A SALA DE AULA INVERTIDA E AS MUDANÇAS CURRICULARES EM EAD



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Transcrição:

1 A SALA DE AULA INVERTIDA E AS MUDANÇAS CURRICULARES EM EAD Curitiba PR - 05/2015 Alessandra de Paula - UNINTER - alessandra.p@uninter.com Ivonete Ferreira Haiduke - FACEL ivonetehaiduke@ig.com.br Robson Seleme - UFPR - robsonseleme@ufpr.br Classe: A Setor Educacional: C Área de Pesquisa: I Natureza: A RESUMO Este estudo buscou identificar, junto a alunos de cursos de graduação presenciais e em EaD, as dificuldades para a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso. Fundamentado com uma pesquisa teórica voltada à organização curricular dos cursos tanto presenciais quanto a distância, propõe a sala de aula invertida como alternativa para oportunizar o contato do acadêmico, em um ritmo mais adequado as suas necessidades, com outros e variados assuntos, o que poderia refletir-se, também, em suas escolhas para a pesquisa. Foi realizada uma pesquisa quali-quantitativa, com a participação de 64 acadêmicos de cursos presenciais e 42 acadêmicos de cursos a distância. Observou-se que grande parte dos acadêmicos participantes da pesquisa revelaram dificuldade para escrever, aliada à falta de tempo para realização de leituras pertinentes ao tema. Com relação à escolha do tema, observou-se, também, um dado interessante: os acadêmicos dos cursos presenciais escolhem o tema considerando suas preferências pessoais aliadas ao vínculo que possuem com o provável orientador; já os acadêmicos dos cursos a distância preferem temas mais relacionados a sua experiência profissional. Palavras-chave: Sala de aula invertida; Trabalho de conclusão de curso; Mudanças curriculares.

2 1- Introdução A educação a distância encontra-se, na atualidade, frente a vários desafios, entre os quais o de formar alunos competentes, aptos a assumirem os papéis que as mudanças econômicas e sociais lhes impõem. Para que esse desafio possa ser superado, há necessidade que mudanças curriculares sejam propostas, e que novas formas de ver, pensar e fazer educação sejam viabilizadas, com competência, para que sejam eficientes e eficazes. É nesse cenário de mudanças que a sala de aula invertida surge como uma possibilidade para que alunos possam dispor de conhecimentos de ponta, oferecidos por meio da utilização dos novos recursos tecnológicos, que predisponham à leitura e à reflexão e contribuam, ao final do curso, para a elaboração de trabalhos acadêmicos que efetivamente espelhem a trajetória de crescimento intelectual de seus autores, por meio da leitura, pesquisa e reflexão. Objetivos Os objetivos para a realização da pesquisa foram a identificação das dificuldades dos acadêmicos em relação à elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso e as diferentes motivações para a escolha do tema desse trabalho, junto a alunos de cursos presenciais e a distância. 2- A EaD e a necessidade de mudanças na estrutura curricular As mudanças sociais, econômicas, culturais, entre outras, presentes neste início de século XXI determinaram, de uma certa forma, a ascensão da educação a distância no cenário educacional brasileiro, conforme dados do INEP (2011). Isso acontece porque novas demandas surgem no mundo do trabalho e os indivíduos devem estar preparados para atendê-las, com competência. Paralelamente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 9394, de 1996 trata, em seu artigo 80, especificamente da EaD, dispondo

3 sobre a necessidade de estabelecer requisitos para autorização e controle dos cursos a serem ofertados. Esse artigo foi regulamentado pelo Decreto 5622/2005, disciplinando as possibilidades de oferecimento de cursos em EaD e quais seriam os mecanismos reguladores para a oferta e a abertura de novos cursos (MEC, 2005). Como nem sempre a organização da educação presencial facilita a absorção do público egresso da educação presencial, seja por repetências constantes, seja pela dificuldade de acesso, a alternativa é a busca pelos cursos semipresenciais ou a distância, os quais oferecem maior flexibilidade de horário, que pode ser compatibilizado com os demais compromissos do aluno. Além disso, entre os principais princípios didáticos da EaD estão a formação para a autonomia, por meio do exercício da aprendizagem colaborativa e cooperativa, promovendo a interação e a interatividade, tudo permeado por uma avaliação contínua e diagnóstica. Há, também, em relação à EaD, a certeza de que ela não é um modismo, pelo contrário, é parte de um processo gradativo de mudança que busca, além da democratização do acesso à escolarização, a possibilidade de oferta de cursos permanentes de atualização, além da adoção de novos paradigmas educacionais, em cuja base estão os conceitos de totalidade, de aprendizagem como fenômeno pessoal e social, de formação de sujeitos autônomos, capazes de buscar, criar e aprender ao longo de toda a vida e de intervir no mundo em que vivem (MEC, 2005). A popularização dos cursos a distância assumiu uma dimensão significativa, de forma que há cursos oferecidos a distância, nas mais diferentes áreas, que chegam aos mais distantes lugares do Brasil, o que demonstra seu potencial de democratização da educação, por meio da facilidade do acesso. 2.1 Cursos em EaD e a qualidade de ensino Os cursos em EaD podem, também, ser uma estratégia bastante interessante de construção do conhecimento, de dominação das tecnologias, desenvolvimento de competências e habilidades, discussão de padrões éticos. Conforme FREIRE (2002, p. 13) num processo de educação que busque a

4 formação integral do aluno, o professor deve na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão. O aluno que frequenta um curso a distância busca, também, qualidade de ensino e, para isso, a educação deve estar comprometida com esse diferencial. Para que esse comprometimento se efetive, programas, cursos, disciplinas ou mesmo conteúdos oferecidos a distância exigem administração, desenho, lógica, linguagem, acompanhamento, avaliação, recursos técnicos, tecnológicos e pedagógicos que não são mera transposição do presencial. Ou seja, a educação a distância tem sua identidade própria, conforme Neves (2005, p. 138). No entanto, sabe-se que os programas de educação a distância podem ser ofertados em formatos diversos, também porque não há um modelo único a ser seguido. A diferenciação também se encontra na natureza do curso, no perfil do público a que se destina, nas diferentes linguagens e recursos a serem utilizados, aponta Neves (2005). 3- A sala de aula invertida Em busca de oferecer cursos sempre com maior flexibilidade, sem perda da qualidade, tem ganhado espaço nas discussões sobre a EaD e possíveis caminhos futuros, a proposta de um novo modelo de estrutura pedagógica. Inicialmente pensada para o ensino presencial, a sala de aula invertida pode ser uma alternativa para se oferecer cursos a distância com uma organização diferenciada. Entende-se que a sala de aula invertida poderia oferecer ao aluno momentos de maior autonomia para seus estudos, podendo estudar no seu ritmo, embora sejam, nesse processo, considerados os momentos de interação presencial.segundo Behar (2009, p. 24), o conceito de modelo pedagógico para a EaD deve ser pensado a partir de premissas teóricas que representam, explicam e orientam a forma como se elabora o currículo e que se

5 concretiza nas práticas pedagógicas e nas interações professor/aluno/objeto de estudo. Neste triângulo (professor, aluno, conteúdo) são estabelecidas relações sociais em que os sujeitos irão agir de acordo com o modelo definido. Se, como aponta Behar (2009), o conceito de modelo pedagógico para a EaD deve ser pensado a partir de novos referenciais teóricos que poderão dar forma a novas propostas de elaboração curricular, que devem se concretizar por meio das práticas pedagógicas e dos docentes, como também na interação entre os alunos, professores e conteúdos, os conceitos e as propostas da sala de aula invertida pode, sim, ser aplicados aos currículos de EaD. Inclusive, pode-se pensar, embora não haja estudos conclusivos a respeito, que a adoção da sala de aula invertida poderia trazer mais qualidade ao processo de ensino e aprendizagem em EaD. 3.1 A EaD e a Sala de aula invertida Também conhecida como blendedlearning, a sala de aula invertida se constitui por uma união de elementos diversos, característicos da educação presencial, aliados a outros que se beneficiam das novas tecnologias, mais utilizados na EaD. Entre outros teóricos, Hinojo, Aznar e Cáceres (2009), assim como Pascual (2003) e Bartolomé (2011) defendem essa utilização, porque os alunos estudariam antes o conteúdo a ser discutido em sala, o que daria, ao professor do ensino presencial, mais tempo para explicações, exemplos e outras atividades pertinentes ao tema. Em EaD, isso significaria que o aluno, ao comparecer ao polo presencial para as atividades semanais, já teria tido contato com o conteúdo e poderia solucionar suas dúvidas. Em resumo, essa é uma prática que pode levar a uma melhor qualidade do ensino. Assim, as atividades seriam planejadas pelos professores, com informações sobre a sequência dos desdobramentos esperados.

6 Em relação à elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso, por exemplo, o aluno seria estimulado a ler diferentes textos de áreas de seu interesse, poderiam ser sugeridos filmes ou outros recursos que contribuíssem para facilitar a fundamentação teórica e a análise crítica dos desdobramentos do tema escolhido para o trabalho final. Entende-se, portanto, que nessa perspectiva, um planejamento bem elaborado é essencial para que, efetivamente, os resultados possam apresentar melhoria qualitativa. 4- A pesquisa na EaD Os cursos de graduação, oferecidos a distância, devem cumprir os mesmos requisitos para a conclusão do curso, entre eles a apresentação de um relatório final, de uma pesquisa realizada pelo aluno, de campo ou bibliográfica, mas na qual ele faça constar suas reflexões e conclusões a respeito do tema. Para que esse trabalho seja feito dentro dos critérios solicitados pelas IES, o aluno deve escolher um tema para o desenvolvimento de seu trabalho, com o qual tenha alguma afinidade, e buscar referencial teórico que ajude a dar sustentação a sua discussão. Nesse aspecto Freire (2002, p. 98), aponta que quanto mais faço estas operações com maior rigor metódico tanto mais me aproximo da maior exatidão dos achados de minha curiosidade. Nesse aspecto, o aluno de EaD precisa ser preparado para fazer pesquisa, mas como a compreende Demo (2003), a pesquisa como princípio educativo, como elemento articulador do conhecimento, que oportuniza novas formas de pensar e de produzir conhecimento. Em relação à pesquisa em cursos de EaD, Vieira (2011, p. 137 ), na análise das respostas à pesquisa realizada, aponta que as facilidades encontradas na realização das pesquisas, em EaD convergem para um linguajar popular, exemplo disso, para a autonomia, apontou-se comodidade, otimização do tempo, flexibilidade de horário, amplitude do conhecimento,

7 independência e autonomia, liberdade e enquanto que para o educar e aprender pela pesquisa foram indicadas amplitude do conhecimento, agilidade no acesso às informações e a diversidade de materiais bibliográficos. Deduz-se, portanto, a partir do exposto pela autora, que as facilidades informadas pelos alunos coincidem com as características da EaD e sugerem que se alie a teoria à prática, no processo ensino e aprendizagem, até porque são aspectos indissociáveis do processo. Uma das questões fundamentais a se pensar em relação à pesquisa, e também relacionada à EaD e à questão do desenvolvimento e da formação para a autonomia e para o aprender a aprender, desenvolvendo o senso crítico e a atitude reflexiva. Como recomendações para a seleção do tema, Marconi e Lakatos (2001, p. 44) apontam que o aluno deve, preferencialmente, selecionar um assunto de acordo com as inclinações, as aptidões... pessoais, o que lhe garantiria maiores possibilidades de realizar o trabalho de maneira prazerosa. 5- Procedimentos Metodológicos A pesquisa foi realizada em uma IES, de Curitiba, que oferece cursos presenciais e a distância, via internet. Participaram da pesquisa 64 acadêmicos do curso de Pedagogia, presencial, e 42 acadêmicos do curso de Administração, que é semipresencial. A pesquisa tem um caráter quantitativo preponderante, embora a pergunta aberta possibilite uma análise qualitativa. Foram distribuídos 140 questionários, com 1 pergunta aberta e 6 fechadas, relacionadas à escolha do tema para o Trabalho de Conclusão de Curso. Pretendeu-se, com essa pesquisa, verificar quais são os fatores condicionantes para a escolha do tema do trabalho final. A escolha das perguntas (abertas e fechadas) em número tão desproporcional, deveu-se ao fato de que os acadêmicos dos cursos semipresenciais ficam dispersos quando as exigências para participação em pesquisas envolvem um tempo maior para as respostas.

8 Todos os respondentes que entregaram os questionários cumpriram os prazos estabelecidos, mas nenhum deles acrescentou qualquer observação pessoal a respeito do tema da pesquisa, conforme havia sido solicitado. 6- Apresentação e discussão dos resultados A pergunta aberta consistiu num questionamento sobre o tema escolhido para o Trabalho de Conclusão de Curso. Observou-se que os alunos dos cursos presenciais preferiram temas mais ligados à ludicidade, à presença e ao uso dos jogos na educação, uma vez que o apelo por atividades que demandam movimento é sempre maior na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Como se constitui em algo prazeroso, esse tema aparece em 46 dos questionários, e os demais trazem a questão da alfabetização e do letramento (5), a educação de jovens e adultos (4) e educação ambiental (4), educação inclusiva (3) e o uso de novas tecnologias (2). Entre os acadêmicos dos cursos de EaD, percebeu-se que a escolha recai sobre algum aspecto relacionado à vida profissional, e isso se evidencia na resposta a uma das questões de múltipla escolha 48 alunos responderam que o tema escolhido foi recursos humanos, 6 escolheram comunicação interna, 4 escolheram planejamento estratégico, 2 escolheram ética nas relações de trabalho e 2 escolheram gestão de projetos. Foi quase unânime a resposta à questão sobre se foi fácil fazer o trabalho acadêmico 98 participantes responderam que não, mas nenhum explicou qual foi a dificuldade encontrada. Essa dificuldade se evidencia nas respostas às questões de múltipla escolha, pois grande parte dos respondentes aponta dificuldade na elaboração escrita do texto, assim como apontam a falta de tempo para leituras e para a escrita. Quanto aos critérios para a escolha do tema, os alunos do curso presencial apontam o vínculo com o orientador, enquanto os alunos dos cursos a distância informam que partiram da realidade profissional. Em ambos os

9 casos, percebe-se que o aluno busca sentir-se mais seguro, no ambiente conhecido, com pessoas em quem confia e que acredita que poderão auxiliá-lo no cumprimento dessa atividade acadêmica. Todos concordam que o TCC é importante para a vida acadêmica porque agrega conhecimentos e contribui para solidificar a formação acadêmica, oferecendo uma visão mais real do mundo do trabalho (alunos do curso de EaD) além de contribuir para um índice maior de acerto nas decisões futuras (alunos do curso de EaD). 7- Conclusões e recomendações A pesquisa realizada evidencia a necessidade de uma reorganização curricular ou metodológica, tanto para os cursos presenciais quanto para os cursos a distância, uma vez que a formação acadêmica e profissional desses alunos pode apontar para uma maior diversidade de escolha de temas para o TCC. É nesse sentido que a proposta da sala de aula invertida se faz coerente, pois uma metodologia que solicite, do aluno, mais leituras e reflexões sobre aspectos que serão discutidos posteriormente em sala, com certeza contribuirão para melhores decisões não apenas quanto a algo tão acadêmico quanto a escolha do TCC, mas para decisões mais importantes, relacionadas à vida pessoal e profissional do aluno. Referências BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de dezembro de 1996.. Censo da Educação Superior, 2010. Brasília: INEP, outubro 2011.. Decreto no. 5.622 de 19/12/2005. Diário Oficial da União, 20/12/2005. BARTOLOMÉ, A. Blended Learning. Conceptos básicos. Pixel-Bit. Revista de Medios y Educación, 23, 2004. 7-20. Disponível em: http://www.lmi.ub.es/personal/bartolome/articuloshtml/04_blended_

10 learning/documentacion/1_ bartolome.pdf. Acesso em 17 de setembro de 2012. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. científica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1991. Metodologia BEHAR.Patrícia Alejandra (org). Modelos Pedagógicos em Educação a Distância.Porto Alegre: Artmed, 2009. DEMO, P. Pesquisa: princípio científico e educativo, 10.ed. São Paulo:Cortez, 2003 HINOJO. F.J.; AZNAR, I.; CÁCERES, M. Percepciones delalumnado sobre el blendedlearning em launiversidad. Comunicar, n. 33, vol XVIII. Revista Científica de Educacomunicación, ISSN: 1134.3478 p. 165-174. Disponível em http://rabida.uhu.es/dspace/bitstream/handle/10272/2845/b15574222.pdf?sequ ence=1. Acesso 17 em setembro de 2012. NEVES, Carmen Moreira de Castro. Próxima atração: a TV que vem aí. Integração das Tecnologias na Educação/ Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, Seed, 2005. PASCUAL. M.P. El blended e-learningreduceelahorro de já formación on-line pero gana calidad. Educación, Formación y Trahajo: 69, p. 34-49 Vieira, Leociléa Aparecida. Entre o real e o virtual: a Educação a Distância (EaD) como um espaço para o educar (aprender e ensinar) pela pesquisa. Tese (Doutorado). PUC/SP, 2011.