Ouvir não é apenas escutar; implica uma interpretação ótima de sons levando à produção de pensamento e linguagem.



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Transcrição:

ASPECTOS CLÍNICOS DA SURDEZ A audição é essencial para o desenvolvimento da fala, da linguagem, da socialização e de outras formas de comportamento. Sem a audição a criança tende a se afastar do seu meio ambiente, isola-se, e pode ter a aparência de criança retardada, com distúrbios emocionais e de aprendizagem. Ouvir não é apenas escutar; implica uma interpretação ótima de sons levando à produção de pensamento e linguagem. Deficiência auditiva é considerada genericamente como a diferença existente entre a performance do indivíduo e a habilidade normal para a detecção sonora de acordo com padrões estabelecidos pela American National Standards Institute (ANSI - 1989). Zero audiométrico (0 db N.A) refere-se aos valores de níveis de audição que correspondem à média de detecção de sons em várias freqüências, por exemplo: 500 Hz, 1000 Hz, 2000 Hz. Considera-se, em geral, que a audição normal corresponde à habilidade para detecção de sons até 20 db N.A (decibéis, nível de audição). Classicamente, surdez é descrita como perda de audição para determinado número de decibéis e freqüentemente não se leva em conta o aspecto funcional da audição, como propósito de comunicação. 1. Tipos de deficiência auditiva Deficiência auditiva condutiva: Qualquer interferência na transmissão do som desde o conduto auditivo externo até a orelha interna (cóclea). A orelha interna tem capacidade de funcionamento normal mas não é estimulada pela vibração sonora. Esta estimulação poderá ocorrer com o aumento da intensidade do estímulo sonoro. A grande maioria das deficiências auditivas condutivas pode ser corrigida através de tratamento clínico ou cirúrgico. Deficiência auditiva sensório-neural: Ocorre quando há uma impossibilidade de recepção do som por lesão das células ciliadas da cóclea ou do nervo auditivo. Os limiares por condução óssea e por condução aérea, alterados, são aproximadamente iguais. A diferenciação entre as lesões das células ciliadas da cóclea e do nervo auditivo só pode ser feita através de métodos especiais de avaliação auditiva. Este tipo de deficiência auditiva é irreversível. Deficiência auditiva mista: Ocorre quando há uma alteração na condução do som até o órgão terminal sensorial associada à lesão do órgão sensorial ou do nervo auditivo. O audiograma mostra geralmente limiares de condução óssea abaixo dos níveis normais, embora com comprometimento menos intenso do que nos limiares de condução aérea. 2. Causas da deficiência auditiva condutiva

Cerume ou corpos estranhos do conduto auditivo externo. Otite externa: infecção bacteriana da pele do conduto auditivo externo. Otite média: processo infeccioso e/ou inflamatório da orelha média, que se divide em: otite média secretora; otite média aguda; otite média crônica supurada e otite média crônica colesteatomatosa. Estenose ou atresia do conduto auditivo externo (redução de calibre ou ausência do conduto auditivo externo). Atresia é geralmente uma malformação congênita e a estenose pode ser congênita ou ocorrer por trauma, agressão cirúrgica ou infecções graves. Meningite Bolhosa (termo miringite refere-se à inflamação da membrana timpânica). Acúmulo de fluido entre as camadas da membrana timpânica, em geral associado a infecções das vias respiratórias superiores. Perfurações da membrana timpânica: podem ocorrer por traumas externos, variações bruscas da pressão atmosférica ou otite média crônica supurada. A perda auditiva decorre de alterações da vibração da membrana timpânica. É variável de acordo com a extensão e localização da perfuração. Obstrução da tuba auditiva Otosclerose 3. Causas da deficiência auditiva sensório-neural Causas pré-natais de origem hereditárias e não hereditárias (causas exógenas), que podem ser: infecções maternas por rubéola, citomegalovírus, sífilis, herpes, toxoplasmose. Drogas ototóxicas e outras, alcoolismo materno, irradiações, por exemplo raios X, Toxemia, diabetes e outras doenças maternais graves. Causas perinatais Prematuridade e/ou baixo peso ao nascimento Trauma de Parto - Fator traumático / Fator anóxico Doença hemolítica do recém-nascido (icterícia grave do recém-nascido) Causas pós-natais

Infecções - meningite, encefalite, parotidite epidêmica (caxumba), sarampo Drogas ototóxicas Perda auditiva induzida por ruído (PAIR) 4. Graus de severidade da deficiência auditiva Audição Normal - Limiares entre 0 a 24 db nível de audição. Deficiência Auditiva Leve - Limiares entre 25 a 40 db nível de audição. Deficiência Auditiva Moderna - Limiares entre 41 e 70 db nível de audição. Deficiência Auditiva Severa - Limiares entre 71 e 90 db nível de audição. Deficiência Auditiva Profunda - Limiares acima de 90 db. Indivíduos com níveis de perda auditiva leve, moderada e severa são mais freqüentemente chamados de deficientes auditivos, enquanto os indivíduos com níveis de perda auditiva profunda são chamados surdos. Audiograma de sons Familiares

Bibliografia ALMEIDA, Elizabeth Crepaldi de. Deficiência Auditiva: como evitar e cuidar. São Paulo: Editora Atheneu, 2001. BOTELHO, Paula. Linguagem e letramento na educação dos surdos. Ideologias e práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. FELIPE, Tanya; MONTEIRO, Myrna S. LIBRAS em contexto. Curso Básico. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto/ Secretaria de Educação Especial, 2001. FERREIRA BRITO, Lucinda. Uma abordagem fonológica dos Sinais da LSCB. In: Espaço: informativo técnico-científico do INES. Rio de Janeiro: INES, n.º1, jul./dez.,1990.. Integração social & educação de surdos. Rio de Janeiro: Babel, 1993.. Por uma gramática de Língua de Sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. GESUELI, Z.; KAUCHAKJE, S.;SILVA, I. Cidadania, surdez e linguagem: desafios e realidades. São Paulo: Plexus, Editora, 2003.

GÓES, Maria Cristina Rafael. Linguagem, Surdez e Educação. Campinas, SP: Autores Associados, 1996. LACERDA, Cristina B. F. de e GÓES, Maria Cecília R. Surdez: processos educativos e subjetividade. São Paulo: Ed. Lovise, 2000. LODI, Ana Cláudia B; HARRISON, Kathryn M.P; CAMPOS, Sandra R.L. de; TESKE, Ottmar (orgs.). Letramento e Minorias. Porto Alegre: Mediação, 2002. MOURA M. C.,; LODI, A.C.B.; M.C.C.PEREIRA (Org.). Língua de sinais e educação de surdos. São Paulo: TecArt, 1993. [Série de Neuropsicologia, v.3] QUADROS, Ronice Müller de; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. SKLIAR, Carlos (Org.). Educação & exclusão: abordagens sócio-antropológicas em educação especial. Porto Alegre: Mediação, 1997a.