Avaliação do risco ergonômico do trabalhador da construção civil durante a tarefa do levantamento de paredes



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Transcrição:

Avaliação do risco ergonômico do trabalhador da construção civil durante a tarefa do levantamento de paredes Viviane Leão Saad (UTFPR-PR/ CESCAGE) farca@bol.com.br Antonio Augusto de Paula Xavier (UTFPR-PR) augustopx@brturbo.com Ariel Orlei Michaloski (UTFPR-PR) ariel@interponta.com.br Resumo: Este estudo apresenta a avaliação do risco ergonômico durante a tarefa do levantamento de paredes em alvenaria, por trabalhadores terceirizados de uma pequena empresa da construção civil na região de Ponta Grossa, Paraná. A pesquisa realizada caracteriza-se como um estudo de caso de caráter qualitativo e quantitativo, do tipo descritivo e exploratório. Foram utilizados como instrumentos de pesquisa questionário semiestruturado, observação direta do canteiro de obras, fotos, filmagens e os softwares WinOWAS e RULA para a caracterização do risco postural durante a realização das atividades. Concluiu-se que os obreiros que atuam durante o levantamento de paredes estão expostos a acentuados riscos posturais, os quais variam conforme a região anatômica estudada, a altura da parede que se altera progressivamente e a metodologia empregada para realização da análise. Palavras chave: Risco ergonômico; Construção civil; WinOWAS; RULA. 1. Introdução A indústria da construção civil, por sua própria natureza, requer de seus colaboradores a realização de tarefas árduas. Estas, associando-se a fatores como o pequeno índice de treinamento que estes trabalhadores recebem, o baixo nível de escolaridade, o sistema terceirizado de empregabilidade que muitas vezes é utilizado, as baixas remunerações pelos serviços prestados e as ferramentas pouco programadas para a realização das tarefas, tornam a ergonomia extremamente necessária para a minimização dos riscos laborais, e manutenção da integridade física e mental destes trabalhadores. Segundo Dul (2004) a ergonomia é uma ciência aplicada ao projeto de máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar a segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho. Para que este conceito possa ser amplamente utilizado, torna-se imprescindível a realização da análise da tarefa, de como ela está sendo realizada pelos obreiros e sobre quais circunstâncias de trabalho. Conforme Ribeiro (2004) um dos problemas que ocorre entre trabalhadores da construção civil é o fato dos mesmos subestimarem os riscos existentes no ambiente de trabalho, fato esse que ocasiona uma necessidade de treinamento e conscientização quanto aos riscos existentes em cada situação de trabalho bem como a forma correta de prevenção de acidentes do trabalho. Quando um trabalho é realizado de maneira inadequada, pouco programada, sabe-se que este afeta diretamente a saúde do trabalhador, através de diversas patologias músculo esqueléticas. Couto (2006) relata que não existem lesões se não houver fatores da condição antiergonômica do posto de trabalho e da atividade. Através desta colocação, o autor demonstra as características lesivas que um trabalho pouco adaptado ao homem tem sobre este. Lida (1990) expôs que uma das maiores dificuldades em analisar e corrigir más posturas no trabalho está na identificação e registro das mesmas, concluindo ainda que, a descrição verbal não é prática, porque se torna muito prolixa e de difícil análise. Para uma melhor visualização do risco ergonômico, dispomos de diversos métodos que auxiliam a 1

descrição das posturas utilizadas para realização de determinadas tarefas e qual o risco ergonômico inerente a elas. São exemplos destes o software WinOWAS e o RULA. Ambos sendo grandes auxiliadores dos ergonomistas para análise e correção de más posturas. O objetivo deste estudo é verificar o risco ergonômico a que são submetidos os trabalhadores terceirizados da construção civil, da região de Ponta Grossa, estado do Paraná, durante a tarefa do levantamento de paredes de alvenaria. 2. O trabalho na construção civil Como relatou Junior (2005), a organização do trabalho, atualmente, está estruturada de maneira a se conseguir altos índices de produtividade, otimização nos sistemas de produção, diminuição dos custos, e por fim uma integração cada vez maior do homem com o seu trabalho, tudo isso em prol de um desenvolvimento, o qual não se sabe aonde levará nem quais conseqüências trarão ao homem. No setor da construção civil, muitas vezes para se reduzir custos são cortados gastos que seriam utilizados para a manutenção da saúde do trabalhador. As boas condições ambientais são esquecidas, deixando-se de lado acomodações como refeitório, lugar apropriado para descanso, banheiros com pelo menos as mínimas condições de utilização necessárias. Os trabalhadores por sua vez, sempre conheceram esta única realidade de trabalho, não tendo parâmetros comparativos necessários para julgarem se estas condições são corretas ou não para um ambiente laboral. O sistema terceirizado de produção acaba sendo um método das empresas desvincularem o vínculo empregatício dos trabalhadores, e com este os direitos a seguridade social dos obreiros. Segundo Barros (2003) este modelo de produção, negligencia direitos como aposentadoria, INSS, FGTS, plano de saúde, entre outros, submetendo o trabalhador à exclusão social. Outro grande problema deste sistema que afeta enormemente à saúde do trabalhador, é a busca incessante por produtividade. Quanto maior a produtividade, maior o recebimento pelas tarefas prestadas. Este evento força, de certa maneira, os trabalhadores a aumentarem sua produtividade, não lembrando que o aumento se dá por tempo limitado, pois proporcionalmente ao aumento da quantidade de trabalho, estão os riscos de desenvolvimento de doenças ocupacionais. Kroemer (2005) relatou que o excesso de horas trabalhadas não só reduz a produtividade por hora, mas também é acompanhada por um aumento característico de faltas, por doenças ou acidentes. Conforme Barros (2003), a terceirização dos serviços pautada por produção, tem-se constituído em uma das formas de remuneração geradoras de sofrimento, na medida em que coloca sobre o trabalhador toda a responsabilidade da produção e de sua remuneração. A oferta de mão de obra para a construção civil é abundante, pois normalmente não requerer grau de escolaridade. Os trabalhadores que não conseguem se adaptar a este modelo de produção, são substituídos. Sabendo deste fato, os obreiros acabam realizando as tarefas ordenadas sem grandes questionamentos ou solicitações. Eles sofrem a pressão constante do desemprego, da substituição rápida, sem garantias, e acabam por aceitar esta forma de realização do trabalho. 3. Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho Ghisleni (2005) descreve que os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), abrangem quadros clínicos do sistema músculo esquelético adquiridos pelo trabalhador submetido a determinadas condições de trabalho e que não há causa única para sua ocorrência. Dentro da indústria da construção civil, diversos motivos somam-se para exacerbar seu aparecimento. 2

Couto (2006) relata os cinco motivos pelos quais as DORT têm aumentado em todo mundo nas últimas décadas: a) pelo desequilíbrio entre a prescrição de trabalho e a possibilidade de cumprimento; b) pela anulação dos mecanismos de regulação; c) pela complexidade cada vez maior do trabalho a ser feito pelas pessoas; d) pela realidade social favorecedora das lesões, principalmente pelo fracasso dos mecanismos da própria empresa; e) pela intensificação dos fatores biomecânicos da tarefa; As lesões ocupacionais afetam a saúde física e mental do trabalhador, reduzindo sensivelmente sua capacidade funcional, interferindo diretamente na produtividade e na qualidade de vida do trabalhador. 4. Software WinWOAS e RULA O sistema OWAS (Ovako Working Posture Analysing System), segundo Lida (1992) foi proposto por pesquisadores finlandeses em 1977. Este método avalia a postura do dorso, braços, pernas e a carga manipulada pelo trabalhador em cada fase de trabalho, classificando as posturas utilizadas pelos trabalhadores em quatro categorias: TABELA 1: Classificação das posturas pelo sistema WinWOAS Risco 1 Risco 2 Risco 3 Risco 4 Postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais Postura que deve ser revisada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de trabalho Postura que deve merecer atenção a curto prazo Postura que deve merecer atenção imediata Fonte: Adaptado de Lida (1990). O sistema RULA (rapid upper limb assessment), descrito por Mc Atamney e Corlett (1993) é um método utilizado para investigações ergonômicas em locais de trabalho onde existam queixas de desordens dos membros superiores, pois proporciona uma análise com maior detalhamento da atividade dessas extremidades. Ao final da análise é indicado o nível da intervenção necessitada para diminuição dos riscos inerentes ao trabalho. 5. Materiais e métodos Estudo de caso realizado em um canteiro de obras de uma pequena empresa da construção civil, na região de Ponta Grossa, Paraná, que utilizava mão de obra terceirizada para execução de seus serviços. Do ponto de vista de sua natureza, esta pesquisa é aplicada a gerar conhecimentos sobre os riscos ergonômicos a que são submetidos os trabalhadores da construção civil durante a realização da tarefa do levantamento de paredes de alvenaria. Seus resultados são abordados nas formas qualitativa e qualitativa. Em seus objetivos é descritiva, pois relata a situação de trabalho e riscos ergonômicos dos obreiros estudados, gerando familiaridade com o problema. O canteiro de obras, onde se desenvolveu esta pesquisa, continha nove trabalhadores, sendo quatro pedreiros, quatro serventes e um mestre de obras. Os quatro pedreiros existentes no canteiro encontravam-se realizando o levantamento de paredes. Todos se queixavam de dor em múltiplas localizações, eram do sexo masculino, com idades de 25 anos, 31 anos, 29 anos e 48 anos. 3

5.1 Instrumentos de pesquisa: Foi realizado questionário semi-estruturado para coleta dos dados pessoais, idade, tempo de serviço em construção civil, queixas dolorosas e explicado o motivo da pesquisa para os trabalhadores. Após foi feita uma inspeção do canteiro de obras para melhor visualização do ambiente laboral. Para melhor visualização foram feitas fotografias e realizadas filmagens do canteiro e dos obreiros durante a realização da tarefa pelo período de um dia de trabalho, sendo feito o acompanhamento da rotina do trabalhador. Concretizada a coleta de dados, estes foram lançados nos softwares WinOWAS e RULA, para classificação dos riscos das posturas utilizadas. As paredes levantadas, foram divididas em 4 zonas de trabalho, devido as mudanças de posicionamento do trabalhador que ocorriam o aumento progressivo da altura da parede. O posicionamento do obreiro, durante a realização da tarefa, variam nas zonas 1 e 2, e nas zonas 3 e 4, sendo iguais nas zonas 1 e 3, e, 2 e 4, pois no momento em que se inicia a construção da zona 3 é colocado o andaime e a posição do obreiro torna-se semelhante a da zona 1. Tendo como parâmetro inicial o nível do solo (lastro de concreto), a zona 1, encontra-se entre 0 cm a 70 cm de altura, a zona 2 encontra-se entre 70 cm a 1,35 m de altura, a zona 3 entre de 1,35 a 2,05 e a zona 4 entre 2,05 a 2,70, que é o nível máximo da altura do levantamento de paredes na construção estudada. Zona 4 ( 65 cm) Zona 3 (70 cm) 2,70 m Zona 2 (65 cm) Nível do solo Zona 1 (70 cm) FIGURA 1: Divisão das zonas da parede para análise das posturas utilizadas Fonte: altura da parede construída no canteiro estudado 6. Análise dos resultados 6.1 O ambiente laboral O canteiro de obras estudado constituía-se de um terreno de 750 m², na região urbana de Ponta Grossa, onde estava sendo edificada uma construção residencial de 280 m². O material utilizado para o cumprimento das tarefas estava disponibilizado aleatoriamente ao redor do terreno, demonstrando gasto energético desnecessário para o carregamento dos materiais até o posto de trabalho. Os trabalhadores dispunham de um espaço que era utilizado para guarda dos materiais de construção e para alimentação, sendo que estes aqueciam sua comida, em fogareiros a álcool improvisados. Havia um banheiro, também improvisado, feito com duas tábuas. A temperatura do dia variou entre 8 C e 21 C, os espaços concentram-se ao 4

ar livre, e os trabalhadores constantemente entravam em contato, manual ou por via respiratória, com poeira, areia e cimento. Notou-se existir pouca integração entre os trabalhadores, que quando questionados sobre isto, relataram ser pela necessidade de realização rápida da tarefa. Havia material de proteção individual disponibilizado pela empresa, porém com pouca utilização por parte dos obreiros, que relataram não ver necessidade em sua utilização. 6.2 A atividade do pedreiro durante o levantamento de paredes Na atividade do pedreiro durante o levantamento de paredes cada tijolo assentado corresponde a um ciclo de trabalho, e tem duração de 25 segundos, perfazendo um total de 4 ciclos por minuto. a) O funcionário pega a massa do balde com a colher de pedreiro colocando-a sobre o tijolo anteriormente assentado, repetindo esta tarefa três vezes; b) Retira o tijolo do chão com a mão não dominante; c) Coloca o tijolo no local do assentamento, apoiando-o com as duas mãos; d) Bate por três vezes com a colher de pedreiro em cima do tijolo; e) Retira o excesso de massa ao redor do tijolo assentado; f) Devolve o excesso de massa ao balde; g) Confere visualmente o tijolo assentado; h) Verifica o prumo; i) Eventualmente o trabalhador pega o carrinho de mão, sai do posto de trabalho, vai até o local de alojamento dos tijolos, carrega o carrinho de mão com os tijolos e retorna empurrando o carrinho de mão até o posto de trabalho. Esporadicamente o trabalhador vai ao banheiro, atividade que somada ao deslocamento dura aproximadamente três minutos, num total de quatro vezes por jornada. A jornada de trabalho no canteiro estudado é de nove horas, iniciando às oito horas, terminando às dezessete horas, com pausa de uma hora para almoço e trinta minutos para lanche. Não existem pausas de descanso regulares, além do período de almoço e lanche. 6.3 Análise das posturas Foi realizada a avaliação das posturas utilizadas pelos obreiros em duas fases. A fase denominada 1, corresponde as posturas utilizadas pelos trabalhadores nas zonas 1 e 3 do levantamento de paredes, e a fase denominada 2 corresponde as posturas utilizadas nas zonas 2 e 4 do levantamento de paredes. Na fase 1 da análise, as categorias de risco avaliados pelo software WinOWAS variaram entre 1 e 4, sendo distribuídas conforme a tabela 2. TABELA 2: categoria de risco obtida através do software WinOWAS das atividades do obreiro durante a fase 1 e fase 3 do levantamento de paredes Coluna Braços Pernas Carga Categoria Geral Buscar tijolos Risco 3 Risco 1 Risco 2 Menor que 20 Kg 3 Pegar massa Risco 4 Risco 1 Risco 3 Menor que 10 Kg 4 Pegar tijolos Risco 4 Risco 1 Risco 3 Menor que 10 Kg 4 Colocar tijolos Risco 3 Risco 1 Risco 3 Menor que 10 Kg 2 Bater no tijolo Risco 3 Risco 1 Risco 3 Menor que 10 Kg 2 Retirar o excesso Risco 3 Risco 1 Risco 3 Menor que 10 Kg 2 de massa Verificar o prumo Risco 3 Risco 1 Risco 2 Menor que 10 Kg 2 5

Fonte: canteiro de obras estudado Verificou-se um maior risco durante as atividades de pegar a massa do balde e pegar os tijolos, devido principalmente as posições realizadas pela coluna vertebral. Durante estas atividades, o trabalhador realiza constantemente movimentos de tronco com torção e inclinação da coluna para conseguir pegar a massa e os tijolos, pois estes ficam posicionados paralelos ao corpo e ao nível do solo. Outro ponto crítico constatado, diz respeito ao posicionamento dos membros inferiores. O trabalhador para conseguir realizar o levantamento da parede até 70 cm de altura (zona 1) e também na zona 3, necessita ficar ajoelhado. Principalmente nestas duas atividades citadas, são necessárias correções imediatas. No enquadramento geral, onde são analisadas as categorias gerais, obtivemos 57% de risco 2, 14% de risco 3 e 29% de risco 4. Na fase 2 da análise as categorias de risco variaram entre 1 e 4, segundo o software WinOWAS, sendo distribuídas segundo a tabela 3. TABELA 3: categoria de risco obtida através do software WinOWAS das atividades do obreiro durante a fase 2 e fase 4 do levantamento de paredes Coluna Braços Pernas Carga Categoria Geral Buscar tijolos Risco 3 Risco 1 Risco 2 Menor que 20 Kg 3 Pegar massa Risco 4 Risco 1 Risco 2 Menor que 10 Kg 2 Pegar tijolos Risco 4 Risco 1 Risco 2 Menor que 10 Kg 2 Colocar tijolos Risco 1 Risco 1 Risco 2 Menor que 10 Kg 1 Bater no tijolo Risco 1 Risco 1 Risco 2 Menor que 10 Kg 1 Retirar o excesso Risco 3 Risco 1 Risco 2 Menor que 10 Kg 2 de massa Verificar o prumo Risco 3 Risco 1 Risco 2 Menor que 10 Kg 2 Fonte: canteiro de obras estudado Foi verificado que, o risco postural, durante a atividade de buscar os tijolos com o carrinho de mão exige correções a curto prazo. Esta atividade na fase 2 e 4 do levantamento de paredes no canteiro estudado, foi a que demonstrou maior risco para sua realização. O risco para os membros inferiores diminuiu nestas fases devido a postura do obreiro ser em pé e enquadrou-se com uma postura que deve ser revista durante a próxima revisão dos métodos de trabalho. No enquadramento geral obtivemos 29% de risco 1, 57% de risco 2, 14% de risco 3 e 0% de risco 4. Não pode deixar de ser notado, o baixo risco para braços que foi verificado através do software WinOWAS, tanto na fase 1 da análise quanto na fase 2. Este fato foi controverso a observação direta realizada no canteiro e a descrição das queixas álgicas feita pelos obreiros no questionário. Notamos que havia solicitação constante dos membros superiores durante todas as fases estudadas, demonstrando repetitividade associada ao levantamento constante de uma carga de 2 kg e 650 g referentes ao peso de cada tijolo colocado, durante grande parte da jornada laboral. Para esclarecimento desta controvérsia, a respeito dos membros superiores, foi utilizado o método RULA. Após lançados os dados na versão computadorizada do método RULA, obtivemos, tanto para a fase 1 quanto para a fase 2 do levantamento de paredes, uma pontuação de 7 para o lado dominante e 6 para o lado não dominante. A pontuação de 7 para o método RULA indica que investigações e mudanças são requeridas imediatamente. A pontuação de 6 indica que investigações e mudanças são requeridas brevemente. Demonstrou-se a necessidade de correções e adaptações do trabalho também para os membros superiores após a utilização do software mais direcionado para os membros superiores. São considerados neste método, fatores como repetitividade, cargas levantadas 6

pelos braços, e principalmente as amplitudes de movimento articulares utilizadas pelos membros superiores, que muitas vezes durante a realização da tarefa estudada assumiam posições críticas do ponto de vista biomecânico. Estas posições em alguns momentos deviamse ao peso do tijolo a ser assentado, em outras pela colher de pedreiro pouco adaptada a anatomia da mão, que para pegar a massa do balde necessitava realizar desvios intensos de punho ou ação compensatória de ombros ou cotovelos. 7. Sugestões de correções ergonômicas 7.1 No ambiente laboral a) Proporcionar maior integração entre os trabalhadores; b) Instruções sobre saúde e segurança no trabalho; c) Instalação de pausas regulares para recuperação física; d)organização e limpeza do canteiro de obras, minimizando os deslocamentos e proporcionando que estes estejam livres de obstáculos; e) Melhoria nos sanitários e cozinha, retirando o material de construção desta instalação; 7.2 No posto de trabalho a) Posicionamento dos materiais em frente aos trabalhadores, evitando o uso de torções de coluna; b) Proporcionar plataforma para colocação de materiais, evitando as inclinações de coluna durante o trabalho em pé; c) Disponibilizar uma banqueta para evitar que o obreiro ajoelhe-se no chão, durante as etapas iniciais do levantamento de paredes; d) Proporcionar a utilização de colheres de pedreiro com cabo ergonômico, evitando desvios forçados de punho ou ação compensatória dos cotovelos e ombros; e) Utilização de tijolos menores, mais leves minimizando a carga ofertada aos membros superiores; 8. Conclusões Constatamos que os riscos ergonômicos do trabalhador da construção civil durante o levantamento de paredes de alvenaria são acentuados, variando conforme a região anatômica estudada, a altura da parede, e a metodologia de análise empregada. Com o auxílio do software WinOWAS, verificamos que existem riscos imediatos durante as atividades de pegar a massa do balde e pegar os tijolos ao nível do solo, com necessidade de correções a curto prazo na atividade de buscar os tijolos com o carrinho de mão, durante a fase 1 da nossa análise. Ainda utilizando o software WinOWAS, porém na fase 2 de nossa análise, verificamos que existem necessidades de correção a curto prazo da atividade de buscar tijolos com o carrinho de mão, e as atividades de pegar a massa do balde, pegar tijolos ao nível do solo, retirar o excesso de massa ao redor dos tijolos e verificar o prumo devem ser novamente revisadas, pois podem ser necessárias correções futuras. Visualizamos que o software WinOWAS é de grande auxílio na avaliação do risco ergonômico, porém nas atividades estudadas que tinham maior demanda dos membros superiores, houve a necessidade de utilização do método RULA, para uma avaliação mais precisa do risco que envolvia estas regiões. A versão computadorizada do método RULA nos forneceu resultados opostos ao do método WinOWAS que relatou não serem necessárias 7

correções. Segundo o método RULA, para o lado dominante são necessárias mudanças imediatas e para o lado não dominante que as mudanças devem ser realizadas brevemente. A atividade do pedreiro durante o levantamento de paredes demonstrou ser nociva a saúde, quando não planejadas e adaptadas ao trabalhador. Correções dos postos de trabalho e ambiente laboral, podem e devem ser feitas para a manutenção da capacidade laborativa e qualidade de vida do obreiro. Referências BARROS, P. C. R.; MENDES, A. M. B. Sofrimento psíquico no trabalho e estratégias defensivas dos operários terceirizados da construção civil. Psico-USF. v. 8, n. 1, p. 63-70, 2003. COUTO, H. A. Método TOR-TOM: manual de avaliação ergonômica e organização do trabalho. Belo Horizonte: ERGO Editora, 2006. DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. São Paulo: Edgard Blücher, 2004. GHISLENI, Â. P. ; MERLO, Á. R. C. Psicologia: Reflexão e Crítica. v. 18 (2), p. 171-176, 2005. GRANDJEAN, E.; KROEMER, K. H. E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. Porto Alegre: Bookman, 2005. JUNIOR, A. S. M.; RODRIGUES, C. L. P. Avaliação de estresse e dor nos membros superiores em operadores de caixa de supermercado na cidade de João Pessoa: estudo de caso. Anais... XXV ENEGEP, 2005. LIDA, I. Ergonomia, projeto e produção. São Paulo: Edgard Blucher Ltda, 1990. MC ATAMNEY, L.; CORLETT, E. N. RULA: a survey method for the investigation of work- related upper limb disorders. Applied Ergonomics. v. 24, p. 91-99, 1993. RIBEIRO, S. B.; SOUTO, M. S. M. L.; JUNIOR, I. C. A. Análise dos riscos ergonômicos da atividade do gesseiro em um canteiro de obras através do software WinOWAS. Anais... XXIV ENEGEP, 2004. Software RULA. Disponível em: www.cope-ergo.com/rula/index.html. Acesso em 29/07/2006. Software WinOWAS.. Disponível em www.turva1.me.tut.fi/owas. Acesso em: 20/07/2006. 8