PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N. 039.2009.001574-2/001 ORIGEM : Vara Única da Comarca de Teixeira-PB. RELATOR : Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira. APELANTE : Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento. ADVOGADO : Antônio Braz da Silva. APELADO : Amarildo Meira de Vasconcelos. ADVOGADO : Antônio Braz da Silva. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. PEDIDO DE EXIBIÇÃO DO CONTRATO. OMISSÃO DO JUÍZO. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO. CASSAÇÃO DA SENTENÇA. PROSSEGUIMENTO DO PROCESSO. RECONHECIMENTO DE OFÍCIO. PROVIMENTO DO RECURSO. Sem a juntada da cópia do contrato não há como proceder a sua revisão. É possível o ingresso de ação de revisão de contrato bancário com pedido incidental de exibição de documento, caso em que o Juízo deve apreciar o requerimento em que se pede a intimação da instituição fmanceira para juntada do termo de ajuste contratual. VISTO, relatado e discutido o presente procedimento referente à Apelação Cível n. 039.2009.001574-2/001, na Ação de Revisão de Contrato c/c Repetição de Indébito em que figuram como partes a Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento e Amarildo Meira de Vasconcelos. ACORDAM os eminentes Desembargadores integrantes da Egrégia Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, acompanhando o voto do relator, conhecer o recurso, para anular a sentença a quo. VOTO Amarildo Meira Vasconcelos ingressou perante o Juízo da Comarca de Teixeira, com Ação de Revisão de Contrato c/c Repetição de Indébito, processo n 039.2009.001574-2, em face do Banco ABN AMRO Real SÃ., alegando que: (1) celebrou com o Réu Contrato de Financiamento, identificado sob n 20013622660, através do qual financiou, pelo prazo de 18 meses, com prestações no valor de R$ 1.085,98, um veículo da marca GM, modelo Corsa, Gasolina, ano/modelo 2003, cor cinza, placa MZJ 4259, CHASSI N 9BGSB19X04B121516; (2) as cláusulas referentes aos encargos financeiros possuem aspectos leoninos, uma vez que a taxa de juros ultrapassa 21% ao ano, quando a inflação não ultrapassa 5% ao ano; (3) o seu contrato possui cláusulas abusivas, que estipulam taxas de juros acima de 1% ao mês, permitem a cobrança de juros capitalizados mensais, cobram taxa efetiva anual ao invés de axa 1minal. e cumula a cobrança de comissão de permanência com juros moratórios e multa 1; (4) os juros praticados pelos bancos estão fora do princípio da razoabilida tonando
enriquecimento ilícito; (5) por se tratar de um contrato de adesão é pacífico na doutrina e jurisprudência que as cláusulas duvidosas devem ser interpretadas em favor dos aderentes; (6) a matéria é disciplinada pelo Código de Defesa do Consumidor; (7) a utilização da tabela prince é ilegal, pois incorpora juros capitalizados de forma composta; (8) em razão da cobrança em excesso dos juros é obrigatória a devolução do excesso via repetição do indébito. Pugnou pela procedência do pedido para que fosse anulada qualquer cláusula contratual que contivesse a previsão de juros acima de 12% ao ano, vedando a capitalização de juros e impondo referido percentual para os juros moratórios e remuneratórios, calculados na forma simples, conforme planilhas de cálculos que instrui a inicial, restituindo-se, em dobro, os valores abusivamente cobrados, e requereu a inversão do ônus da prova e a concessão de tutela antecipada para autorizar o depósito judicial das prestações segundo os valores indicados, manter a posse do bem, obstar o Réu de lançar seu nome em órgãos de restrição ao crédito, e a citação do Requerido para, no prazo de cinco dias, exibir em juízo o contrato objeto da ação. O Réu ofereceu Contestação, f. 37/65, arguindo, preliminarmente, a carência da ação, em razão da ausência de interesse processual, por perda do objeto, pois o contrato financiado e objeto da ação já foi devidamente quitado, não havendo mais o que se falar em revisão de cláusulas contratuais e, no mérito, alegou que (1) a Autora concordou com todos os termos e condições do contrato, e a posterior discussão de suas cláusulas em razão de suposta abusividade representaria uma afronta ao princípio da segurança jurídica e da pacta sunt servanda; (2) a Súmula Vinculante n. 07 pôs fim a discussão jurídica de que as taxas de juros bancários não podem ser superiores a 12% ao ano, e que o Art. 192, 3, da Constituição Federal foi revogado pela Emenda Constitucional n. 40/2003; (3) inexiste onerosidade excessiva; (4) a limitação de juros a 12% ao ano não é aplicável aos contratos bancários; (5) inexistiu capitalização mensal de juros, uma vez que a respectiva taxa de juros foi convencionada quando da finalização do contrato, sendo pré-fixada; (6) a comissão de permanência não consta no presente contrato; (7) que não há qualquer nulidade na cobrança da Tarifa de Abertura de Crédito - TAC e Tarifa de Emissão de Carnê TEC; (8) não tendo ocorrido a cobrança e nem tampouco o pagamento de valor indevido ou ilegal pela Demandante, descabe a repetição de indébito; (9) inexiste qualquer justificativa para a abstenção de lançamento do nome da autora nos cadastros de restrição de crédito. Requereu o acolhimento da preliminar suscitada com a consequente extinção do processo, e caso ultrapassada a preliminar, julgar improcedentes os pedidos. Sentenciando, f. 133/140, o Juízo rejeitou a preliminar de carência da ação e acolheu a arguição de mudança do polo passivo da Demanda para passar a figurar como Demandada a Aymoré, Crédito, Financiamento e Investimento S/A, pelo fato de que o Banco ABN AMRO REAL S/A foi sucedido pelo Banco Santander Brasil S/A., no mérito, julgou parcialmente procedente o pedido para condenar a Ré a revisar e aplicar sobre o valor do financiamento, já quitado, a taxa anual de juros de 12%, e a restituir o valor pago a maior pelo Autor, extinguindo o processo com resolução do mérito, sob o fundamento de que as cláusulas contratuais relativas à cobrança de encargos e juros cumulativos superiores a 12% ao ano são abusivas, e o pagamento das custas processuais e honorários de sucumbência que fixou em R$ 1.000 0. A Aymoré, Crédito, Financiamento e Investimento S/A interpôs Apelação, l 141/160, arguindo, preliminarmente, (1) a impossibilidade jurídica do pedido pelo fato dqu toflas as prestações foram pré-fixadas, os encargos e juros contratuais observaram as regr kle nierado e
o Apelado teve pleno conhecimento do conteúdo das cláusulas contratuais; (2) o indeferimento da inicial por inépcia, pelo fato de que a petição não esclarece com que parâmetros pretende que o Contrato seja revisado, tendo arguido, apenas, que possui cláusulas abusivas, não observando o Art. 295, I, Parágrafo Único, II, do CPC, uma vez que da narrativa dos fatos não decorre logicamente uma conclusão, inclusive pelo fato de não ter juntado cópia do contrato; (3) indeferimento da inicial por carência da ação, em razão da ausência de interesse processual, visto que o contrato já foi quitado. No mérito, alegou que (1) devem ser observados os princípios que regem os contratos, especificamente o pacta sunt servanda e a segurança jurídica: (2) não houve cobrança onerosa e que foram observadas as taxas de juros remuneratórios e moratórios; (3) não é cabível a limitação da taxa de juros remuneratório, visto que o Superior Tribunal de Justiça entende que os juros só podem ser limitados se houver discrepância entre a taxa de mercado e a taxa do contrato, não se aplicando como parâmetro a Lei de Usura; (4) não se pode vedar a capitalização no contrato em tela com fundamento na alegação de ausência de pactuação expressa, uma vez que o contrato discrimina expressamente a taxa mensal e anual de juros, e pela mera verificação destas resta consubstanciada a previsão da capitalização. Pugnou pelo provimento do Recurso para, reformar a sentença, para declarar válidas todas as cláusulas do contrato firmado, afastando a limitação do juros remuneratórios e, caso assim não entenda, pugnou pela redução dos honorários advocatícios fixados e pelo pronunciamento expresso dos dispositivos legais que arguiu. Nas Contrarrazões, f. 168/204, o Apelado alegou que (1) a cláusula contratual que, no contrato de adesão de mútuo, de qualquer espécie, fixar juros superiores a 1% ao mês é abusiva, pois fixa juros excessivos e significa excesso de onerosidade ao consumidor, com vantagem indevida ao fornecedor; (2) a capitalização de juros não foi pactuada, e que a Medida Provisória 2170/2001 apenas autoriza a capitalização em contratos cujo a duração seja inferior a um ano. Requereu o desprovimento do Recurso. A Procuradoria de Justiça emitiu parecer sem pronunciamento sobre o mérito da causa, entendendo não estão configuradas quaisquer das hipóteses previstas no Art. 82, do Código de Processo Civil. É O RELATÓRIO. Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço da Apelação. A matéria trazida no Recurso restringe-se à arguição de abusividade da cobrança de juros capitalizados. Não consta nos autos cópia do Contrato firmado entre as partes, o que revela uma impossibilidade de análise para afirmar se existe previsão contratual dos encar os alegados como abusivos. A ausência do Termo do Contrato acarreta a extinção do processo sem a reciaç'ào do mérito, porquanto é documento indispensável à revisão de ajuste contratual.
Ocorre que o Promovente requereu na Inicial a sua exibição em Juízo, mas a sentença foi omissa quanto a esse pedido, não podendo a ação ser arquivada porquanto a desídia não foi do Promovente. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS - AUSÊNCIA DE DOCUMENTO INDISPENSÁVEL À PROPOS] FURA DA AÇÃO - HIPÓTESE DE EXIBIÇÃO INCIDENTAL - POSSIBILIDADE - CASSAÇÃO DA SENTENÇA.- É possível o ingresso de ação de revisão de contrato bancário, com pedido incidental de exibição de documento, haja vista que se trata o contrato encetado pelas partes de documento comum, cuja exibição tem fundamento legal nos preceitos dos artigo 355 e seguintes do CPC. (AC 1.0672.09.377959-9/001, 17' CaCiv/TJMG, rel. Des. Luciano Pinto, p. 08/05/2009). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL. AUSÊNCIA DO CONTRATO. DOCUMENTO INDISPENSÁVEL À PROPOSITURA DA AÇÃO. SENTENÇA ANULADA DE OFICIO. Na ação em que se pretende a revisão de contrato bancário, com a decretação de nulidade de cláusulas, é evidente que o instrumento da pactuação é documento indispensável. Sem que o contrato seja juntado aos autos, não há como se analisar o pedido de revisão da avença. V. V. - Na ação revisional de contrato bancário, tratando-se de documento comum, é admissivel a formulação de pedido de exibição incidental do contrato. Inteligência do art. 355 e seguintes do CPC. - (TJMG. Décima Quarta Câmara Cível. Rel. Des. Estevão Lucchesi. Data do julgamento: 02/02/2012). Posto isso, conheço do Recurso para, de oficio, cassar a Sentença e determinar o prosseguimento do processo com a intimação do Promovida para exibição do Contrato, nos termos dos Arts. 355 a 359 do CPC. É o voto. Presidiu o julgamento, realizado na Sessão Ordinária desta Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, o Desembargador Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho, no dia 10 de julho de 2012, conforme certidão de julgamento, dele participando, além deste relator, a Dra. Maria das Graças de Morais Guedes. Presente à sessão, o Exmo. Sr. Dr. José Raimundo de Lima, Procurador de Justiça. Gabinete no TJ João Pessoa, 12 e julho de 2012. es. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira Relator
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