DOCUMENTO DE TRABALHO
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1 ASAMBLEA PARLAMENTARIA EURO-LATINOAMERICANA EURO-LATIN AMERICAN PARLIAMENTARY ASSEMBLY ASSEMBLEIA PARLAMENTAR EURO-LATINO-AMERICANA ASSEMBLÉE PARLEMENTAIRE EURO-LATINO- AMÉRICAINE PARLAMENTARISCHE VERSAMMLUNG EUROPA-LATEINAMERIKA Comissão dos Assuntos Políticos, da Segurança e dos Direitos Humanos DOCUMENTO DE TRABALHO sobre o tráfico de armas ligeiras e de pequeno calibre Comissão dos Assuntos Políticos, da Segurança e dos Direitos Humanos Relatora: Gabriela Cuevas (CPM UE-México) DT\0268.doc AP02.28v02-00
2 . Introdução A proliferação, a utilização e o tráfico ilícito de armas ligeiras e de pequeno calibre (ALPC) representam um risco grave para a comunidade internacional. Trata-se de um problema que viola os direitos humanos (90 % das vítimas de conflitos internos aos Estados eram civis ) e aumenta os níveis de violência, tanto a nível nacional e internacional como nos núcleos sociais de menor dimensão, como, por exemplo, a família, a escola, etc 2. Nos últimos anos do século XX e nos primeiros do século XXI, a situação apresentou-se da seguinte forma: cerca de 90 % dos conflitos armados não ocorreram entre Estados mas sim no seu interior (conflitos internos), nomeadamente insurreições, domínio dos senhores da guerra, fundamentalismos religiosos, terrorismo, conflitos étnicos ou de classe e guerras civis. Neste contexto, a maioria dos esforços de desarmamento não incidiu no controlo das armas ligeiras e de pequeno calibre, das munições e dos explosivos, que são as armas mais usadas nos conflitos internos, mas sim no desarmamento e na não-proliferação de armas de destruição maciça. Para efeitos de avaliação do problema, o volume médio anual de comércio de armas, nos últimos 0 anos, estima-se em milhões de dólares, incluindo o material de defesa, equipamento destinado às forças da ordem e algumas armas de desporto 3. A maior parte deste comércio - cerca de 70 % - tem origem nos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU: Estados Unidos, China, França, Reino Unido e Rússia. Entre os 0 principais fabricantes estão também a Alemanha, a Espanha e a Itália 4. Embora a maioria das transações comerciais de armas sejam realizadas por entidades comerciais, a principal responsabilidade deste comércio reside nos governos, que se escondem atrás da sua soberania e do direito à legítima defesa para a compra ou venda de armas. Em resumo, há três fatores principais que dificultam o andamento dos processos legais em matéria de controlo do comércio de armas: resistência cultural à mudança de paradigma, rejeição por parte dos intervenientes envolvidos (de ambas as partes, tanto dos interesses económicos como dos utilizadores) e resistência por parte dos órgãos de controlo existentes. Tomar medidas para fazer face ao problema, obriga também a lidar com essas resistências. 2. Tráfico de armas e criminalidade organizada Um dos principais riscos associados à proliferação, uso e tráfico ilícitos de armas de pequeno calibre é a possibilidade de as armas de pequeno calibre chegarem às mãos dos grupos de criminalidade organizada. Existe uma correlação muito forte entre o comércio ilícito de armas ligeiras e de pequeno calibre e a criminalidade organizada. O processo de aquisição e transferência possui diversas facetas, mas geralmente tem origem numa compra legal. Posteriormente, as armas passam para o domínio do tráfico ilícito para serem adquiridas pelos utilizadores finais, que as usam à margem da lei e em estreita relação com a prática de outros crimes, como o tráfico de droga e de seres humanos e o terrorismo, «No início do século XX, 85 % a 90 % das vítimas eram militares; no final dos anos 90, quase 80 % das vítimas de guerra eram civis.» Tomba, Gustavo Bastién, «Las acciones de México contra el tráfico ilícito de armas pequeñas y ligeras en la ONU», em 3 Amnistia Internacional, «Comercio de Armas». Disponível em: 4 Ibid. AP02.28v /5 DT\0268.doc
3 entre outros. No que diz respeito à cadeia complexa de mercado ilegal de drogas, as armas ligeiras e de pequeno calibre tendem a ser usadas sobretudo nas fases de transporte e comercialização dessas substâncias. Em conjunto, armas e drogas representam a maior fatia do mercado de ilícitos no mundo. 3. Dimensão do problema Estima-se que haja aproximadamente 875 milhões de armas em circulação em todo o mundo. A despesa mundial estimada em defesa é de,66 biliões de euros 2. São produzidas anualmente no mundo 2 mil milhões de balas. Cerca de 60 % das violações dos direitos humanos documentadas pela Amnistia Internacional envolvem o uso de ALPC. A violência armada mata anualmente cerca de 508 mil pessoas, a maioria das quais fora do contexto de conflitos armados. Ocorrem diariamente 500 mortes em ações violentas cometidas com armas ligeiras e de pequeno calibre. As armas permitem a repressão e o uso excessivo da força por parte das forças da ordem. Em pelo menos 7 países, são usados menores como soldados das forças armadas e dos grupos violentos fora da lei. O comércio anual autorizado de ALPC ultrapassa os 8500 milhões de dólares. Mais de mil empresas de cerca de 00 países fabricam armas ligeiras e de pequeno calibre. A despesa militar total global aumentou de,4 biliões de dólares em 200 para,7 biliões em 204, o que representa um aumento de 50 %. Estima-se que cerca de 74 % dessas armas ligeiras e de pequeno calibre estejam nas mãos de civis, enquanto apenas 23 % estejam nas mãos das forças armadas governamentais e 3 % nas mãos da polícia. São fabricados todos os anos aproximadamente 8 milhões de novas armas de fogo, e tem também lugar um movimento significativo de armas usadas, que passam de proprietário para proprietário e que podem permanecer décadas no mercado. Alertaamerica.org e Observatório de Segurança Hemisférica da OEA e Amnistia Internacional 2 SIPRI, Inofmre 204 DT\0268.doc 3/5 AP02.28v02-00
4 Em relação à região, estima-se que, por ano, cerca de 700 mil armas sejam levadas ilegalmente dos EUA para o México e as Caraíbas, das quais 300 mil seguem caminho para a América Central. A região da América Latina e das Caraíbas somou, em 200, mais de 0 83 armas de fogo na posse de civis e legalmente registadas pelo Estado, de acordo com o Observatório de Segurança Hemisférica da OEA. 4. O Tratado sobre o Comércio de Armas Perante este cenário, é imperativo insistir na negociação de instrumentos juridicamente vinculativos destinados a limitar o fabrico e o comércio de armas ligeiras e de pequeno calibre. É imperativo desenvolver esforços globais com vista à limitação de armas e lançar ações concretas destinadas a fomentar parcerias importantes entre a União Europeia e a América Latina. Embora seja importante desenvolver intervenções e declarações, é essencial aprofundar os quadros operacionais regionais. Em 2 de abril de 203, mais de 90 países apoiaram a resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas de adoção do Tratado sobre o Comércio de Armas (TCA). A resolução foi aprovada por uma maioria esmagadora. O Tratado estabelece novos padrões e rigorosos sistemas de controlo a enquadrar no direito internacional com vista a regulamentar o comércio de armas que, ao longo de décadas, cresceu em função da falta de controlo sobre a matéria. Assim, a importância do Tratado consiste na sua capacidade de transformar o comércio internacional de armas: contribuirá para revelar quem são os utilizadores finais e deixará de ser aceitável que qualquer país da comunidade internacional desvie o olhar enquanto as armas acabam nas mãos de regimes que as utilizam para prejudicar pessoas inocentes e violar os direitos humanos. O Tratado sobre o Comércio de Armas entrou em vigor em 24 de dezembro de 204, quando foi ratificado por 50 Estados, que o incorporaram na respetiva legislação nacional. Até à data, a Bolívia, o Brasil, o Chile, a Colômbia, Cuba, o Equador, a Guatemala, as Honduras e a Nicarágua não ratificaram o Tratado. Na Europa, a Comissão adotou, em 3 de março de 204, uma resolução para que todos os Estados europeus ratifiquem o Tratado Medidas e recomendações Em conclusão, apresentamos algumas recomendações e propostas de medidas para os membros da Associação Birregional: Amnistia Internacional 2 Países que assinaram e/ou ratificaram o TCA, Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos de Desarmamento, disponível em: AP02.28v /5 DT\0268.doc
5 É necessário criar canais de cooperação multilateral, a fim de facilitar a infraestrutura jurídica e institucional interna dos países, uma vez que o problema é de âmbito e dimensões transnacionais. As recomendações e resoluções da ONU visam, em parte, a educação para o desarmamento, pelo que os governos devem tomar medidas com vista a criar uma maior sensibilização do público para os perigos da proliferação de armas ligeiras e de pequeno calibre. Destaca-se igualmente a promoção de medidas como, por exemplo, a segurança e destruição de armas, a gestão das existências, o desarmamento, a desmobilização e reinserção dos ex-combatentes, a capacitação, a mobilização de recursos, a criação de instituições, a marcação e rastreio, o controlo das importações e exportações, a intermediação ilícita. É urgente regulamentar a posse civil de armas ligeiras e de pequeno calibre. Assim, há que lançar um instrumento que obrigue os fabricantes e exportadores a regras precisas que impeçam a transferência de armas ligeiras e de pequeno calibre para o comércio ilegal ou as mãos de intervenientes não estatais, incluindo grupos terroristas e criminosos. Deve prevalecer um intercâmbio parlamentar que funcione como plataforma de debate entre os membros dos parlamentos e congressos e os representantes das autoridades regionais na União Europeia e na América Latina acerca de instrumentos nacionais e internacionais sobre armas de fogo, bem como de promoção de projetos centrados no reforço das organizações da sociedade civil que trabalham nos domínios da paz, do desarmamento e do desenvolvimento. Embora o Tratado sobre o Comércio de Armas constitua uma melhoria na conceptualização do controlo de armas ligeiras, não foram consolidadas disposições nas organizações internacionais, como a ONU e a OEA, de controlo das etapas que devem ser abrangidas pelos mecanismos de controlo de armas. Isto é, não existe nenhum controlo nos processos de desenvolvimento de armas: investigação, produção e comercialização. Neste ponto, cabe refletir sobre a responsabilidade dos países da Associação Birregional UE-ALC com vista à sua aplicação, bem como os passos a dar subsequentemente. Em suma, para entender na sua totalidade a natureza do problema e os custos em termos humanos e económicos que a proliferação e a fácil disponibilidade de armas impõem, é fundamental que trabalhemos em conjunto para a construção de uma sociedade com menos violência, menos armas e melhores possibilidades de iniciar um caminho de crescimento e desenvolvimento. DT\0268.doc 5/5 AP02.28v02-00
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