Palavras-chave: Formação de professores; Justificativas biológicas; Dificuldades de escolarização

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Transcrição:

OS MECANISMOS DE ATUALIZAÇÃO DAS EXPLICAÇÕES BIOLÓGICAS PARA JUSTIFICAR AS DIFICULDADES NO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO: ANÁLISE DO PROGRAMA DE ALFABETIZAÇÃO LETRA E VIDA Cristiane Monteiro da Silva 1 ; Aline Frollini Lunardelli Lara 2 Estudante do Curso de Pedagogia; e-mail: cristiane.monteiro26@itelefonica.com.br 1 Professora da Universidade de Mogi das Cruzes; e-mail: alineflunardelli@uol.com.br 2 Área do Conhecimento: Psicologia Educacional Palavras-chave: Formação de professores; Justificativas biológicas; Dificuldades de escolarização INTRODUÇÃO Dentre as inúmeras mudanças que ocorrem na Educação podemos citar aquela que até hoje gera um grande desafio às escolas, a progressão continuada que, ao evitar a evasão por repetência, talvez, tenha feito surgir uma questão mais alarmante: o crescimento das dificuldades de aprender que ocorrem no processo de escolarização. Na tentativa de conter o crescimento das dificuldades de aprendizagem, muitos professores participam de cursos de capacitação oferecidos pelas secretarias estaduais e municipais da educação. Entretanto, será que as dificuldades de aprendizagem estão somente ligadas à incompetência do professor? E a experiência profissional que o professor teve até iniciar um curso de formação, não deve ser considerada? Na perspectiva de responder a essas questões, os cursos de formação são ministrados como forma de esperança para remediar os resultados apontados pelas avaliações governamentais e de capacitar técnica e intelectualmente os professores. Nesse sentido, os cursos procuram apostar em teorias ou abordagens educacionais diferentes e na expectativa de respaldar e recuperar as falhas presentes no processo ensino-aprendizagem, acabam focalizando o problema no indivíduo, seja ele o aluno (por causa de suas características biológicas e/ou sociais) ou o professor (que, talvez, não saiba como lidar com a heterogeneidade presente em sala de aula). Diante disso, surge a importância de estudar se os cursos de formação continuada ou capacitação elaborados pelas secretarias de Educação contribuem, contraditoriamente ao seu objetivo inicial, para disseminar explicações biológicas para as dificuldades de aprendizagem que acabam interferindo no processo de escolarização e continuam colaborando para o crescimento do fracasso escolar. OBJETIVOS No universo de cursos de formação atuais, optou-se por circunscrever o objeto dessa investigação ao curso Letra e Vida oferecido pela Secretaria Estadual da Educação de São Paulo, cuja finalidade é desenvolver, de forma contínua, mecanismos e ações eficazes para a capacitação de educadores que trabalham com a formação inicial dos alunos. Assim, essa pesquisa teve como objetivo geral identificar e analisar se os materiais pedagógicos do curso de formação de professores Letra e Vida contêm em seus fundamentos explicações de cunho biológico para questões sociais envolvidas nos processos educativos. Pretendeu, ainda, como objetivo específico, analisar quais são as implicações da presença de justificativas biológicas sobre a aprendizagem para a

formação de professores e, conseqüentemente, para o processo de desenvolvimento humano. METODOLOGIA Para a realização deste estudo foi feita uma pesquisa qualitativa que por ser, também, dialética permite estudar e compreender o homem em sua especificidade, na sua interação natural e cultural, sem ser de forma estática. Logo, esse tipo de estudo é adequado para a Educação, justamente, porque permite compreender as transformações sociais: já que há uma preocupação em compreender os eventos investigados, descrevendo-os, relacionando-os e integrando o individual com o social. Dentro da pesquisa qualitativa, também, inclui-se a análise documental, isto é, um procedimento que permite pesquisar fontes escritas e organizar os dados coletados em categorias, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades) sob um tema genérico em razão de suas características comuns (BARDIN, 2003). Para essa organização e categorização foram utilizados procedimentos de coleta e análise de dados que permitiram: explorar e organizar os textos dos livros em unidades para relacioná-las com a pesquisa; selecionar, estabelecer e definir categorias para associar os dados colhidos com o referencial teórico, de acordo com objetivos do estudo para se chegar a uma conclusão final. Os materiais analisados foram os livros do curso Letra e Vida que são divididos em três módulos (identificados pela letra M) que definem o encaminhamento da formação, ou seja, para estudar cada livro leva-se de três a quatro meses. Os módulos são divididos em unidades (identificadas pela letra U) nas quais aparecem os textos (identificados pela letra T), que sugerem como será a rotina da aula do dia: leitura compartilhada (feita pela formadora do curso), leitura silenciosa (do texto de fundamentação teórica), vídeo e atividades (para serem feitas em casa ou para aplicar com os alunos em sala de aula). Nos textos de fundamentação teórica foram encontrados os dados que se relacionaram às seguintes unidades: 1ª unidade textos que propõem contribuições à prática pedagógica, 2ª unidade textos que propõem como organizar boas situações de aprendizagem e 3ª unidade textos que propõem como identificar o que os alunos sabem sobre leitura e escrita. Essas unidades serviram, também, para dividir os trechos selecionados em categorias. Tais categorias surgiram e foram classificadas de acordo com características comuns nos dados coletados. São elas: teoria educacional (dados que citam a teoria construtivista-interacionista como embasamento teórico do curso), características dos alunos (dados que apontam como considerar o desenvolvimento e a capacidade dos educandos para planejar atividades e intervenções adequadas às necessidades dos mesmos), processo de aprendizagem (dados que mostram como as etapas de aprendizagem dos alunos são determinantes para o professor adequar suas aulas a elas), formação de professor (dados que indicam como deve ser a posição do professor enquanto profissional da educação) e prática pedagógica (dados que indicam como o professor deve conduzir o processo ensinoaprendizagem em sala de aula). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados coletados e analisados nessa pesquisa estão presentes nos textos de fundamentação teórica que, de forma implícita, reforçam explicações de cunho biológico para que o professor saiba como planejar e preparar atividades atentando-se às características dos alunos, ao processo de aprendizagem e à sua prática pedagógica. Um dos trechos retirados do módulo 2 do curso, categorizado como características dos alunos, mostra que o educando é capaz de aprender dependendo de como o professor organiza a sala de aula e adequa as atividades: Reconhecer a capacidade intelectual

dos alunos e a necessidade de arranjar situações-problema adequadas para pensarem são pontos determinantes que balizam este curso (M1U5T4 p.2). Percebe-se que, mesmo implicitamente, reforça-se a idéia do desenvolvimento biológico pois é preciso considerar a inteligência natural do aluno para preparar atividade que o fará pensar e, então, aprender. Outro trecho a ser citado, foi retirado do Módulo 2, Unidade 2, Texto 6 (M2U2T6) e incluído na categoria processo de aprendizagem: Dadas as diferenças de saberes dos alunos, a maneira de intervir não deve ser a mesma para todos. É preciso diversificar os tipos de ajuda: propor perguntas que requeiram níveis de esforços diferentes; oferecer informação específica que promova o estabelecimento de novas relações; ouvir o que o aluno tem a dizer sobre o que pensou para chegar a um determinado produto; estimular o progresso pessoal (M2U2T6 p. 2). Assim, fica claro que o professor precisa compreender que os alunos têm saberes e ritmos diferentes e que seu planejamento, sua aula e suas intervenções devem se adequar às necessidades dos discentes, reforçando, mesmo que implicitamente, as justificativas biológicas para o processo ensino-aprendizagem. Além disso, um curso que prioriza que o docente precisa aprender que uma atividade de aprendizagem faz o aluno organizar e integrar o novo conhecimento ao que ele já tem e, portanto, é uma construção e não é uma mera cópia (M1U2T5 p.3 categoria: formação de professor), acaba enfatizando que o professor precisa saber pilotar uma sala de aula para saber lidar com as diferenças de ritmos dos educandos para dar conta da aula, do espaço e de tempo (M2UET5 p.23 e 24 categoria: prática pedagógica). Entretanto, as aptidões e as características especificamente humanas dos indivíduos, que se integram ao processo de ensinoaprendizagem, não estão ligadas aos fatores biológicos (como ritmos e características pessoais). Pelo contrário, é através das aquisições culturais que a criança (se apropria, desde quando nasce) pode interagir com a sociedade e com a história na qual está inserida e, assim, desenvolver e elevar suas aptidões intelectuais (VIGOTSKI, 2004). Logo, percebe-se que quando um curso tem como embasamento teórico a teoria construtivista-interacionista (M1U4T5 p.1- categoria: teoria educacional), acaba afirmando que os processos como o raciocínio, a compreensão e a concepção de mundo, a interpretação da causalidade física e o domínio das formas lógicas de pensamento transcorrem por si mesmos, sem qualquer interferência por parte do ensino escolar (VIGOTKI, 2004). CONCLUSÕES Ao falar sobre a teoria construtivista-interacionista e características pessoais dos alunos, como capacidade intelectual, condição social, saberes diferentes (cada aluno tem um conhecimento construído em etapas sobre a leitura e a escrita), ritmos (alunos mais rápidos ou mais lentos) e traços de personalidade como forma de orientar a prática docente, percebe-se que o embasamento teórico dos módulos 1 e 2 (M1 e M2) do curso Letra e Vida apontam que as aptidões e as características especificamente humanas se estruturam de acordo com o desenvolvimento biológico. Dessa forma, o curso acaba orientando a prática pedagógica no sentido de planejar e organizar intervenções e atividades que atendam os ritmos e características pessoais (nas quais podem se incluir de forma implícita características biológicas e sociais) de cada aluno, respeitando os estágios de desenvolvimento apontados pela teoria construtivista-interacionista. Tal teoria é centrada nos postulados de Piaget, que vê na escola e na prática pedagógica uma ação combinada com as etapas de desenvolvimento do aluno, respeitando-as para que a aprendizagem ocorra naturalmente. Assim, fica claro que o professor precisa compreender que os alunos têm saberes e ritmos diferentes e que seu planejamento, sua aula e suas intervenções devem se adequar às necessidades dos discentes, reforçando,

mesmo que implicitamente, as justificativas biológicas no processo ensinoaprendizagem. Diante disso, percebe-se que embora sejam apenas trechos, estes influenciam indiretamente na prática docente, pois ao usar (mesmo que implicitamente) as explicações biológicas para justificar como deve ser o processo ensinoaprendizagem, capacitam os professores para aprender como devem pilotar uma sala de aula considerando as características, capacidades e ritmos dos alunos como processos naturais. Ainda, pode-se apontar que ao destacar que as crianças têm saberes e ritmos diferentes, o curso reforça a idéia de que o aluno é uma expressão de sua classe social e, por isso, demora mais para se desenvolver e aprender. Entretanto, de acordo com Vigotski (2004), um curso de formação para professor não deve estimulá-lo a reforçar em sala de aula aquilo que a criança vive e já sabe (se é pobre vai aprender pobreza, se mora na roça vai aprender sobre o campo), ao contrário, cabe às tais capacitações orientar o docente no sentido de que à medida que a criança aprende novos conteúdos (que envolvem habilidades relacionados ao comportamento, hábito, costumes e linguagem), ela se desenvolve em sua forma de expressar, agir, pensar, desenvolvendo, portanto, sua aprendizagem. Assim, embora o curso Letra e Vida tenha como princípio ser um procedimento adequado e inovador para alfabetizar todas as crianças, acaba incutindo, de forma implícita, explicações biológicas no cotidiano dos professores, que utilizam as orientações dadas pelos módulos, para melhorar seus planejamentos e metodologias, pois acreditam que desenvolvimento biológico e aprendizagem caminham juntos e que para sanar as falhas no processo ensino-aprendizagem é preciso respeitar o ritmo, as características pessoais, os traços de personalidade e o estágio de desenvolvimento natural de cada educando. Dessa forma, um curso não deve ter como único objetivo capacitar técnica e intelectualmente o professor, deve, também, favorecer uma formação que possibilite a compreensão da profissão docente como uma modalidade de trabalho e não de emprego, permitindo, ainda, o entendimento da educação como um trabalho social e de utilidade prática, pois prepara o professor, prepara o educando (enquanto futuro trabalhador) e promove o desenvolvimento integral de ambos, de forma a fazer uma ligação entre a escola e a vida, ou seja, cultura, conhecimento e desenvolvimento profissional. Portanto, os cursos de formação/capacitação não devem reciclar o professor para que ele tenha novas práticas pedagógicas que na realidade reforçam velhas explicações biológicas para as falhas no processo de escolarização. Nesse sentido, sugere-se a possibilidade de ampliar essa pesquisa e discutir a formação docente sob a perspectiva da Psicologia Histórico- Cultural, que tem Vigotski como um de seus principais representantes, pois compreende a escola como um local de apropriação do conhecimento científico produzido historicamente através de um processo de humanização e de educação intencional e sistematizada, no qual desenvolvimento humano e educação são inseparáveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2003. FREITAS, M. T. de A. A abordagem sócio-histórica como orientadora da pesquisa qualitativa. Cadernos de Pesquisa, n.116, p. 21-39, jul. 2002. MINAYO, M. C. de S. Ciência, técnica e arte: O desafio da pesquisa social. In:. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 19. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. p. 67-80.

SECRETÁRIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Letra E Vida: Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Módulos 1, 2, 3. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006. VIGOTSKI, L. S. Psicologia pedagógica. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2004.