OS CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS EM GOIÁS SOB A OTICA DOS PROCESSOS URBANOS GLOBALIZADOS Kassya Caetano dos Santos 1, Cristina Patriota Moura 2. 1 - Bolsista PBIC/UEG 2 - Pesquisadora orientadora Curso de História, Unidade de Ciências Sócio-econômicas e Humanas, UEG. RESUMO: Os condomínios horizontais, que têm se tornado comum em cidades de grande e médio porte, nos dão a possibilidade de entendermos a transformação tanto da configuração das cidades onde estão presentes quanto das comunidades das mesmas que são compostas por diversos tipos de pessoas e categorias. Isso se torna possível porque nos condomínios horizontais podemos ver refletida a imagem dos vários mundos sociais que, em contato direto ou indireto com estas estruturas muradas, se relacionam destacando suas diferenças e sua interdependência, além de serem uma estratégia de segregação, segurança e distância social. Palavras-chave: condomínios horizontais, processos sociais e auto-segregação. INTRODUÇÂO As habitações têm se transformado ao longo do tempo, refletindo as mudanças estruturais de nossa sociedade. Assim, elas têm sido objeto de estudo de vários pesquisadores que, no Brasil, tiveram como precursor Gilberto Freyre (Casa Grande e Senzala); a partir de quem o estudo das habitações aparece como caminho interessante para a análise das configurações socioculturais. Os Condomínios Horizontais têm se tornado, na realidade brasileira, algo cada vez mais comum. Desta forma, estes bairros fechados por muros e cercas eletrificadas, monitorados por câmeras e seguranças armados, que se situam às margens das cidades de grande e médio porte, e onde cada vez mais membros das nossas camadas médias urbanas 1
vêm escolhendo residir, mostraram ser um bom objeto de estudo por nos darem a possibilidade de entendermos melhor alguns processos sociais da atualidade do nosso país, estado e de uma cidade específica. A partir então dessa noção, temos questionado sobre qual será a interação dos condomínios horizontais fechados com os diferentes mundos urbanos, visto que o acesso aos mesmos se dá de forma controlada ficando restrito a uma minoria; o que acontece com o anonimato se para entrar nestes lugares é necessária a identificação; temos questionado se a segurança, que é tão ressaltada pelos moradores e pelas propagandas, compensa o controle; em que medida a segurança é um problema tão grande nas cidades de Goiás onde estas estruturas tem aparecido; e questionamos também sobre a influência de outros valores ligados à moradia nos condomínios horizontais, dentre eles o status e a liberdade das crianças, no momento da compra de um imóvel nestes locais, a qual pode ser maior que a questão da segurança. Além destes questionamentos, que têm orientado esta pesquisa Os Condomínios Horizontais em Goiás sob a ótica dos processos urbanos globalizados, temos buscado estudar o papel destas estruturas nas novas tendências urbanísticas em Goiás, no Brasil e no mundo, relacionando processos locais e globais. Também temos procurado identificar as especificidades do fenômeno investigado no caso de Goiás, e estudar a inserção do mesmo em um fluxo crescente de bens simbólicos e materiais que transcendem as fronteiras regionais e se originam em pontos difusos do globo, como apontam as pesquisas feitas em lugares como os Estados Unidos, Arábia Saudita, Malásia, China, África do Sul, Inglaterra e Argentina. Temos buscado, da mesma forma, efetuar uma análise comparativa de tipos de sociabilidades em áreas residenciais muradas em Goiás, no Brasil e em outras partes do mundo, e temos procurado também estudar a criação de imagens ligadas a concepções de qualidade de vida. Além disso, ressaltamos o objetivo de pensar processos de segregação urbana e possíveis soluções para o crescimento do medo da violência; e temos tentado contribuir para o entendimento dos processos de privatização de serviços públicos como a segurança, policiamento e limpeza urbana. MATERIAIS E MÉTODOS Durante este período da pesquisa utilizamos diversos métodos a fim de construirmos uma imagem multidimensional da realidade investigada. Até o momento realizamos reuniões 2
com o propósito de discutir e analisar textos indicados pela orientadora, os quais se tratavam dos métodos e linhas possíveis que poderiam ser utilizados na realização desta pesquisa. Também fizemos o levantamento bibliográfico e algumas leituras tanto de produções bibliográficas sobre os condomínios horizontais da cidade de Anápolis e de outros lugares do Brasil, quanto de obras relacionadas ao processo histórico, econômico e social da cidade citada acima as quais têm nos ajudado e ajudarão na análise das habitações que dentro dela foram se estabelecendo ao longo do tempo. É importante destacarmos que citamos a cidade de Anápolis porque temos feito um estudo sobre os condomínios horizontais nela estabelecidos - estudo este relacionado ao projeto de pesquisa o qual já é uma trabalho para a monografia que será apresentada no final do curso da bolsista. Neste projeto de pesquisa, Os condomínios horizontais em Goiás sob a ótica dos processos urbanos globalizados, temos trabalhado com uma perspectiva comparativa (comparação entre a pesquisa realizada pela orientadora em seu doutorado é importante destacar que um dos métodos utilizados por ela para a realização de sua tese, foi o método antropológico formulado por Malinowsk [1922] (1978) - e os novos materiais que temos conseguido no estudo, de âmbito global e realizado em Anápolis, sobre os condomínios horizontais); e com uma perspectiva cultural de processos de longa duração relacionados a valores ligados à moradia (esta perspectiva foi trabalhada pioneiramente no Brasil por Gilberto Freire, cuja obra, Sobrados e Mucambos (2003), tem contribuído muito para o nosso trabalho). É importante destacar que a orientadora tem se voltado para um estudo de âmbito global para que assim a discussão a respeito das relações entre os aspectos sócio-culturais tradicionais e as tendências globalizantes envolvidas no surgimento dos condomínios horizontais em Goiás seja ampliada. Ela também tem se dedicado à elaboração de um livro referente à sua tese de doutorado e aos resultados que estamos alcançando através desta pesquisa. Pelo fato de os agentes construtores da realidade dos condomínios horizontais serem profissionais do ramo imobiliário os quais estão inseridos em um mercado de produções de moradias, e por ser importante a consideração da articulação do mercado imobiliário com o planejamento urbano exercido no âmbito do governo municipal, começamos a realizar, na cidade de Anápolis, o levantamento de dados a respeito de sua história e da consolidação do seu espaço, - e para isso iniciamos uma pesquisa no centro de documentações de UEG (unidade de Anápolis), onde temos analisado jornais de 1978 em diante e também 3
começamos uma pesquisa documental junto aos órgãos de planejamento urbano desta mesma cidade iniciamos esta pesquisa procurando as leis que regulamentam nela as estruturas aqui analisadas. Além disso, começaremos a fazer entrevistas individuais com moradores dos condomínios horizontais de Anápolis, para melhor percebermos a articulação dos projetos iniciais, que partem de agentes profissionais, com as trajetórias e projetos individuais e/ou familiares que fazem a realidade social dos aglomerados urbanos em questão. A pesquisa de campo dessas estruturas muradas não será realizada (faremos somente as entrevistas citadas acima), porque, por ser uma pesquisa antropológica, ela requer muito tempo, e foram disponibilizadas apenas dez horas semanais para a realização do estudo em geral, e não vinte horas como foi pedido no projeto apresentado pela orientadora. RESULTADOS E DISCUSSÂO Apesar de até o momento termos realizado somente um pouco do que propusemos a fazer nesta pesquisa - isso porque, devido à amplitude da mesma, o tempo concedido a nós para a sua realização não foi o bastante para que estivéssemos agora no seu final, e por isso houve a prorrogação da mesma por mais um ano - o que por nós já foi realizado e que já foi dito no tópico acima, têm ampliado nossa concepção sobre estas estruturas aqui analisadas, o seu mundo, e as relações socioculturais que nelas e através delas se estabelecem. Falando sobre o que já foi lido na pesquisa bibliográfica, o texto Vivendo Entre Muros: o Sonho da Aldeia, (MOURA, 2003a) e a tese de doutorado Ilhas Urbanas: Novas Visões do Paraíso (MOURA, 2003b), nos dão uma ampla visão do mundo dos condomínios horizontais e suas diversas dimensões, mostrando que estes residenciais murados são um fenômeno global, tendo porém em cada local sua particularidade. Falando também sobre os condomínios horizontais, Régner Reis Ribeiro, em sua monografia Auto-Segregação: Análise e Características dos Condomínios Residenciais Horizontais Fechados em Anápolis (2003), além de ter uma outra abordagem do assunto, pesquisa-o na cidade de Anápolis. Ele faz uma análise geográfica falando sobre a ocupação da área e as características de cada residencial, que, na época de sua pesquisa, eram seis já construídos (dentre eles os que são destinados aos oficiais a Vila dos Oficiais e a dos Sargentos aqueles que surgiram aleatoriamente o Andracel Center, e o Cidade Jardim e 4
aqueles que foram construídos por empreendedoras imobiliárias o Residencial Florença, o Residencial gabriela e o Sunflawer), e um que estava sendo estruturado por uma empreendedora imobiliária, o Residencial Rose s Golden. Seguindo também esta análise geográfica, na monografia Os Condomínios Horizontais em Anápolis, Um Estudo de Caso (BORGES, 2001), fica claro que estes residenciais são frutos da própria dinâmica do capitalismo nesta cidade (Anápolis) e de suas conseqüências. Esta outra forma de estudar este objeto (através de uma analise geográfica) mostra-nos, assim como disse Moura (2003a), que não existe somente um relato autorizado sobre aquilo que estamos pesquisando; e isso enriquece o conhecimento. Falando agora sobre a pesquisa que está sendo realizada no centro de documentação da UEG localizado em Anápolis, temos procurado em jornais datados de 1978 em diante as maneiras, os momentos e os motivos através dos quais as classes alta e média desta cidade, ao longo do processo histórico da mesma, têm se estabelecido no espaço urbano, para assim fazermos uma relação entre os momentos em que estiveram em determinados lugares e a partir de um processo se deslocaram para outro, e o atual momento no qual, cada vez mais elas têm se dirigido para os condomínios horizontais que se localizam na periferia da cidade. Em relação à pesquisa documental junto aos órgãos de planejamento urbano de Anápolis, iniciamos com a procura das leis que regulamentam os condomínios fechados nesta cidade. Após uma longa procura em vários departamentos da prefeitura como o plano diretor, a procuradoria, o departamento de infra-estrutura e o departamento de engenharia que aprova os projetos de construção é importante destacar que cada departamento aqui citado nos dava uma resposta e nos encaminhava a outro chegamos ao fato de que ainda não existe no Brasil uma lei específica para os condomínios horizontais, e que em Anápolis, para que uma dessas estruturas se estabeleçam é estudado caso a caso a partir da Lei nº. 2681 sobre Planos Urbanísticos Integrados, por uma comissão do plano diretor que aprova ou não a construção do condomínio o qual só pode se estabelecer no perímetro urbano. No início nos disseram que era necessário, todas as vezes que um condomínio fosse construído, a aprovação de uma lei complementar. Mas isso de fato não provou ser verdade visto que durante a pesquisa encontramos somente uma lei complementar referente a um condomínio fechado que ainda está sendo construído, e que só foi elaborada porque uma parte do mesmo saía do perímetro urbano. 5
Todos estes momentos da pesquisa, apesar de não terem sido concluídos, têm nos ajudado bastante na compreensão do nosso objeto de estudo além de nos colocar em contato direto com a realidade da ação pesquisar. CONCLUSÃO Como já falamos a cima, a pesquisa ainda esta em andamento, e por isso ela foi prorrogada por mais um ano para a sua conclusão, mas, de acordo com o projeto inicial, de forma geral, este é o resultado esperado: poder obter um mapeamento não só das representações sociais envolvidas na produção e procura por este tipo de moradia como questão referente à segregação urbana, privatização de espaços públicos e segurança pública em geral. Para isso, durante os próximos doze meses, continuaremos com a pesquisa bibliográfica, faremos entrevistas com moradores de condomínios horizontais em Anápolis, continuaremos com a pesquisa no centro de documentação da UEG (unidade de Anápolis), continuaremos com a pesquisa junto aos órgãos públicos da cidade já citada e a elaboração do livro pela orientadora terá continuidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORGES, Débora Cristina (2001). Os Condomínios Horizontais em Anápolis, um Estudo de Caso. Goiás. UEG (monografia). FREYRE, Gilberto (2003). Sobrados e Mucambos. São Paulo. Editora Global. 14ª edição. MALINOWSKI, Bronishaw Kasper (1978). Argonaltas do Pacífico Ocidental. São Paulo. Abril Cultural. 2ª edição. MOURA, Cistina Patriota (2003a). Ilhas Urbanas: novas visões do paraíso. Museu Nacional/URFJ, (dissertação de doutorado). MOURA, Cristina Patriota (2003b). Vivendo Entre Muros: o sonho da Aldeia, in VELHO, Gilberto; KUSCMNIR, Karine (orgs.) (2003). Pesquisas Urbanas. Rio de Janeiro. Jose Zahar Editora. Volume I, págs. 43 54. RIBEIRO, Régner Reis (2003). Auto-Segregação: Análise e Características dos Condomínios Residenciais Horizontais Fechados em Anápolis. Goiás. UEG (monografia). 6
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