ANALOGIAS E METÁFORAS NO ENSINO DE CIÊNCIAS: APLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO SEXUAL COM MULHERES NEGRAS 1

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Transcrição:

IX CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE INVESTIGACIÓN EN DIDÁCTICA DE LAS CIENCIAS Girona, 9-12 de septiembre de 2013 COMUNICACIÓN ANALOGIAS E METÁFORAS NO ENSINO DE CIÊNCIAS: APLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO SEXUAL COM MULHERES NEGRAS 1 S.E Amaral, R.C.C. Teixeira, M.F. Marcelos CEFET-MG RESUMO: Esta pesquisa tem por objetivo verificar como mulheres negras identificam e interpretam analogias e metáforas presentes em cartazes de campanhas institucionais de DST/Aids do Governo Federal do Brasil e contribuir para o Ensino de Ciências, em especial, para a educação sexual. Sugere o uso das analogias e das metáforas como recursos de pesquisa e ensino nessa área. Com esse intuito, optou-se por um estudo exploratório, de caráter etnográfico. Os resultados apontaram para a necessidade de sistematizar o uso desses recursos como ferramentas educacionais a fim de evitar possíveis erros conceituais, dado o caráter interpretativo que eles apresentam. Em contrapartida, o uso adequado possibilita a revisão de conceitos, comportamentos e crenças morais e contribui para desconstrução de mitos, ideologias discriminadoras e tabus PALAVRAS-CHAVE: Aids e etnia negra; analogias e metáforas; educação sexual e gênero; ensino de ciências. OBJETIVO Verificar como mulheres negras identificam e interpretam analogias e metáforas presentes em cartazes de campanhas institucionais de DST/Aids do Governo Federal do Brasil e contribuir para o Ensino de Ciências, com foco na educação sexual. MARCO TEÓRICO Analogias e metáforas estão amplamente presentes nos discursos, na educação e no ensino de Ciências, seja ele formal ou não formal. Elas expressam comparações e salientam similaridades entre domínios - um conhecido e o outro desconhecido, ou pouco conhecido (NAGEM, 1997). Nesse estudo, distinguimos uma da outra por ser a analogia uma comparação explícita e a metáfora uma comparação implícita. A analogia indica claramente os termos dos domínios comparados e a metáfora compara sem 1. Trabalho realizado em parte com auxilio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES e da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais FAPEMIG. 143

deixar claras as características comparadas, permitindo inúmeras interpretações, e mesmo a vivência de um conceito por outro (LAKOFF & JOHNSON, 2002). Adotamos as denominações de veículo para o domínio conhecido e alvo para o domínio desconhecido ou pouco conhecido (NAGEM, 1997). Lakoff & Johnson (2002), ao propor a Teoria da Metáfora Conceptual, explicam que as metáforas não são apenas questões de linguagem, mas expressam todo um sistema conceptual que define nossas formas de compreender o mundo e nos relacionarmos com ele. A metáfora provoca um estranhamento quando justapõe campos conceituais usualmente distintos e constrói novos conceitos sobre um mesmo sentido inicial. Essa possibilidade define comportamentos que, com o uso freqüente, transmitem a sensação de serem naturais e não construtos sociais. Assim, um comportamento é frequentemente definido por um conceito estabelecido metaforicamente. GINO (2003) discute as analogias e metáforas exibidas de forma combinada em texto e imagem pictórica (fotografia, desenho, vídeo, etc.), como é a ocorrência nos cartazes utilizados nesse estudo empírico. Ao analisar o trabalho de Magritte 2, em que esse artista pinta um cachimbo e escreve abaixo: Isto não é um cachimbo, exemplifica a separação entre imagem e objeto, já que a imagem nesse contexto é um análogo do objeto e jamais será o próprio objeto. Esse é um dentre os múltiplos conceitos de imagem citados por Gino. É, entretanto, o único em que o texto e imagem são discutidos de forma conjunta e, ainda, o texto contradiz a analogia da imagem. A imagem expressa como Metáfora Conceptual nem sempre facilita a compreensão de conceitos vivenciados em termos de outros, em função de uma comparação que, na maioria das vezes, não é óbvia para o sujeito que vivencia essa transposição de sentido, por isso o uso desses recursos deve ser sistematizado quando for aplicado com fins educativos. No Brasil, a educação sexual integra o ensino de Ciências em dois contextos: no âmbito formal, caracteriza-se por estratégias definidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN - com vistas à sua aplicação em sala de aula ou espaço escolar. Já no âmbito não formal é contemplada por programas de promoção da saúde sexual e reprodutiva como o Programa Nacional de DST/HIV/Aids que compreende ações diversas, como campanhas publicitárias. Ainda no âmbito não formal, a educação sexual conta com o Sistema Único de Saúde SUS e de Organizações não governamentais - ONG - que realizam atividades como oficinas educativas de sexo mais seguro e planejamento familiar, palestras, cursos livres, distribuição de cartilhas e folhetos educativos. Em ambos os contextos confirma-se a presença de analogias e metáforas. É notável que as ações Programa Nacional de DST/HIV/Aids são dirigidas a diversos segmentos da população: hemofílicos, encarcerados, profissionais do sexo, homossexuais masculinos e homens que fazem sexo com homens, homossexuais femininos, adolescentes, homens e mulheres heterossexuais, entre outros. Estas ações são feitas principalmente veiculando peças publicitárias em diversas mídias como cartazes, outdoors, panfletos e cartilhas educativas. Os estudos desenvolvidos pelo Ministério da Saúde MS - brasileiro apontam para o aumento da vulnerabilidade das mulheres ligado às questões de gênero. No ano de 2005, o tema do Dia Mundial de Luta Contra a Aids no Brasil abordou o racismo como fator de vulnerabilidade para a população negra. Constatam-se no Boletim Epidemiológico do MS que o grupo mais vulnerável hoje é composto pelas mulheres negras. 2. MAGRITTE, René. A traição das imagens. 1928-9. Óleo sobre tela. 60x81cm. Los Angeles County Museum of Art, Los Angeles 144 IX CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE INVESTIGACIÓN EN DIDÁCTICA DE LAS CIENCIAS (2013): 143-148

METODOLOGIA Foi realizado um estudo qualitativo exploratório, com abordagem Etnográfica, em duas etapas: grupo de discussão e aplicação de questionário. Constituíram os sujeitos de pesquisa treze (13) alunas de Curso de Pedagogia de uma universidade pública brasileira na faixa etária de 21 a 43 anos, auto-declaradas negras. A escolha por esse público se justifica pela vulnerabilidade do mesmo em relação à Aids, conforme apontado pelo Ministério da Saúde. Na primeira etapa, foram apresentados, em separado, três (3) cartazes de campanhas institucionais de DST/Aids do Governo Federal do Brasil para os sujeitos de pesquisa, com vistas a verificar como mulheres negras identificam e interpretam analogias e metáforas presentes nos mesmos: cartaz nº1 (figura 1), nº2 (figura 2) e nº3 (figura 3). Fig. 1. Cartaz nº 1 de Campanha Governamental de Prevenção ao HIV/Aids. Fonte: Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais / Brasil Fig. 2. Cartaz nº 2 de Campanha Governamental de Prevenção ao HIV/Aids. Fonte: Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais / Brasil IX CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE INVESTIGACIÓN EN DIDÁCTICA DE LAS CIENCIAS (2013): 143-148 145

Fig. 3. Cartaz nº 3 de Campanha Governamental de Prevenção ao HIV/Aids. Fonte: Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais / Brasil Foi proposta a seguinte questão: Digam o que essa imagem transmite para vocês: gostam, não gostam, ela tem alguma mensagem? A questão gerou respostas individuais e discussões registradas em áudio e vídeo. Os dados orientaram a elaboração de um questionário semi-estruturado, referente ao cartaz nº 1. Na segunda etapa, portanto, nove (9) pessoas do mesmo grupo de mulheres negras responderam a esse questionário. RESULTADOS O grupo de discussão durou cerca de 2 horas, gerou 43 manifestações verbais (falas) para as apresentações dos 3 cartazes. Foi percebido que, das 13 participantes, somente quatro leram os textos contidos no cartaz nº 1, dez leram os textos contidos no cartaz nº 2 e todas leram os textos contidos no cartaz nº 3. Isso sugere que a ênfase da interpretação Foi fixada nas imagens em si. Observamos que a imagem do cartaz nº 1, para nós uma metáfora, foi descrita por uma interpretante como uma cena com significado literal. A aluna interpretante avaliou que esse cartaz não era eficiente para uma campanha, pois ele sugere que se está colocando uma camisinha no dedo da mão de outra pessoa, sendo que a camisinha é para ser usada no pênis. Esclarecemos que o termo camisinha identificando preservativo masculino, condon, será utilizado no texto corrente não como metáfora, mas como sinônimo (característica de metáfora congelada). As demais narrativas indicam que no cartaz nº1 a camisinha é vista como aliança de casamento e no cartaz nº2, a camisinha é vista como aliança entre rivais. Ou seja, no cartaz nº 2, a ideia de aliança é distinta aquela sugerida no cartaz 1. No contexto do cartaz nº 1, a camisinha é segurada por uma mão que parece colocá-la no dedo de uma outra mão como uma aliança ou anel que representa uma união conjugal. No contexto do cartaz nº 2, a camisinha está sobre a grama do campo de futebol e a aliança sugerida não remete a objetos concretos, mas a pactos sociais. A união conjugal é um pacto social de características similares ao pacto proposto no cartaz do futebol, mas a aliança enquanto objeto físico só está presente no primeiro caso. Para nós a ideia de aliança como pacto está tão aderida ao objeto aliança de noivado e casamento que ela passa a ser uma metonímia. 146 IX CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE INVESTIGACIÓN EN DIDÁCTICA DE LAS CIENCIAS (2013): 143-148

Já o cartaz nº 3 foi apontado como o que apresentava mais relação com a etnia negra por fazer referência ao carnaval, festa brasileira com grande participação dessa parcela da população. No questionário referente ao cartaz nº 1, foi perguntado o que o cartaz transmitia às mulheres participantes da pesquisa. O quadro nº 1 aponta as respostas. Quadro 1. Expressões retiradas para a questão 3 do cartaz 1 Em poucas palavras diga o que esse cartaz lhe transmite 2005 Nº EXPRESSÃO 1 Transmite uma relação de confiança e acima de tudo, respeito, uma vez que aborda o uso da camisinha como se fosse uma aliança, simbolizando uma união completa. 2 Que a campanha está relacionada com os casais casados que supõe não correr riscos por estar casados e ter apenas um parceiro aparente. 3 O compromisso que deve existir entre homens e mulheres 4 A camisinha deve ser vista como um símbolo de união, respeito e valorização que um parceiro deve vivenciar com o outro. 5 Advertência para que os casais evitem a contaminação do cônjuge 6 O cartaz diz que mesmo tendo um compromisso sério todos têm que usar a camisinha, pois o índice de mulheres casadas infectadas só está aumentando. 7 O compromisso do casal em se prevenir contra o vírus do HIV/Aids, uma vez que o casamento não significa fidelidade plena e que estão todos expostos ao risco de se contaminarem 8 Passa a importância do cuidado que os parceiros devem ter um com o outro, mostrando que quem se ama se preserva. 9 Cumplicidade e fidelidade nas relações. A aliança é símbolo de pacto e compromisso Obs: Nº. cada número equivale a um indivíduo Fonte: Amaral 2006 Por fim, pode ser considerado que os sujeitos da pesquisa estabeleceram diversificadas interpretações para os cartazes nº 1, nº 2 e nº 3, não necessariamente se identificando como alvo da ação de prevenção. CONCLUSÕES As peças publicitárias analisadas, não contemplaram especificamente a etnia negra. Assim, os sujeitos dessa pesquisa não se reconheceram efetivamente como objeto das campanhas, o que pôde ser verificado nas interpretações das metáforas durante o grupo de discussão. A análise das analogias e metáforas permitiu observar que o desenvolvimento de senso crítico é, talvez, a maior contribuição que tal prática pode fornecer para o ensino de Ciências. Na pesquisa, encontramos as seguintes metáforas conceptuais a resposta para a questão Prevenção ao HIV/Aids é... : casamento e fidelidade; guerra; jogo vitorioso; união; desconfiança e cuidado, passividade, disputa. É aberta a possibilidade de utilizar as analogias e as metáforas como instrumentos de análise na educação sexual e também como estratégia de ensino. Consideramos necessário desenvolver uma metodologia que dialoga com os interpretantes, já que observamos que as metáforas não são interpretadas igualmente e há casos em que o observador nem percebe sua existência. Sendo assim, o interpretante é privado do conceito que está se pretendendo transmitir numa peça publicitária de prevenção. Considerando que a prevenção ainda é a melhor alternativa de enfrentamento epidemiológico para as DST/ Aids, justifica-se um investimento maior na elaboração de analogias para as campanhas, buscando a IX CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE INVESTIGACIÓN EN DIDÁCTICA DE LAS CIENCIAS (2013): 143-148 147

aproximação maior com o público a quem se destina. Neste caso, as analogias, ao invés das metáforas, oferecem possibilidades de interpretações mais objetivas, o que nos parece mais adequado em campanhas onde a informação é o alvo. Dessa maneira, considera-se que o objetivo dessa pesquisa foi alcançado. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Grupo de Estudos de Metáforas, Modelos e Analogias na Tecnologia, na Educação e na Ciência GEMATEC pelas contribuições oferecidas. Website: www.gematec.cefetmg.br REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brasil, Secretaria de Educação Fundamental. Apresentação dos temas transversais / Orientação sexual. In: Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC/SEF, 1998. p. 285-336. Gino, Maurício Silva. A expressão e recepção do pensamento analógico/metafórico por meio da animação cinematográfica Dissertação de mestrado, Belo Horizonte: CEFET-MG, 2003. 148p. Lakoff, George; Johnson, Mark. Metáforas da Vida Cotidiana. Tradução de Mara S. Zanotto. Campinas, SP: Mercado das Letras; São Paulo: EDUC, 2002. 360 p. Nagem, Ronaldo L. Expressão e recepção do pensamento humano e sua relação como processo de ensino e de aprendizagem no campo da ciência e da tecnologia: imagens, metáforas e analogias. 1997. 55 f. Seminário. (Concurso Público Professor) Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1997. 148 IX CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE INVESTIGACIÓN EN DIDÁCTICA DE LAS CIENCIAS (2013): 143-148