Notícias Economia Mão única Os nomes são variados: financiamento não-reembolsável, dinheiro de retorno indireto, recursos a fundo perdido ou simplesmente subvenção econômica. Mas qualquer que seja a nomenclatura usada, o significado é o mesmo: quem recebe não precisa devolver o dinheiro, como acontece no crédito. E quando um desses termos aparece, sempre chama a atenção das empresas inovadoras, interessadas em parceiros que aceitem dividir o risco de um novo projeto. Por isso, até o dia 27 de março, muitas dessas empresas estarão focadas na formulação de propostas para a Chamada Pública de Subvenção Econômica à Inovação da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), que visa apoiar o desenvolvimento de produtos, serviços e processos inovadores em empresas brasileiras. Só o edital da Finep vai destinar R$ 450 milhões à subvenção, com valores que variam de R$ 500 mil a R$ 10 milhões por projeto. Em 2008 o primeiro ano em que a financiadora aprovou aportes correspondentes ao total de recursos disponíveis esse montante de recursos foi distribuído entre 209 projetos, menos de 8% do total de propostas submetidas. Segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), existem pelo menos mais 11 editais de subvenção do Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pappe Subvenção), operados pelas fundações de amparo à pesquisa de cada estado e do Distrito Federal. A quarta edição da chamada de subvenção da Finep é a primeira a estipular um teto por projeto, em resposta às críticas de que grande parte dos recursos se concentrou em poucas empresas. Para evitar que pequenas empresas subsidiárias de
grandes gozem dos mesmos benefícios que as demais com faturamento anual inferior a R$ 10,5 milhões às quais se destinam 40% dos recursos a financiadora passou a considerar o faturamento global do grupo ao qual um negócio pertence. Na avaliação de Joel Weisz, consultor da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec) que dá cursos sobre programas de apoio à inovação, outra novidade desta edição foi o aumento do prazo entre a publicação do edital (em meados de janeiro) e a data-limite para envio eletrônico das propostas (final de março). Assim, as empresas terão mais tempo para melhorar suas apresentações de projetos. O instrumento de subvenção econômica ganhou força a partir da Lei de Inovação Tecnológica, promulgada em 2004. Desde então a legislação permite a destinação de recursos públicos no financiamento da inovação das empresas de forma direta, reduzindo o trajeto que esse dinheiro percorria até chegar à iniciativa privada (em geral por meio de instituições de Ciência e Tecnologia). Mas para ter acesso a esses recursos é preciso atender a uma série de exigências, o que justifica em grande parte o fato de que apenas 238 das 2.664 propostas do ano passado receberam recomendação dos analistas da Finep para aprovação. E como não havia recursos suficientes para todas as boas ideias, 29 projetos não foram selecionados. As propostas precisam se enquadrar em uma das seis áreas associadas às prioridades da política nacional de desenvolvimento produtivo (Tecnologias da Informação e Comunicação, Biotecnologia, Saúde, Defesa Nacional e Segurança Pública, Energia e Desenvolvimento Social) e estar relacionadas aos temas definidos no edital. Conseguir a aprovação no mais nobre e visado instrumento de incentivo à inovação também exige dos interessados provar que uma ideia, além de boa e original, terá impactos sociais e comerciais que façam valer o investimento. Nesse aspecto, mostrar que o dinheiro aplicado na empresa vai gerar retorno ao governo faz a diferença. Só proponha algo que se justifique pelo retorno, em impostos, do valor que você está pedindo para o projeto, indica Antônio Roberto Lins de Macedo, diretor-executivo da Armtec Tecnologia em Robótica, empresa cearense que teve projetos aprovados em duas das três seleções para subvenção econômica da Finep e mais uma no programa Pappe Subvenção. No projeto mais recente, aprovado no edital de 2008, a equipe de P&D da empresa propôs o desenvolvimento do Equipamento Unificado para
Execução de Compósitos e/ou Polímeros para substituição de Aços (Eureca), que atenuará o problema de corrosão na indústria de petróleo e gás. Segundo afirma Macedo, o equipamento ainda vai proporcionar um controle maior da flutuabilidade que ocorre no mercado de minério para a forja de três tipos de aço, garantindo a competitividade do País. Nos próximos 36 meses a empresa utilizará o aporte de quase 1,6 milhão na contratação de especialistas, material de consumo e serviços. Tecnologia nacional Outra empresa com histórico de aprovações em editais de subvenção é a Cianet Networking, de Florianópolis, que teve projetos aprovados nos editais de 2006 e 2007 da Finep. A empresa acompanhou a chegada da tecnologia da TV Digital no Brasil e conseguiu aprovar o projeto de desenvolvimento do Codificador Escalonável MPEG-4 H.264. O aparelho será utilizado pelas operadoras de TV e fará o tratamento dos vídeos em alta definição, para que eles possam ser transmitidos aos receptores de sinal digital. Os equipamentos usados hoje nas cidades que já têm TV digital são adquiridos no exterior, com um preço mais elevado. A intenção do governo é que o Brasil tenha tecnologia e fabricação para esse tipo de equipamento para justamente maximizar a transmissão do sinal digital, explica o diretor-presidente, Norberto Dias. O diretor também destaca a importância social do projeto de equipamento de multiacesso à banda-larga, a ser usado em projetos de cidades digitais, que podem facilitar o uso da internet. Embora sejam úteis para viabilizar o financiamento da inovação, os recursos de subvenção exigem planejamento de execução em médio prazo e, em alguns casos, até mudanças de planos. Os recursos aprovados em 2006 para o projeto do codificador de sinal digital, por exemplo, só foi repassado à Cianet no fim do ano passado, adiando a execução do projeto. De acordo com Dias, o valor também foi reduzido dos R$ 1,4 milhão orçados para o desenvolvimento do produto para R$ 700 mil, o que exigiu da empresa adequar seus gastos à nova realidade.
Na Armtec, os recursos do edital de 2007 também só chegaram quase um ano depois da seleção e, por isso, o cronograma de execução ainda está na fase de preparação de processo. Em razão da margem de tempo atípica, o diretor-executivo da empresa sugere que um projeto de inovação financiado com recursos da Finep precisa ser atraente mesmo cinco anos após sua formulação, uma vez que só o processo burocrático de seleção, contratação e transferência de recursos leva, em média, 18 meses que se somam aos 36 meses necessários para o desenvolvimento do produto ou processo. Para Macedo, há outra preocupação da equipe que formula o projeto: certificar-se de quanto a empresa deverá faturar nos anos seguintes, já que a Finep exige uma contrapartida das empresas, cujo valor varia de 5% (para microempresas) a 200% (para grandes empresas) do valor solicitado. Tudo isso sem falar na prestação de contas que as empresas que recebem recursos de subvenção precisam fazer, periodicamente. Os recursos nãoreembolsáveis são os mais amarrados e os mais certinhos que existem, comenta o diretor da Armtec. Por isso, não estranhe se ouvir a expressão dinheiro amarrado também como sinônimo de subvenção econômica nas conversas informais entre empresários. DICAS Proponha um projeto que sua empresa já tenha histórico de vendas; Crie uma rede de parceiros de P&D, formada de fornecedores e universidades; Conheça bem as políticas públicas de desenvolvimento produtivo; Formalize os processos de inovação de sua empresa e participe do Prêmio Finep. A experiência pode ajudar a acertar até 40% do edital de subvenção; A apresentação de um projeto deve ser um misto de tese de doutorado com pedido de crédito. Uma boa idéia que não é clara e argumentada compromete a aprovação. Fonte: Antônio de Macedo Contatos: Antônio de Macedo (Armtec): (85) 3477-3321 Norberto Dias (Cianet): (48) 2106-0101 Joel Weisz (Protec): (21) 2294-9008