DOCUMENTO DE TRABALHO

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1 ASAMBLEA PARLAMENTARIA EURO-LATINOAMERICANA EURO-LATIN AMERICAN PARLIAMENTARY ASSEMBLY ASSEMBLEIA PARLAMENTAR EURO-LATINO-AMERICANA ASSEMBLÉE PARLEMENTAIRE EURO-LATINO- AMÉRICAINE PARLAMENTARISCHE VERSAMMLUNG EUROPA-LATEINAMERIKA Comissão dos Assuntos Políticos, da Segurança e dos Direitos Humanos DOCUMENTO DE TRABALHO sobre justiça e luta contra a impunidade Comissão dos Assuntos Políticos, da Segurança e dos Direitos Humanos Correlator ALC: Víctor Rolando Sousa (Parlamento Andino, Peru) DT\ docx AP v01-00

2 I. Apresentação A debilidade dos sistemas judiciais e a impunidade prejudicam a legitimidade do Estado e a sua segurança a todos os níveis. Esta impunidade torna-se evidente, de forma geral, quando se regista uma ausência de resposta por parte das instituições ou dos agentes do Estado que processam, julgam e condenam as condutas criminosas, configurando o denominado Estado ausente, que realiza a institucionalização da injustiça por aqueles que são chamados a fazer justiça 1. A luta contra a impunidade e o reforço dos sistemas judiciais são prioridades no que se refere a fazer progredir a consolidação de democracias de qualidade que garantam a proteção dos direitos humanos, lutem contra a violência e erradiquem a corrupção. Por conseguinte, é urgente avançar com reformas legislativas e institucionais que configurem sistemas de justiça eficazes, transparentes e eficientes, os quais reconheçam e apliquem os princípios e normas internacionais, atuando de forma articulada e coordenada a favor da consolidação de Estados democráticos, legítimos e efetivos, salvaguardando o Estado de Direito e a proteção dos direitos humanos. Neste contexto, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou em 2015 a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que estabelece dezassete objetivos destinados a erradicar a pobreza, enquanto grande obstáculo ao desenvolvimento nos domínios social, económico e ambiental. Entre estes objetivos, o número 16 incide no tema «Paz, justiça e instituições eficazes», tendo em conta a transversalidade destes aspetos para a consecução dos 16 objetivos restantes. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para atingir este objetivo, é necessário promover o livre exercício dos direitos humanos acompanhado de um Estado de direito que permita uma boa governação promotora da paz e do bem-estar para os cidadãos 2, a nível nacional e internacional que afetem as crianças, os adolescentes, as mulheres e os homens, ou seja, todos os membros das sociedades. Desta forma, o objetivo 16 visa reforçar as instituições, a fim de promover sistemas judiciais ótimos que resolvam casos relacionados com a violência, a corrupção e a falta de governação. As políticas e iniciativas para consolidar os sistemas judiciais e lutar contra a impunidade devem estar alinhadas com as metas do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 16. Nessa medida, a melhoria da justiça contribuirá para o desenvolvimento sustentável, bem como para a criação de condições que permitam a consolidação de comunidades pacíficas. Considerando que a Agenda 2030 não determina a forma como os países devem trabalhar para atingir os ODS, a sua execução exige ter em conta as realidades nacionais, as suas capacidades e níveis de desenvolvimento, tirando partido dos mecanismos de cooperação e coordenação com o sistema internacional. Por esta razão, a Associação Estratégica Birregional constitui uma oportunidade de conjugar esforços para cooperar no âmbito da 1 Álvarez, Javier. (2014). «Impunidad, sistema de Justicia, estado de Derecho y democracia. Es peor la impunidad que el crimen en sí mismo?» (Impunidade, sistema de justiça, Estado de direito e democracia. A impunidade é pior do que o crime em si mesmo?) Citado a partir de: ( ). 2 PNUD. (2017). «Objetivo 16: Paz, justicia e instituciones sólidas» (Objetivo 16: Paz, justiça e instituições eficazes). Citado a partir de: ( ). AP v /5 DT\ docx

3 realização do ODS 16, em particular, no que se refere ao reforço dos sistemas judiciais e à luta contra a impunidade. II. Caso Latino-Americano Em 2016, o World Justice Project, organização que visa promover o Estado de Direito a nível mundial, publicou os resultados do Índice do Estado de Direito. Este índice analisa cento e treze países através de cem mil inquéritos, os quais avaliam quarenta e quatro indicadores distribuídos por oito fatores essenciais 1. No que diz respeito à região da América Latina, o Uruguai é o país mais bem classificado, seguido pela Costa Rica e em terceiro lugar pelo Chile. Os países da região com as piores classificações são Salvador e a Venezuela, país este que se encontra no último lugar da tabela. De acordo com o Índice de Perceção da Corrupção de , elaborado pela organização Transparência Internacional, a região apresenta uma média baixa. Em relação a determinados países latino-americanos, o Uruguai é o menos corrupto com 74 pontos, seguido pelo Chile com 70 pontos, Costa Rica com 55 pontos, Brasil com 38 pontos, Colômbia com 37, Peru com 36, Bolívia com 34, entre outros 3. Ou seja, a região apresenta índices elevados de corrupção, pelo que existe uma relação direta com a ineficácia no acesso à justiça. A Universidade das Américas Puebla no México, com o apoio do Centro de Estudos sobre Impunidade e Justiça, publicou o Índice Global de Impunidade 2015, que faz referência a países da América Latina e das Caraíbas 4. Em terceiro lugar, situa-se a Colômbia, a seguir o México e as Filipinas, com 75,7 % de impunidade. Depois, surge a Nicarágua na sexta posição com 65,9 %, as Honduras e Salvador com 64,1 %, a Argentina com 58,8 %, o Chile na posição catorze com 57,4 %, o Paraguai com 50 %, e a Costa Rica, onde se regista o menor nível de impunidade, na 28.ª posição, com 48,7 %. Destes elementos, pode salientar-se as elevadas percentagens verificadas nos países da região em comparação com os resultados dos países europeus que se encontram abaixo de 50 %. Em 2011, o Departamento de Estado dos Estados Unidos revelou um relatório sobre a impunidade, a corrupção e o sistema judicial ineficaz na maior parte da América Latina 5. Deste documento pode concluir-se que o maior obstáculo com que deparam os Estados é um sistema judicial permeável face ao flagelo da corrupção. Atualmente, estão envolvidos doze países da região no escândalo de corrupção das empresas brasileiras Odebrecht e OAS, no âmbito da operação «Lava Jato» (a maior investigação de corrupção da história desse país) desde o início de O Departamento de Justiça dos 1 Oito fatores: Ausência de Corrupção, Governo Aberto, Limites aos Poderes do Governo, Direitos Fundamentais, Justiça Civil, Justiça Penal, Ordem e Segurança e Aplicação da Regulamentação; citado a partir de: ( ). 2 O Índice de Perceção de Corrupção avalia numa pontuação de 0 a 100 a perceção dos cidadãos, sendo que 100 corresponde à ausência do problema. 3 Transparency International. (2016). «Índice de Percepción de la Corrupción 2015 de Transparency International» (Índice de Perceção da Corrupção de 2015 da Transparency International). Citado a partir de: ( ). 4 CESIJ. (2015). «Índice Global de Impunidad» (Índice Global de Impunidade). Citado a partir de: ( ). 5 El Colombiano. (2012). «Países andinos sufren graves problemas de impunidad y corrupción» (Países andinos enfrentam graves problemas de impunidade e corrupção). Citado a partir de: ( ). DT\ docx 3/5 AP v01-00

4 Estados Unidos, através do comunicado «Odebrecht Information», informou que vários países da região receberam milhões de dólares em subornos para contratar a empresa Odebrecht 1. Devido à gravidade do fenómeno Odebrecht em termos da corrupção na região, no passado mês de março, realizou-se uma cimeira de procuradores, convocada pelo Procurador Rodrigo Janot do Brasil, com o objetivo de avançar com a investigação e lutar arduamente contra a impunidade. A referida cimeira reuniu dez procuradores com o objetivo de, em conjunto, estabelecer estratégias de cooperação, tanto multilaterais como bilaterais, bem como trocar informações e dados específicos que lhes permitam fazer avançar a judicialização das pessoas envolvidas. Os procuradores dos países em questão solicitaram ao Governo brasileiro que responda urgentemente aos seus pedidos para que possam avançar com os processos e investigações relativos aos respetivos governos 2. Desta forma, o resultado da cimeira - o compromisso de partilhar a informação - foi um primeiro passo inovador e indispensável na região para fazer avançar as diligências judiciais e a luta contra a impunidade. III. Recomendações Tendo em conta a análise precedente, é importante reconhecer o papel dos parlamentos a nível nacional e internacional, no que se refere ao impulso para a execução da Agenda 2030, bem como para o acompanhamento e controlo nacional e multilateral nesta matéria. Por este motivo, propõem-se três linhas de ação transversais: 1. Impulsionar reformas legislativas que permitam a aplicação das disposições objeto de acordo na Agenda 2030, nomeadamente garantir a adoção de mecanismos orientados para a consecução das metas do Objetivo 16 com destaque para o fortalecimento dos sistemas judiciais e a luta contra a impunidade. O desenvolvimento do quadro legislativo deverá orientar-se para a aplicação de mecanismos de «Governo Aberto» que permitam uma verdadeira prestação de contas, a promoção da transparência e o aumento da participação dos cidadãos 3. Desta forma, seriam identificadas as falências e os estrangulamentos em aspetos relacionados com a aplicação da lei e o funcionamento do aparelho judicial. De igual modo, é necessário reforçar o sistema de justiça penal e o sistema prisional. É necessário, por exemplo, que as prisões garantam que o tempo de permanência dos reclusos seja produtivo no sentido de melhorarem as suas capacidades sociais e morais, bem como as suas competências de reinserção na sociedade. Devem receber aulas de desenvolvimento pessoal, de matérias académicas, e ter um bom desempenho como cidadãos. Por outro lado, deve promover-se a eficácia do trabalho policial por meio de mecanismos preventivos que garantam mais resultados e menores custos 4. 1 The United States Department of Justice. (2016). UNITED STATES V. ODEBRECHT S.A., DOCKET NO. 16-CR-643. Information. Office of Public Affairs. Citado a partir de: ( ). 2 Caracol Radio. (2017). «Terminó cumbre de fiscales en caso Odebrecht en Brasil» (Terminou a cimeira de procuradores sobre o caso Odebrecht no Brasil). Citado a partir de: ( ). 3 CEPAL. (2014). «Plan de gobierno abierto, Una hoja de ruta para los gobiernos de la región» (Plano de governo aberto, Um roteiro para os governos da região); citado a partir de: pdf;jsessionid=2b24b68999ee71896f d8bb9cd?sequence=1 ( ). 4 Grupo Banco Mundial. «Fin a la violencia en América Latina» (Fim à violência na América Latina) Pág ( ). AP v /5 DT\ docx

5 2. Promover, no contexto multilateral, a harmonização legislativa destinada a simplificar os procedimentos, reduzindo assim os custos e o tempo e evitando a duplicação de recursos humanos e financeiros. Neste contexto, é fundamental reconhecer a importância de redefinir os mecanismos de assistência judicial mútua em matéria penal, de modo a que os países da Associação Estratégica Birregional se possam unir num esforço para combater a criminalidade, facilitar os processos judiciais com implicações transnacionais e reduzir os riscos de impunidade. Da mesma forma, existe uma boa oportunidade para definir mecanismos de assistência técnica e transferência de tecnologias e boas práticas que permitam reforçar as capacidades dos países da América Latina nestas matérias. 3. Conceber mecanismos para partilhar informações e criar serviços de informação É imperativo conceber mecanismos rápidos e eficientes para a partilha das informações necessárias entre os Estados das duas regiões, com o objetivo de abordar eficazmente os casos de corrupção que incluem elementos transnacionais. Por exemplo, é indispensável disponibilizar informações sobre contas em paraísos fiscais das pessoas envolvidas em situações de peculato ou de apropriação ilegítima de bens públicos. De igual modo, é essencial estimular a criação de serviços de informação para facilitar as investigações criminais e os julgamentos. DT\ docx 5/5 AP v01-00