ASSEMBLEIA PARLAMENTAR EURO-LATINO-AMERICANA Euro-Latin American Parliamentarym Assembly ASSEMBLEIA PARLAMENTAR EURO-LATINO-AMERICANA ASSEMBLÉE PARLEMENTAIRE EURO-LATINO- AMÉRICAINE PARLAMENTARISCHE VERSAMMLUNG EUROPA-LATEINAMERIKA Comissão dos Assuntos Económicos, Financeiros e Comerciais 16.10.2014 DOCUMENTO DE TRABALHO O impacto das negociações da futura Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (CI) e da Parceria Transpacífico (TPP) nas políticas comerciais da UE e da América Latina e das Caraíbas (ALC) Correlator ALC: Luis Fernando Duque García (Parlandino) DT\1037501.doc AP101.714v01-00 Unida na diversidade
As negociações de zonas de comércio livre Transatlântico e Transpacífico: O impacto no comércio entre a União Europeia e a América Latina Contexto geral A globalização ensinou-nos que os seus benefícios só são válidos se a integração for aceite, se o sistema de comércio mundial for preservado e fortalecido e se forem seguidas políticas económicas adequadas e flexíveis. Luis Alberto Moreno, Presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Na sequência do fracasso do projeto de "Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA)" e da suspensão das negociações da "Ronda de Doa" no quadro da Organização Mundial do Comércio (OMC), os EUA começaram a negociar acordos bilaterais de comércio livre com vários países da América Latina, colocaram na agenda um acordo com a União Europeia (UE) e, simultaneamente, aceleraram as conversações para negociar a sua entrada na Parceria Transpacífico (TPP de acordo com a sigla em inglês). Nesse mesmo sentido, houve uma série de fatores que levaram à perda de protagonismo dos EUA, como ator determinante no comércio internacional: a crise financeira de 2008, a perda de poder na América Latina enquanto a China e a UE começaram a ocupar o seu lugar, o terramoto do Japão e a sua consequente estagnação económica, o rápido crescimento da China no início do novo milénio, entre outros. Neste contexto, é pertinente refletir sobre as mudanças que o outrora principal protagonista do comércio internacional e maior importador de produtos latino-americanos começou a pôr em prática para recuperar a sua posição a nível mundial. Consequentemente, os EUA e o seu novo enfoque no comércio poderiam vir a influenciar a região latino-americana e das caraíbas com as duas novas alianças globais que se encontram em preparação: a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (CI) e a Aliança Transpacífico (TPP). Em princípio, é fundamental considerar que quer a CI quer a TPP não têm como objetivo o crescimento do comércio através da eliminação ou da redução das obrigações aduaneiras. O comércio entre as nações envolvidas nestes acordos apresenta atualmente um nível muito baixo de obrigações aduaneiras. Portanto, a sua principal finalidade é reduzir ao máximo as regulamentações que limitem os benefícios das grandes empresas multinacionais. A Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (CI) e o seu impacto América Latina e nas Caraíbas (ALC) na A CI foi divulgada nos EUA, em 12 de fevereiro de 2013, quando o atual Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no tradicional discurso do Estado da União, informou ao país que durante esse ano começariam as negociações com a UE para formar um "acordo comercial sem precedentes", dada a sua complexidade económica, demográfica e jurídica. Trata-se de um acordo que criará um mercado de aproximadamente oitocentos milhões de pessoas com elevado poder de compra e com quase metade da riqueza mundial. Os seus defensores insistem que este acordo é necessário para o crescimento económico das partes e AP101.714v01-00 2/5 DT\1037501.doc
para a criação de emprego estável e qualificado. Contudo, um ano e meio depois desta intervenção do Presidente, o grupo de negociadores da UE e dos EUA ainda não informou a opinião pública sobre os avanços efetuados e existe uma grande preocupação com o secretismo em que decorrem estas rondas, tendo sido inclusivamente dito que algumas partes do acordo não serão tornadas públicas até que a totalidade dos temas tenha sido aprovada e ratificada. Neste âmbito, várias personalidades ilustres discordaram desta situação como, por exemplo, o Prémio Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, que afirmou não compreender a razão de tanto secretismo, salvo se o que estivesse a ser preparado fosse "realmente mau para o público". 1 As críticas têm sido numerosas. Os seus opositores consideram que tanto o crescimento económico como a criação de emprego qualificado seriam conseguidos à custa do aumento do poder de algumas grandes empresas. Além disso, seria prejudicial para as políticas laborais europeias, já que poderia desregulamentar o mercado laboral e baixar os níveis de proteção social, dadas as graves falhas que os EUA apresentam nesta matéria. No que respeita ao meio ambiente, as preocupações são ainda maiores tanto na Europa como na América Latina, já que face a um acordo desta natureza os governos e as suas legislações correm o risco de perder a capacidade de legislar em prol da proteção ambiental e dos seus recursos, atendendo ao forte poder e à capacidade de ingerência que as empresas multinacionais podem vir a adquirir. De igual modo, no que respeita ao acesso a medicamentos, a CI ameaça princípios importantes e a proteção que existem em matéria de saúde pública, desde o acesso a medicamentos essenciais e aos serviços de saúde, até ao controlo e à regulamentação do setor alimentar e dos produtos de saúde. Como refere o «El Diario de España», "não se podem ignorar as enormes consequências de uma convergência em matéria regulamentar: enquanto na UE impera o princípio da precaução face a novos produtos, nos EUA prevalece o principio do comércio livre até que seja demonstrado cientificamente o seu caráter prejudicial. A diferença é substancial.". (http://www.eldiario.es/, 2014) Por outro lado, o mecanismo de resolução de litígios entre um investidor privado e o Estado permitirá aos investidores ficarem à margem da justiça, apresentando as suas queixas diretamente nos "tribunais arbitrais internacionais", os quais são compostos, na sua maioria, por advogados das mesmas empresas. Neste quadro, devemos ter em conta os recentes litígios na América Latina, onde foram indemnizadas empresas multinacionais devido à perda de ações judiciais em tribunais internacionais. Os mais recentes casos ocorreram no Uruguai e no Equador com a Philip Morris e com a Occidental Petroleum Company, respetivamente. O Uruguai teve de indemnizar a Philip Morris quando aprovou uma legislação antitabaco mais restritiva. No segundo caso, a empresa petrolífera norte-americana Occidental recebeu 1 770 milhões de 1 «Stiglitz warns against joining TPPA», texto retirado de http://www.twnside.org.sg/, em 6 de outubro de 2014. DT\1037501.doc 3/5 AP101.714v01-00
dólares quando o Equador pôs termo a um contrato por incumprimento do mesmo. Nestes casos, pode ver-se o modo como um acordo pode afetar o futuro democrático, económico, ambiental e social de um Estado de Direito. A Aliança Transpacífico (TPP) e a sua relação com o comércio na América Latina A Parceria Transpacífico (TPP) é a proposta de alargamento da Parceria P4, um tratado multilateral de comércio livre entre os países da região da Ásia-Pacífico, originariamente assinado pelo Brunei, pelo Chile, pela Nova Zelândia e por Singapura, estando em vigor desde 2006. A TPP, também conhecida como Acordo de Parceria Económica Estratégica Transpacífico, é um acordo multilateral de comércio livre, visando reduzir as barreiras aduaneiras e não aduaneiras, impulsionando o comércio e o investimento. Atualmente, existem vários países com interesse em fazer parte deste acordo de comércio livre, incluindo os EUA. As negociações para alargar a TPP tiveram início em março de 2010 e houve sete rondas de negociação. A Austrália, o Perú, o Vietname e a Malásia, todos membros da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC), foram também incluídos neste processo. Uma das particularidades deste acordo consiste no facto de poder vir a tornar-se no primeiro tratado de comércio livre "tri-regional". A TPP não visa criar uma parceria estratégica meramente comercial, pretendendo também incluir a cooperação, serviços financeiros, o intercâmbio científico e tecnológico, entre outros. Do mesmo modo, tem como objetivo, para 2020, estabelecer o comércio livre de bens, de serviços e de investimentos a nível da APEC. A este respeito, a TPP considera ser necessário promover a adesão de outras economias que não estejam necessariamente associadas à APEC, de modo a poderem aderir à TPP. Este tratado é considerado um dos mais modernos da atualidade, porque não só visa a eliminação das barreiras aduaneiras, como também tem uma abordagem regional para promover o desenvolvimento das cadeias de produção. De igual modo, aborda as preocupações das novas indústrias, como as tecnologias ecológicas, a nanotecnologia e a economia digital. Dado o interesse de vários países da região latino-americana em fazerem parte da TPP, é importante analisar as oportunidades e os riscos que este grupo apresenta. Segundo esta ordem de ideias, pode dizer-se que o peso da TPP para o comércio regional ainda tem um elevado grau de incerteza, atendendo a que as exportações na maioria dos países com costa no Oceano Pacífico estão orientadas para o mercado norte-americano e têm um volume relativamente baixo para a Ásia. Por essa razão, uma avaliação completa dependeria necessariamente de quantos e de quais os países latino-americanos que estariam interessados em fazer parte das negociações. Adicionalmente, também deveriam avaliar-se que outros países asiáticos vão integrar o tratado e, finalmente, em que medida é que a "nova TPP" implicará uma renegociação dos atuais compromissos em áreas sensíveis de política pública como a propriedade intelectual, os investimentos e as normas laborais e ambientais. AP101.714v01-00 4/5 DT\1037501.doc
Finalmente, é preciso que a América Latina aumente as relações comerciais, diplomáticas e de cooperação com a Ásia, dado o seu importante papel nas alterações globais na produção, no comércio, no investimento e nas finanças mundiais. Nesse sentido, exige-se uma maior consolidação de um quadro firme para a cooperação económica. Conclusões A Ásia-Pacífico é atualmente a peça mais importante do crescimento económico mundial, já que representa quase metade de todo o comércio internacional, tornando-a estrategicamente importante tanto para a UE como para os países da ALC. Por conseguinte, é vital a integração comercial e estratégica em matéria de cooperação, para diminuir as vulnerabilidades que apresenta a globalização do "final do século XX", liderada pelos EUA e pela UE. Para o aparelho exportador não-tradicional na América Latina, a TPP poderia beneficiar consideravelmente as empresas latino-americanas, dada a sua possibilidade de virem a integrar as cadeias mundiais de produção de valor. Finalmente, a ALC pode apresentar-se como uma ponte entre a Ásia, os EUA e a UE, quando estas regiões conseguirem aprofundar os seus laços económicos através da CI e da TPP. DT\1037501.doc 5/5 AP101.714v01-00