PARECER N 14.434 Secretaria da Fazenda. Férias. Adicional constitucional (1/3). Valor a ser pago. Momento do gozo efetivo das férias. Vem a esta Equipe de Consultoria da Procuradoria de Pessoal da Procuradoria- Geral do Estado, por solicitação do Senhor Secretário de Estado da Fazenda SEFA -, expediente administrativo (EA) n. 4493-14.00/03-3, originado em desconformidade de servidor que teve indeferido o seu pleito de pagamento de diferença de valores a título de adicional constitucional de férias. A questão posta diz com o adicional constitucional de férias e a referência remuneratória a ser considerada para o seu cálculo quando o gozo de férias ocorre em momento diverso daquele em que houve o efetivo pagamento do referido acréscimo. Relata o interessado que a diferença advém da ocupação de posição diversa na Administração Publica estadual no momento da concessão de férias, as quais foram canceladas por motivo de serviço, daquela titulada no período de gozo das mesmas, tendo sido pago o adicional de férias naquele momento e considerando a remuneração então percebida. A SEFA indeferiu o pleito baseada em orientações administrativas, cumpridas de forma isonômica a todos os servidores da administração Direta (sic). Irresignado, o interessado apresentou Recurso Administrativo pleiteando, no caso de manutenção da decisão, o envio do EA para esta Procuradoria-Geral do Estado (PGE). Após nova negativa e a reiterada pretensão do servidor, a SEFA, através da Coordenação da Assessoria Jurídica, opinou pelo envio à PGE, o que foi referendado pelo Senhor Secretário de Estado. A Assessoria Jurídica desta Equipe de Consultoria se manifestou pela devolução do EA à SEFA por não ser a PGE instância recursal posta à disposição dos servidores ou para que fosse suscitada consulta de forma objetiva. É o Relatório.
2 Importa anotar, de início, que há um aspecto de razão na manifestação produzida pela Assessoria Jurídica desta Equipe, uma vez tratar o EA de questão particular de servidor, já decidida em sede própria, bem como não vir explicitada objetivamente a dúvida que move a solicitação de intervenção desta Casa, porém é passível de reconhecimento em face do contexto dos documentos que compõem o EA. Entretanto, a partir do contido no referido EA pode-se vislumbrar questão geral que necessita de orientação jurídica titulada por esta PGE e, portanto, deve ser dado continuidade à análise do feito. A situação posta para análise, ao que se depreende, envolve a definição do adicional de férias previsto em sede constitucional art. 7º, XVII e reconhecida na legislação estatutária local, bem como a referência remuneratória a ser considerada para o pagamento da mesma. No caso analisado, o servidor teve concedidas e canceladas férias, com o pagamento do respectivo adicional, com base na remuneração titulada à época. Todavia, no momento do gozo efetivo das mesmas, o servidor ocupava cargo diverso com remuneração superior. Em razão disso, pretende perceber a diferença verificada em face da aplicação do percentual sobre valores de referência diversos aquele da concessão das férias e aquele do efetivo gozo das mesmas. Neste sentido, devemos buscar o significado do adicional constitucional. Este, na nossa compreensão, tem como destinação a atribuição de um plus remuneratório ao trabalhador para ser usufruído no mesmo momento do gozo do descanso anual férias como garantia social presente no texto constitucional. Sem assumir uma posição nominalista, ou um apego excessivo ao texto da norma constitucional, deve-se ter presente que o legislador constituinte, ao incorporar no conjunto dos direitos sociais art. 7º da CF/88 o referido adicional, o fez utilizando o termo gozo de férias anuais. Ou seja, desde logo deixou referenciado que este adicional vincula-se à fruição desta garantia constitucional do trabalhador, permitindo ou contribuindo, por um lado, para a viabilização e aproveitamento de um período de descanso e lazer, assim como, embora não seja o essencial no caso em tela, para dar suporte á própria indústria turística. Neste sentido parece caminhar a doutrina e a jurisprudência pátrias, quando referem que este adicional, presente em norma constitucional de eficácia plena e imediata, incide, tanto em férias integrais ou proporcionais, gozadas ou não. Todavia, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu art. 142 assim disciplina: 2
3 Art. 142 O empregado perceberá, durante as férias, a remuneração que lhe for devida na data da sua concessão. Já o Estatuto estadual assim regulamenta a matéria: Art. 68 Será pago ao servidor, por ocasião das férias, independentemente de solicitação, o acréscimo constitucional de 1/3 (um terço) da remuneração do período de férias, pago antecipadamente. 1º - O pagamento da remuneração de férias será efetuado antecipadamente ao servidor que o requerer, juntamente com o acréscimo constitucional de 1/3 (um terço), antes do início do referido período. 2º - Na hipótese de férias parceladas poderá o servidor indicar em qual dos períodos utilizará a faculdade de que trata este artigo. Assim, ao que parece, há uma incongruência entre a norma constitucional e a consolidada a merecer um tratamento de compatibilização, a qual não se reproduz com a mesma intensidade em relação à regra estatutária. Com este desiderato, creio que se deva promover tal integração de todos estes comandos normativos - tomando em consideração o sentido a ser atribuído ao referido adicional, tendo como parâmetro a sua destinação, como acima assinalado. E tal integração vai ao encontro do sentido, antes mencionado, a ser construído a partir do enunciado textual da norma constitucional. Qual seja, o de que o referido adicional vem para contribuir com o adequado gozo das férias, como refere Arnaldo Süssekind, em seu Instituições de Direito do Trabalho, vol. 2, p. 878. E tal circunstância não pode ser obviada com base em procedimento padrão (sic) adotado por órgão da administração pública. Mais, tal reconhecimento está em consonância com o pressuposto de que o trabalhador faz jus à complementação da remuneração de férias antecipadamente recebida no caso de ocorrer reajustamento salarial ou promoção na carreira. Ou seja, toda diferença remuneratória ocorrente até a data do gozo das férias incidirá no valor da remuneração destas e, conseqüentemente, no valor do respectivo adicional, uma vez tratar-se, este, de um percentual (1/3) acrescido à contraprestação laboral própria do trabalhador. No caso em análise, o servidor passou a ocupar função gratificada, cuja gratificação correspondente, titulada e percebida quando do gozo das férias, é superior àquela percebida anteriormente, no momento da concessão das férias que foram canceladas por necessidade de serviço. 3
4 Ainda, deve ser referido que, quando do cancelamento das férias por necessidade de serviço -, tem-se que o trabalhador efetivamente não a gozou, embora tenha percebido a remuneração correspondente, inclusive com o acréscimo percentual do adicional devido. A circunstância de não terem sido estornados tais pagamentos não ilide a necessidade de complementação dos valores quando do novo gozo das mesmas, uma vez que a situação remuneratória a ser considerada é aquela existente neste momento e não relativamente ao passado. Por isso, entendo ser devida a diferença relativa ao adicional de férias pleiteada. Em conseqüência, deverão ser providenciados os registros pertinentes - interrupção de férias - no Banco de Dados de Pessoal, bem como comunicado o órgão do servidor e a Secretaria da Fazenda. É o Parecer. Porto Alegre, 08 de setembro de 2004. JOSE LUIS BOLZAN DE MORAIS PROCURADOR DO ESTADO EA 4493-1400/03-3 4
Processo nº 004493-14.00/03-3 Acolho as conclusões do PARECER nº 14.434, da Procuradoria de Pessoal, de autoria do Procurador do Estado Doutor JOSE LUIS BOLZAN DE MORAIS, aprovado pelo Conselho Superior da Procuradoria-Geral do Estado na sessão realizada no dia 10 de novembro de 2005. Restitua-se o expediente ao Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Fazenda. Em 24 de janeiro de 2006. Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado.