REFLETINDO SOBRE O LUGAR ONDE VIVO



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Transcrição:

REFLETINDO SOBRE O LUGAR ONDE VIVO Hilda Maria Martins Bandeira (UFPI/ SEMEC) GT 01 Práticas Docentes e Profissionalização de Professores I JUSTIFICATIVA A Escola Municipal Noé Fortes atende alunos de 1ª a 8ª séries do Ensino Fundamental, nos três turnos. Fica localizada numa região nobre da cidade de Teresina, capital do Estado do Piauí e há mais de dez anos não passa por uma reforma. A escola recebe alunos de eixos distintos da cidade situados na periferia, especialmente vilas, sendo que o deslocamento ocorre através do transporte escolar, custeado pela rede municipal. Não é difícil inferir que as crianças são oriundas de famílias de baixo poder aquisitivo e, em geral com composição familiar desestruturada, na qual boa parte do sustento da casa fica sob a responsabilidade da mãe, que trabalha como doméstica ou do pai/padrasto, que tem um subemprego. Os alunos contemplados nesse projeto, que durou quatro meses no primeiro semestre de 2004, fazem parte de duas turmas num total de cinqüenta e dois alunos de quarta série do Ensino Fundamental. Logo nos primeiros dias de aula percebeu se que nem todos os alunos dominavam a linguagem de maneira eficaz. Dos cinqüenta e dois alunos atendidos, vinte oito faziam leitura silabada. Alguns faziam a escrita do prenome misturando a letra maiúscula com a minúscula. Outros, apesar de saberem ler e escrever, não faziam a segmentação das palavras em suas produções. Constatou se ainda que no espaço da sala de aula, alguns alunos reclamavam do local onde viviam, ressaltando que a vila era distante, a vida lá era difícil, demonstrando uma relativa insatisfação. Isso fazia com que os alunos se sentissem desmotivados, revelando inclusive baixa auto estima dos educandos em relação ao lugar onde viviam. Ocorria então que este sentimento de inferioridade estava, de algum modo interferindo no processo de ensino aprendizagem dos mesmos, por considerarem que os moradores dessa vila, descuidada pelo poder público, sentiam se diferentes, desprezados e queriam ser compreendidos e até desculpados de seus afazeres escolares. Para se chegar a estas conclusões foi necessário escutar, pois, como bem sugere Paulo Freire ensinar exige saber escutar (FREIRE, 1998) o que constitui um recurso necessário para tecer um diálogo com o aluno; ouvir suas histórias, entendida aqui como um trabalho dirigido e também como a bagagem cultura revelada em suas linguagens; analisar as produções textuais; preencher fichas e fazer anotações sistemáticas. Em uma das atividades desenvolvidas a respeito dos materiais de leituras veiculados nas residências dos alunos; estes revelaram gostar de versos, querendo referir se aos textos poéticos. Percebeu se com isso, uma janela aberta para o desencadeamento do trabalho pedagógico a ser desenvolvido. Haja vista que esse gênero textual possibilita a expressão dos sentimentos, das descobertas, da criação diante da realidade. Ajudando dessa forma os alunos a perceberem que a leitura é algo interessante e desafiador, tornando os confiantes, o que lhes garantirá progresso na eficácia da leitura e escrita, assim como também no resgate da autoestima que outrora encontrava se abalada.

1 II OBJ ETIVO Priorizou se o gênero poético para o incentivo à leitura e à escrita, porque através dele a criança se desenvolve nesses processos e aprende a pensar e desenvolver a capacidade de análise e síntese. Percebendo se enquanto sujeito ético e sócio cultural que participa, contribui e interfere nas transformações históricas da comunidade em que vivem. O que certamente contribuirá para que os alunos se tornem bons leitores e produtores de texto, tendo como subsídio o contexto real do lugar onde vivem. Dessa forma procurou se contribuir sobremaneira para uma reflexão sobre a linguagem, na modalidade oral e escrita, na habilidade de pesquisa, na consulta ao dicionário e na revisão e reescrita dos próprios textos. Desde o início deste trabalho, esclareceu se que se propiciaria o contato com a literatura clássica, de autores consagrados e também com a poesia popular, pois os alunos precisavam conhecer poemas de diferentes autores sobre um mesmo tema, a respeito do lugar onde viveram ou vivem esses poetas. Como resultado final foram publicados num jornal local alguns textos produzidos pelos alunos, afim de que outros leitores também tivessem acesso a essas produções e que esses textos fossem divulgados e socializados. Com isso procuramos estimular tanto o aprimoramento das produções textuais, como também elevar a auto estima dos educandos, promovendo os como pessoas e resgatando a sua cidadania. III FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O projeto Refletindo Sobre o Lugar Onde Vivo, surgiu da observação, reflexão e força de vontade de contribuir no processo de ensino aprendizagem dos educandos da 4ª série do Ensino Fundamental. É preciso acentuar que os instrumentos teóricos subsidiam o trabalho do educador a fazer observações adequadas de como o ensino está sendo interpretado, construído ou reconstruído pelo aluno. Desse modo durante a realização deste trabalho foram considerados os conhecimentos sistemáticos desenvolvidos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) e por estudiosos da área da Educação como FREIRE (1998), ZABALA (1998) e GADOTTI (2004). Os Parâmetros Curriculares Nacionais PCN (1997), asseguram que: a leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo que sabe sobre a língua. Não se trata da mera decodificação, mas também de atividades que levem à compreensão, na qual os sentidos começam a ser construídos antes da leitura propriamente dita. Advoga ainda os PCN: o objetivo principal do trabalho de análise e reflexão sobre a língua é imprimir maior qualidade ao uso da linguagem, na qual a reflexão compartilhada sobre os textos reais constitui o lugar natural do espaço da sala de aula para esse tipo de prática, envolvendo os aspectos epilinguísticos e metalinguíticos. O educador GADOTTI (2004) dizia, tudo começa pelo reconhecimento da identidade, fixamos mais facilmente na memória o que temos interesse em conhecer e o que vivemos intensamente. O conhecimento tornou se um bem comum, a aprendizagem ao longo da vida uma necessidade, onde o espaço da sala de aula deixou de ser um espaço no qual se transmite conhecimento, passando a ser um espaço onde se procura e se produz conhecimento. Fazem, pois sentido as palavras de Paulo Freire (1998) a reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação teoria / prática. E o mesmo autor prossegue afirmando que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.

2 Fazendo uma análise e reflexão da prática, ZABALA (1998) assegura a necessidade de se construir uma atuação profissional baseada no pensamento prático, mas com capacidade reflexiva. Dessa forma, fazer da sala de aula um espaço de acontecimento, um espaço curioso e desafiador constitui um grande desafio do educador. Um bom começo é conversar com o aluno, afinal como sugere FREIRE (1998) ensinar exige saber escutar, para assim transformar o discurso num diálogo com o aluno, colocando, pois a palavra a serviço do aluno. Esse Projeto teve com subsídio básico, parte da coletânea poética do Programa Literatura em Minha Casa, distribuído às escolas pelo Ministério da Educação. Elegeu se esse gênero em virtude do interesse dos alunos pela temática,além do mais o trabalho com poesia possibilita a liberação do imaginário, das sensações, dos sentimentos e dos sonhos das pessoas. Segundo o poeta José Paulo Paes, um mundo sem poesia é o mais tristes dos mundos. Vejamos então algumas obras trabalhadas com mais afinco: Palavras de Encantamento (LEITE, Coord. 2001), aproveitou se desde a carta de Marisa Lajolo dirigida aos leitores para discutir a respeito da relação de poesia, poema e poetas. Complementou se o estudo com pesquisa ao dicionário; A Arca de Noé (MORAES, 2002), por ser um dos livros mais conhecidos pelos alunos, aproveitando então a deixa para incentivá los a enveredarem em outras obras da Literatura Infantil; Cinco Estrelas (DRUMMOND, et all, 2001), dando se ênfase `a leitura do poema Canção do Exílio, que fala dos sentimentos e emoções do poeta em virtude de está vivendo exilado, distante de sua pátria, demonstrando saudade e apreço ao lugar onde viveu. Também utilizou se a nota de abertura desse livro, na qual Ana Maria Machado nos revela que a poesia traduz como o poeta vê uma situação, um acontecimento; Palavra de Poeta (LISBOA, et all, 2001), com destaque à temática: lugares e tempo; A Baillarina e Outros Poemas (MURRAY, 2001), evidenciando os poemas os carteiros e o poeta. Utilizou se ainda do mesmo livro o pequeno glossário de poesia. Outro instrumento utilizado foi o livro didático do aluno Linguagem e Vivência (2001), constituindo se num instrumento eficiente no trabalho pedagógico desenvolvido, possibilitando maior reflexão sobre a linguagem dos textos, fazendo comparação entre a leitura de textos em prosa e a de poemas, percebendo o uso da linguagem formal e informal em narrativas como a carta (BOJUNGA,1995) e poemas (ASSARÉ, 1978), além de outras atividades complementares que auxiliaram o projeto. Vê se que o referencial teórico constituiu um alicerce ao trabalho desenvolvido, contudo as mediações, as conexões ali tecidas no dia a dia do recinto da sala de aula é que fizeram de fato o projeto acontecer e atravessar além dos muros da escola, tornando se vivo, fazendo parte da vida daqueles alunos, que apesar de todas as dificuldades do lugar onde vivem, dentro de suas possibilidades souberam construir um olhar de poeta. IV METODOLOGIA Através da observação e conversa com os alunos a respeito de leitura que circulava em seu meio social, percebeu se que um número significativo gostava de textos poéticos. Resolveu se então eleger esta tipologia pela própria disposição dos alunos em demonstrarem interesse. Além do mais percebeu se, também, que a poesia poderia ser uma

grande contribuição para os alunos avançarem no processo de leitura, já que boa parte fazia leitura silabada. O projeto foi construído pouco a pouco, da experiência em sala de aula. Apresentou se uma poesia de José Paulo Paes, intitulada Convite, os alunos teceram as suas inferências, fizeram seus comentários. Prosseguiu se com a leitura, interpretação, especificidade do texto poético, paralelo com outras tipologias. Expôs se em seguida algumas obras do Programa Literatura em Minha Casa, do Ministério da Educação. Cada aluno recebeu os exemplares, em grupo, elegia se a leitura do poema e o possível registro, observando os recursos utilizados pelo poeta para deixar o texto interessante, criativo ou bem escrito. Assim foi se privilegiando mais a leitura de poemas. Certa feita os alunos produziram poemas, mas constatou se que muitos não contemplaram a proposta correspondente ao gênero solicitado. Surgiu então a dúvida como suscitar o gosto e o prazer de ler e escrever textos com sentido e adequação, coerente com as inquietações daquele grupo? Foi uma questão perturbadora e conflitante. Em observação às atitudes dos alunos, percebeu se que muitos reclamavam do lugar onde viviam, diziam que a vila era longe, que não tinham tomado banho porque faltava água constantemente. Essas eram as falas mais freqüentes dos alunos. Ouvindo aquilo tudo, resolveu se investigar através de uma visita a real situação da comunidade. Chegado o grande dia, construiu se coletivamente um roteiro do que se poderia observar, tais como: a paisagem, a existência de saneamento básico, o trabalho, moradores mais antigos, principais problemas, algo que é apreciado na comunidade ou na vila. Expôs se ainda que coletados esses dados, pretendia se a produção de relatórios, descrição e poemas. O primeiro objetivando o registro das informações recentemente adquiridas, já a descrição para ajudar os alunos a observarem detalhes, ressaltando as características físicas e psicológicas do ambiente, contribuindo na desenvoltura do texto poético, principal objetivo do projeto. A visita foi realizada. Os alunos foram de ônibus, visitaram se algumas casas. Houve uma aluna que manifestou o desejo de que não se fizesse visita à sua casa, mas dada à euforia dos demais que chamava a a todo instante para que fosse à sua casa, isso acabou contagiando essa aluna, que timidamente mostrou o seu habitat, dadas às condições precárias em que se encontrava. Só para descrever um pouco, a porta era constituída de plástico preto, o teto era de palhas de babaçu; o esgoto era a céu aberto, fato comum em toda a vila, o que exalava cheiro desagradável. Fez se uma retomada das características do texto em forma de relatório, construindo se o mesmo coletivamente, no âmbito oral e escrito. Refletiu se a respeito das produções dos educandos. Contemplou se ainda a produção em forma de descrição Posteriormente os alunos fizeram uma produção individual. Houve inclusive quem expressasse o descaso daquela comunidade, tanto por parte do presidente da Associação dos Moradores, como também do Prefeito da cidade. Alguns dias antes os alunos haviam estudado o gênero carta, com o intuito de se corresponderem com um professor e poeta da escola, solicitando uma entrevista. Também surgiu a idéia de escrever outra carta para o presidente da Associação de Moradores, entregue aos cuidados de um grupo de alunos. Depois que o professor poeta recebeu a carta, marcou se uma entrevista que foi realizada na própria escola no ambiente da sala de leitura. Os alunos fizeram perguntas a respeito de como começou a escrever poesia, poetas preferidos, etc; definiu se também que depois da entrevista far se ia uma produção textual em forma de relatório. Através da leitura da carta (LAJOLO, 2001) dirigida aos leitores e do poema Carteiro (SOARES, 1999), fez se a análise dessas duas tipologias (verso e prosa), realizou se pesquisa no dicionário de alguns vocábulos que os alunos sentiram dificuldades. Refletiu se a respeito do uso da linguagem informal e formal em outros textos no livro didático do aluno. 3

4 Colocou se para os alunos que, a partir de então, os trabalhos seriam intensificados com relação ao gênero poético, pois o objetivo era escrever um poema intitulado O Lugar Onde Vivo. Para tanto elegeu se o trabalho em oficina poética, o que envolveria trabalhos em grupo, em sua maioria, e trabalhos individuais, assim distribuídas: Oficina 01: Lendo, Conhecendo e Produzindo Poesia os alunos reunidos em grupo registraram uma poesia utilizando se da memória, relataram oralmente as características desse tipo de texto e individualmente produziram um poema com o título O Lugar Onde Vivo, a fim de que se possa analisar as experiências primeiras dos educandos e compará las com o texto final do projeto Refletindo Sobre o Lugar Onde Vivo. Oficina 02: Pesquisando Poemas da Comunidade possibilitando o resgate da cultura da comunidade e refletir sobre o quanto à poesia pode estar presente no dia a dia. Oficina 03: Leitura e Produção de Poemas com Rimas criadas a partir do cotidiano, de coisinhas que nos deixam felizes. Identificação de repetições e aliterações. Oficina 04: Conhecendo a Poesia de Cordel reconhecimento do acróstico, que também é um recurso poético. Escrita do acróstico com nome. Oficina 05: Sarau Poético recitação de alguns poemas clássicos que retratam o lugar onde viveram alguns poetas, comparando inclusive poemas de diferentes autores, sobre o mesmo tema. Oficina 06: Construindo Poemas reconhecimento dos aspectos positivos e negativos do lugar onde se vive, a fim de produzir um poema intitulado O Lugar Onde Vivo. Enfatizou se o estudo de poemas com rimas, aparecimento de metáforas, repetições de palavras e aliterações. Utilizando, pois os textos: O leão (MORAES, 2002) e Canção do Exílio do poeta maranhense Gonçalves Dias. Além da literatura clássica da coleção Literatura em Minha Casa, os alunos também tiveram acesso à poesia popular de cordel, fizeram inclusive acróstico com o nome, parodiando os cordelistas. Fez se a leitura de vários poemas que retratam o lugar onde vivem ou viveram alguns poetas consagrados, exemplo: Canção do Exílio, Sertão de Ascenso Ferreira, Infância de Carlos Drummond de Andrade, etc. Os alunos se prepararam para o sarau poético, construíram convites, convocando pais e os demais alunos (1ª, 2ª e 3ª séries) e professores da escola. Teve também a participação do professor poeta, que abriu o sarau com a leitura de um poema intitulado O lugar onde vivo. Retomou se ao estudo de alguns poemas em sala de aula, posteriormente solicitou se que os alunos pensassem no lugar onde viviam. Os alunos já agrupados receberam uma folha, devendo, pois ilustrar com um aspecto desse lugar, ao término montouse um grande painel retratando o lugar de origem dos educandos, fizeram ainda o registro de palavras que os despertaram ao observar o referido lugar. Assim, após construir oralmente com os alunos toda a trajetória do projeto, numa espécie de retomada, elegeu se o momento da produção individual de uma poesia, cuja temática O Lugar Onde Vivo. Colocando se para os educandos, que seria importante fazer um primeiro rascunho, deixando soltar a imaginação, mas que era necessário averiguar: o poema terá rimas? Repetições de palavras? Aliteração? Será de versos livres? Terá estrofes? vai representar sentimentos, emoções? Diante da revisão do texto e nas decisões tomadas,

5 cada aluno reescreveu o seu poema, conforme necessário. Inclusive na versão final, os alunos tiveram acesso ao computador da escola para fazer alguns ajustes na reescrita dos textos. V CONTEÚDOS CURRICULARES TRABALHADOS Constatou se que as leituras realizadas ao longo do desenvolvimento do Projeto, as produções, a busca de informação, a organização dos textos lidos, estudos das idéias, a atitude de reflexão sobre a língua ou a análise lingüística constituíram o conteúdo trabalhado no projeto. Grosso modo seria: Escuta de textos lidos pelo professor; Leitura e interpretação de textos poéticos; Localização de informações no poema; Relação entre idéias do texto e as experiências e os conhecimentos dos alunos; Visita à vila onde mora boa parte dos educandos; Análise das características de gêneros textuais (poesia, carta, relatório, descrição, etc); Semelhanças e diferenças entre a poesia popular e a clássica; Características do texto poético (rimas, versos e estrofes); Refletindo sobre a linguagem: Linguagem formal e informal; Estrofe, verso, rima e aliteração; Acentuação; Ordem alfabética; Uso do dicionário; Estudo do vocabulário; Emprego de pontuação adequada; Coesão textual: omissão de termos, repetição de palavras. Produção oral: Resumo e reconto oral da visita e do poema lido; Comentários sobre os poemas trabalhados; Exposição oral de uma pesquisa; Relato oral de entrevista com o poeta. Produção escrita: Relatório de uma visita e entrevista com um poeta; Carta ao poeta e ao presidente da associação dos moradores; Descrição da vila onde reside a maior parte dos educandos; Produção de um poema com rimas a partir de um trecho dado; Poemas a partir do tema O Lugar Onde Vivo ; Revisão e reescrita dos textos trabalhados. Como resultado procurou se incentivar ainda mais os alunos, dado o interesse dos mesmos em compartilhar seu cotidiano através das expressões orais e escritas. Nesse sentido percebeu se que era necessário potencializar esses conhecimentos, não sendo viável a circulação dos textos apenas no recinto da escola, devendo, pois perpassar o espaço da sala de aula para que outros interlocutores tivessem acesso a essas leituras da realidade em que vive esse grupo de alunos. Realidade esta que não é bonita de se ver, mas que se torna necessária tecer uma reflexão na perspectiva de um novo olhar, partindo do próprio aluno na possibilidade de aceitar provisoriamente essa situação e interagindo na busca de melhorias para o lugar onde vivem. Dessa forma foram publicados em um jornal da cidade, alguns textos produzidos na culminância do projeto.

6 Como recursos didático foram utilizados: alguns exemplares da coleção Literatura em Minha Casa, distribuída às escolas públicas pelo Ministério da Educação, dicionário da Língua Portuguesa, livro didático do aluno, ônibus escolar, aparelho de som, computador, impressora, papel ofício, cartolina, papel pardo, máquina fotográfica, filme fotográfico, envelope para carta, pincéis, fita adesiva, cola, tesoura e lápis comum e de cor. VI AVALIAÇÃO A avaliação constitui se num processo interativo, dentro de uma perspectiva da construção do conhecimento social, cultural e ético, ou seja ao longo do projeto o aluno será capaz de manifestar se concretamente como agente de mudança, refletindo sobre suas experiências de vida, no sentido de favorecer e ampliar suas possibilidades. Partindo do pressuposto de que o ato de avaliar deve integrar os aspectos qualitativos e quantitativos, possibilitando uma visão global do desempenho do educando. Dessa forma utilizou se como instrumento do processo avaliativo, os registros de observação, as reuniões com pais e mestres, os relatórios, o sarau poético, as produções textuais, especialmente em verso e a auto avaliação através de questionário e em forma de relato. No desencadear do projeto, percebeu se o progresso seguido pelos alunos, a nível pessoal e coletivo, oral e escrito de ensino aprendizagem, posto que avançaram no emprego adequado da letra maiúscula, passando a refletir mais sobre seus escritos, recorrendo ao dicionário para averiguar a escrita ou o sentido da palavra, fazendo a segmentação no texto, utilizando paulatinamente os recursos da pontuação de final e interior de frases; produzindo textos, considerando as características do gênero carta, relatório, descrição, convite e poema. Embora, tenha se pautado com insistência na revisão e reescrita, até ser considerado suficientemente bem escrito. O trabalho diário de análise e reflexão sobre a língua influenciou nas conquistas e avanços dos educandos,assim como o significado da própria temática. O que de certa forma contribuiu para elevar a auto estima desses alunos, percebendo se como pessoas competentes, que com o apoio necessário obtiveram êxito. Não poderia deixar de ressaltar que a grande ferramenta desse projeto foi ser uma presença amorosa para esses alunos o saber escutar, FREIRE (1998), acolhendo as manifestações verbais e não verbais do grupo de alunos assistidos. E assim construir um trabalho pedagógico mais significativo, trazendo à tona situações reais do dia a dia dos alunos para a escola, que foram analisados com profundo respeito e cuidado. Confirmando in loco que é possível resgatar o prazer do texto com sentido, a partir da realidade que temos, pois segundo FREIRE ensinar exige respeito aos saberes dos educandos, respeitando os conhecimentos ingênuos, viabilizando a sua superação, em busca de uma consciência crítica do educando, o que constitui compromisso do educador responsável pela formação de um cidadão instrumentalizado para agir e reagir diante da realidade. Elucidando que em nosso tempo a necessidade que embasa a aprendizagem é outra, não tem sentido a transmissão de conhecimentos estanques e descontextualizados. Ademais uma aprendizagem se torna significativa quando aluno é levado em consideração com todos os seus saberes e interconexões mentais. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALVES, Castro et all. Nossos poetas clássicos, Rio de Janeiro: Agir, 2003 (Literatura em Minha Casa). BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: 1997.

CAPARELLI, Sérgio et all. Toda criança do mundo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002 (Literatura em Minha Casa). DRUMOND, Carlos et all. Cinco estrelas, Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (Literatura em Minha Casa). FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 9 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1998. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da práxis. 4 ed.são Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2004. LEITE, M. P.A (Coord). Palavras de encantamento. São Paulo: Moderna, 2001 (Literatura em Minha Casa). LISBOA, Henriqueta et all. Palavra de poeta. São Paulo: Ática, 2001 (Literatura em Minha Casa). MORAES, Vinicius de. A arca de noé. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002 (Literatura em Minha Casa). MURRAY, Roseana. A bailarina e outros poemas. São Paulo: FTD, 2001 (Literatura em Minha Casa). SILVA, Antônio Siqueira e. Linguagem e vivência: língua portuguesa. São Paulo: IBEP, 2001. SOUSA, Magda. Português: uma proposta para o letramento: ensino fundamental. São Paulo: Moderna,1999. ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed,1998. 7