ATIVIDADE DOCENTE: UMA ANÁLISE DOS SENTIDOS E SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS POR UM/A PROFESSOR/A DA REDE PÚBLICA DE ALAGOAS



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Transcrição:

ATIVIDADE DOCENTE: UMA ANÁLISE DOS SENTIDOS E SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS POR UM/A PROFESSOR/A DA REDE PÚBLICA DE ALAGOAS Elaine de Holanda Rosário - Universidade Federal de Alagoas (UFAL/CEDU) Elainerosarioholanda@yahoo.com.br RESUMO O presente artigo discute os sentidos e significados da atividade docente, a partir da atividade real e do real da atividade do sujeito participante da pesquisa. Esta pesquisa vem sendo desenvolvida no âmbito do PROCAD Programa de Cooperação Acadêmica financiado pela CAPES encontra-se em fase inicial e tem como objetivo investigar: quais os sentidos e significados que o professor/a das séries iniciais do ensino fundamental da rede pública de Maceió dá a sua atividade docente, a partir da perspectiva da teoria Sócio-Histórica em Psicologia e da ergonomia francesa contemporânea, e suas categorias de análise, teremos como contexto a escola pública de ensino fundamental. Este será um estudo qualitativo e seu instrumento metodológico será a autoconfrontação simples e cruzada, no qual, a imagem é o suporte principal. Palavras-chave: Atividade Docente; Teoria Sócio-Histórica; Ergonômia Francesa Conteporânea. INTRODUÇÃO O objetivo deste artigo é elucidar um pouco da problemática da atividade docente numa perspectiva psicológica do trabalho (Clínica da Atividade) abordada por Yves Clot. Além de apresentar e discutir a colaboração da metodologia da autoconfrontação simples e cruzada para as pesquisas sobre a atividade docente. Esta temática está sendo desenvolvida no âmbito do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (PROCAD), que tem a participação de pesquisadores integrantes dos seguintes Programas de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação PUC-SP (coordenação geral); Programa de Pós- Graduação em Educação Brasileira UFAL; Programa de Pós-Graduação em Educação

2 Estácio de Sá. Essas Universidades juntas vêm desenvolvendo o intercâmbio em atividades de pesquisa e ensino na temática da atividade docente. O que apresentaremos aqui é apenas uma discussão de uma das pesquisas que estão sendo desenvolvidas por esse grupo, e que está em fase inicial. PROBLEMÁTICA E METODOLOGIA A globalização exige uma nova educação, solicitando ao profissional da educação que modifique o seu processo de ensino, fazendo uso das atuais tecnologias da informação e comunicação da sociedade, pois, através delas são criadas novas formas de se aderir novos conhecimento. Segundo Libâneo (2003) o perfil para o atual educador desejado pela sociedade exige as seguintes condições: uma cultura geral ampliada, capacidade de aprender a aprender, competência para saber agir na sala de aula, habilidades comunicativas, domínio da linguagem informacional, saber usar meios de comunicação e articular as aulas com as mídias e multimídias. Devido a isso minha intenção é problematizar este fato, através da investigação da seguinte questão: Quais os sentidos e significados que o professor/a das séries iniciais do ensino fundamental da rede pública de Maceió dá a sua atividade docente? Através desta indagação central, procurarei ver de que forma, tanto no plano teórico quanto no plano da realidade local de Maceió, esta questão está de fato colocada considerando o que os/as próprios/as professores/as pensam sobre sua prática docente. Esta pesquisa será um estudo qualitativo, onde o principal recurso do método a ser usado será a imagem como suporte de observação e filmagem: todas as situações de desempenho profissional do/a professor/a serão gravadas em vídeo e, posteriormente, discutidas pelos participantes da pesquisa: professor/a participante, pesquisador/a e professor/a convidado/a. Esse estudo investigará a atividade docente focada no sentido e significado que o educador atribui a sua atividade docente. Sendo assim o sujeito participante dessa pesquisa será um/a professor/a que atua nas séries iniciais do Ensino Fundamental da rede pública municipal de Maceió/AL.

3 O uso da imagem será importante pelo fato que através da videogravação buscase apreender as ações do ator (ou atores), o cenário e a trama que compõem a situação. As sessões de análise ocorrem a posteriori da ação e destinam-se a suscitar e apreender o processo reflexivo do ator (ou atores) por meio de suas verbalizações durante a análise das cenas videogravadas. Trazendo para o participante o real de sua atividade docente. (SADALLA, LOROCCA, 2004) Nota-se assim algumas vantagens quanto ao uso da imagem como suporte metodológico tais como: a possibilidade do pesquisador observar a vivacidade e dinamismo da atividade do professor sempre que desejar, assim como, a facilitação do distanciamento emotivo na coleta dos dados, o registro de acontecimentos que poderiam não ser notado numa observação direta e constatar contradições. Desta maneira a pesquisa se desdobrará através das seguintes etapas: contato com a escola, escolha do professor/a, instrumentos de coleta de dados (história de vida da professora, observação do espaço físico da escola, filmagem, seleção de episódios, realização das autoconfrontações simples e cruzada), referencial de análise e por fim análise e interpretação dos dados. DISCUSSÃO TEÓRICA O estudo sobre a atuação docente é algo muito recente. Somente a partir do início dos anos 90 é que o campo educacional brasileiro inicia um movimento mais sistemático de análise sobre essa temática. Segundo Tardif (2002) as pesquisas no campo da profissão docente iniciaram investigando principalmente a questão econômica dos docentes e a qual classe social pertenciam. Depois dos anos 90 começaram a surgir novas temáticas a respeito da profissão docente, passaram, então a se preocupar com a prática dos educadores. Atualmente o trabalho docente vem sendo entendido como um tipo de trabalho que visa às relações interpessoais do processo educativo escolar, onde o aluno é um ser em transformação. A globalização exige uma nova educação, solicitando ao profissional da educação que modifique o seu processo de ensino, fazendo uso das atuais tecnologias da informação e comunicação da sociedade, pois, através delas são criadas novas formas de conhecimento. Isso pode ser bom para o desenvolvimento do país, porém, há ainda uma grande dificuldade em todos os professores terem esse acesso, impedido assim, um

4 aprimoramento intelectual para os educadores em geral. Tornando a educação de qualidade e moderna numa mercadoria que poucos podem comprar. A educação tem cada vez mais sido vista como mercadoria, ou seja, apenas um serviço e não um direito, pois os princípios que regem as reformas neoliberais no Brasil são instrucionistas, se preocupam somente com o ensino e não com a aprendizagem dos alunos. O importante é cada escola estar cheia. A qualidade da educação oferecida depende tão somente do professor. O aprender, nessa visão neoliberal, é identificar informações sabendo usá-las em alguma situação cotidiana, já o ensinar se reduz ao aplicar técnicas. Educar é um ato que envolve política, pois a essência política do ato pedagógico orienta o educador quanto aos objetivos a serem atingidos, os conteúdos a serem dados e aos procedimentos a serem usados em sala de aula. Por isso é tão importante a relação teoria e prática, ambas devem acontecer no processo de formação, assim o professor será capaz de criar métodos, para que, a aprendizagem possa acontecer entre seus alunos. Percebe-se então, que a opção política do educador é fundamental para guiar sua metodologia escolar, na qual, o professor tem duas opções: ou ele educa para a adaptação do meio ou educa para a transformação e libertação do indivíduo. Segundo Leão (2003) a psicologia sócio-histórica mostra que o homem além de ser um agente que transforma as circunstâncias, ele próprio se transforma tornando-se o produto e o produtor da atividade, ou seja, o desenvolvimento do indivíduo acontece à medida que ele interage com o outro criando uma história ou cultura social. Assim os princípios teóricos que regem a teoria da psicologia sócio-histórica têm como base o materialismo histórico-dialético, em que concebe o homem como ser histórico e social, que se constitui a partir da atividade que no movimento de interação com meio também se modifica. Nesta vertente teórica são consideradas quatro categorias centrais tais como: a mediação - essa categoria possibilita explicar que embora o homem possa, potencialmente como membro da espécie humana, alcançar sua humanidade, ele só o faz por meio das relações sociais que mantém com outros homens e com a cultura até então acumulada. A segunda categoria diz respeito à história - entendida como a distinção da aparência e a essência. A terceira categoria é a de atividade - onde a atividade humana e suas inovações são transmitidas culturalmente de geração em geração, permitindo que o natural se converta em social. E a última categoria é a significação. (AGUIAR; DAVIS, 2009).

5 A partir desta proposta teórica nota-se que a atividade humana e suas modificações são transmitidas com o passar dos anos, permitindo que o natural se transforme em social. Devido a isso sentido e significado não podem ser compreendidos isoladamente. O significado no campo psicológico corresponde a um conceito, produções históricas e sociais, onde os homens se comunicam e socializam experiências. Entender o indivíduo implica em nos aproximarmos das zonas de sentido. Segundo Aguiar; Ozella (2009), este homem constituído na e pela atividade, ao produzir sua forma humana de existência, revela em todas as suas expressões - a historicidade social, a ideologia, as relações sociais, o modo de produção. Ao mesmo tempo, esse mesmo homem expressa a sua singularidade, o novo que é capaz de produzir os significados sociais e os sentidos subjetivos. É possível verificar as mudanças e contradições que ocorrem no processo de construção dos sentidos e dos significados, o que permite uma análise mais consistente, indo, além do aparente, pois, consideram-se as condições subjetivas, contextuais e históricas. Para Aguiar e Davis (2009) a ergonomia francesa contemporânea também assume parte importante dos pressupostos teóricos e metodológicos da psicologia sóciohistórica agregando a essa proposta outras categorias analíticas, como a de real da atividade, atividade real, gênero e estilo. O real da atividade, não é apenas aquilo que foi feito, porque isso é justamente a atividade real. (CLOT, 2006) O real da atividade é o que não se fez, o que não se pode fazer, o que se tentou fazer sem conseguir, o que se teria querido ou podido fazer, o que se pensou ou que se sonhou poder fazer, o que se fez para não fazer aquilo que seria preciso fazer ou o que foi feito sem querer fazer. (CLOT, 2006, p.16) A categoria gênero faz a mediação dos sujeitos entre si e deles com seus objetos de trabalho, constituindo tanto atividade real como o real da atividade. O gênero envolve o conjunto de procedimentos, atitudes e posturas construídas, no processo sócio-histórico, em dado campo profissional: são mediações que concorrem para a realização da atividade, constituindo, de fato, prescrições que refletem a tradição e a história profissional do grupo ao qual o sujeito pertence. A atividade é, portanto, sempre mediada pelo gênero, que por ser de natureza essencialmente social, encontra-se em constante movimento. (AGUIAR; DAVIS, 2009).

6 Assim os gêneros nada mais são do que as ações que um ambiente nos convida a realizar, ou seja, eles organizam os lugares e funções ao definir as atividades independentemente das subjetividades dos indivíduos que as realizam num momento específico de trabalho. (CLOT, 2007). Desta forma a atividade docente além de ser mediada pelo gênero ela também implicará no estilo do educador, pois, cada sujeito possui sua subjetividade quanto ao seu estilo. O estilo pessoal aparece para transformar o que foi prescrito pelo gênero social, ou seja, é a forma como o sujeito se apropria do gênero, é sua subjetividade ou modo particular de realizar uma ação. Por isso se fará necessário nesta pesquisa o uso da autoconfrontação simples e cruzada, pois, assim o sujeito terá a oportunidade de ver o real de sua atividade. Para Aguiar; Davis (2009), a análise da atividade realizada por intermédio da autoconfrontação simples e cruzada permite verificar o quanto a mediação do gênero e do estilo pessoal são constitutivas da atividade do sujeito, permitindo que se alcance tanto uma apreensão mais completa e profunda dela (para além de sua aparência) como dos sentidos que os sujeitos lhe deram. Segundo Clot (2007, p.52) A atividade não é somente um atributo da pessoa. A tarefa prescrita é redefinida pelos coletivos que formam e transformam os gêneros sociais da atividade vinculados com as situações reais, quer dizer, a atividade se realiza por meio do gênero e estilo do indivíduo. Desta maneira esses procedimentos teóricos e metodológicos darão voz ao professor/a pesquisado/a, bem como, dará a chance de (re)ver os impedimentos existentes no momento em que busca transformar a prática docente em sala de aula, além da compreensão do real de sua atividade, assim como, os sentidos e significados atribuídos a sua prática docente. CONSIDERAÇÕES FINAIS A abordagem metodológica da autoconfrontação proposta por Clot (2006) nos permite obter uma nova leitura sobre a problemática da atividade docente baseada na psicologia do trabalho e teoria sócio-histórica.

7 O trabalho docente prescrito e realizado será analisado pelo sujeito participante da pesquisa e o pesquisador nos revelando possivelmente seus verdadeiros sentidos e significados. Portanto essa prática metodológica proporciona ao sujeito participante da pesquisa uma avaliação de si mesmo, tendo autonomia de reflexão sobre seu pensar e fazer pedagógico em sala de aula. REFERÊNCIAS AGUIAR, W. M. J. Trabalho docente e subjetividade: aspectos indissociáveis da formação do professor. Projeto de Cooperação Acadêmica: UFAL; PUC/SP e UNESA /RJ, 2008. AGUIAR, W. M. J.; DAVIS, C. Superando a dicotomia saber-ação: uma nova proposta para a pesquisa e a formação docente. 2009 (mimeo) AGUIAR, W. M. J.; DAVIS, C. Atividade docente: uma análise das trans-formações do professor na perspectiva da psicologia sócio histórica. 2009 (mimeo) AGUIAR, W. M. J; OZELLA, S. Apreensão dos sentidos: uma proposta metodológica. 2009 (mimeo) CLOT, Y. A função psicológica do trabalho. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. CLOT, Y. A função psicológica do trabalho. 2ª edição - Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências profissionais e profissão docente. (coleção questões de nossa época, 67), São Paulo, Cortez, 2003. LEÃO, Inara Barbosa. Educação e psicologia: reflexões a partir da teoria sóciohistórica, organizadora. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2003. SADALLA, Ana Maria Falcão de Aragão; LAROCCA, Priscila. Autoscopia: um procedimento de pesquisa e de formação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n 3, dez. 2004. p. 419-433 TARDIF, Maurice. Saberes docente e formação profissional. 5. ed. Petrópolis: Rio de Janeiro: Vozes, 2002.