O USO DO COMPUTADOR COMO MEIO DE FACILITAÇÃO DO ACESSO AO CONTEÚDO PARA CRIANÇA COM PARALISIA CEREBRAL: UM ESTUDO DE CASO Karine Antunes do Prado Ariane Lopes de Araújo Aila Narene Dahwache Criado Rocha UNESP/Marília FUNDAP Eixo Temático: Comunicação Alternativa Paralisia Cerebral. Acessibilidade. Comunicação Alternativa. Tecnologia Assistiva. 1. INTRODUÇÃO A Paralisia Cerebral (PC) é definida por um conjunto de distúrbios cerebrais de caráter estacionário devido a uma lesão ou anomalias. Podem ser ocasionadas no período gestacional ou durante o início da vida, prejudicando a funcionalidade física, as atividades de autocuidado, o relacionamento social, intelecto e a comunicação (ROTTA,2000). As crianças com PC apresentam dificuldades para se expressar pela linguagem oral e escrita, devido aos seus comprometimentos motores. (OLIVEIRA; GAROTTI; SÁ, 2008). Aproximadamente 75% dos casos de PC apresentam restrição intelectual em graus diversificados e grande parte dos que possuem inteligência normal, encontram obstáculos na vida acadêmica. Suas dificuldades de fala e escrita irão dificultar sua inclusão na escola, já que os professores esperam dos alunos respostas verbais e escritas (ROTTA, 2000). A presença dos profissionais da saúde na questão educacional, torna-se indispensável, atuando como mediadores entre a família, a clínica e outras instituições, para colaborar com a inclusão escolar desses alunos (OLIVEIRA, GAROTTI, SÁ, 2008). A Tecnologia Assistiva vem sendo incorporada em nossa sociedade, caracterizando-se de forma indispensável na inclusão e integração de pessoas com algum tipo de deficiência. Destaca-se a importância do uso da comunicação suplementar e alternativa, e de recursos que
possibilitem a acessibilidade ao computador para pessoas com dificuldades de comunicação (oral e escrita), de funcionalidade e de locomoção (BERSCH, 2008). Para Bersch (2008), a comunicação suplementar e alternativa é destinada a atender pessoas com complexas dificuldades de comunicação. Recursos como as pranchas de comunicação, construídas com símbolos gráficos (BLISS, PCS e outros), letras ou palavras escritas, ou ainda recursos de alta tecnologia, como computadores com softwares específicos e vocalizadores, são utilizados pelo usuário da CSA para expressar suas questões, desejos, sentimentos e entendimentos. Os recursos de acessibilidade ao computador são definidos como um conjunto de hardware e software especialmente idealizado para tornar o computador acessível, no sentido de que possa ser utilizado por pessoas com privações sensoriais e motoras. Como exemplo, temos os teclados modificados, teclados virtuais com varredura, mouses especiais, acionadores diversos, softwares de reconhecimento de voz, ponteiras de cabeça, entre outros. Segundo Massaro (2012) a contação de histórias é um precioso auxílio à prática pedagógica de professores na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Instiga à imaginação, criatividade, oralidade, incentiva o gosto pela leitura, contribui na formação da personalidade da criança envolvendo o social e o afetivo. Partindo desse referencial teórico, determinamos como objetivo do presente estudo construir uma história infantil utilizando os recursos do computador a fim de estimular os aspetos motores, sensoriais, perceptivos, cognitivos e a linguagem de uma criança com paralisia cerebral. 2. METODOLOGIA Participou do estudo um indivíduo do gênero masculino, com cinco anos de idade e diagnóstico médico de paralisia cerebral do tipo quadriparesia espástica. A coleta de dados foi realizada em 2013 em um centro especializado de atendimentos a crianças, jovens e adultos com deficiências de uma universidade pública, localizada no interior do estado de São Paulo. As informações do paciente foram obtidas consultando o prontuário disponível na unidade de atendimento terapêutico. Para a confecção do recurso foram utilizados um computador com o software PowerPoint 2013 instalado e um microfone conectado a ele para gravação de áudio. Foram
utilizados também teclado e mouse adaptados e o acionador a fim de permitir o acesso da criança ao computador. No presente estudo, para viabilizar os objetivos almejados diante do método, foi elaborado um protocolo de análise da atividade para ser utilizado como forma de registro e as informações coletadas no prontuário do paciente foram registradas em um tablet. As atividades pertencentes à coleta de dados desta pesquisa foram divididas em quatro momentos: 1- Observação da criança durante as terapias no setor de Terapia Ocupacional, Fisioterapia e Fonoaudiologia. Foram realizadas cinco observações clinicas do paciente em cada área de atendimento; 2- Estudo dos dados do prontuário, com o objetivo de complementar a identificação das características motoras, comunicativas, cognitivas e sensoriais; 3- Elaboração de um Protocolo para Análise da Atividade, com base em informações obtidas em seu prontuário e informações das terapeutas que realizavam atendimentos com o paciente em questão; 4- Confecção de uma história infantil utilizando os recursos do computador considerando a tríade: individuo atividade - ambiente, pensando em atender as necessidades do paciente. O computador utilizado continha ferramenta de áudio e o software PowerPoint 2013 instalado. Foi necessário um microfone externo conectado ao computador para a gravação de áudio. O conto infantil foi escolhido considerando dois fatores: a faixa etária do paciente e a utilização do mesmo nas suas atividades terapêuticas. A história Peter Pan foi confeccionada com o software mencionado, contendo gravações de áudio utilizando o microfone, músicas e figuras. Cada slide possui uma parte escrita associada com imagens e no decorrer do mesmo uma gravação de voz vai relatando a história em questão. O paciente apresenta limitação visual (visão subnormal), comprometimento motor considerável com alterações de força, amplitude de movimento e presença de reflexos tônicos primitivos, alterações de linguagem e comunicação como alterações fonológicas, pragmáticas e incoordenação fonoarticulatória. A pesquisa de informações por meio do prontuário da criança e as observações clínicas revelaram suas necessidades, sendo os objetivos do recurso: estimular a fala,
aumentar seu vocabulário, trabalhar conceitos espaciais e temporais (sequência), estimular a visão, audição e trabalhar o aspecto motor. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foi possível perceber que o computador permitiu várias contribuições para o desenvolvimento da atividade. Estímulos visuais contrastantes, estímulos auditivos motivacionais e compensatórios em conjunto com questões lúdicas e o fato da história estar sendo abordada nas terapias, tornaram o recurso mais interessante e próprio para o objetivo terapêutico que era o de estimular o desenvolvimento de diferentes habilidades, como, a comunicação oral. Todo o recurso foi confeccionado pensando em proporcionar contrastes visuais com as letras (brancas) e o fundo do slide (preto), já que o indivíduo possui uma limitação visual, também foi necessário um acionador adaptado para que o paciente conseguisse passar de um slide para o outro, devido ao comprometimento motor considerável do mesmo. Pensou-se em questões de adequação postural, para que o paciente ficasse posicionado da melhor maneira possível. Para a realização da atividade a criança permaneceu sentada em sua cadeira de rodas adaptada. As terapeutas utilizaram uma mesa recortada para apoio do acionador e facilitação da funcionalidade dos membros superiores durante a atividade. Existe uma diversidade de ações e de intervenções terapêuticas para crianças com distúrbios motores, que vão ao encontro do restabelecimento ou favorecimento de seu desempenho e de seu envolvimento em ocupações. No contexto escolar, as intervenções a fim de favorecer o processo de ensino aprendizagem devem envolver recursos para o posicionamento adequado, adaptações das atividades pedagógicas, assim como o uso de softwares e recursos oferecidos pelo computador (ARAÚJO; GALVÃO 2007). Para confecção de um recurso de tecnologia assistiva, devem-se respeitar as características individuais dos pacientes, desenvolvendo seu potencial, sua interação, descoberta e compreensão do mundo. (REGANHAN; MANZINI, 2009). Deve-se ter cuidado com a prescrição de recursos de tecnologia assistiva para indivíduos com paralisia cerebral, visto que os mesmo podem ser ineficazes, considerando que essa clientela apresenta comprometimentos motores e/ou sensoriais e déficits na área cognitiva, inviabilizando tais recursos. Mas, por outro lado, crianças com PC possuem um
grande potencial cognitivo que pode ser acelerado sob condições apropriadas de ensino (OLIVEIRA, GAROTTI, SÁ, 2008). 4. CONCLUSÃO Com este estudo foi possível observar que o recurso confeccionado foi capaz de estimular os aspectos motores, sensoriais, perceptivos, cognitivos e a linguagem da criança com Paralisia Cerebral. Esta melhora pode ser observada por meio da participação da criança na atividade de forma autônoma, selecionando e manuseando a história no computador a partir de seu próprio desejo e iniciativa. Sugere-se que o recurso seja utilizado no contexto escolar, em diferentes atividades a fim de facilitar o desenvolvimento de habilidades para o acesso ao conteúdo escolar. Os profissionais e familiares inseridos no convívio da criança com deficiência devem também investir no uso da tecnologia como forma de acessibilidade e inclusão. REFERÊNCIAS ARAÚJO, A. E.; GALVÃO, C. Desordens neuromotoras. In: CAVALCANTI, A. GALVÃO, C. Terapia Ocupacional: fundamentação & prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. BERSCH I. R. Introdução à tecnologia assistiva, Centro Especializado em Desenvolvimento Infantil. (CEDI), Porto Alegre RS, 2008. MASSARO, M. Música por meio de sistemas de comunicação alternativa: inserção do aluno com deficiência na atividade pedagógica. (Dissertação de Mestrado). 113p. Mestrado em Educação, Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília, 2012. OLIVEIRA, A.I.A; GAROTTI, M.F; SÁ, N.M.C.M. Tecnologia de ensino e tecnologia assistiva no ensino de crianças com paralisia cerebral. Revista Ciências & Cognição, V. 13, n.3, p. 243-262, 2008. REGANHAN, W. G.; MANZINI, E. J. Percepção de professores do ensino regular sobre recursos e estratégias para o ensino de alunos com deficiência. Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 22, n. 34, p. 127-138, 2009. ROTTA N.T. Paralisia cerebral. In: MELO S. D.E, editor. Tratamento das doenças neurológicas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p.750-2