PROCESSO Nº: 0801055-94.2014.4.05.8500 - APELAÇÃO RELATÓRIO O Senhor DESEMBARGADOR FEDERAL CONVOCADO GUSTAVO DE PAIVA GADELHA: Cuida-se de apelação da sentença que julgou procedentes os pedidos autorias, determinando fosse garantido ao demandante o seu registro no CNAI, independentemente de qualquer pontuação exigida mediante resolução administrativa. O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE requereu a reforma da sentença proferida para determinar a exclusão da inscrição profissional do autor no Cadastro Nacional de Auditor Independente (CNAI), por força do descumprimento dos requisitos exigidos pelos regramentos vigentes. Argumentou que o Cadastro de Auditores Independentes (CNAI) não caracterizaria restrição ao exercício profissional regulado pelo art 5º, XIII, da CF, mas seria tão somente um cadastro nacional que visa à especialização e qualificação dos profissionais por ele regidos, sendo certo que sua não inscrição não acarretaria qualquer prejuízo ao regular exercício profissional. Informou, ainda, que a exigência do cadastro no CNAI para o desempenho de Auditoria Independente por empresas contratantes seria exercício de mera liberalidade das empresas que visam a buscar profissional mais capacitado para prestar o serviço. O CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO ESTADO DE SERGIPE sustentou sua ilegitimidade passiva sob a alegação de tal Conselho Regional não possui qualquer ingerência na inscrição e/ou manutenção dos profissionais do CNAI, sendo tal atribuição e competência exclusiva do Conselho Federal de Contabilidade. No mérito, argumentou que o legislador infraconstitucional teria delegado ao Conselho Federal de Contabilidade a regulamentação dos cadastros de qualificação técnica e dos programas de educação continuada, de modo que não existiria razão para a alegação do autor de que as exigências exaradas pelo CFC não possuiriam fundamentação legal. A parte autora apresentou contrarrazões às apelações pugnado pela rejeição da preliminar de ilegitimidade passiva do CRC/SE, bem como pela manutenção da sentença recorrida. Argumentou que os programas de educação continuada serviriam para a atualização do profissional, a fim de que o mesmo pudesse fornecer um serviço de qualidade aos seus clientes, no entanto, não se poderia admitir que referidos programas educacionais, de algum modo, limitassem o exercício da profissão, já que tal circunstância não está prevista em Lei. Nesse sentido, sustentou que, ao determinar que cabe ao CFC a regulamentação dos programas de educação continuada, o legislador não teria determinado que esses programas fossem utilizados como limitadores do exercício da profissão de Auditor Independente Éo relatório.
PROCESSO Nº: 0801055-94.2014.4.05.8500 - APELAÇÃO VOTO O Senhor DESEMBARGADOR FEDERAL CONVOCADO GUSTAVO DE PAIVA GADELHA: Pretendem os recorrentes a reforma da sentença que determinou fosse garantido ao demandante recorrido o seu registro no Cadastro Nacional de Auditores Independentes - CNAI, independentemente de qualquer pontuação exigida mediante resolução administrativa. Tal sentença de procedência embasou-se no fundamento de que "as exigências de cursos ou de exames, os quais importem na limitação ou vedação de exercício profissional, devem estar respaldadas em lei". De início, deve ser acolhida a preliminar de ilegitimidade passiva do Conselho Regional de Contabilidade de Sergipe, pois a pretensão inicial - inscrição do autor no CNAI - apenas pode ser concretizada por ato do Conselho Federal de Contabilidade, que possui competência para conceder tal inscrição, nos termos do art. 7º da Resolução CFC nº. 1.019/2005. O fato de o autor ter arguido como causa de pedir a inércia do CRC/SE na promoção de cursos capacitadores para possibilitar o cadastro no CNAI não confere à tal regional legitimidade para figurar no pólo passivo, vez que a oferta de mais cursos capacitadores pelo CRC/SE não foi pedido da ação e a legitimidade passiva decorre da responsabilidade apenas pelas pretensões deduzidas em juízo. No mérito, cumpre destacar que a Lei n.º 12.249/2010, em seu art. 76, reformou as diretrizes contidas no Decreto-lei n.º 9.295/46 quanto às atribuições legais do Conselho Federal de Contabilidade, conferindo-lhe o poder regulamentar sobre cadastro de qualificação técnica e programas de educação profissional. Confira-se: Art. 76. Os arts. 2 o, 6 o, 12, 21, 22, 23 e 27 do Decreto-Lei n o 9.295, de 27 de maio de 1946, passam a vigorar com a seguinte redação, renumerado-se o parágrafo único do art. 12 para 1 o : "Art. 2 o A fiscalização do exercício da profissão contábil, assim entendendo-se os profissionais habilitados como contadores e técnicos em contabilidade, será exercida pelo Conselho Federal de Contabilidade e pelos Conselhos Regionais de Contabilidade a que se refere o art. 1 o." (NR) "Art. 6 o...... f) regular acerca dos princípios contábeis, do Exame de Suficiência, do cadastro de qualificação técnica e dos programas de educação continuada; e editar Normas Brasileiras de Contabilidade de natureza técnica e profissional." (NR) Assim, da leitura do dispositivo legal acima transcrito, não pairam dúvidas acerca da atribuição conferida ao Conselho Federal recorrente de regulamentar cadastro de qualificação técnica e
programas de educação continuada dos que exercem a profissão de Contador. Por outro lado, verifica-se que a Lei, em momento algum, delegou ao referido Conselho o poder de limitar o exercício da atividade profissional por meio de um programa de educação continuada. Ou seja, conforme defendeu a parte recorrida em suas contrarrazões, não existe lei que exija o requisito de exame de qualificação para o exercício de atividade de auditor independente. Contudo, no caso, a partir da leitura das próprias razões do Conselho Federal de Contabilidade, " o Cadastro de Auditores Independentes (CNAI) não caracteriza restrição ao exercício profissional regulado pelo art 5º, XIII, da CF, mas é tão somente um cadastro nacional que visa à especialização e qualificação dos profissionais por ele regidos, sendo certo que sua não inscrição não acarreta qualquer prejuízo ao regular exercício profissional e a exigência do cadastro no CNAI para o desempenho de auditoria independente". Assim sendo, se a retirada do nome do autor do CNAI não acarreta, perante seu Conselho Profissional, qualquer limitação ao exercício de sua atividade profissional, não vislumbro ilegalidade em tal retirada em razão de o mesmo não ter atingido pontuação para tanto, vez que tal exclusão de cadastro observou as normas regulamentares pertinentes ao cadastro em foco. Nessa linha de raciocínio, a ação que vise afastar qualquer limitação ao exercício profissional em razão da não inscrição do autor no CNAI deve ser promovida em face de quem considerar que a ausência de tal inscrição o impede de exercer a atividade de Auditor Independente. Por exemplo, se a Comissão de Valores Mobiliários exigir do autor a aprovação em exame de qualificação técnica para o cadastro de auditores independeres, este poderá demandar em face da CVM objetivando afastar tal exigência, conforme, inclusive, verificou-se na ação originária vinculada ao Recurso Especial nº. 1201859/RJ. Por fim, destaco que, quanto à alegação de deficiência na disponibilização de cursos pelos Conselhos réus (fato que, segundo o autor, teria impedido ele de atingir a pontuação necessária para Cadastro no CNAI), deve ser destacado que o autor deve buscar tais cursos junto a entidades capacitadoreas em geral (não só junto ao seu Conselho), devendo, se for o caso, arcar com os respectivos ônus necessários a tal desiderato, como deve fazer os demais contadores de sua localidade. Eventual insuficiência de cursos oferecidos pelo seu Conselho Profissional não autoriza a inscrição do autor no CNAI sem que ele tenha atingido a pontuação necessária para tanto. Ante o exposto, dou provimento às apelações para excluir o Conselho Regional de Contabilidade de Sergipe da lide e julgar improcedente o pedido formulado em face do Conselho Federal de Contabilidade. Inversão do ônus de sucumbência. Écomo voto. PROCESSO Nº: 0801055-94.2014.4.05.8500 - APELAÇÃO
EMENTA: ADMINISTRATIVO. EXIGÊNCIA DE QUALIFICAÇÃO PARA INSCRIÇÃO DE CONTADOR NO CNAI. POSSIBILIDADE. CADASTRO QUE NÃO DEVE LIMITAR EXERCÍCIO PROFISSIONAL. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE OBSERVADO PELO CONSELHO PROFISSIONAL. 1. Pretendem os recorrentes a reforma da sentença que determinou fosse garantido ao demandante o seu registro no Cadastro Nacional dos Auditores Independentes - CNAI, independentemente de qualquer pontuação exigida mediante resolução administrativa, sob o fundamento de que as exigências de cursos ou de exames, os quais importem na limitação ou vedação de exercício profissional, devem estar respaldadas em lei. 2. Deve ser acolhida a preliminar de ilegitimidade passiva do Conselho Regional de Contabilidade de Sergipe, pois a pretensão inicial - inscrição do autor no CNAI - apenas pode ser concretizada por ato do Conselho Federal de Contabilidade, que possui competência para conceder tal inscrição, nos termos do art. 7º da Resolução CFC nº. 1.019/2005. 3. Segundo o Conselho Federal de Contabilidade, "o Cadastro de Auditores Independentes (CNAI) não caracteriza restrição ao exercício profissional regulado pelo art 5º, XIII, da CF, mas é tão somente um cadastro nacional que visa à especialização e qualificação dos profissionais por ele regidos, sendo certo que sua não inscrição não acarreta qualquer prejuízo ao regular exercício profissional e a exigência do cadastro no CNAI para o desempenho de auditoria independente". 4. Assim, se a retirada do nome do autor do CNAI não acarreta, perante seu Conselho Profissional, qualquer limitação ao exercício da sua profissão, não se vislumbra ilegalidade em tal retirada em razão de o mesmo não ter atingido pontuação para tanto. 5. A ação que vise a afastar qualquer limitação ao exercício profissional, em razão da não inscrição do autor no CNAI, deve ser promovida em face de quem considerar que a ausência de tal inscrição o impede de exercer a atividade de Auditor Independente. 6. Apelações dos réus providas. PROCESSO Nº: 0801055-94.2014.4.05.8500 - APELAÇÃO A C Ó R D Ã O
Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade, dar provimento às apelações, nos termos do voto do relator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes nos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.