Federais da Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em sessão realizada nesta data, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas que integram o presente, por unanimidade, DAR PARCIAL PROVIMENTO À APELAÇÃO. Recife, 14 de julho de 2015 (data do julgamento). eml