3.4 ARRANJOS PRODUTIVOS DE INFORMÁTICA: BLUMENAU, FLORIANÓPOLIS E JOINVILLE



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Transcrição:

236 3.4 ARRANJOS PRODUTIVOS DE INFORMÁTICA: BLUMENAU, FLORIANÓPOLIS E JOINVILLE José Antônio Nicolau Carla C. R. de Almeida ** O presente trabalho tem por objetivo identificar a trajetória e estrutura atual dos três Arranjos Produtivos locais (APLs) na área de informática, com concentração em software, que vem se estruturando no Estado de Santa Catarina, nas cidades de Blumenau, Florianópolis e Joinville, bem como avaliar suas possibilidades competitivas. A localização dos municípios que compõe o APL pode ser visualizada na Figura 3.4.1 abaixo. Para tanto, após explanação sobre as origens, características da produção, recursos humanos, empresas e atores institucionais existentes, busca-se contextualizar o surgimento, a evolução dos três APLs e seu posicionamento dentro do cenário de difusão mundial da indústria de informática, daí resultando indicações de política de apoio. Joinville Blumenau Florianópolis Fonte: Governo do Estado de Santa Catarina. Figura 3.4.1 - Localização dos APLs de informática do estado de Santa Catarina - 2005 O trabalho encontra-se dividido em duas seções, constituídas e desdobradas conforme segue. A seção dois trata da formação e estrutura atual dos APLs nos seguintes termos: após breve identificação das características setoriais, são apresentadas a origem e trajetória de cada um dos APLs, a estrutura de empresas e de produção e, finalmente, a estrutura institucional e sua base de recursos humanos. Em seguida, a seção três destaca, de início, o padrão de Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação Mestrado em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. ** Mestranda em Economia na Universidade Federal de Santa Catarina.

237 concorrência setorial, o mercado mundial e o posicionamento do Brasil, para, ao final, avaliar as possibilidades competitivas e as principais barreiras ao desenvolvimento dos APLs catarinenses. 3.4.1 Formação e estrutura atual dos APLs catarinenses 3.4.1.1 Contexto internacional Os arranjos produtivos de informática de Blumenau, Florianópolis e Joinville apresentam alguns traços comuns em suas origens, trajetórias e estrutura atual, ao lado de diferenças importantes que outorgam um caráter singular a cada experiência. O traço comum mais marcante é que os três aglomerados constituem-se em experiências locais de difusão da indústria de informática e, como tais, ostentam uma nítida dependência em relação à trajetória da indústria mundial. Antes do exame dos APLs catarinenses, é importante uma breve contextualização, destacando os principais momentos de expansão da indústria mundial. A hoje denominada indústria de software nasceu a partir da indústria de computadores. Como ocorreu em outras indústrias, a indústria de computadores nasceu integrada, seguindose, progressivamente, desmembramentos em diferentes componentes, entre os quais, o software. A indústria teve sua trajetória determinada pelos avanços na tecnologia microeletrônica, com a produção em série de circuitos integrados e chips de menor tamanho e maior velocidade, possibilitando a passagem dos grandes computadores, para os mini e para os microcomputadores, com crescente alargamento do mercado. Pode-se destacar os momentos centrais nessa trajetória: domínio dos grandes computadores até a década de 1970 produzidos pela IBM; produção de minicomputadores nos anos 70; produção de microcomputadores a partir dos anos 80 e forte expansão nos anos 1990, favorecendo, então, a constituição de rede mundial interligando toda essa base instalada de computadores a internet. Restringindo-se à indústria de software, uma preocupação inicial é caracterizar o produto dessa indústria e apresentar a classificação convencional existente. De forma geral, o software pode ser classificado de acordo com a plataforma de hardware respectiva, distinguindo-se softwares para computadores de grande porte, para mini e para microcomputadores e para equipamentos eletrônicos diversos, como smart cards, etc. Os programas distinguem-se, também, em função da linguagem de programação adotada e podem ser classificados pela sua posição hierárquica na programação, distinguindo-se, grosso

238 modo, os "sistemas operacionais", que estão na base da hierarquia, os softwares de suporte ou ferramentas e os "softwares aplicativos". O software pode ser classificado segundo o segmento de mercado a que se destina: pode ser destinado a setor específico (bancário, comercial, gestão, educacional etc.) tendo assim uma dimensão setorial ou vertical, ou pode atender indistintamente a diferentes setores (processamento de texto, planilha eletrônica, acesso à internet etc.), assumindo, assim, uma dimensão multi-setorial ou horizontal. Podem ser feitos cruzamentos entre as classificações acima, o que permite, em muitos casos, uma melhor identificação da natureza do produto. Dessa forma, o software pacote de uso horizontal ou geral (como os sistemas operacionais, planilhas eletrônicas, etc.), dado o seu grande potencial de vendas, é chamado de "pacote best-seller" e é dominado por empresas de grande porte. Por sua vez, os pacotes de dimensão vertical ou setorial, freqüentemente, exigem customização, ou pelo menos treinamento do usuário e serviços de implantação, o que os aproxima do software sob encomenda, sendo, em geral, produzidos por empresas de porte menor, embora haja também grandes empresas especializadas em softwares verticais, sendo exemplo o segmento de gestão empresarial. Tentando uniformizar as estatísticas disponíveis nos diversos países, a OCDE tem apresentado uma classificação básica em alguns de seus estudos (OCDE, 1998a). As atividades da chamada indústria de serviços de computador estão classificadas na divisão 72 da International Standard Industrial Classification (ISIC). Por sua vez, seus produtos são classificados na divisão 84 da Central Product Classification (CPC). Com base na CPC, os produtos e serviços da indústria são assim classificados: 841 - Produtos de software pacote. Incluem os softwares de sistemas operacionais e de ferramentas (CPC 8411) e os softwares aplicativos (CPC 8412). 842 - Serviços profissionais. Compreendem os serviços relacionados à instalação de hardware (CPC 8421), serviços de consultoria técnica em sistemas de computação (CPC 8422), serviços de desenvolvimento de software customizado ou sob encomenda (CPC 8423), serviços de programação e análise de sistemas (CPC 8424), serviços de gerenciamento de instalações de computadores (CPC 8425), serviços de manutenção de sistemas (CPC 8426) e outros serviços profissionais (CPC 8429). 843 - Serviços de processamento de dados. Compreendem serviços de tabulação e processamento de dados (CPC 8431), serviços de entrada de dados (CPC 8432) e outros serviços de processamento (CPC 9439).

239 844 - Serviços de base de dados. Incluem a provisão on-line de dados e os serviços de rede para acesso a bases de dados. 845 - Serviços de manutenção e reparos de computadores. Incluem a manutenção de equipamentos. 849 - Outros serviços de computação. Dentro dessa ampla gama de serviços relacionados à computação, a indústria de software restringe-se às divisões CPC 841 - software pacote, CPC 8423 - software sob encomenda e CPC 8424 - programação e análise de sistemas. 3.4.1.2 Surgimento e trajetória dos APLs catarinenses Como as demais indústrias de Santa Catarina, a indústria de informática encontra-se geograficamente concentrada, fornecendo motivação para estudos sob o enfoque de arranjos produtivos locais. As cidades de Blumenau, Florianópolis e Joinville abrigam, hoje, indústrias de software, com origem e dinamismo que podem ser associados a particularidades locais: enquanto o núcleo industrial de Florianópolis desenvolveu-se com base na sua proximidade da Universidade Federal de Santa Catarina e empresas estatais, as aglomerações de Joinville e Blumenau foram estimuladas pelas necessidades das empresas locais dessas duas cidades industriais. Trata-se das três maiores cidades do Estado, que reúnem, em conjunto com as cidades próximas, cerca de 1/3 da população estadual (1,6 milhões de pessoas residentes em 2001). As origens e trajetória histórica dos APLs são apresentadas a seguir. 3.4.1.2.1 de Blumenau 1 A empresa Centro Eletrônico da Indústria Têxtil (CETIL), criada por empresas do setor têxtil local, e a Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB) estão nas origens do APL de Blumenau, com atuação destacada, ainda na década de 1970, na difusão inicial de conhecimentos de informática: a CETIL, dado o predomínio da plataforma mainframe à época, foi criada em 1969 por um grupo de 13 empresas têxteis para atuar na área de serviços como bureau de processamento de dados, chegando a ser considerado o 1 As informações que constam desta seção, sobre a origem e trajetória do aglomerado de software de Blumenau, foram quase todas extraídas de Blusoft (2001).

240 maior bureau privado da América Latina; a FURB começou sua atuação no ensino superior de informática, tendo criado em 1973 o primeiro curso universitário, nessa especialidade, de Santa Catarina e o terceiro do país. A partir do final da década de 1970, com a mudança, de nível mundial, para as plataformas de mini e microcomputadores e o correspondente surgimento de uma indústria independente de software, há uma migração natural do pessoal local especializado para a abertura de empresas de software. A trajetória do APL de Blumenau foi marcada por alguns fatos notáveis de pioneirismo: a) lançamento do primeiro software-pacote brasileiro pela empresa local WK Sistemas em 1985; b) lançamento de processador de texto fácil pela empresa local Fácil Informática no final da década de 80, que perdeu mercado posteriormente com o domínio mundial do processador Word ; c) em 1991, foi criada pela Prefeitura Municipal a Comissão para Desenvolvimento do Setor de Software, do que resultou a Fundação Blusoft (1992) para apoiar e coordenar o setor, passando (em 1993) a integrar o programa nacional Softex e gerenciar incubadora de empresas; d) desde 1998, Blumenau sedia a feira Coninfo, terceira do Brasil. Atualmente, o APL de Blumenau reúne empresas voltadas a desenvolvimento de produtos para a gestão empresarial, particularmente para a gestão de empresas de menor porte. 3.4.1.2.2 APL de Florianópolis De forma distinta à Blumenau, o APL de Florianópolis teve, em suas origens, os investimentos feitos por entidades do setor público. A história remonta aos anos 70, quando existiam na cidade três agentes pioneiros: a UFSC e duas empresas estatais nos setores de telecomunicações e geração e transmissão de energia elétrica Telecomunicações de Santa Catarina (TELESC) e Centrais Elétricas do Sul do Brasil (ELETROSUL). Deste tripé formado originaram-se as primeiras empresas da área de informática de Florianópolis (merecem menção as empresas Intelbrás e Dígitro, no setor de equipamentos de telecomunicação) e uma segunda geração de instituições fomentadoras de empresas de alta tecnologia: Fundação Certi, criada junto à UFSC em 1984 com o apoio em parte com recursos públicos e em parte com recursos oriundos da prestação de serviços às empresas; incubadora Celta, criada em 1986 pela Fundação Certi e segunda incubadora criada no Brasil. Deve-se anotar também a criação do Condomínio Industrial de Informática, nos 1980, por iniciativa de pequenas empresas da área, passando a dividir serviços e espaço em prédio locado.

241 No início da década de 1990, o Governo do Estado, liderando um conjunto de entidades, lança o "Projeto Tecnópolis" - uma tentativa de política integrada de desenvolvimento regional, compreendendo a implantação de parques de empresas de alta tecnologia, incubadora, instituições de fomento, formação de recursos humanos etc. Desde 1995, a trajetória do APL de Florianópolis tem sido marcada por dois movimentos principais: primeiro, o projeto Tecnópolis não teve o desenvolvimento previsto inicialmente, restringindo-se a apenas um parque industrial (parque Alfa) e, mesmo assim, com morosidade de ocupação, seja pela dificuldade de atração de grandes empresas para o APL, seja pelo corte de recursos humanos e financeiros devido à privatização das empresas estatais. Por outro lado, observou-se o crescimento no número de pequenas empresas e o fortalecimento da estrutura de incubação. Atualmente, o APL de Florianópolis apresenta uma estrutura de empresas caracterizada pela diversidade de produtos, distinguindo-se dos outros dois APLs de Blumenau e Joinville. 3.4.1.2.3 APL de Joinville Como principal cidade industrial do Estado e reunindo grandes empresas, algumas líderes nacionais em seus segmentos, Joinville registrou investimentos em recursos humanos e equipamentos na década de 1970 por parte dessas grandes empresas, na manutenção de CPDs próprios. As empresas de menor porte utilizavam os serviços prestados por bureaux de informática. Estes investimentos pioneiros foram importantes na capacitação de recursos humanos locais em sistemas de informação voltados ao segmento de gestão industrial, com apoio da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) através do oferecimento de curso superior de computação. Assim, com o lançamento dos microcomputadores e o fechamento dos CPDs, as atividades ligadas à informática foram terceirizadas pelas grandes empresas, daí resultando as primeiras empresas de desenvolvimento de software. Desse modo, a correlação entre capacitação anterior e a nova indústria de software é muito estreita, o que é demonstrado também pela especialização local (empresas líderes) no desenvolvimento ERP, programa integrado de gestão industrial, uma versão atual para os antigos programas operados nos computadores de grande porte. Atualmente, destaca-se no APL de Joinville a presença de duas empresas que estão entre as maiores do país no segmento de ERP e com presença no mercado externo.

242 3.4.1.3 Estrutura de produção As dificuldades de levantamento de dados sobre a atividade de informática são conhecidas em função do dinamismo do setor (as estatísticas excluem empresas em fase de constituição e trabalhadores autônomos), da classificação (as atividades ligadas à informática não estão todas concentradas em empresas especializadas, mas estão distribuídas horizontalmente por grande parte dos demais setores produtivos) e no caso do software, de registro da atividade (em parte serviço, em parte produto, vendas on line etc.). Esta dificuldade é particularmente pronunciada no caso dos arranjos em estudo, onde a presença de micro e pequenas empresas é forte. Nesse sentido, os dados oficiais da RAIS sobre o número de pessoas ocupadas e de estabelecimentos especializados, conforme Tabela 3.4.1, tendem a subestimar o volume de atividade existente, ao serem comparados com outras fontes de informação. Tabela 3.4.1 - Dados gerais sobre atividade de informática e população residente nos APLs de Blumenau, Florianópolis e Joinville - 2003 ATIVIDADES DE INFORMÁTICA E BLUMENAU FLORIANÓPOLIS JOINVILLE POPULAÇÃO P.OCUP. ESTAB. P.OCUP. Estab. P.Ocup. Estab. 1 Atividades de informática total a) Consultoria em hardware b) Desenv.softwares pronto para uso c) Desenv. softwares sob encomenda e outros d) Processamento de dados e) Banco de dados e distrib. conteúdo eletrônico f) Manutenção e reparação de maq. Escritório g) Outras atividades de informática 1.597 31 454 132 702 12 109 157 227 8 24 15 95 2 37 46 4.445 183 101 155 2.907 50 284 765 231 27 19 23 55 8 42 57 1.649 171 88 336 522 4 100 428 207 34 6 15 78 2 27 45 2 População residente urbana 2001 (n o hab.) 359.106 (1) 710.607 (2) 591.008 (3) Fontes: a) Sobre atividade de informática: dados da RAIS por microrregiões; b) Sobre população: dados do IBGE. (1) Compreende os municípios de Blumenau, Gaspar e Indaial; (2) compreende os municípios de Florianópolis, Biguaçu, Palhoça e São José; (3) compreende os municípios de Joinville, Jaraguá do Sul e São Francisco do Sul. Do conjunto de atividades relacionadas à informática, são de interesse para a caracterização de arranjo produtivo apenas as atividades de desenvolvimento de software pronto para uso (pacotes) e de software sob encomenda. As demais atividades de manutenção de equipamentos e sistemas e de processamento de dados não são do interesse do presente estudo, porque estão presentes, de uma forma geral, em todas as cidades e regiões, dada a utilização universal da informática em todos os setores produtivos. Os registros da RAIS para estas atividades de desenvolvimento de software apontam apenas 1.266 pessoas empregadas

243 nos três APLs. Esses dados serão contrastados, adiante, com informações de fontes diretas, pesquisas e instituições locais 2. Com poucas exceções, os aglomerados produtores de informática de Santa Catarina são constituídos por micro e pequenas empresas, ou seja, por empresas inferiores a 100 pessoas ocupadas no desenvolvimento e elaboração dos produtos, e, nesse subconjunto, prevalecem as microempresas, que empregam até 10 pessoas. Nas maiores empresas, deve-se considerar também um conjunto de pessoas e empresas franqueadas para a comercialização dos produtos venda, treinamento/implantação e assistência pós-venda e localizadas junto aos centros consumidores. Assim, apenas seis empresas catarinenses figuram no ranking das 200 maiores empresas no setor de tecnologia de informação e comunicação (inclusive serviços de telefonia) do Brasil, segundo Tabela 3.4.2, com destaque para a empresa Datasul, de Joinville, especializada em software ERP, de gestão integrada de empresas. As demais informações disponíveis provêm de amostras de empresas, realizadas em pesquisas específicas, cabendo citar: Nicolau et al. (2001) sobre o APL de Joinville, Bercovich e Swanke (2003) sobre o APL de Blumenau, Mahal (2003) sobre o APL de Florianópolis e Nicolau et al. (2002) sobre os três APLs. Além disso, foi feito, em maio de 2005, levantamento de dados básicos junto às empresas, relatado nas Tabelas abaixo. Tabela 3.4.2 - Maiores empresas catarinenses na indústria de tecnologia de informação e comunicação - 2003 EMPRESAS SETOR VENDAS (2) RANKING 200 MAIORES DATASUL Joinville Software 41.768 85 DIGITRO Florianópolis Centrais telefônicas 14.433 134 LOGOCENTER Joinville Software 13.284 144 SENIOR SISTEMAS Blumenau Software 8.716 166 CETIL SISTEMAS Blumenau Software 8.936 186 BENNER Blumenau Software 5.839 187 Fonte: Info200 (2004). (1) Vendas em US$ mil. Estes levantamentos amostrais permitem destacar as seguintes observações sobre o perfil de empresas: (a) observa-se, como característica geral, o predomínio numérico das micro e pequenas empresas nos três arranjos produtivos, ao lado de pequeno número de grandes empresas; (b) a pesquisa de Nicolau et al. (2001) mostrou que no APL de Joinville há forte concentração do faturamento e do emprego nas duas grandes empresas, avaliada num percentual em torno de 90%; (c) o APL de Florianópolis possui a estrutura menos concentrada 2 Pesquisa de campo somente na cidade de Joinville realizada em 1999 (NICOLAU et al., 2001) apurou um contingente em torno de 1.100 pessoas diretamente empregadas nas 15 empresas pesquisadas, o que fornece indicação da discrepância de dados.

244 quanto ao tamanho de empresa e mais diversificada quanto aos produtos; (d) o APL de Blumenau figura numa posição intermediária, registrando-se, de acordo com Bercovich e Swanke (2003), a presença de cinco empresas com mais de 100 funcionários e outras três intermediárias, entre 50 e 100 funcionários, ao lado das pequenas e médias; (e) nos APLs de Blumenau e Joinville, há forte domínio de softwares aplicativos para ambientes empresariais, enquanto que, em Florianópolis, há variedade de produtos; (f) o principal destino das vendas é o mercado nacional. Uma distribuição de tamanho de empresas foi obtida na pesquisa de 2005, conforme Tabela 3.4.3, observando-se presença majoritária das microempresas. Entretanto, há algumas empresas de médio e grande portes, identificadas na Tabela 3.4.2, que se distanciaram rapidamente das demais o que se revela o potencial de economias de escala do setor. Tabela 3.4.3 - Número de empresas de software dos APLs de Blumenau, Florianópolis e Joinville, segundo classes de tamanho - 2005 CLASSES DE TAMANHO, COM BASE BLUMENAU FLORIANÓPOLIS JOINVILLE TOTAL NO PESSOAL OCUPADO N O % N O % N O % N O % Até 10 pessoas 34 70 30 64 7 54 71 65 11 a 20 pessoas 4 8 11 23 1 8 16 14 21 a 50 pessoas 6 12 4 9 2 15 12 11 51 a 100 pessoas 2 4 2 4 1 8 5 5 Mais de 100 pessoas 3 6 0 0 2 15 5 5 TOTAL 49 100 47 100 13 100 109 100 Fonte: Elaboração própria, com base em amostra realizada em 2005. O predomínio de microempresas é resultado, em parte, do fato de que muitas empresas foram criadas no período recente: cerca de 80% das empresas entrevistadas foram fundadas nos últimos 15 anos, 60% nos últimos 10 anos, conforme Tabela 3.4.4. Esse número é ainda maior no caso de Florianópolis devido ao aumento recente da estrutura das incubadoras. Mas a existência de micro empresas com mais de 10 anos de fundação mostra também as dificuldades de expansão das vendas para fora do restrito ambiente inicial de desenvolvimento do produto, exigindo a montagem de estruturas de atendimento junto ao mercado consumidor. No caso de acesso ao mercado externo, estas dificuldades são ainda maiores. Tabela 3.4.4 - Número de empresas de software dos APLs de Blumenau, Florianópolis e Joinville, segundo a data de fundação - 2005 DATA DE FUNDAÇÃO DA EMPRESA BLUMENAU FLORIANÓPOLIS JOINVILLE TOTAL N O % N O % N O % N O % Antes de 1980 1 3 0 0 1 9 2 2 1981-1990 7 18 4 10 4 36 15 17 1991-1995 11 28 7 17 2 18 20 22 1996-2000 11 28 8 20 2 18 21 23 2001-2005 9 23 22 53 2 18 33 36 TOTAL 39 100 41 100 11 100 91 100 Fonte: Elaboração própria, com base em amostra realizada em 2005.

245 A observação sobre a especialização de produtos revela a característica de aprendizagem/desenvolvimento de produtos por interação usuário-produtor nestes APLs voltados ao desenvolvimento de softwares aplicativos. Sobre esse tema, cabem observações mais específicas. No APL de Florianópolis, além da maior variedade quanto à finalidade nos softwares desenvolvidos, existe uma participação expressiva, ainda que minoritária, de hardware com software embarcado. Pelo levantamento de Mahal (2003), numa amostra de 33 empresas em Florianópolis, 76% do faturamento correspondem a software, 13% a serviços e 11% referem-se a hardware, de acordo com a Tabela 3.4.5. Tabela 3.4.5 - Número de empresas de software dos APLs de Blumenau, Florianópolis e Joinville, conforme a finalidade do software desenvolvido - 2005 FINALIDADE DO SOFTWARE BLUMENAU FLORIANÓPOLIS JOINVILLE TOTAL N O % N O % N o % N o % Gestão de empresas 20 47 9 21 6 50 35 36 Gestão de outras organizações 4 9 3 7 1 8 8 8 Sites para web 6 14 5 11 1 8 12 12 Automação industrial 4 9 2 5 6 6 Embarcado 5 12 5 5 Educacional 2 5 1 8 3 3 Outras finalidades 9 21 17 39 3 25 29 30 TOTAL 43 100 43 100 12 100 98 100 Fonte: Elaboração própria, com base em amostra realizada em 2005. A vinculação entre condições de desenvolvimento e especialização produtiva foi também registrada na pesquisa de Nicolau et al. (2001) para Joinville: os sócios fundadores das empresas pesquisadas tiveram por capital humano inicial suas experiências em empresas locais, tendo como resultado produtos também relacionados a essas experiências, segundo Quadro 3.4.1. A pesquisa entre empresas dos três APLs realizada em 2005 também corrobora o mesmo fenômeno, conforme Tabela 3.4.6, sendo que as ocupações anteriores dos fundadores de novas empresas são emprego em empresa do setor (principalmente em Blumenau) e estudantes/estagiários (sobretudo em Florianópolis). Estas constatações decorrem simplesmente da razão de que o desenvolvimento de software é intensivo em recursos humanos e depende de condições locais concretas de aprendizagem. No que diz respeito ao nível tecnológico das empresas dos três arranjos, diversas fontes de informação permitem afirmar, primeiro, que existe, como em outros setores econômicos, diversidade de padrão tecnológico com favorecimento de empresas de maior porte, segundo, que, dada a abertura do mercado nacional e a concorrência de grandes empresas estrangeiras no país, o nível tecnológico das maiores empresas nacionais não se

246 afasta substancialmente do padrão mundial, ensejando as possibilidades de exportação já em curso. ANO DE FUNDAÇÃO EMPRESAS SEGMENTO PRINCIPAL EXPERIÊNCIA E ORIGEM DOS FUNDADORES 1978 Datasul Gestão Empresarial Cônsul; WEG 1984 HDS Gestão Empresarial Cia. Hansen 1986 Prosyst Gestão Empresarial Tupy 1987 Kugel Gestão Empresarial Cetil / Datasul 1988 Logocenter Gestão Empresarial Tupy 1990 Sistemas Específicos Gestão Empresarial Datasul 1990 BMA Contabilidade Computer House 1991 Impacto Aplicação à Internet Brasmotor, Datasul, MCI 1991 Planner Consultoria em implantação de ERP Datasul 1992 Softflex Gestão de Escolas Brasmotor,Escola Técnica Tupy 1993 Horizonte Gestão de Bibliotecas Tupy, Embraco 1994 Estalo Cálculo de Carga Térmica UFSC 1994 Softran Gestão de Frotas Não declarou 1994 Seed Seqüenciamento e Progr. da Produção UFSC 1996 Render Curso de CAD em CD SKA Automação 1998 Neogrid Integração de Sist. de Gestão Datasul Empresarial 1999 MRM Gestão de Associações Consultoria em Software Fonte: Nicolau et al. (2001). Quadro 3.4.1 - Amostra de empresas de software do APL de Joinville, segundo ano de fundação, área de atuação e origem dos fundadores - 1999 A pesquisa realizada em Joinville, já citada, mostrou que as empresas de maior porte faziam maior uso de técnicas de engenharia de software e maior uso de ferramentas do que as empresas menores. A pesquisa de Bercovich e Swanke (2003) sobre o APL de Blumenau apontou que, das 16 empresas entrevistadas, seis eram líderes nacionais em seus segmentos e quatro tinham importante participação no mercado, além de que 12 empresas afirmaram que sua posição de mercado evoluiu favoravelmente nos últimos anos. Tabela 3.4.6 - Número de empresas de software dos APLs de Blumenau, Florianópolis e Joinville, segundo a ocupação anterior do empresário, 2005 OCUPAÇÃO ANTERIOR DO FUNDADOR BLUMENAU FLORIANÓPOLIS JOINVILLE TOTAL N O % N O % N O % N O % Estudante estagiário ou empregado 6 18 21 55 3 30 30 37 Empregado de empresa do setor 21 62 2 5 4 40 27 33 Empregado de empresa fora do setor 7 20 15 40 3 30 25 30 TOTAL 34 100 38 100 10 100 82 100 Fonte: Elaboração própria, com base em amostra realizada em 2005. Empresas do arranjo de Joinville avaliam que seu padrão tecnológico é inferior às estrangeiras em aspectos da capacitação tecnológica, como qualidade da mão-de-obra, capacidade de lançamento e aperfeiçoamento de produtos, segundo Quadro 3.4.2. Por qualidade de mão-de-obra entende-se experiência e competência para funções mais avançadas

247 relacionadas ao desenvolvimento de produtos, e não a mão-de-obra operacional, que, dadas as condições de preço e custo de vida, possui vantagem competitiva frente a centros urbanos maiores. ASPECTOS DA CAPACIDADE TECNOLÓGICA PADRÃO TECNOLÓGICO DAS EMPRESAS VERSUS CONCORRENTES (RESPOSTAS MODAIS) CONCORRENTES CONCORRENTES INTERNACIONAIS NACIONAIS 1. Nível tecnológico das ferramentas semelhante Superior 2. Intensidade do uso de técnicas de organ. da produção semelhante Semelhante 3. Qualidade da mão-de-obra Inferior Semelhante 4. Capacidade de aperfeiçoamento dos produtos Inferior Semelhante 5. Capacidade de lançamento de novos produtos Inferior Semelhante 6. Capac. adaptação do produto a novos sist. operacionais superior Semelhante 7. Capac. de monitoramento das tendências tecnológicas semelhante Semelhante Fonte: Pesquisa de campo. Nota: Amostra de seis empresas. Quadro 3.4.2 - Percepção das empresas de software em relação a concorrentes nacionais e internacionais quanto ao padrão tecnológico na indústria de software de Joinville - 1999 Quanto ao destino da produção, a pesquisa realizada em 1999 no arranjo de Joinville, já citada, mostrou que o mercado local é importante somente durante o desenvolvimento da primeira versão do programa, etapa em que a empresa aprende e desenvolve o aplicativo de acordo com as necessidades do usuário. Nas versões sucessivas, novos clientes são buscados em outras regiões do país, especialmente na região Sudeste. Em geral, não se trata de simples venda à vista, pois a implantação do programa na empresa exige treinamento dos usuários, adaptações à empresa e continuados serviços de manutenção. Mas, diferentemente da realidade observada em 1999 em Joinville, quando nenhuma empresa exportava seus produtos, a pesquisa atual destaca que o mercado externo já se encontra ao alcance de várias empresas (15% da amostra), enquanto que outras empresas (20%) possuem projeto de exportação, conforme Tabela 3.4.7. De acordo com Mahal (2003), 18% das empresas entrevistadas no arranjo de Florianópolis vendiam seus programas no mercado externo. Tabela 3.4.7 - Número de empresas de software dos APLs de Blumenau, Florianópolis e Joinville, segundo a situação quanto à exportação, 2005 SITUAÇÃO QUANTO À BLUMENAU FLORIANÓPOLIS JOINVILLE TOTAL EXPORTAÇÃO N o % N o % N o % N o % Exporta 6 15 5 13 3 23 14 15 Tem projeto de exportação 6 15 10 26 2 15 18 20 Não exporta, não tem projeto 27 70 24 61 8 62 59 65 TOTAL 39 100 39 100 13 100 91 100 Fonte: Elaboração própria, com base em amostra realizada em 2005.

248 3.4.1.4 Incubadoras, instituições de ensino e base de recursos humanos Além das empresas, a estrutura dos APLs de informática tem em sua composição dois outros atores importantes, que atuam de forma relacionada: as incubadoras de empresas e as instituições de ensino. Uma vez que se trata de um segmento produtivo intensivo em recursos humanos qualificados, os sistemas produtivos e inovativos locais mostram uma clara interação entre estes três conjuntos de atores: as instituições de ensino oferecem cursos na área de conhecimento da informática; ao final dos cursos, os graduandos, ou buscam empregos nas empresas estabelecidas, ou procuram aproveitar as oportunidades de abertura de microempresa oferecidas pelas incubadoras, algumas delas, que são participantes do programa Gênesis, localizadas junto às próprias instituições de ensino. Em todos os três APLs há presença de incubadoras, conforme Quadro 3.4.3, mas merece destaque o APL de Florianópolis, onde a incubadora Celta, criada em 1986 e uma das pioneiras no Brasil, tem tido uma atuação marcante no dinamismo do arranjo produtivo, tendo como resultado 36 empresas já graduadas em diversos setores de base tecnológica. A incubadora Celta mantém atualmente 39 empresas em processo de incubação, com geração de 680 empregos diretos, e ocupa área total, exclusiva e compartilhada pelas empresas, de 10.500 m 2. Uma relação das empresas graduadas e incubadas na Celta e respectivos produtos encontra-se no Quadro 3.4.4, anexo. Em Florianópolis, há uma segunda incubadora Midi Tecnológico - criada em 1998 e mantida pelo SEBRAE, que já tem o expressivo resultado de 25 empresas graduadas. Nos APLs de Blumenau e Joinville, o nascimento de empresas por processo de incubação é menos relevante, prevalecendo o nascimento por spin off a partir das empresas de software de médio porte e grande porte já estabelecidas no mercado, pelo qual os futuros empresários, após acumular conhecimento e experiência nessas empresas, abrem negócios próprios em suas áreas de atuação. Dessa forma, as Fundações Blusoft e Sofville, de Blumenau e Joinville, funcionam menos como incubadoras e mais associações empresariais responsáveis pela coordenação de atividades conjuntas, principalmente treinamento e representação. Mas Joinville tem uma incubadora de importância Midiville fundada em 1999 e mantida pelo Senai, tendo por resultado 06 empresas graduadas. Sua importância está em ser voltada à automação industrial, tendo amplo espaço de crescimento ao articular as indústrias de software com a forte indústria eletrometal-mecânica de Joinville e Jaraguá do Sul. Deve-se registrar também a presença de incubadoras junto aos cursos de ciências da computação da UFSC e FURB, dentro do programa Gênesis.

249 APLS Blumenau INCUBADORAS DE INFORMÁTICA E AUTOMAÇÃO 1 Blusoft Fundação criada em 1992 pela Prefeitura Municipal de Blumenau, para apoio às empresas de software. Em 1993, transformou-se num dos núcleos do programa Softex. Possui atualmente 70 empresas associadas e 17 incubadas. Promove a feira anual Blusoft e edita informativo eletrônico. 2 Gene-Blumenau Pré-incubadora de empresas em software criada junto à FURB, dentro do programa Softex-genesis. Seus resultados são 20 empresas incubadas e atualmente 14 empresas em fase de incubação. Florianópolis 1 Celta Incubadora de empresas de base tecnológica, mantida pela fundação Certi fundação sem fins lucrativos, criada em 1984 e com sede no campus da UFSC, junto aos departamentos de engenharia. A incubadora Celta foi criada em 1986, sendo uma das pioneiras no Brasil. Seus resultados são expressivos: 36 empresas graduadas (que faturaram R$400 milhões em 2003, segundo a incubadora) e 39 empresas em incubação. Atua nas áreas de instrumentação, telecomunicações, automação, eletrônica, macaoptoeletrônica, microeletrônica, informática (software e hardware), mecânica de precisão. 2 Midi tecnológico incubadora de software, mantida pelo Sebrae e gerida pela Acate associação de empresas de base tecnológica, com cerca de 70 empresas associadas. A incubadora foi criada em 1998 e tem como resultados 25 empresas graduadas e 13 empresas em fase de incubação. 3 Geness UFSC: Pré-incubadora em software gerida pelo Departamento de Informática e Estatística da UFSC. Mantém atualmente 14 empresas em incubação. Joinville 1 Softville Fundação de direito privado, sem fins lucrativos, fundada em 1993 como núcleo do programa Softex, é a principal referência institucional na área de software da cidade. A Softville oferece, para suas 48 empresas associadas, espaço para treinamento, reuniões e outras atividades conjuntas. Mantém incubadora de empresas, contando atualmente com 06 empresas incubadas e 02 em pré-incubação. Mantém informativo em meio digital. 2 Midiville Incubadora de empresas de base tecnológica (automação e informática), criada em 1999 e mantida pelo Senai. Seus resultados são 06 empresas graduadas e 12 empresas atualmente em incubação. Fonte: sites das instituições. Quadro 3.4.3 - Principais incubadoras de empresas de base tecnológica dos APLs de Blumenau, Florianópolis e Joinville - 2005 Por seu turno, as instituições de ensino superior têm mostrado grande crescimento no número de cursos na área de informática e áreas correlatas. Segundo dados do INEP/MEC, 19 instituições de ensino dos três APLs ofertam atualmente, em 2005, um total de 3.024 vagas nesses cursos, das quais cerca de 2/3 referem-se a cursos de bacharelado e 1/3 a cursos de tecnólogo. Os cursos distribuem-se pelas áreas de ciências da computação, sistemas de informação e sistemas para internet (ver Quadro 3.4.5, anexo). Este forte crescimento dos cursos ligados à informática já havia sido observado em 1999 por Nicolau et al. (2001) para o APL de Joinville, tendo sido registrada naquela pesquisa a existência de processo de substituição de cursos de 2 o grau por cursos de 3 o grau. Deve-se acrescentar, ainda, que as duas grandes empresas de software de Joinville Datasul e Logocenter mantêm universidades corporativas em parceria com instituições de ensino para oferecer cursos de capacitação para implantação e operação de seus produtos (softwares de gestão integrada ou ERP) junto a empresas usuárias. Como resultado da ampliação dessa estrutura de cursos, o nível de escolaridade é muito elevado, relativamente a outros setores produtivos, e tende a elevar-se mais, pois a

250 abertura de muitos dos novos cursos de nível superior é recente. A pesquisa realizada em Joinville, já citada, mostrou que mais de 80% do pessoal ocupado tinham pelo menos o curso superior incompleto (dado que muitos funcionários das empresas encontravam-se matriculados em cursos superiores), sendo expressivo o número de pós-graduados. Para o APL de Florianópolis, de acordo com amostra de 33 empresas pesquisadas por Mahal (2003), 58% do pessoal empregado possuíam curso superior e 22% possuíam pós-graduação. Para o arranjo de Blumenau, a pesquisa de Bercovich e Swanke (2003), numa amostra de 15 empresas, revelou que em 9 das empresas a participação do pessoal com curso superior no emprego total era superior a 80%, e em 8 empresas os pós-graduados correspondiam a mais de 10% do emprego total. Contudo, um fato curioso e digno de nota, é que o grau de escolaridade decresce com o tamanho da empresa. Isto pode ser explicado pela razão de que as micro e pequenas empresas são criadas por egressos de universidades e suas atividades ainda não estão rotinizadas e com devida divisão de tarefas, ao passo que as empresas de maior porte têm maior participação de atividades rotineiras, como programação, e, conseqüentemente, empregam mão-de-obra de menor qualificação. Além das incubadoras e instituições de ensino, completam o arcabouço institucional dos APLs as associações empresariais, centros de tecnologia e órgãos dos governos municipal e estadual. Em Florianópolis, como centros de tecnologia existem os cursos de pós-graduação e laboratórios de engenharia da UFSC e um centro de referência do Senai para a região Sul em automação industrial Centro de Tecnologia em Automação e Informática (CTAI). Devese destacar, ainda, o apoio do governo do estado na forma de cessão do prédio para a incubadora Celta e por sua iniciativa de construção de parque tecnológico. Em Blumenau e Joinville, tem sido mais relevante o apoio das prefeituras municipais, especialmente em Blumenau, onde a atual fundação Blusoft originou-se de uma comissão municipal para desenvolvimento do setor de software. Por fim, como outras instituições de coordenação, podem ser citadas: a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (ACATE), que mantém em Florianópolis o Condomínio Industrial Tecnológico um conjunto de empresas de informática, criado em 1986, que compartilha espaços em prédio comum. É digno de registro a atuação da ACATE no projeto Plataforma de Tecnologia da Informação e Comunicação (PLATIC), que visa disponibilizar e dotar as empresas de ferramentas para melhorar a competitividade, entre as quais obter a certificação Capability Maturity Model (CMM), do Software Engineering Institute, exigida nas vendas externas. Em Blumenau e

251 Joinville, merecem referência as associações de micro e pequenas empresas, de natureza multisetorial, respectivamente, AMPE e AJORPEME. 3.4.2 Padrão de concorrência setorial e as possibilidades competitivas dos APLs catarinenses 3.4.2.1 Padrão de concorrência da indústria de software A indústria de software, inserida no âmbito da tecnologia de informação, caracterizando-se por velocidade intensa de introdução de inovações técnicas, particularmente com o contínuo desenvolvimento de produtos apoiado na capacidade criativa e intelectual da mão-de-obra, por competição acirrada entre empresas e por baixo investimento em capital fixo. A estrutura da indústria apresenta segmentos concentrados ao lado de segmentos fragmentados, observando-se a presença de grandes corporações com produtos de mercado mundial, ao mesmo tempo em que se multiplicam espaços para a atuação de micro, pequenas e médias empresas. As barreiras à entrada no segmento de pequenas empresas não são elevadas, mas existem barreiras ao crescimento, permitindo o domínio das grandes empresas nos segmentos concentrados do mercado. Nesse contexto, as estratégias empresariais são bastante variadas. As grandes líderes do mercado atuam explorando as vantagens proporcionadas pelas economias de escala, rede de vendas e suporte, marca reconhecida, uso de marketing, capacidade tecnológica, poder financeiro, relações fortes com usuários etc. Enquanto isso, as empresas de menor porte procuram explorar nichos de mercado, através de atendimento especializado de clientes, desenvolvendo produtos que incorporam funções específicas, e ampliar outros espaços deixados pelas empresas líderes cuja linha de produtos não atende todas as possibilidades. O regime tecnológico da indústria de software apresenta amplas condições de oportunidade e grande variedade de soluções e enfoques tecnológicos potenciais. Mas, há reduzidas condições de apropriabilidade, que as empresas procuram contornar pela introdução contínua de inovações, utilizando-se, para tanto, de elevadas condições de cumulatividade tecnológica. Com isso, a indústria de software impõe certas condições para a capacitação tecnológica, as quais se pautam, por um lado, em termos de cumulatividade tecnológica ao nível da firma, de forma a proporcionar melhores condições de aproveitamento de oportunidades tecnológicas, e, por outro lado, em termos de desenvolvimento de habilidades

252 tecnológicas específicas das áreas de aplicação. Além disso, em nível de mercado, torna-se necessário o desenvolvimento de instrumentos capazes de possibilitar rápida identificação das alterações na demanda, possibilitando respostas criativas. As características do regime tecnológico permitem que distintos tamanhos de empresas explorem as oportunidades tecnológicas e desenvolvam novos produtos para o mercado. Esta possibilidade está colocada para as pequenas e médias empresas, especialmente em aglomerações territoriais, onde há condições para cumulatividade tecnológica no interior do próprio arranjo, não apenas na empresa. A despeito das dificuldades de produzirem software de grande porte, podem explorar as suas características de flexibilidade para operar em pequenos nichos de mercado, integração com grandes empresas na exploração de produtos e serviços complementares, capacidade para explorar espaços de mercado e de produtos não atendidos pelas grandes empresas e capacidade de rápida reação às mudanças na indústria que tendem a ser introduzidas pelas grandes empresas. Estas características da indústria de software determinam as possibilidades competitivas de arranjos locais de pequenas e médias empresas nesse setor, como os observados em Santa Catarina. Analisando com maior detalhe, é importante destacar que a indústria de software apresenta uma importante divisão quanto à estrutura de mercado e padrão de concorrência, de acordo com os seus segmentos horizontal e vertical. O segmento horizontal, formado por pacotes best sellers de uso difundido como, por exemplo, os sistemas operacionais, ferramentas, aplicativos de uso generalizado, tipo processadores de texto etc.), tem base de conhecimento intensiva em informática e possui mercado potencial amplo. Por sua vez, o segmento vertical, formado por softwares aplicativos e específicos para os diversos setores de atividade, exige conhecimentos de informática e do setor de aplicação. Seu mercado potencial é mais restrito e depende da dimensão da atividade a que se aplica. Esta característica estrutural da indústria tem implicações sobre a estrutura de mercado e sobre o padrão de concorrência. Em primeiro lugar, o segmento horizontal, de uma forma geral, exige grande esforço e investimentos em pesquisa e desenvolvimento no campo da informática, por um lado, e esforços e investimentos similares na difusão do seu produto no mercado de escala mundial. O primeiro aspecto decorre das características de alta oportunidade e cumulatividade exibidas pelo regime tecnológico; o segundo aspecto aponta para os ganhos de escala e para os elevados gastos com rede de distribuição e com marketing, uma vez que o custo de reprodução do software é praticamente nulo. Então, investimentos em P&D e estratégias mercadológicas são as formas principais de concorrência nesse segmento. O conceito de

253 plataforma base a partir da qual novas e sucessivas versões são lançadas no mercado numa continuada relação fornecedor-usuário - é pertinente. A conquista do mercado apresenta característica de externalidade de rede, dada a tendência à rápida difusão e domínio de uma solução determinada, motivada pela necessidade de compatibilidade na comunicação entre usuários. Em função desses fatores, há tendência de domínio de poucas e grandes empresas, num mercado de dimensão mundial, caracterizando, dessa forma, uma estrutura de mercado oligopolista. O segmento vertical utiliza-se de plataformas de software geradas no segmento horizontal para construir seus produtos. Por isso, é menos intenso o esforço de pesquisa e desenvolvimento em informática, mas é necessário conhecimento no setor de aplicação e, especialmente, são necessários esforços de pesquisa e desenvolvimento para oferecer soluções de qualidade na interface entre conhecimento de informática e do setor específico. Por esse motivo, ganha relevância a relação produtor-usuário. Em função das múltiplas possibilidades de aplicação da informática nas mais diversas atividades, o mercado é pulverizado e, portanto, os ganhos potenciais de escala são menores, à exceção de certos segmentos como o ERP, onde soluções verticais setor-específicas passaram a ser genéricas e empregadas em empresas de diferentes segmentos, ganhando com isso a característica de software horizontal. Por isso, dadas as condições de escala favoráveis, grandes empresas mundiais disputam esse mercado. No segmento vertical, ao invés de gastos com publicidade e distribuição, é exigida maior proximidade com o cliente, seja antes da instalação do programa que requer treinamento do usuário - seja após a instalação, pois há exigência de assistência e atualização do produto. Essa prestação de serviços pós-venda é muito significativa, constituindo-se em fonte de receita comparável ou superior à do licenciamento inicial do produto. Por isso, o software vertical, de fato, é um híbrido de pacote e serviços. Devido ao forte conteúdo de conhecimentos setoriais específicos, o espaço de concorrência é circunscrito aos limites do setor, o que implica forte segmentação na indústria. Dependendo do tamanho do setor de aplicação, as estruturas de mercados podem ser mais ou menos concentradas, havendo, em geral, amplas oportunidades para a atuação de pequenas e médias empresas em setores de menor dimensão. Dadas essas características da indústria, os APLs em estudo inserem-se, evidentemente, no desenvolvimento de softwares verticais, fornecendo soluções específicas para atividades e setores determinados. Daí decorrem as oportunidades para as micro e pequenas empresas desses arranjos.

254 3.4.2.2 Mercado mundial e posicionamento do Brasil Os setores de informática (hardware + software + serviços) e de telecomunicação (serviços + equipamentos) que compõem o grande setor de tecnologias de informação e comunicação (TIC) representavam, no ano de 2001, em média, 8,3% do PIB dos países do OCDE e estão crescentemente globalizados. No contexto deste amplo setor, em 2001, o segmento de software tem participação estimada de 9%, enquanto que os segmentos de telecomunicação e serviços (processamento de dados, consultorias etc.) tinham a maior participação nas vendas do setor, respectivamente, 39 e 35%, ficando o segmento de hardware com os restantes 17%. Apesar de ter menor participação, o segmento de software cresceu nos anos 1990 à taxa de 16%a.a., superior ao conjunto da TIC (dados de OECD, 2002). A produção mundial de software encontra-se fortemente concentrada nos países da OCDE (estima-se em 95%), principalmente nas três principais economias, Estados Unidos, Japão e Alemanha. EUA atuam como grande líder mundial da indústria de informática, com amplo domínio também sobre o segmento de software de base e de aplicação horizontal, chamados pacotes best sellers. Entretanto, alguns países em desenvolvimento vem se destacando nas exportações, dado que a produção de software é intensiva em recursos humanos: Irlanda, com exportações para os países da Comunidade Européia, Índia, com grandes empresas de programação, além de Israel, China e Brasil, de acordo com Tabela 3.4.8. Tabela 3.4.8 - Mercado e exportação de software por países selecionados, 2001 PAÍSES VENDAS (US$MILHÕES) EXPORTAÇÃO (US$MILHÕES) PRINCIPAIS MERCADOS - EUA - Japão - Alemanha PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO - Brasil - China - Índia - Irlanda - Israel Fonte: Veloso et al., 2003. 200.000 85.000 39.844 7.700 7.400 8.200 7.650 3.700 n.d. 73 n.d. 100 400 6.220 6.500 2.600 O Brasil ocupa posição mediana no uso per capita de internet, situando-se na 53 a posição numa lista de 104 países, tendo perdido posições nos últimos anos (LOPEZ- CLAROS, 2005). Para se avaliar a potencialidade do software brasileiro no mercado mundial, é importante analisar as experiências dos demais países citados com desenvolvimento

255 semelhante. A República da Irlanda, chamada de tigre céltico, por exemplo, tem tido atuação destacada, valendo-se de sua facilidade de acesso ao mercado europeu e do grande aporte de capitais externos, dominantes no país: com um cluster de empresas junto à capital Dublin, responde pela maior parte dos softwares importados pela Comunidade Européia. Segundo Green (2000), possui estratégia de política fundamentada em quatro pontos: a) desenvolver infra-estrutura de recursos humanos para atrair empresas de classe mundial; b) encorajar empresas locais a desenvolver suas bases de P&D; c) desenvolver ambientes de pesquisa de classe mundial na instituições de ensino e de pesquisa; d) formar pessoal de alta qualidade, seja para atender empresas instaladas, seja para abrir novas empresas. Outro país de referência é a Índia, que se especializou na prestação de serviços de programação e assemelhados para grandes produtores mundiais, a maior parte deles de baixo custo e baixa sofisticação, mas com forte ênfase no controle e certificação de processos. Para tanto, a Índia possui empresas de grande porte (mais de 10 mil empregados) e ostenta certificação Capability Maturity Model (CMM), fornecida pelo Instituto de Engenharia de Software, no nível máximo 5 para grande número de suas empresas, o que atesta a maturidade do processo de produção de software. Juntando recursos humanos qualificados e de baixo custo, a Índia divulga metas ambiciosas para os próximos anos: atingir vendas de software da ordem de US$50 bi em 2008, mercados externo e interno (VELOSO et al., 2003). Esse segmento de mercado de menor valor agregado, entretanto, deverá ser disputado por outros países com grandes contingentes de recursos humanos baratos, como China e Rússia. A China é outro país de crescente destaque na produção de software. Sendo mais jovem que a da Índia, a indústria de software chinesa cresceu à taxa estimada de 30% a.a. na década de 90. Apesar do ainda baixo grau de sofisticação de seus produtos, há forte desejo de integrar software com os produtos da indústria de computadores. No ano 2000, o governo chinês lançou política de apoio direto e conjunto às indústrias de software e de circuitos integrados, definindo 10 bases de nível nacional a receber suporte do governo (ibid.). Seu volume de produção hoje é equivalente ao do Brasil, mas sua potencialidade é enorme, seja pelo forte crescimento de sua economia, seja pelas possibilidades de exportação em face da abundância de recursos humanos. Comparativamente a esses dois grandes países, Índia e China, o Brasil, por um lado tem, hoje, mercado interno maior e mais competitivo, com grande presença de concorrentes