AS METODOLOGIAS USADAS POR PROFESSORES DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM

Transcrição

1 AS METODOLOGIAS USADAS POR PROFESSORES DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM Fabrício Soares de Sousa (Graduando- UFPI) Junielson Soares da Silva (Graduando- UFPI) Janete Diane Nogueira Paranhos (Professora Adjunta UFPI) Sandra Maria Medes de Moura Dantas (Professora Associada UFPI) RESUMO: O ensino de ciências tem como foco a formação de alunos críticos e conscientes de uma melhor compreensão da sociedade atual. O uso de tecnologia pode ser uma importante ferramenta para o ensino de ciências, e como tal, deve ser utilizada como recurso complementar às aulas expositivas. O presente estudo teve como objetivo investigar as diferentes metodologias usadas por professores de Ciências e Biologia em 03 escolas públicas da cidade de Altos Piauí. A investigação foi realizada através da aplicação de questionário com questões subjetivas sobre o tema. Os resultados mostraram que os professores têm tentado introduzir novas alternativas didáticas, entretanto, ainda permanece como principal metodologia de ensino a utilização de aulas expositivas. Palavras-chave: Ensino de Ciências. Metodologias. Formação do aluno. INTRODUÇÃO O ensino é tido como um processo universal, e como tal apresenta um longo histórico global, sendo de fundamental importância para a sociedade contemporânea, na qual, pouco se sabe, acerca desse fenômeno inerente da ação humana. Desta forma, novos conhecimentos podem contribuir para melhorar a formação do profissional (GAUTHIER et al 1998). Segundo Fagundes et al. (2012), o ensino de ciências tem como foco a formação de alunos críticos, conscientes e embasados para melhor compreender o comportamento da sociedade atual. Neste contexto é exigido do docente um amplo conhecimento, tanto em relação aos conteúdos específicos quanto à utilização de materiais didáticos e pedagógicos. Por outro lado, Zaleski (2009), lembra a crítica de Piaget sobre o modelo tradicional de 2014

2 ensino, pelo fato das escolas/professores não ensinarem os alunos a pensarem e sim a copiarem. Para Piaget o processo de construção do aluno deve estar pautado no desenvolvimento do pensamento e da inteligência. A educação brasileira na década de 1980 foi marcada pela decadência do ensino público, onde as escolas precisavam arrecadar dinheiro para as reformas e compra de material, necessário ás atividades de ensino. Nessa época houve uma elitização do ensino, caracterizado pela explosão de escolas particulares, nem sempre de qualidade (ZALESKI, 2009). Segundo esta mesma autora, no final do século XX, vários avanços tecnológicos foram introduzidos nas escolas, o que levou a uma modificação na forma de ensinar, caracterizada pela inclusão de recurso como: retroprojetores, televisores, videocassetes, filmes e discos. A utilização destes recursos passou por diversas fases e hoje sem dúvida, o computador é um dos recursos de maior impacto na escola. Mais recentemente, o advento da internet e das redes sociais tem levado aos alunos um grande número de informações. A questão da ação dos meios de comunicação em massa sobre crianças e jovens exerce uma forte educação informal, porém, de procedência duvidosa (ZALESKI, 2009). Para esta autora, o problema não é o uso da tecnologia, mas, sim como esta tecnologia é utilizada, pois se faz necessário o acompanhamento de sua evolução no mundo do trabalho, além do estabelecimento da interação entre a escola e a educação informal dos meios de comunicação em massa. O ensino de ciências envolve princípios teóricos metodológicas, estando estes sujeitos a transformações. Portanto, o desenvolvimento de metodologias para acesso ao conhecimento científico é de grande importância (ARMSTRONG, 2008). Para esta autora cabe ao professor o papel de estabelecer critérios e estratégias pedagógicas, como forma de orientar [...] fatos ou fenômenos estudados em sala de aula devemos entender nesse caso que o professor é o responsável direto pela forma de aprendizagem de seus alunos e pelo método por ele usado no processo de ensino-aprendizagem. Apesar da necessidade da construção do conhecimento para um ensino eficiente, a maioria dos professores ainda se utiliza única e exclusivamente da forma tradicional de ensinar, sem, contudo se preocupar com a utilização do método científico, ou seja, fazer com que o aluno seja agente do processo e não meramente um expectador. Apoiados no pensamento de Armstrong (2008) se entende que os alunos devem se esforçar no sentido de 2015

3 superar suas dificuldades de aprendizagem das ciências e o professor deve assumir o papel de mediador nesse processo, esclarecendo as dúvidas e diminuindo as dificuldades. Este estudo tem como objetivo investigar as diferentes metodologias usadas por professores das disciplinas de Ciências e Biologia em escolas pública estaduais da cidade de Altos Piauí. METODOLOGIA Segundo Gil (2010), as pesquisas do tipo levantamento caracterizam-se pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Esse tipo de pesquisa é útil pelo fato de proporcionar informações gerais a cerca das populações, em parte das investigações sociais. Ainda segundo este autor, não há necessidade de se pesquisar todos os integrantes da população estudada, mas sim, deve-se selecionar uma amostra como objeto de investigação e utilizá-la em procedimento estatístico. Para o desenvolvimento dessa pesquisa foi utilizado um questionário contendo 08 questões subjetivas que versaram sobre a opinião dos professores de Ciências (Ensino Fundamental) e de Biologia (Ensino Médio) sobre quais metodologias usavam; o que achavam de suas metodologias utilizadas e como os alunos se comportavam em frente a estas práticas metodológicas. Os professores podiam enumerar as metodologias que utilizavam em suas aulas, sem interferências em suas opções de estratégias. A pesquisa foi realizada com 07 professores pertencentes a 03 escolas do município de Altos Piauí (50 km da capital do estado do Piauí), os quais aceitaram participar do estudo após terem sido esclarecidos sobre os objetivos do mesmo e terem concordado em respondêlo. A utilização de apenas 07 professores se deve ao fato da Cidade apresentar poucas escolas, e nestas terem também poucos professores das áreas investigadas. Além disso, alguns professores não aceitaram responder a pesquisa, o que não inviabilizou a mesma e nem diminuiu a importância dos resultados obtidos, uma vez que os dados apurados retrataram a realidade daquelas escolas investigadas. As questões foram discutidas individualmente e os resultados foram apresentados de forma quantitativa e qualitativa. Os dados foram avaliados a partir das respostas para cada 2016

4 questionamento, os quais foram depois compilados e apresentados em forma de gráficos e/ou discutidas individualmente. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados foram apresentados de acordo com cada item abordado no questionário. A 1ª questão versou sobre o que os professores achavam sobre as metodologias do ensino de Ciências e Biologia e seus avanços. Os resultados para esta questão mostraram que 57,14% dos professores acham importantes os avanços metodológicos para o Ensino destas áreas, pois pode tornar as aulas mais atrativas; 28,57% acham interessante usar novas tecnologias, e que este uso é importante para manter uma interdisciplinaridade que articule as diversas teorias das ciências biológicas e da educação. Entretanto, 14,29% acham a situação complexa, uma vez que as escolas na maioria das vezes não disponibilizam nem o material didático básico para as aulas, forçando-os a procurar alternativas mais simples para uma maior eficiência do ensino/aprendizagem. Esta observação foi comum às duas áreas de ensino analisadas (Figura 1). Figura 1- Gráfico mostrando a opiniões dos professores sobre as metodologias do ensino de Ciências e Biologia e seus avanços. 14,29 % 14,29% 28,57 % Interessante Bom 42,85 % Ótimo Complexo Fonte: Direta. Com relação à 2ª questão, que indagava se os professores buscavam novas metodologias para ministrar suas disciplinas, todos foram unânimes em dizer que têm tentado sempre inovar e levar novidades para a sala de aula. Todos disseram ainda que buscam saber se os alunos possuem algum conhecimento prévio sobre o tema ministrado, para que possam envolver os alunos diretamente no processo, procurando encontrar uma forma mais dinâmica para o ensino/aprendizagem. 2017

5 Na 3ª questão, os professores foram inquiridos sobre quais as metodologias adotados por eles que os alunos apresentavam melhor desempenho. Os resultados mostraram que as atividades práticas e aulas experimentais dão um melhor resultado no aprendizado, e isto se deve ao fato dos alunos demonstram maior interesse e curiosidade nos mecanismo que interrelacionam a teoria e prática (Figura 2). Figura 2 Gráfico mostrando as metodologias utilizadas pelos professores e o grau de desempenho dos alunos mediante cada método. Atividade prática Recursos audiovisuais Aula experimental Elaboração de tarefas Outros métodos Fonte: Direta. O 4º ponto de abordagem se referiu às estratégias que os professorem acreditam serem as mais adequadas para o aprendizado dos alunos. Neste ponto, atividades práticas e experimentais foram as mais citadas pelos professores, seguidas de aulas expositivas e debates. Por outro lado, atividades como seminários, simulados e filmes foram às menos atrativas para os alunos (Figura 3). Figura 3 Metodologia citadas pelos professores como as mais adequadas. Debates Aulas práticas e experienciais Aulas expositiva/ dialogada Simulados, seminári os e filmes Fonte: Direta. 2018

6 O 5º item se referiu ao tempo de magistério dos professores entrevistados e quais mudanças no ensino de Ciências e Biologia foram proporcionadas pelos avanços tecnológicos. Entre os professores que participaram da pesquisa, 85,71 % estão no magistério há mais de dois anos e relataram que ao longo do tempo de docência, perceberam que as áreas foram influenciadas pela introdução de recursos didáticos como: TVs, que permitem a utilização de vídeos; Data-shows, que permitem aulas expositivas bem mais interessantes; computadores, pelo uso de internet, que possibilitou entre outras coisas, pesquisas on-line e jogos. Além disso, enfatizaram que a ciências está cada vez mais presente no cotidiano dos alunos, e que a interação da escola e da família mudou, e isso refletiu diretamente na sala de aula, ajudado consideravelmente no aprendizado. O 7º item da pesquisa abordou sobre o uso de jogos didáticos como ferramenta auxiliar para o aprendizado. Dos professores inquiridos, 42,85% responderam que usam às vezes e mais especificamente no 7º e 8º, e que os alunos têm despertado interesse e curiosidade, possibilitando realmente uma melhor assimilação do conteúdo. Estes resultados corroboram com Sousa et al (2013) e Kraemer (2007) uma vez que estes autores enfatizam que as atividades lúdicas educativas têm um papel muito importante na aprendizagem de alunos de todas as séries, pois fazem da aprendizagem um momento agradável e prazeroso para os estudantes. Ainda segundo estes autores, nessas condições o aluno se desenvolve de forma mais significativamente fazendo com que o processo ensino aprendizagem se processe mais facilmente. Entretanto, 54,15% dos entrevistados afirmaram não usar jogos didáticos, apesar de acharem que poderia ser de grande valia, e acrescentaram que seria muito bom se a escola dispusesse deste tipo de material, pois os mesmos podem estimular o raciocínio lógico do aluno, além de facilitar o entendimento e a compreensão dos conteúdos. Quanto ao questionamento para os professores há nesse tipo de metodologia uma melhor participação e dedicação dos alunos e eles apresentam sempre um melhor resultado. Mencionaram que os alunos inter-relacionam o conteúdo teórico com a utilização prática e com isso estimula a aprendizagem. Para nós, a utilização do jogo como ferramenta didática possibilita ao aluno ser também um agente da ação deixando de ocupar exclusivamente a posição de expectador, uma vez que trabalhando em grupo desenvolve várias habilidades que podem ser muito úteis no seu cotidiano. Esta afirmação se baseia numa experiência exitosa de mais de 05 anos na produção e aplicação de jogos didáticos e atividades lúdicas com diversos conteúdos de Biologia em escolas públicas de ensino médio de Teresina Piauí (ALVES et al., 2010; 2019

7 MOURA et al., 2010; REGO et al., 2010; VALOIS et al., 2010; BARBOSA et al., 2012; DANTAS e CARVALHO, 2012; FREITAS et al., 2012; NASCIMENTO-SILVA et al., 2012 e RAMOS et al., 2012). Além disso, a experiência também demonstrou que a produção e aplicação de jogos didáticos e atividades lúdicas foi um importante aliado, não somente para os professores e alunos das escolas, nas quais foram trabalhados, mas, também para os alunos de licenciatura que serão os futuros professores destas mesmas instituições de ensino, os quais desenvolveram diversas habilidades na construção do saber ensinar (PITOMBEIRA et al., 2010 e DANTAS e CARVALHO, 2012). Por último os professores responderam sobre as dificuldades encontradas para a utilização de diferentes metodologias. 57,14% citaram haver maior dificuldade no uso de atividades práticas como jogos didáticos e experimentos, uma vez que as escolas não possuem material disponível para a realização destas metodologias. Mesmo as aulas expositivas, que são as mais utilizadas, são muitas vezes prejudicadas em sua eficiência pela falta de recursos tecnológicos básicos como data-show, que na maioria das vezes, por conta da quantidade insuficiente, há um revezamento quanto à quantidade de vezes que pode ser utilizado. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados permitem concluir que mesmo os professores tendo consciência de quais estratégias de ensino são mais eficientes, estes ainda não têm acesso aos recursos tecnológicos mais básicos. Porém, os professores têm buscando novas formas de ministrar suas aulas, e que dentre as metodologias que permitem um melhor desempenho para o aprendizado estão às aulas práticas e experimentais. Quanto à utilização de jogos didáticos, apesar dos professores acreditarem na eficiência como uma boa estratégia de ensino, este método também não tem sido utilizado com frequência por eles. Assim, a metodologia mais utilizada ainda é a tradicional aula expositiva, pois segundo os professores inquiridos, as escolas não disponibilizam ainda de outras alternativas didáticas. No decorrer da pesquisa os professores foram apresentados a alternativas lúdicas, como jogos didáticos produzidos pelo grupo, e informados que eles poderiam produzir seu próprio material, uma vez que os jogos apresentados são de fácil produção e de baixo custo. REFERÊNCIAS 2020

8 ALVES, P.C. S. et al. Desenvolvimento de atividade lúdica para o auxilio na aprendizagem de citologia: Baralho das organelas citoplasmáticas. Revista da SBEnBio, n. 03, p , ARMSTRONG, D.L.P. Fundamentos Filosóficos do Ensino de Ciências Naturais. Curitiba: IBPEX, BARBOSA, J. L.B. et al. Aprendendo Mitose E Meiose De Forma Simples : Proposta De Jogo Didático. Revista da SBEnBio, Goiânia, V.5, DANTAS, S. M. M. M.; CARVALHO, A. D. F. A Formação de professores da área de Biologia através da ação/reflexão: Um relato de experiência no âmbito do PIBID. Revista da SBEnBio. Goiânia, V.5, FAGUNDES, W. A. et al. Metodologia de ensino de biologia relacionada à temática biotecnologia. III Simpósio Nacional de Ensino de Ciências e Tecnologia. Ponta Grossa, de 26 a 28 de setembro, FREITAS, J. et al. Microrganismos: Jogo campo Contaminado Uma Proposta Didática Alternativa. Revista da SBEnBio, Goiânia, v.5, GAUTHIER, C. et al. Por uma Teoria da Pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí, Unijuí, GIL, A.C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo:atlas, KRAEMER, M.L. Lendo, brincando e aprendendo. Campinas-SP. Autores associados, MOURA, H. F. N. et al. Ferramenta Didática para a Aprendizagem de Conceitos em Biologia dos Organismos: Bingo dos Seres Vivos. Revista da SBEnBio. n.03 p , PITOMBEIRA, T.N. et al. Contribuição das Atividades dos Alunos-Bolsistas do Projeto pibid - área Biologia para a Aprendizagem do Ofício de Professor. Revista da SBEnBio, n. 03, p , RAMOS, C. A.; DANTAS.S. M. M. M.; MATOS L. A. O uso de óculos 3D anáglifo como ferramenta para o aprendizado da estereoscópio do olho humano. Revista da SBEnBio, Goiânia, V.5, RÊGO S.S. et al. O aprendizado de conceitos de ciências através do lúdico: O uso do dominó.revista da SBEnBio, n. 03. p ,

9 NASCIMENTO- SILVA, T. et al. Ferramenta Didática Alternativa para a aprendizagem de anatomia e fisiologia humana: Jogo na trilha da anatomia e fisiologia humana. Revista da SBEnBio, Goiânia, V.5, SOUSA, F. S. et al. A importância do uso de jogos como ferramenta didática em aulas de biologia. Anais... II Semana de Biologia-IFPI, Teresina, de 05 a 08 de novembro, VALOIS, R. S. et al. Trilhando Conhecimento Ecológico : Proposta de uma Atividade Lúdica de Ecologia. Revista da SBEnBio, n. 03, p , ZALESKI, T. Fundamentos Históricos do Ensino de Ciências. Curitiba: IBPEX,